24/09/2019

Cartazes pré-modernos num mundo pós-moderno


Há alternativas à colonização do espaço público pelos cartazes partidários. Num mundo novo, de redes sociais, devemos exigir mais e melhor aos partidos na forma como tentam fazer passar a sua mensagem.

Rui Martins, in Público (24.9.2019)


Em dezembro de 2016 os Vizinhos do Areeiro apelaram ao PCP e ao BE para deslocassem os outdoors que mantêm na Alameda Afonso Henriques e que tapam as vistas do monumento nacional (nº 4806). Algum tempo depois o PCP seria o primeiro a responder alegando que "PCP no âmbito da sua actividade política não pode admitir quaisquer restrições abusivas à mesma, pelo que aproveita para os enquadrar no conceito de propaganda política e no seu quadro legal" e citando a Constituição (Art. 37): "Todos têm o direito de exprimir e divulgar livremente o seu pensamento" e comparando qualquer restrição a - infere-se - à livre afixação de cartazes e outdoors como uma "forma de censura". Segundo a opinião expressa na resposta do PCP a colocação do cartaz não "afecta a beleza e enquadramento" da Fonte Monumental da Alameda. Ao exprimir esta opinião o partido assume que a instalação do dito outdoor não interfere com o sistema de vistas e que não colide com o 4º art. da Lei 97/88 que, no ponto 1 prescreve: "b) Não prejudicar a beleza ou o enquadramento de monumentos nacionais, de edifícios de interesse público ou outros susceptíveis de ser classificados pelas entidades públicas" mas quem passar pela Alameda, vindo da Avenida Almirante Reis verá que é precisamente este enquadramento que é prejudicado pela colocação do dito outdoor (ao lado de outros do PDR e BE) entre quem se coloca a meio da Alameda e tenta observar a Fonte (de 1948) ou, do lado oposto, o IST (de 1936), oculto por detrás do cartaz de IL. A resposta do BE, que surgiu dias depois, é de sentido e conteúdo idênticos acrescentando contudo que "entendendo que esta forma de divulgação pode gerar ocasionais descontentamentos – e pretendemos salientar que tomamos nota, agora, do pedido que nos fazem chegar – porém, é a forma mais eficaz que temos de passar mensagem política, aplicável a todos os partidos, dentro ou fora de campanha. Quando no futuro surgir uma reestruturação das nossas localizações em Lisboa, teremos certamente em conta o pedido infra". Esta resposta de fevereiro de 2018 não teve eco e aos cartazes do PCP e do BE vieram, entretanto, somar-se os do PDR e da IL que ali ficam até pelo menos às Legislativas de 2019.

Não há dúvida de que a Fonte Monumental é um monumento nacional. Também não se duvida que os jardins da Alameda têm o mesmo grau de protecção (Monumento Nacional nº 27035) e que estes cartazes interferem directamente com o sistema de vistas da Fonte, do Jardim, e do IST. E que a Lei 97/88 tem que ser aplicada por inteiro incluindo o ponto em que defende o sistema de vistas destes monumentos.

Não muito longe da Alameda encontramos outro caso semelhante, mas talvez ainda mais intenso: a Praça Francisco Sá Carneiro (outrora "Praça do Areeiro") que é o centro do "Bairro do Areeiro" (monumento nacional nº 7788): nesta praça (que serve de logótipo à própria freguesia do Areeiro e que já tem no centro um monumento a Sá Carneiro com um logotipo gigante do PSD com 20 metros de altura acotovelam-se agora cartazes de vários tamanhos e feitios de Livre, Aliança, PDR, CDS e BE. Tecnicamente, talvez ainda mais um ou dois: talvez - dada a popularidade deste local entre partidos - até ao absurdo de 21 cartazes para cada um dos partidos que concorre às eleições deste ano.

Exemplos não faltam no resto da cidade, que é de todos: Entrecampos, Campo Pequeno e o exemplo mais revoltante: Marquês de Pombal - porque os vários representantes partidários na CML comprometeram-se, aqui há uns anos, a não colocarem cartazes nesse local.

