16/06/2008

Falta de respeito na Praça das Flores

foto de Dias dos Reis


Falta de respeito. Essencialmente, é esta a expressão que na minha opinião resume tudo o que se passou em torno da questão da Praça das Flores.

A forma como foi conduzido este processo da chamada “venda” do espaço público a privados pelos vereadores Marcos Perestrelo e Sá Fernandes é um sintoma de alguém que se rendeu recentemente à economia de mercado e ao capitalismo e por isso está mal preparado para conviver com essa realidade. Ou então de alguém deslumbrado com as “maravilhas” do capitalismo. Ou então, simplesmente de alguém que não tem vocação para as responsabilidades de gestão da cidade (como parece ser um dos casos).

Não alinho no discurso fácil e hipócrita de considerar um sacrilégio qualquer ocupação do espaço público. Mas há um limite. O limite do respeito e da consideração pelas pessoas e pela cidade. No caso da Praça das Flores, esse limite foi claramente ultrapassado. Esse é o problema.

Aliás, a utilização de contrapartidas para a cidade pela utilização de espaços não é uma invenção deste executivo. Acontece em todas as cidades em todo o mundo. Em Lisboa também não é uma novidade. No mandato anterior foram vários os exemplos de negociação de contrapartidas para a cidade em troca da utilização de espaços da cidade. A diferença está nos limites…

O caminho escolhido pelos actuais responsáveis autárquicos para a cedência da Praça das Flores não foi equilibrado. Não respeitou moradores, demais cidadãos que utilizam a praça e não considerou a cidade. Cedeu tudo. E quando tudo se cede nunca se é justo.

Convínhamos que vedar uma praça inteira durante duas semanas entre as 17h e a meia-noite e condicionar a circulação mesmo aos moradores colocando seguranças a controlar todos os movimentos não é aceitável, não é tolerável!

Uma ocupação semelhante àquela que se encontra na Praça das Flores poderia ser admissível noutra zona da cidade, talvez num parque urbano ou numa zona “descampada”. Mas não no centro da cidade, não numa zona histórica, não numa zona residencial.

A ocupação da Praça das Flores, como está, revela falta de sensibilidade e desrespeito para com os moradores e é uma violência para Lisboa.

Tenho assistido, sem me pronunciar, ao desenvolvimento do processo da ocupação da Praça das Flores e às tomadas de posição (ou ausência delas) dos diversos actores políticos. Agora já é tempo de afirmar que não é sério que se queira “vender” esta operação aos lisboetas como a única forma de requalificar espaços públicos sem recursos financeiros da câmara e que é inédito este modelo em Lisboa.

É possível encontrar formas de intervir na requalificação da cidade sem recorrer apenas aos meios financeiros da câmara. Mesmo do ponto de vista do envolvimento e co-responsabilização dos cidadãos e das empresas na manutenção da cidade é mesmo um caminho desejável. Afirmo com a convicção de ter iniciado e experimentado com sucesso esse caminho. Este é um património do mandato anterior que pode ser comprovado. E é possível faze-lo com respeito pelas pessoas e pela cidade. Basta querer!

A Praça da Alegria (com algumas semelhanças com a Praça das Flores) foi recuperada no mandato anterior (que durou um ano e meio) sem a utilização de recursos financeiros da CML. Mas também não foi necessário veda-la (ou “vendê-la”). A vontade e a iniciativa da junta de freguesia local e o diálogo estabelecido com a CML permitiu reunir e coordenar esforços que concretizaram a renovação do jardim Alfredo Keil do Amaral (no centro da praça). Hoje, a renovada Praça da Alegria é um espaço bem cuidado com animação no verão. Um espaço ganho para a cidade e para os lisboetas.



António Prôa

7 comentários:

Anónimo disse...

O que se passa na Praça das Flores é algo de muito bizarro para não dizer escandaloso. Que se fizesse um evento daquele tipo durante um fim de semana ainda vá lá. Agora, num espaço público rodeado de edifícios de habitação e de esplanadas onde os moradores e os forasteiros não podem ter acesso durante duas semanas não lembra o diabo! Que diria a nossa comunicação social se fosse uma iniciativa do ex-presidente Santana? Caía o Carmo e a Trindade. Mas como a iniciativa é de um vereador da esquerda intelectual, o melhor é fazer de conta que não se dá pelo evento nem pelo prejuízo que o mesmo causa aos moradores daquela pacata praça da cidade.
josé amador

Anónimo disse...

De facto é uma enorme fala de respeito. Mas também é uma enorem falta de respeito o silêncio de tantos. A começar nalguma oposição que não existe. E na comunicação social. As primeiras páginas que foram feitas com noticias da CML quando decorria a campanha para fazer cair o anterior executivo. Tudo servia para "bater no ceguinho". Agora está tudo calado, as noticias não passam de pequenos rodapés. Critérios... Iguais aos de quem na oposição tudo criticava (o Zè que não faz falta à Cidade) e agora fazem precisamente o que antes criticavam. Que oportunista! Que falta de carácter!
E já agora: E os tiros em Monsanto ????? O Zé nada diz ??? Não quer dar uma entrevista ao Mário Crespo a explicar ????

Anónimo disse...

E o tempo que levou vedado à utilização dos cidadãos o Jardim de São Pedro de Alcântara? por falta de pagamento ao empreiteiro? Não foi falta de respeito pelo cidadão? E o tempo que a Praça da Alegria andou vai que não vai? Não foi falta de respeito pelo cidadão? E se a Junta de Freguesia de São José não gastou nada na recuperação do referido Jardim, porque está falida? Porque tem contas bancárias a descoberto (será legal?) como corre por aí?
Bom, até se admite que o que se passa com a Praça das Flores é uma falta de respeito pelos cidadãos...mas se assim é falemos então das faltas de respeito consentidas no passado por quem agora de faz de virgem arrependida.
Há quem tenha pecado por acções e outros por omissões. E depois há os zarolhos, que vêm as acções e omissões dos outros e esquecem as acções,omissões e responsabilidades que já tiveram.
CCG

Filipe Melo Sousa disse...

É incrível como os gostos pessoais envenenam os princípios. Quando o evento que leva ao fecho de uma rua agrada à malta do bailarico e da ginginha, há que cortar ruas e acessos impiedosamente.

Vedar um espaço público por causa de uma marca de carros? Blasfémia, sacrilégio.. lol

Filipe Melo Sousa disse...

É incrível como mesmo a reabilitação do jardim e as contrapartidas financeiras para uma câmara na bancarrota por incompetência não são argumentos para esta gente.. eh eh

Anónimo disse...

"É incrível como mesmo a reabilitação do jardim e as contrapartidas financeiras para uma câmara na bancarrota por incompetência não são argumentos para esta gente.. eh eh"
Para quem tem princípios nem tudo está à venda.
Há vários tipos de prostituição, este foi um deles...

Filipe Melo Sousa disse...

A prostituição não tem nada de imoral. Emprestar o corpo em troca em dinheiro é legítimo. Apenas incomoda quem tem problemas mal resolvidos

:)