27/11/2009

CORTE DE ÁRVORES ABRE POLÉMICA

«População desconfia da tese de "doença" que a Câmara utiliza para justificar a medida
00h30m
CRISTIANO PEREIRA
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Nos últimos dias foram já abatidas 43 árvores no Príncipe Real, em Lisboa. O vereador Sá Fernandes assegura que são árvores doentes e que serão substituídas. Mas os moradores estão revoltados e não acreditam na tese da doença.
"Perplexo e indignado", eis como admite estar Nuno Caiado, morador no Príncipe Real, depois de ter visto, ao longo desta semana, a força das moto-serras abater 43 árvores no Jardim França Borges.
Ao JN, o vereador Sá Fernandes, que coordena a intervenção de recuperação do jardim, justificou a atitude com o facto das árvores em questão exibirem "indícios de podridão facilmente detectáveis" e que esta medida "tem a ver essencialmente com a segurança das pessoas". "Com uma rabanada de vento, estas árvores podiam cair", sublinhou.
Todavia, os moradores não aceitam a tese da doença das árvores. "A maior parte delas não mostra sinais de doença e aparentemente estão em bom estado", contrapõe Nuno Caiado, baseando-se na observação dos troncos e raízes que agora jazem no chão. A opinião é corroborada por outro cidadão, Paulo Ferrero. "Não acredito que estejam doentes e se estiverem pode haver cura nem que seja para algumas", afirmou ao JN, recusando, de todo, qualquer "perigo de caírem sobre as pessoas".
Sá Fernandes sublinha, contudo, que "há coisas que são visíveis olho nu" e que a decisão do abate partiu, nuns casos, de "técnicos da Câmara que tratam de arvoredo há mais de 20 anos" e, noutros casos, de informação pedida a técnicos de Patologia.
Nuno Caiado estranha que o corte de árvores aconteça no bordo do jardim (na parte exterior, mais próxima das ruas), o que, na sua óptica, configura um "padrão incompatível com a alegação de que se trata de árvores doentes".
Sá Fernandes tenta acalmar os ânimos, prometendo que "vão ser plantadas mais árvores do que aquelas que foram arrancadas" e "no mesmo local". "É evidente que vão ter que plantar mas vão ser Lódãos", reage Paulo Ferrero, lembrando que "é uma árvore pequena e daqui a 30 anos terá a mesma cota".
Os moradores não encontram explicação. Paulo Ferrero desconfia de "um negócio por detrás" e questiona: "Para onde é que vai a madeira abatida?"
"De onde é que vêm as outras árvores? Qual é a empresa que tira os cotos?". "É mera tolice e incompetência", pergunta, por seu turno, Nuno Caiado. »
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E eu pergunto porque não é apresentado á população um relatório técnico, de alguma entidade credível e perita na matéria, atestando a veracidade da doença destas árvores?
É que e caso contrário, temos todo o direito de perguntar se, por detrás deste atentado ecológico, não está mais um "negócio" daqueles que ninguém entende...

9 comentários:

Julio Amorim disse...

E ter o tal relatório técnico prontinho muito antes do abatimento e...com identificação prévia do que é para abater.

Salvador, disse...

Exactamente! Há por aí lugar para mais um desiludido? É que começo a ficar farto e abananado com esta "república"...

egaspar disse...

Já imaginaram o que seria da Amazónia se estes "doutores das árvores" lá chegassem!

Anónimo disse...

E estavam todas na iminência de cair na mesma altura em que todos os jardins de Lisboa estão de virados do avesso.
Portanto, agora é que íam cair em cima das pessoas com "uma rabanada de vento". Mas antes não, foi uma coisa que lhes deu.

A.lourenço disse...

Amazónia? o Monsanto e´aqui nosso vizinho e basta dar lá um salto para ver o que se passa ou ao vale do silêncio nos Olivais, etc. Lamento informar mas no meio disto tudo o jardim do Príncipe real é um mal menor!

Colibri disse...

