21/01/2008

S.O.S. Bairro Alto, é tempo de dizer basta!

Exmo. Sr. Presidente, Dr. António Costa,
Exmos. Vereadores da CML,

Como é do conhecimento de V.Exas., o Bairro Alto tem desde há muitos anos um Plano de Pormenor que até à data, e face ao estado de esquecimento em que o bairro se mantém, nunca trouxe outros resultados práticos que não a continuação da delapidação do património, a alteração significativa da traça e da estrutura do bairro, o derrube das poucas árvores que ainda subsistem, etc., numa palavra, a degradação da qualidade de vida dos moradores.

Exemplo disso, são:

- O estado deplorável do valiosíssimo edifício onde se encontra a Hemeroteca Municipal, cujos andaimes fazem parte da paisagem há cerca de 10 anos!;

- O abandono dos edifícios das antigas sedes dos jornais A Capital (onde a CML se comprometeu oficialmente a pugnar pela abertura do centro de artes dos Artistas Unidos/Espaço A Capital) e do Record ;

- O empreendimento que foi autorizado no Colégio dos Inglesinhos (inclusive, com alterações posteriores completamente à margem do que tinha sido aprovado, por ex,. o derrube do muro de Carlos Mardel, a destruição das mansardas, das árvores centenárias, etc.);



- As autênticas operações de «loteamento» de que são alvo os principais edifícios apalaçados - quando não a totalidade dos quarteirões- e outros de inegável valor, - Palácio dos Andrades , Palácio Braancamp (CML), quarteirão do Café Luso , edifício das antigas instalações da loja "Outra Face da Lua", edifício do antigo SNI , o Nº 21 da Rua Nova do Loureiro, Nº 18-28/30-40 da Rua Nova do Loureiro ; o novo condomínio fechado na Rua da Vinha, jardim em edifício da Rua do Século , etc., etc;

- A ineficácia da CML, da Polícia Municipal, etc. no combate aos graffiti (que chegam aos primeiros andares dos prédios – situação gravíssima na Rua da Barroca e na Rua da Atalaia, e respectivas transversais); ao tráfico de droga, à sujidade generalizada e ao vandalismo no Bairro;



- O estacionamento clandestino, por vezes com bloqueio de ruas e portas de prédios, ao estacionamento em cima do passeio, o abandono da zona pela EMEL há muitos anos (regresso recorrentemente prometido e nunca cumprido), que traduz afinal a total inconsequência das medidas de ordenamento do trânsito e estacionamento com prejuízo dos moradores, destituídos da possibilidade de estacionamento por o espaço vital estar ocupado por terceiros;



- A falta que continua a fazer o eléctrico 24 (!), em termos também de disponibilizar ligações aos parques de estacionamento periféricos, se devidamente inserido numa rede de mobilidade;

- O mau estado de muitos dos arruamentos do Bairro ;

- O abandono de viaturas (Rua da Academia das Ciências, Rua do Século (defronte, inclusive, ao Tribunal Constitucional!), etc., sem reacção adequada e atempada da CML;



- A incapacidade que a CML tem demonstrado em salvaguardar o Palácio Pombal, sua propriedade, face ao continuado saque de azulejos de que é alvo;



- O ruído nocturno dos bares , que impede o descanso e o sono dos moradores;

- A ausência da CML enquanto agente mobilizador junto do Governo no sentido de se manter naquela zona o Conservatório Nacional e outros organismos públicos ;

- O galopante empobrecimento do bairro quer por via do desmantelamento/deslocalização dos seus equipamentos, quer por via da proliferação de condomínios fechados, situação que, a prazo, destruirá a sua essência: os laços de proximidade, vizinhança e entre-ajuda que ainda subsistem. A lógica que está a ser seguida está longe de se coadunar com o conceito de cidade de bairros que a CML diz defender; etc.



Na verdade, importa sublinhar que a construção no interior do Bairro, realizada nos últimos anos, ou em curso, em nada resolveu os problemas crónicos do Bairro, apenas trouxe outros. E todos eles, antigos e recentes continuam por resolver!

Por outro lado, o Bairro Alto está neste momento em vias de classificação pelo IGESPAR, o que torna ainda mais caricato o que todos os dias nos é dado ver no bairro, e que atrás mencionamos.

Pensamos que é tempo de dizer BASTA!

Recordando a V.Exas. que há vida no B.A. para além dos graffiti, subscrevemo-nos com os melhores cumprimentos, na expectativa que os maus exemplos do passado não continuem no presente e futuro.


Alexandra Maia Mendonça, Maria Amorim Morais, Odete Pinto, Sofia Vilarigues, António Branco Almeida, Bernardo Ferreira de Carvalho, Carlos Brandão, Hugo Daniel de Oliveira, Júlio Amorim, Miguel Atanásio Carvalho, Nuno Caiado, Paulo Ferrero, Tiago Figueiredo e Virgílio Marques



(fotos: ABA)

8 comentários:

Anónimo disse...

isto até da vontade de chorar. infelizmente bairros como a bica ou alfama seguem o mesmo caminho. é uma vergonha para nós,Lisboetas. Como temos coragem de viver assim numa cidade que poderia ser das mais bonitas da Europa e do mundo? tantas campanhas para o turismo para que?? já era tempo de ir para a CML alguem que realmente gostasse de Lisboa. mas acho que numca teremos essa sorte.

Anónimo disse...