Os cartazes e outdoors (cartazes de grande dimensão) são considerados pelos especialistas de marketing político como uma forma eficaz de chegar aos eleitores: isto é, numa relação custo/benefício são a forma mais económica de chegar a um maior número de pessoas mas não faltam exemplos de campanhas eleitorais onde se realizaram investimentos massivos em outdoors para recolher votações muito abaixo das de outros candidatos sem cartazes e outdoors ou quase sem os ditos (ver, p.ex. as Presidenciais que opuseram Fernando Nobre e Manuel Alegre). Por isso é que os partidos continuam a apostar num meio de propaganda que recua à época romana (foram encontrados exemplos de grafitis políticos em Pompeia) em pleno século XXI e apesar de - quando sairmos da "bolha de conformidade" partidária dos aparelhos e das redes de militantes os cartazes e outdoors serem, quase unanimemente, detestados pela esmagadora maioria dos cidadãos e independentemente dos partidos ou das mensagens políticas que tentam transmitir. Em 1999, o então líder do CDS/PP, Paulo Portas, sobre estes meios de campanha declararia que "os outdoors e pendões são dois meios inúteis, porque o custo é infinitamente superior ao efeito" (Público 25/11/99) e sugerindo, mesmo, que se criasse um pacto entre partidos por forma a que não fosse usada publicidade comercial nas campanhas e admitindo que "a mania dos pendões que sujam as vilas, aldeias e cidades de Portugal são gastos desnecessários". O apelo não teve eco entre os demais partidos e o próprio partido de Portas continuou a apostar neste tipo de meios (como se vê, por exemplo, na Praça Francisco Sá Carneiro) e estima-se que cerca de metade de todas as despesas de campanha sejam consumidas, precisamente, neste tipo de meios.

Numa notícia do Público de 25 Novembro de 1999, é dito que o CDS/PP, na campanha para as legislativas de 1999, gastou cem mil contos. “Desses cem mil contos que o CDS-PP diz ter gasto, mais de metade, exactamente 51%, foram despendidos em publicidade estática, ou seja, na colocação de outdoors durante um mês e meio, a que se deve juntar mais de cinco mil contos da produção dos cartazes”. Nas Legislativas de 2009 os partidos gastaram 2,3 milhões de euros em cartazes. Nas Legislativas de 2019, o valor total será de 8,1 milhões de euros com os grandes partidos a apostarem em logística e acções de rua e os pequenos em outdoors e cartazes. Falamos assim portante de um valor total em declínio, num reconhecimento implícito da perda de eficácia deste meio num contexto em que já mais de 5 milhões de portugueses são utilizadores regulares das redes sociais e a elas recorrem como principal fonte noticiosa: embora o consumo de jornais e televisão esteja em queda: as redes sociais (Youtube e Instagram) continuam em crescimento, sobretudo entre os mais jovens (e o facebook entre os mais idosos). Edson Athayde (JN 10.5.2011), um publicitário de profissão concordaria "Os cartazes são um meio de síntese, não explicam nada - apenas sublinham. Resultaram bem num mundo a preto e branco, quando um candidato era claramente diferente do outro". Sem dúvida que os milhões que são assim dados a ganhar às dezenas de empresas especializadas em “marketing político”, gráficas, empresas de serviços de instalação e colagem de cartazes, e que quase sempre são propriedade ou geridas por militantes partidários serão defendidos por estas como “inevitáveis” ou como um ataque ilegítimo à livre capacidade de os partidos propagarem a sua mensagem.

