20/03/2008

DIA MUNDIAL DA FLORESTA - 21 de Março de 2008


LARGO HINTZE RIBEIRO - renaturalizar um "canteiro-alcatrão"


Exmo. Sr. Vereador José Sá Fernandes,

No dia Mundial da Floresta, a Associação Lisboa Verde, a Liga dos Amigos do Jardim Botânico e o Fórum Cidadania LX vêm solicitar ao Pelouro do Ambiente e dos Espaços Verdes a renaturalização de uma parcela de terreno municipal no LARGO HINTZE RIBEIRO.

A parcela de terreno situa-se entre a Rua de São Bento e o maciço de Ficus macrophylla Desf. Ex Pers. classificadas, desde 1970, como Árvores de Interesse Público pela Direcção-Geral dos Recursos Florestais.

Até há uns anos atrás esta parcela de terreno esteve a ser utilizada como parque de estacionamento. Mas após denúncias e protestos (alguns veículos estacionavam mesmo junto das árvores) a CML instalou pilaretes de modo a devolver alguma dignidade ao conjunto notável de Ficus macrophylla classificadas.

Mas desde essa data que a parcela de terreno se encontra expectante e inútil. Actualmente não passa de um absurdo canteiro impermeabilizado com alcatrão e cercado de pilaretes.

Embora todo o largo precise de ser requalificado tanto ao nível do revestimento do piso (demasiado impermeável) como do ordenamento do estacionamento, consideramos prioritária a resolução deste "canteiro-alcatrão". Lisboa precisa de renaturalizar este espaço.

Assim, sugerimos o seguinte:

- Que seja retirado o alcatrão que está a impermeabilizar desnecessáriamente, e com prejuízo para a cidade, mais de 300 m2 metros quadrados de solo.

- Em vez do alcatrão propomos a criação de um novo espaço verde com espécies arbustivas da flora local, adequadas ao clima de Lisboa e pouco exigentes em água e manutenção.

- Para o topo poente, junto da Rua de São Bento, a plantação de um alinhamento de árvores de modo a criar uma barreira vegetal que proteja o Largo Hintze Ribeiro do intenso tráfego automóvel daquele arruamento.

- A criação de algumas zonas de descanso e contemplação com bancos estrategicamente implantados para que os cidadãos possam usufruir, condignamente, do maciço de Ficus macrophylla.

- Propomos também a instalação de sinalética para ajudar na interpretação da relevância botânica da espécie classificada assim como de uma iluminação cuidada que valorize o maciço monumental de Ficus macrophylla.

A concretização deste projecto é viável a curto prazo pelas seguintes razões:

- Trata-se de uma empreitada simples, de pequena dimensão e relativamente barata.

- Pode ser executado pelo Departamento de Ambiente e Espaços Verdes - Divisão de Jardins.

- Estabelecendo uma parceria com a Direcção-Geral dos Recursos Florestais (DGRF) uma vez que se deve a Hintze Ribeiro (1849-1907) a criação do Regime Florestal (Decreto de 24 de Dezembro de 1901) que ainda está em vigor.

- Captando apoio mecenático, como por exemplo da Embaixada da Austrália para o financiamento do projecto da sinalética e da iluminação do maciço de Ficus macrophylla uma vez que é uma árvore endémica daquele país.

- Os membros da Associação Lisboa Verde, da Liga dos Amigos do Jardim Botânico e do Fórum Cidadania LX, estão disponíveis para colaborar com a CML no planeamento e execução desta iniciativa.

Este projecto traria benefícios ambientais não só para os moradores da zona como também para o próprio maciço de Ficus macrophylla que actualmente se encontra ao centro de um largo com mais de 90% de solo impermeabilizado.

Com esta simples iniciativa o Município de Lisboa daria um bom exemplo de recuperação de um espaço público, ao criar um novo jardim, e de sustentabilidade ambiental, ao devolver solo vivo e permeável à cidade. Afinal, duas questões muito importantes para a qualidade de vida em Lisboa.