O Giuliani resolvia isso entre duas torradas, ao pequeno-almoço.
Como o homem está cada vez mais longe de ser presidente dos States, talvez fosse de considerar uma contratação milionária para resolver de vez o problema do Bairro Alto. Ainda deve haver uns trocos, naquela conta que servia para pagar ao Ghery.
Penso eu de que...

Anónimo disse...

Bom artigo. Descreve bem a triste realidade no Bairro Alto.

É confrangedor observar que uma zona tão emblemática da capital esteja neste estado lastimoso. Há ruas inteiras onde não se vê um único prédio em condições – dou como exemplos a Rua da Barroca, a Rua da Rosa, a Rua Diário de Notícias, a Rua da Atalaia, entre outras. Estão todas completamente 'graffitadas', de um extremo ao outro. Para quem, pelos mais diversos motivos, utiliza diariamente o Bairro Alto como meio de passagem, é com amargura que constata a constante destruição de um património que, devidamente limpo, teria todas as condições para acrescentar ainda mais beleza a Lisboa.
Mas não é apenas este bairro que é vandalizado. Senão notemos:

Bica – Grande parte das ruas deste típico bairro lisboeta, mesmo ao lado do Bairro Alto, estão, igualmente, muito danificadas com graffiti, nomeadamente a Rua Bica de Duarte Belo (a do elevador) bem como algumas outras ruas transversais a esta.

Zona entre Conde Barão e Cais do Sodré – A esmagadora maioria das ruas que se encontram entre estas duas zonas estão muito sujas com graffiti e pouco ou nada têm sido intervencionadas nos últimos anos.

Baixa/Chiado – Também aqui se nota uma aglomeração de graffiti fora do normal em certos locais. Nesta situação encontram-se, por exemplo, a Rua Garret, a Rua do Carmo (frequentadas diariamente por habitantes e milhares de turistas) e a zona do Largo do Carmo, que ultimamente tem vindo a ser atacada com cada vez mais frequência. Também na Baixa se notam alguma áreas com focos de muito graffiti, como a Rua da Madalena e as Escadinhas que ligam a Rua da Madalena à Rua dos Fanqueiros.

Igualmente, os elevadores da Carris (sobretudo o da Bica e o da Calçada da Glória) também tem sido alvos constantes de vandalismo, não admirando por isso que muito recentemente a Carris tenha vindo a público dizer que vai colocar câmaras de vigilância nestes espaços, a fim de tentar evitar estes constantes actos de sabotagem. Uma acção sensata mas que peca por tardia, tantas foram as vezes que estes meios de transporte já foram vandalizados!

O mais engraçado é que estamos a falar de algumas das zonas mais visitadas pelos turistas na capital, que são precisamente aquelas que são mais atacadas e, paradoxalmente, as que menos recebem acções de limpeza no seu conjunto!

Acredito que somente uma maior visibilidade noticiosa deste assunto poderá levar quem de direito a tomar acção decisiva contra este praga que não só destrói o património urbano de Lisboa, como também dá um ar de 3º mundo a quem cá vive e a quem nos visita.

Cumprimentos a todos.
Tomás Alves

Anónimo disse...

É de louvar a carta elaborada pelo
Fórum Cidadania de Lisboa dirigida ao Presidente da Câmara António Costa em relação aos graffitis.
Mas infelizmente esta situação não ocorre só no Bairro Alto. Dou 2 exemplos: a fachada da Basílica dos Mártires em pleno coração do Chiado. A sua bonita fachada foi alvo de uma intervenção não faz muito tempo. Pouco tempo depois já
estava pintada com números e dizeres alusivos ao diabo. Também o elevador da Glória esteve mais de um ano fechado e não passou uma semana que não fosse novamente vandalizado. Eu pergunto? O que fazem as autoridades deste país? Antes tinhamos ditadura e agora temos o quê libertinagem? Estes indíviduos que estragam a cidade deviam levar uma valente multa e pagar com o dinheiro deles todas as fachadas que sujam. A cidade de Lisboa tem actualmente um ar de desmazelo, degradação, sujidade e não se vê qualquer iniciativa para contrariar esta situação. Há muita contestação em relação à lei do tabaco mas para esta situação exige-se uma lei rigorosa e que se cumpra. Não se pode deixar que vândalos estraguem a nossa cidade. Sou uma grande admiradora do Chiado mas ultimamente evito ir a esta zona da cidade de triste que fico em ver ao estado a que chegou.
Esta zona deveria ser o cartão de visita da capital.

Nuno Loureiro disse...

E a biblioteca de camões, com a sua bela arquitectura, cuja fachada está completamente preta?

Na minha opinião, os maiores problemas do bairro alto são os edifícios degradados e a imundice das ruas.

daniel costa-lourenço disse...

existindo uma limpeza regular, mais dificilmente se escreve nas paredes...

é um convite ao dano uma parede que já está completamente e há mais tempo rabiscada...

Anónimo disse...

Quase tudo se resolve com vontade política e com meios (parece que não há uma coisa nem a outra...). A questão da grafitagem resolve-se com abatimento (a tiro) à vista.

Miguel de Sepúlveda Velloso disse...

há quem ache, e é publicado, que o que se quer fazer no Adamastor é uma limpeza social.

Aquilo era uma choldra e balda a céu aberto. Ordenar o espaço urbano e limpá-lo é para muitos, destruir o carácter "inclusivo" da cidade.