Num regime de austeridade "permanente" existe algo de imoral em continuar a ver os partidos políticos a investirem milhões de euros num tipo de propaganda política que já provou que não consegue inverter ou alterar resultados eleitorais. Talvez se possa começar por não financiar nenhuma forma de publicidade comercial dos partidos (o CDS/PP chegou a levar essa proposta à Assembleia da República) e clarificar o art. 4 da Lei 97/88 no que respeita à protecção do sistema de vistas dos monumentos nacionais e alargar essa protecção aos "Imóveis de Interesse Municipal". Quanto ao uso do facebook: está vedado em períodos de campanha eleitoral, mas aqui pode ser uma via para começar a mudar este meio forçando, por exemplo, todas as redes sociais que querem facturar em Portugal a serem obrigadas a conceder um determinado potencial de visualizaçõe e anúncios não pagos a todos os partidos que se apresentam a eleições, replicando no mundo virtual aquilo que as câmaras municipais já fazem com zonas especiais. Importa também reflectir se estas “telecampanhas” feitas à distância, com doses mínimas de contacto dos candidatos com os eleitores (em fugazes arruadas e sempre rodeados por seguranças e pelo Aparelho partidário) e em comícios e jantares para militantes e concebidos para conquistarem alguns segundos de atenção nos telejornais são, ainda, a forma mais eficaz de chegar aos eleitores ou se, pelo contrário, os partidos devem começar a fazer campanhas ao estilo anglo-saxónico do porta-a-porta, com pequenas equipas de 2 ou 3 elementos e um candidato e organizarem debates e sessões de esclarecimento para os indecisos ou não convencidos em casas de apoiantes ou em colectividades e associações com pegada local.

Há alternativas à colonização do espaço público pelos cartazes partidários. Não temos que continuar a fazer campanhas políticas como se fazia até há 15-20 anos. Num mundo novo, de redes sociais, de “tempo real”, de contacto directos entre eleitos e eleitores, devemos exigir - todos - mais e melhor aos partidos na forma como tentam fazer passar a sua mensagem até aos eleitores.

Membro do Fórum Cidadania Lx e fundador dos Vizinhos do Areeiro

20/09/2019

Quiosque abandonado Largo da Graça pedido de resgate à ATL


Exmo. Senhor Director Executivo
Dr. Vítor Costa


C.C. JF, PCML, AML e media

Serve o presente para sugerir à Associação de Turismo de Lisboa que desenvolva os melhores esforços no sentido de resgatar para a cidade o quiosque do Largo da Graça, que se encontra de novo abandonado e sem destino anunciado, apesar de sob a alçada da Junta de Freguesia de São Vicente.

Com efeito, este quiosque foi anunciado em 2013 como sendo o futuro “posto turístico da Graça” (ver foto1), mas, surpreendentemente e em contradição com o fim de utilidade pública então anunciado, acabaria por ser concessionado a uma firma de cervejas (foto2), que agora o desocupou.

Custa-nos assistir a mais este abandono de um quiosque histórico, pelo que apelamos aos V/bons serviços no sentido de o colocar ao serviço do Turismo de Lisboa, servindo efectivamente de posto de turismo naquela zona da cidade que, cada vez mais, é destino privilegiado de quem nos visita e quer saber o que de bom a Graça tem para mostrar.

Com os melhores cumprimentos

Paulo Ferrero, Bernardo Ferreira de Carvalho, Júlio Amorim, Pedro Henrique Aparício, António Araújo, Virgílio Marques, Fátima Castanheira, Helena Espvall, Ana Alves de Sousa, Beatriz Empis, Irina Gomes, Carlos Moura-Carvalho, Alexandra Maia Mendonça, Luís Mascarenhas Gaivão, Rui Pedro Martins, Pedro Jordão, Jorge Pinto, Maria Maia, Pedro Machado e Bruno Palma

19/09/2019

Construção nova atrás do Campo das Cebolas - protesto e pedido de esclarecimentos a CML e DGPC


Exmo. Senhor Presidente da CML
Dr Fernando Medina
Exma. Senhora Directora-Geral do Património Cultural
Arq. Paula Silva

C.c. AML, JF, Vereador Urbanismo e media

Serve o presente para protestarmos junto de V. Exas. pela aprovação do projecto de arquitectura que resultou na construção recentemente concluída de um edifício no gaveto da Rua Afonso de Albuquerque, imediatamente por detrás do Campo das Cebolas e em pleno "casco histórico", de que juntamos fotos.

Duvidamos que tal construção se apresente como legal à luz do disposto no Plano de Urbanização do Núcleo Histórico de Alfama e Colina do Castelo [artigo 9-ponto 2, artigo 10-ponto 1 b), artigo 14-ponto 3], pelo que é inaceitável que os Serviços que V. Exas. dirigem se tenham permitido propor a aprovação de tal construção, completamente dissonante e provocatória dada a zona em que se insere.