As árvores na cidade de Lisboa são cada vez mais entendidas pelos responsáveis camarários como um ornamento: ou se gosto da espécie ou não, caso dos choupos do Príncipe Real ou se considera serem adequadas ou não, ao local onde se encontram, caso das Laranjeiras da Praça de Alvalade e a partir daí, toca a abater!
As árvores nas ruas poluídas da cidade fixam poluentes que não respiramos. Devem não só ser mantidas como plantadas muitas mais!
Estavam doentes? Seriam gradualmente substituídas sem agredir ninguém.

Anónimo disse...

de facto deveria ser apresentado um relatório técnico, porque a câmara não perdia e nos ganhávamos, mas também não podemos acreditar num residente qualquer, chamado Nuno Caiado.
Não poderia, qualquer um de nós, ir dizer qualquer coisa para um jornal?!

pedro vicente disse...

Cara Leonor,

Conheço, melhor, conheçi os choupos e os ulmeiros no jardim Principe Real.
Ao que a minha avaliação advém da prática e de todo o empenho que tenho tido em conhecer melhor ( e a sua realidade nacional) a espécie ulmeiro.

Caso dos choupos: Estes realmente apresentavam um certo perigo para as pessoas ou automóveis no local, mas não pela árvore em si no seu crescimento natural ou doença, mas por culpa sim, das " podas" feitas ao longo da vida da árvore, mal realizadas, não permitindo a existência de ramos " sólidos e fixos", susceptíveis de cair perante um vento mais forte ou outro factor externo.

No caso dos ulmeiros, cheguei inclusive a apreciar os exemplares do jardim, não pela sua idade, mas pelo seu bom estado vegetativo.
Os exemplares eram juvenis, e não seriam simples ulmeiros, mas pelas folhas deduzo, serem cultivares ornamentais ( e caso não saiba, muitos desses cultivares foram extintos com o surgir da doença, pelo que tal abate pode ter colocado um fim muito pior...caso não estejamos perante abate de exemplares mas aniquilação de uma variedade definitivamente).
As árvores não mostravam sinais de murchidão característicos da doença, surgindo sempre verdes ao longo do verão, nunca tendo as folhas com aspecto queimado. Não apresentavam troncos danificados.
Convém referir que os ulmeiros da avenida da liberdade, estão seriamente doentes ( pelo menos 3 exemplares), e esses ao que parece, mesmo com reclamação, não são retirados.

Algo preocupante Leonor, é o facto de as especies abatidas serem eventualmente subistituidas por robínias, uma espécie invasora em Portugal e cujo o uso nas arborizações em Lisboa está a ser frequente. Assim sendo, já enviei reclamação pela escolha das especies anunciada e apresentei opções: carvalhos, tilias, entre outras...

No entanto, parece- me que somente como "voz de grupo" serei ouvido.

Alguma outra questão, estarei disponível, abraço e conte comigo na defesa do nosso património.

Ps : os ulmeiros europeus sofreram um forte regressão no continente devido a esta doença, todos os exemplares adultos deverão ser conservados. Entre os géneros mais afectados são o ulmeiro inglês e o irlandês ( possivelmente por serem especies de ilha, mais sensiveis a doenças fora da mesma), enquanto no caso português, os bosques de ulmeiros desapareceram, assim como deixou de ser uma árvore típica da nossa paisagem.

Quanto as espécies invasoras, o tema é serio, mas caso não o considere, pense só no interesse que terá em plantar uma espécie que futuramente trará características invasivas ( não se admire de as ver nascer num telhado), e que eventualmente carecerá de ser abatida e substituida ( vamos gastar o nosso dinheiro 2vezes!)

Susana Neves disse...

Sim, realmente as robínias ou falsas acácias são uma espécie invasora em Portugal, apesar de muito bonitas, claro.
O problema é a capacidade de se expandirem por todo o lado, é um caso tão grave como as Mimosas (por exemplo, acacia vr. dealbata longifolia).