In Público (26/4/2007)
Inês Boaventura
«Ideias para pequenos gestos mas com grande carga simbólica
A construção de uma sala de chuto em frente à Assembleia da República, de uma piscina pública a céu aberto na Lapa, de uma residência para artistas na parte inferior da Ponte 25 de Abril e de uma porta giratória na Praça de Espanha são algumas das propostas de ocupação de vazios urbanos de Lisboa que durante o mês de Maio vão estar visíveis em vários painéis espalhados pela cidade.
Ao todo são 15 os projectos seleccionados pela Ordem dos Arquitectos para serem expostos nas ruas de Lisboa, no âmbito de um concurso em que os cidadãos foram convidados a apresentar "propostas de requalificação dos espaços urbanos da capital em benefício de um uso público ou de carácter colectivo".
A iniciativa, que recebeu cerca de 140 participações, insere-se na Trienal Internacional de Arquitectura de Lisboa, evento que se realiza entre 31 de Maio e 31 de Julho.
Durante o próximo mês, quem passar pela Rua de São Bento vai ficar a conhecer, através de um dos diversos painéis instalados em vários pontos da cidade lisboeta, uma proposta provocadora para a edificação de uma sala de chuto num vazio urbano em frente à Assembleia da República. Num outro painel a montar na Avenida da Índia, vai estar exposto o projecto Tecto Habitado, que preconiza o aproveitamento da estrutura da Ponte 25 de Abril para a construção de uma residência para artistas.
Na Praça de Espanha vai ser possível conhecer uma proposta de carácter escultórico que propõe a instalação de uma porta giratória de grandes dimensões, a qual pretende afirmar o carácter de passagem rápida e motorizada por este local da cidade. Já na Rua da Bela Vista à Lapa, um outdoor vai revelar o projecto de criação de uma piscina pública a céu aberto, para a qual se sugerem programas de actividades que incluem saltos de bicicleta e barcos telecomandados.
Entre as 15 propostas que vão ser expostas em painéis junto aos locais para os quais foram imaginadas incluem-se ainda a requalificação da antiga fábrica de gás da Matinha, a retirada da cobertura do Teatro Romano para potenciar a sua integração na cidade e a criação de uma casa da música no Largo Duque de Cadaval. A reinterpretação do espaço público na zona de Santa Apolónia, a criação de um novo percurso de acesso ao Castelo de São Jorge e o projecto para abertura de uma piscina no Jardim do Tabaco serão também expostas.
A lista dos locais onde vão estar expostas as 15 ideias escolhidas pela Ordem dos Arquitectos para a ocupação de vazios urbanos de Lisboa inclui, ainda, a Avenida da República, a Praça da Alegria e a Segunda Circular.
De entre as 140 propostas apresentadas, o júri formado pelos arquitectos Ricardo Aboim Inglez, Ricardo Back Gordon, Manuel Graça Dias, Fernando Pinto Coelho e Pedro Bandeira seleccionou também, para serem mostrados publicamente nos próprios locais a que se destinavam, um projecto de plantação de árvores em espaços degradados, como o miradouro da Travessa das Terras do Monte, ideia que se assume como um manifesto pela participação colectiva na construção da cidade a partir de gestos pequenos mas simbólicos. Escolhida pelo júri constituído por iniciativa da Ordem dos Arquitectos foi ainda uma outra proposta que reivindica a ocupação das casas devolutas da cidade e outra que contempla a criação de uma estrutura móvel que reclama atenção para as questões da sustentabilidade e das energias renováveis.»
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3 comentários:
Esta é uma grande iniciativa. Normalmente saiem destas "brainstorms" grandes ideias e pistas para o futuro, mesmo que não impliquem a sua concretização efectiva.
Por acaso discordo, este tipo de concursos de ideias só dão uma oportunidade aos arquitectos da moda para vomitar cá para fora, sob uma capa de vanguardismo, todos os seus preconceitos e ideias feitas, tudo adocicado com umas belas simulações 3D feitas em computador que deixam sempre os parolos de boa aberta.
(...) devo concordar...embora, sejam na maioria muito jovens e, por formação, fazem-no mais como exercício de criação/criatividade doque de... afirmação de uma responsabilidade, cívica e profissional - uma questão a ponderar em futuras iniciativas!
É que, com toda esta exposição pública, não sei se a impressão geral não será contraproducente à já 'debilitada' imagem que a sociedade tem(?) dos arquitectos... pouco habituada a distinguir o virtual do real, a imaginação da resposta material/necessidade concreta?
Depois, admirem-se!?
AB
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