Mais solicitamos que nos esclareçam quanto à oportunidade de este projecto de arquitectura ter sido superiormente aprovado por V. Exas. e não, como devia, ter sido devolvido à procedência para correcções em conformidade com a regulamentação em vigor e com o que a zona histórica em causa exige.

Melhores cumprimentos

Paulo Ferrero, Bernardo Ferreira de Carvalho, Miguel de Sepúlveda Velloso, António Araújo, Inês Beleza Barreiros, Maria Teresa Goulão, Pedro Jordão, Luís Mascarenhas Gaivão, Helena Espvall, Pedro Machado, Pedro de Souza, Virgílio Marques, Júlio Amorim, Miguel Atanásio Carvalho, Fátima Castanheira, Beatriz Empis, Maria do Rosário Reiche

Lisboa, 19 de Setembro de 2019

17/09/2019

06/09/2019

The vandalism of Lisbon by philistines!




(Chegado por e-mail):


«Good afternoon,

I came across your website after reading on Lisboa Live about the destruction of yet another beautiful old building in the historical centre of the city (the pink house on Rua da Lapa). A shocking story that now has 11,000 likes on Lisboa Live's Instagram page!

I am sick and tired of the the constant destruction going on in Estrela, especially, by the local town hall. What the hell do they think they are are doing!? Who gave them the right to destroy Lisbon's architectural heritage like this? The very thing millions of visitors come to the city to see every year. Talk about killing the goose that lays the golden egg. Blind and foolish - how much more idiotic can planning approvals be?

James»

(texto editado a pedido do autor)

...

«My Instagram is now up and running and it can be found @savelisbon. It would be great if you were able to post this on the forum and would be much appreciated.» (6.10.2019)

Quiosque histórico de Santa Apolónia - À atenção da CML


Exmo. Senhor Presidente
Dr. Fernando Medina


C.c. AML, JF, Vereadora da Cultura, ATL e media

Serve o presente para chamar a atenção de V. Exa. e dos serviços da CML respectivos para a situação de abandono a que está votado o magnífico e raríssimo quiosque de Santa Apolónia, sito na Avenida Infante D. Henrique (lado rio), e para a necessidade da sua recuperação e dignificação.

Com efeito, trata-se de um quiosque com cerca de 100 anos, único em Lisboa, que saibamos, por ter janelas ogivais e motivos neo-góticos na decoração da base, e que, por certo, será uma mais-valia para a cidade se devidamente restaurado e recolocado em zona onde seja menos afectado pela poluição e mais bem tratado por quem o explore e frequente.

É urgente o resgate deste quiosque, para que se evite que se repita a triste sorte do quiosque antigo do Cais do Sodré, que desapareceu no pós-obras do largo, para posterior desmantelamento...

Na expectativa, subscrevemo-nos com os melhores cumprimentos.

Paulo Ferrero, Bernardo Ferreira de Carvalho, Fernando Jorge, Luís Mascarenhas Gaivão, Júlio Amorim, Maria do Rosário Reiche, Rui Pedro Martins, Vítor Vieira, Helena Espvall, João Oliveira Leonardo, Carlos Moura-Carvalho, José Maria Amador, Maria Maia, Alexandra Maia Mendonça, Miguel de Sepúlveda Velloso, Filipe Teixeira, Pedro Henrique Aparício, Virgílio Marques, Odete Pinto, Luís Serpa, João Pinto Soares, Sofia de Vasconcelos Casimiro, Pedro de Souza, Fátima Castanheira, Ana Alves de Sousa, Jorge D. Lopes, Maria Ramalho, Pedro Jordão e Catarina Portas

​Foto2: Lastscan3​

(6 de Setembro de 2019)

...

Resposta da Associação de Turismo de Lisboa (19.9.2019)

«Bom dia.


Exmos senhores Fórum Cidadania.