Agradecemos a V. Atenção e apresentamos os nossos melhores cumprimentos,

Associação Lisboa Verde
Liga dos Amigos do Jardim Botânico
Fórum Cidadania LX


ANEXO 1
Dados botânicos da Ficus macrophylla Desf. ex Pers. ssp. macrophylla

Família: MORACEAE
Origem: Endémica do E da Austrália (Queensland e Nova Gales do Sul)

Árvore frondosa, de folhas persistentes, com raízes adventícias com desenvolvimento colunar quando atingem o solo. Estas servem como suporte da copa permitindo o seu grande desenvolvimento transversal. A sua altura máxima varia de 12 a 60m, consoante os autores.
No habitat nativo é um epífito (desenvolve-se sobre outras espécies sem as parasitar) estrangulador.
As flores são polinizadas por um insecto da família das vespas. Os síconos (figos) têm cerca de 2,5cm de diâmetro e são de cor castanho avermelhado a purpúreos.
Ainda não lhe foi atribuído nome vulgar em português. Pertence ao género da figueira comum (Ficus carica L.). Cultivada em diversos países, como árvore de sombra.
O maciço de Ficus macrophylla (3+1 exemplares) localizado no Largo Hintze Ribeiro está classificado como de Interesse Público com publicação no D.G. nº. 165, II Série de 17/07/1970.

Fonte: Serviço de Extensão Pedagógica do Jardim Botânico da Universidade de Lisboa.


ANEXO 2
Dados biográficos de Hintze Ribeiro

Ernesto Rodolfo Hintze Ribeiro (Ponta Delgada, 7 Novembro 1849 — Lisboa, 1 Agosto 1907), foi um destacado político de origem açoriana. Distinto parlamentar e par do Reino, Procurador-Geral da Coroa, Ministro das Obras Públicas, das Finanças e dos Negócios Estrangeiros e líder incontestado do Partido Regenerador, por três vezes assumiu o cargo de Presidente do Conselho (equivalente hoje ao lugar de Primeiro-Ministro). Foi um dos políticos dominantes da fase final da Monarquia Constitucional, ocupando a presidência do ministério mais tempo que qualquer outro naquele período. A ele se devem importantes reformas, algumas das quais ainda perduram, tais como as autonomias insulares (1895), o Regime das Farmácias e a criação do Regime Florestal (1901). O Decreto de 24 de Dezembro de 1901, que regula o Regime Florestal, ainda está em vigor. Feito Conselheiro de Estado efectivo em 1891, recebeu múltiplas condecorações, entre as quais a grã-cruz da Torre e Espada. Foi sócio efectivo da Academia Real das Ciências.


ANEXO 3
Fotografia do "canteiro-alcatrão" no Largo Hintze Ribeiro, Freguesia de São Mamede.

8 comentários:

  1. Pedir terrenos aos amigos que estão na câmara. Não há nada como pedir.

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  2. Anónimo5:51 p.m.

    boa iniciativa! precisamente do que lisboa precisa. estes pequenos projectos que juntam diferentes ONG por uma causa comum fazem muita falta. e podem ser realidade e assim mudar a vida das pessoas, em vez dos mega-projectos que nunca conseguem ver a luz do dia. um grande obrigado aos autores!

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  3. Também concordo em absoluto com a causa em questão.
    Parabéns.

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  4. Anónimo10:54 a.m.

    Parabéns! Concordo com a proposta que defendem para o local. Parabéns e obrigado!

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  5. Todo o Largo Hintze Ribeiro, incluíndo o terreno a que esta proposta de refere, é propriedade da Câmara Municipal de Lisboa.

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  6. Anónimo5:00 p.m.

    Verdadeiramente inacreditável que um conjunto de árvores classificadas desde 1970 esteja rodeado de alcatrão e carros quando a lei obriga a uma zona de protecção de 50 metros a contar do tronco das árvores. Votos de felicidades para os autores desta boa proposta de defesa do património vegetal da cidade.

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  7. Anónimo12:19 p.m.

    Boa proposta.
    Apoio plenamente. Os Largos como perceberam os espanhóis são excelentes para os habitantes dos bairros e para uma vida nocturna divertida e tertúlias diárias. Em Braga perceberam isso, por exemplo, e os Largos do centro histórico tem charme de dia e de noite.

    Mais Largos, menos Rotundas!

    Tomaz de Matos Sequeira

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  8. Anónimo12:15 a.m.

    Em Guimarães também perceberam os Largos do centro histórico, cheios de vida a todas as horas.

    Salvato Lopes

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