In Público (23/6/2008)
Catarina Prelhaz
«Construir Manhattan em Lisboa. Instalar um ninho de empresas ou a Feira Popular. Para a Portela já se pensa na vida depois da morte
Uma nova-iorquina Manhattan debruçando-se sobre o seu Central Park em plena Lisboa: poderá não ser este o destino da Portela depois da saída do aeroporto para Alcochete, mas é a paisagem que os visitantes da última Trienal de Arquitectura gostavam de ver nascer nos 500 hectares que aquela transferência irá libertar.
Construir arranha-céus ou plantar uma horta maior que o Parque das Nações: ontem foi a vez de arquitectos de renome e da nova geração e dos decisores políticos esgrimirem ideias para o futuro da Portela em 2050 num debate promovido pela Ordem dos Arquitectos.
Transformar as pistas do actual aeroporto em boulevards de um parque de actividades (a definir no futuro) envoltas numa mata espontânea é a proposta do arquitecto Nuno Portas e do ateliê NPK. A ideia é usar as pistas como suporte de edifícios de construção ligeira e delimitar a mata com carvalhos para potenciar o desenvolvimento espontâneo desta, evitando os "elevados" custos de implantação e de manutenção de uma área verde tradicional.
Já os arquitectos Gonçalo Byrne e Manuel Fernandes de Sá imaginam a manutenção de um aeroporto na Portela. O objectivo é limitar o tráfego a voos de pequeno e médio curso, articulando-o com o transporte de helicóptero. A Portela tornar-se-ia, assim, uma cidade virada para a função aeroportuária, recheada de actividades terciárias, centros de congressos e de residências de curta duração.
Rechear a Portela com a Feira Popular, um hipódromo uma zona residencial e comercial, centros de exposições e de concertos, hotéis e escritórios são as ideias do ateliê de arquitectura paisagista PROAP.
Equilibrar a vertente ecológica e o tecido urbano é a proposta dos arquitectos João Carrilho da Graça e João Gomes da Silva. "É mais realista do que fazer um parque ou um espaço indeterminado que serão progressivamente ocupados de forma desregrada e infeliz", observaram.
"Pulmão de comida"
Já o colectivo de jovens arquitectos Embaixada preferiu auscultar as ideias do público da Trienal de Arquitectura de Lisboa de 2007, concluindo que a construção densa também é uma opção. Ideia diferente teve o arquitecto Gonçalo Ribeiro Telles, para quem a Portela deveria dar origem a um megaparque hortícola com um rendimento de 20 milhões euros anuais, para fazer face às necessidades alimentares da região. "Lisboa não precisa de um pulmão, mas de comida", reiterou.
Portugal vai deitar 4,9 milhões de euros ao lixo caso o aeroporto da Portela não seja encerrado em 2017. O aviso é do vice-presidente da ANA- Aeroportos de Portugal, Carlos Madeira, que quer ver a zona aeroportuária totalmente livre das actuais funções sob pena de o novo aeroporto de Alcochete não passar de uma infra-estrutura fantasma. "Considerando os outros casos no mundo, há uma possibilidade de 30 por cento da Portela nunca chegar a encerrar, sobretudo quando temos dez milhões de especialistas aeronáuticos em Portugal", ironizou.
Segundo um estudo da ANA, do Boston Consulting Group e da Universidade Católica, "Lisboa não cumpre com os critérios para possuir dois aeroportos a funcionar simultaneamente". Com 14 milhões de passageiros anuais de origem, a capital fica aquém das cidades com dois aeroportos bem sucedidos, que atraem mais de 35 milhões, explicou Carlos Madeira, acrescentando que as companhias preferem concentrar-se num só local para potenciar a procura e as pessoas preferem ter oferta variada sem terem de deslocar-se. Partilhar o tráfego de aeronaves entre Alcochete e a Portela é, segundo o vice-presidente da ANA, ou "proibido" ou "inviável": "não se pode discriminar companhias" e Portugal não tem voos de carga suficientes que justifiquem um aeroporto suplementar.
"No Canadá, aquele que era para ser o maior aeroporto do mundo - Mirabel - foi fechado 35 anos depois de construído, porque o velho nunca chegou a ser encerrado. Não podemos deixar que isso aconteça cá". Fechar a Portela em 2017, evitando períodos de transição, e garantir ligações rápidas e cómodas a Alcochete são as soluções da ANA.»
Ou está tudo louco, ou este é apenas mais um acto de propaganda barata. Valha-nos a todos que só ser(i)á em 2050!
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2 comentários:
Humm.....em 2050, com uns remendinhos, a Portela ainda está ali para possibilitar o melhor sightseeing aéreo da Europa...
JA
A mentalidade de pato-bravo dos arquitectos continua! Ali na Portela,mais uma "Manhatan"...
Felizmente que temos um Ribeiro Telles,realista,que perante a nossa real pobreza (atingiu 46% das famílias portuguesas,cf. Visão nº 797)que diz uma verdade:"Lisboa não precisa de um pulmão,precisa de comida"...
24-6-08 Lobo Villa
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