Venho por este meio informar que, na sequência da questão que colocaram tentámos obter a cedência do Quiosque pela APL, para o recuperar, mas fomos informados de que, por enquanto, tal não é possível porque existe um processo em Tribunal que o impede.

Com os melhores cumprimentos,

Carla Frade

Coordenadora do Gabinete do Associativismo»

05/09/2019

"Tabaqueira: porque descartou Piano a sua reabilitação?" [Público]

Foto: Daniel Rocha

Faz espécie, sim, a lenta agonia por que tem passado aquela estrutura majestosa, aquela majestosa estrutura de ferro e tijolo, aquela que é hoje um dos raros exemplares da arquitectura industrial ainda de pé na cidade de Lisboa.

5 de Setembro de 2019, 6:09


Verdade seja dita que, para muitos, é indiferente o legado arquitectónico, muito menos o histórico, daquela magnífica estrutura, marca indelével da nossa arquitectura do ferro, erguida na década de 20 para a então fábrica de tabaco do magnate industrial Alfredo da Silva (um verdadeiro empreendedor à luz do conceito de Karl Schumpeter), e uma das primeiras unidades industriais do pós-monopólio estatal, que ali laborou até 1963 (nesse ano havia de rumar a Albarraque, nos arredores de Sintra, onde acabou por encerrar passados alguns anos) e que foi responsável pelos “Tabacos da Tabaqueira, Os Melhores do Mundo”, entre eles os célebres “Definitivos”, hoje política e cientificamente incorrectos, e com razão.

Dentro em breve, inclusive, não será de estranhar que a toponímia local (Rua da Tabaqueira, Largo do Tabaco) seja substituída por algo como “silver street” ou “river plate square”, designações mais consentâneas com o espírito da época em que vivemos e prontas a servir a qualquer visto dourado que ali pretenda lavar alguma coisa que não folha de tabaco. Faz espécie, sim, a lenta agonia por que tem passado aquela estrutura majestosa, aquela majestosa estrutura de ferro e tijolo, aquela que é hoje um dos raros exemplares da arquitectura industrial ainda de pé na cidade de Lisboa (recorde-se a destruição massiva de património industrial que ocorreu em Alcântara e na Boavista há coisa de 20 anos, com a demolição completa de vários edifícios e o desaparecimento de máquinas e utensílios os mais variados, alguns autênticas relíquias, realidade que inviabilizará, por certo, a constituição de um hipotético Museu da Indústria; e fique aqui o aviso de que a recente mudança de mãos do complexo hoje conhecido por “Lx Factory” também não augura nada de bom para aquele conjunto de edifícios).

Faz espécie e revolta, mesmo, quando se sabe que os “Jardins de Braço de Prata” foram projectados pelo mundialmente famoso arquitecto genovês Renzo Piano, e que a Tabaqueira estava incluída no seu “projecto global” inicial, digamos assim, embora sendo então entregue especificamente à arquitecta Grazia Repetto, também ela genovesa.

Não se compreende, pois, como é que um arquitecto do prestígio mundial de Piano deixou cair o projecto de reabilitação da sua colega Repetto, de 2002, que é simplesmente magnífico (vide aqui o projecto), para abraçar, recentemente, um novel projecto, aparentemente, do atelier STC, que apenas projecta mais do mesmo: construção e betão.

De facto, pelo projecto magnífico de Repetto, pretendia-se (pretende-se) reabilitar todo o edifício da Tabaqueira como espaço cultural e gastronómico (“La Tabaqueira - Museo del Património Cultural Gastronomico Nazionale Portoghese-Lisbona”), pelo que tudo, mesmo tudo, seria restaurado e reinventado, com gosto e bom senso: espaços comerciais, restauração, jardins, estufas, etc., numa palavra: algo de que vão precisar e muito, os futuros moradores dos “n” condomínios que vão nascer para aquelas bandas (Beato, Poço do Bispo, Braço de Prata, Matinha).

Que se terá passado, então?

