16/11/2009

O TRIUNFO DO HÍBRIDO




Caros Amigos,


Na sequência das terríveis noticias à volta do desastre "em retrocesso", que representou a destruição completa da Farmácia ( do falso) PROGRESSO, na totalidade dos seus interiores e exteriores, tudo isto tendo acontecido ilegalmente, e constituindo um verdadeiro crime lesa-património; venho agora, seguindo um impulso,'contextualizar' este acontecimento com um caso especifico, que pode contribuir para alguma reflexão.

A Farmácia presente na segunda imagem, é uma magnifica Farmácia situada na Rua da Prata (Farmácia Normal), e que foi recentemente "restaurada" em toda a sua glória, com total preservação das suas características, tanto na magnifica fachada, como na totalidade dos seus interiores.

No entanto, este foi um processo que demorou vários anos ... e que se desenvolveu em circunstâncias especiais ...

Assim, quando eu ainda tinha contactos mais directos com a Unidade de Projecto Baixa-Chiado, tive oportunidade de pôr, ou de tentar, pôr em práctica os valores que defendo para a preservação das características históricas na sua totalidade de interiores e exteriores, de estabelecimentos do Comércio tradicional com valor arquitéctónico. Tive a oportunidade de descrever estas 'aventuras' num artigo publicado em 2005 numa colectânea (Baixa Pombalina: bases para uma intervenção de salvaguarda) com o titulo 'As lojas Tradicionais da Baixa. Desafios presentes e futuros'.

Voltando à Farmácia Normal, a jovem proprietária ao querer recuperar os interiores, depois de consultar um arquitecto, resolveu correctamente aproximar a Unidade de Projecto Baixa -Chiado. Foi aí que a visitámos, eu, acompanhado por um Arquitecto e um Historiador da Unidade.

Ao verificarmos a importância dos interiores tardios do sec. XIX, aconselhá-mo-la a preservar a totalidade das suas características estilísticas e materiais, executando, simplesmente um cuidado restauro.

E foi isso que passados anos, aconteceu... A pergunta agora é .... terá sido esta obra acompanhada pela C.M.L. ? Recebeu esta senhora apoio e reconhecimento pela sua atitude correcta? Não devia este caso merecer uma menção oficial, exposta na sua fachada através de pequena placa de bronze, e ser alvo de um prémio expressamente criado para este efeito?

Mas que estou eu a dizer? Esta loja, encontra-se numa Zona da Baixa, como uma "ilha" cercada por um "Oceano de Híbrido", onde dezenas de estabelecimentos de venda de produtos híbridos de origem asiática se tem instalado, uns com o alibi de artigos pseudo-turísticos, outros como mercado estratégico de expansão do comércio grossista do Martim Moniz.

Se existe crise na área do Comércio, também existe um instrumento utilizado nas cidades europeias, chamado de Urbanismo Comercial, onde a estratégia para um Zona é definida.Gostava de saber qual è a ideia do Vereador Manuel Salgado para a Baixa. Visto que o seus eixos prioritários estão ocupados por este tipo de lojas, e agora que se desistiu completamente da Candidatura da Baixa a Património Mundial, qual é a imagem que o Vereador tem para o Futuro da Baixa e do seu Comércio ?

Deixo-vos com uma imagem exemplo, das dezenas de casos, de estabelecimentos deste tipo presentes na Baixa, e agora com esta imagem tirada recentemente no início da Rua do Carmo,como exemplo no seu processo de expansão, da sua 'subida' para o Chiado.

Será isto, este tipo de 'autenticidade', que os turistas esperam encontrar num Centro Histórico, que constitui um dos exemplos mais importantes de planeamento e reconstrução de uma cidade Europeia do Sec.XVIII, e agora tão decadente ... É isto que queremos?

Saudações Pombalinas e Preocupadas.


António Sérgio Rosa de Carvalho

3 comentários:

  1. ainda bem que o Sr. "Historiador" não usou a palavra "híbrida" de que tanto gostava. ora bem, eu também não gosto de muitas lojas da baixa mas em vez de publicar aqui uma foto de uma loja que existe e está aberta porque não publicar uma foto de uma "loja" emparedada? será que essas lojas emparedadas são mais autênticas e aquilo que os turistas (porque não nos preocuparmos com os lisboetas primeiro?) esperam encontrar num Centro Histórico?

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  2. Parabéns ao António de Carvalho pela preocupação. A Baixa precisa mesmo de ser pensada / repensada. E se não formos nós, não vai ser o Salgado nem o de antes nem o de depois.
    O comentário em cima não ajuda muito, coitado deste anónimo....

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  3. No que diz respeito a fazer obras em FARMÁCIAS temos assistido a verdadeiros crimes. Têm destruído não só a estrutura física como os próprios mobiliários, em favor de um modernismo de horríveis mamarrachos.
    O meu apoio ao António Rosa de Carvalho.

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