Só se sabe que pelo meio houve mudança de proprietário do lote onde se encontra o que resta da Tabaqueira, sendo que durante vários anos, e até há bem pouco tempo, marcou presença na sua ainda lindíssima fachada principal um cartaz com “Vende-se” (na altura era propriedade da EDP…). Sabe-se agora que a CML fez sempre questão em fazer de conta que não via, quiçá contando com a tradicional apatia dos lisboetas para mais tarde declarar como facto consumado o seu desaparecimento total e assim permitir a viabilização do novo projecto já citado.

Pior, em 2010, por exemplo, há registos fotográficos que são inquestionáveis: o edifício estava em muito melhor estado do que está hoje e a sua recuperação teria sido muito menos custosa. Hoje, os vidros das fachadas estão praticamente todos partidos e está corroído ou roubado todo o metal que era possível roubar e corroer, por fora e por dentro.

Pergunta-se: então, não era suposto a CML da 2ª década do século XXI comportar-se de forma mais civilizada do que a das décadas precedentes, em que permitiu que se construísse, sabe-se agora, em terrenos contaminados (por exemplo, a escola da Expo)?

Todos julgávamos enterrado esse período negro camarário de anti-património industrial (vulgo arqueologia industrial), em que edifícios emblemáticos (desde logo a Favorita, em Sapadores) e boqueirões inteiros, becos e travessas onde se localizavam as antigas fábricas de Lisboa, viraram aterros de gravilha, terrenos expectantes de betão e construção, mas nem por isso de melhor qualidade de vida. Enganámo-nos. Redonda e duplamente.

Em primeiro lugar com a CML, porque esta não só perdeu a oportunidade de adquirir para o domínio público o edifício da Tabaqueira enquanto este estava à venda, dando assim bom uso a alguns dos milhares de euros, dos milhões, as receitas da taxa turística cobrada por cada turista que por cá dormita, como ainda não mostrou qualquer simpatia para com o projecto de reabilitação de 2002, projecto esse que, a ser abraçado pela CML, podia fazer a diferença em termos de política urbanística da CML doravante.

Em segundo lugar, e bem mais surpreendente, convenhamos, com Renzo Piano.

Porque ninguém está à espera que um arquitecto do seu gabarito, uma daquelas estrelas da Arquitectura que habitualmente contamos com os dedos de uma só mão, seja indiferente ao Património pré-existente, no caso, seja completamente indiferente ao pequeno mas majestoso e histórico edifício da antiga Tabaqueira, deixando cair no esquecimento o belo projecto de reabilitação que a sua conterrânea fez para ele, e para Lisboa, em Dezembro de 2002. Mais a mais um projecto que complementaria os seus “Jardins de Braço de Prata” de uma forma espectacular.

Signor Arch. Dott. Renzo Piano, a Tabaqueira de Braço de Prata pode ser salva.

Ajude-nos!

Fundador do Fórum Cidadania Lx

Parques de estacionamento automóvel sem lugares para bicicletas - pedido à CML


Exmos. Senhores
Presidente da CML, Dr. Fernando Medina,
Vereador da Mobilidade, Dr. Miguel Gaspar,
Presidente da EMEL, Dr. Luís Natal Marques


CC. AML, JF e media

No seguimento da inauguração do parque de estacionamento automóvel junto à piscina de Campo de Ourique (http://www.cm-lisboa.pt/noticias/detalhe/article/novo-parque-de-estacionamento-em-campo-de-ourique), constatamos que, mais uma vez e à semelhança dos parques de estacionamento construídos há poucos meses (nos Bombeiros da Graça e junto ao terminal de cruzeiros de Santa Apolónia, por exemplo), não existe nenhum local de parqueamento para bicicletas, o que, a nosso ver, estando na presença de um equipamento desportivo, não deixa de ser uma contradição com as orientações de política de mobilidade em boa hora incrementadas pela Câmara Municipal de Lisboa.

Não conseguimos compreender como é que, numa altura em que a CML promove, e bem, campanhas de sensibilização para a utilização de bicicletas pelos lisboetas e os que nela trabalham e a visitam, se investem verbas avultadas na construção de estacionamento automóvel, incentivando as pessoas a utilizaram-no, em vez de o fazerem de bicicleta.

Nesse sentido, e à luz do que já solicitámos ao senhor Vereador da Mobilidade em termos de criação de estacionamento para bicicletas junto a edifícios públicos (https://cidadanialx.blogspot.com/2019/07/criacao-de-bolsas-de-estacionamento.html), e de que ainda aguardamos uma resposta, pedimos a V. Exas. que nos esclareçam sobre eventuais especificações regulamentares quanto à obrigatoriedade de garantir uma certo número de lugares para estacionamento de bicicletas sempre que é licenciada a construção de parques de estacionamento automóvel junto a equipamentos públicos, como é o caso da piscina de Campo de Ourique.

Solicitamos ainda a V. Exas. que nos indiquem quais os parques de estacionamento automóvel na cidade de Lisboa em que se pode estacionar bicicletas e motociclos, e em que condições.

Com os melhores cumprimentos

Paulo Ferrero, Bruno Palma, Bernardo Ferreira de Carvalho, Virgílio Marques, Eurico de Barros, Luís Serpa, Pedro Jordão, Rui Pedro Martins, Fátima Castanheira, João Oliveira Leonardo, Maria do Rosário Reiche, José Leiria-Ralha, Irina Gomes, Fernando Jorge, Maria Maria, Miguel Atanásio Carvalho, Filipe Teixeira, Jorgde D. Lopes

Foto: Time Out

02/09/2019

Portela vs. Montijo - Pedido de liderança à CML para a defesa da Cidade


Presidente da Câmara Municipal de Lisboa
Dr. Fernando Medina


C.C. AR, PM, AML

No âmbito da consulta pública acerca da construção de um novo aeroporto no Montijo, cujos acessos previstos são rodoviários, questionamo-nos se a decisão de construir esse aeroporto sobre o rio Tejo, com vista a resolver uma necessidade de curto-prazo, não estará a condenar a cidade de Lisboa a estar rodeada de poluição química e sonora por mais três ou quatro gerações, como aquela a que tem estado desde que o aeroporto da Portela foi inaugurado, e a partir do momento em que a urbe se foi aproximando daquela zona, que por essa altura ficava nos arrabaldes de Lisboa.

Ou seja, até que ponto é desejável manter-se por mais 50 anos, ou mais, não um, mas dois aeroportos na área da capital, em vez de se encetar desde já os preparativos para a construção de um só aeroporto e fora da grande Lisboa, concentrando as operações aeroportuárias e evitando um duplo encargo para as futuras gerações?

Não eram esses os pressupostos que levaram o anterior Presidente da CML a afirmar em 2007-2008 que pugnaria pelo fecho do aeroporto da Portela e pela a sua transformação num imenso parque urbano, num segundo “pulmão verde” da cidade?

Nesse sentido, e tendo em conta que, noutra vertente que não o tráfego aéreo, são uma evidência os indicadores internacionais que apontam para a elevada poluição proveniente dos grandes paquetes quando manobram junto aos cais e por isso toda a carga extra poluidora sobre a zona de Alfama (recordemos que a nova presidente do munícipio de Barcelona está empenhada em reduzir o número de licenças de cruzeiros...) solicitamos a V. Exa. a melhor atenção para a necessidade de a CML assumir a liderança na defesa da Cidade e da sua área metropolitana, pugnando pela apresentação de estudos sobre o real impacto do presente aeroporto da Portela e da eventual solução Portela-Montijo, designadamente na qualidade do ar que se respira, nas águas subterrâneas, do impacto no desenvolvimento de doenças do foro cancerígeno, nervoso, etc., e, nessa medida, proceder à sua encomenda.

E com base nas respectivas conclusões, então, sim, decidir politicamente quanto a este assunto.

Na expectativa, apresentamos os nossos melhores cumprimentos


Paulo Ferrero, Bernardo Ferreira de Carvalho, Filipe de Portugal, Inês Barreiros, Rui Martins, António Araújo, Júlio Amorim, Maria Maia, Beatriz Empis, Jean Teixeira, Jorge D. Lopes, Pedro de Souza, Helena Espvall, Bruno Palma, Fátima Castanheira, João Filipe Guerreiro, Fernando Jorge

Imagem: Jornal Sol