A reforma administrativa de Lisboa que
reduz as actuais 53 freguesias para 24 e cria a freguesia do Parque das
Nações incluindo a parte do território de Loures foi aprovada nesta
sexta-feira no Parlamento, com os votos favoráveis do PSD e PS.
O projecto de lei apresentado em conjunto pelos
dois partidos teve os votos contra do PCP, Bloco de Esquerda e Partido
Os Verdes, com o CDS-PP a abster-se na votação.
Inicialmente
apenas estava prevista no documento a criação da freguesia do Parque das
Nações até à fronteira entre Lisboa e Loures, mas o PSD propôs aos
socialistas a alteração a tempo da votação no Parlamento. Assim, o
documento aprovado estipula que o território da nova freguesia vai
incluir a parte da antiga Expo-98 pertencente ao município vizinho de
Loures.
Esta alteração foi feita ontem, no mesmo dia em que
entrou em vigor a Lei n.º 22/2012, que estabelece os princípios da
reorganização administrativa autárquica nacional, o que motivou críticas
por parte da oposição.
No debate antes da votação na
generalidade, o deputado do PCP Bernardino Soares criticou a proposta do
PS e PSD por considerar que “vai violar a [nova] lei já no segundo
dia”.
“A avançar esta votação teremos aqui uma grossa
ilegalidade”, disse Bernardino Soares, criticando a proposta por não ter
o acordo dos dois municípios. “Abre-se aqui um problema terrível”,
continuou, afirmando que “se isto avançar, a partir de agora qualquer
maioria passa a poder alterar em qualquer altura os limites de qualquer
concelho”.
Em resposta, o deputado do PSD António Leitão Amaro
sublinhou que “a Constituição da Assembleia da República não poderia
subordinar a iniciativa legislativa à decisão dos municípios”. E
esclarece: “O que diz a lei [da reforma administrativa] é que os
municípios, para proporem, devem estar de acordo. Quando a iniciativa é
parlamentar, os deputados são livres de ter essa iniciativa.”
Além
disso, referiu, “o projecto de lei resulta também da pronúncia das
autarquias [freguesias], que foi esmagadoramente favorável”.
O
deputado do Bloco de Esquerda Luis Fazenda opôs-se à criação da
freguesia do Parque das Nações tal como proposto pelo PS e PSD, “sem
qualquer consulta à câmara e assembleias municipais de Loures”. Adiantou
ainda que o partido apresentará no Parlamento um projecto com o mesmo
objectivo, após consulta dos órgãos autárquicos de Loures.
A
votação na generalidade terminou com os deputados do CDS-PP, do PS e do
PSD a sublinharem que esta sexta-feira é “um dia histórico” para a
cidade. António Leitão Amaro, do PSD, considerou que a reorganização
administrativa vai tornar “mais fortes” as freguesias e vai corrigir uma
“situação histórica incorrecta” no Parque das Nações. “Não fazia
sentido manter os territórios separados”, afirmou.
A reforma
administrativa prevê também a transferência e a atribuição de novas
competências e recursos às juntas de freguesia. De acordo com o texto do
projecto de lei, as alterações deverão entrar em vigor após as próximas
eleições autárquicas, em Outubro de 2013.
O projecto de lei do
CDS-PP sobre o novo mapa de freguesias de Lisboa, que também previa a
criação da nova autarquia do Parque das Nações com território de Loures,
foi rejeitado. O documento propunha a redução das actuais 53 freguesias
para 11.
Os presidentes da câmara e da assembleia municipais de
Lisboa, António Costa e Simonetta Luz Afonso, respectivamente,
assistiram à sessão, tal como os vereadores Manuel Salgado e Graça
Fonseca e os presidentes socialistas das juntas de freguesia de
Campolide e de Benfica.
A vereadora da Segurança da Câmara de
Loures, Sónia Paixão, também estava presente nas bancadas. A autarquia
vai reagir ao resultado da votação hoje à tarde, às 18h, numa
conferência de imprensa onde estarão presentes o presidente da câmara,
Carlos Teixeira - que se tem manifestado contra a proposta do PS e PSD
-, e os presidentes das juntas de freguesia de Moscavide e de Sacavém.
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O presidente da Câmara de Lisboa,
António Costa (PS), considerou nesta sexta-feira que a aprovação da
reforma administrativa da capital é o culminar de um “processo muito
positivo”, que “permitirá melhores condições” para gerir a cidade no
próximo mandato.
Depois da aprovação na Assembleia da República,
ao início da tarde, da reforma administrativa de Lisboa, que reduz para
23 as 53 freguesias da capital e cria a autarquia do Parque das Nações
com a parte pertencente a Loures, António Costa considerou que este foi o
culminar de um processo “bastante estimulante”.
“É a conclusão
de um processo muito positivo e que significa que no início do próximo
mandato [2013] vamos ter já as novas juntas de freguesia a funcionar com
novas competências, novos meios e portanto com melhores condições para
gerirmos a cidade”, afirmou o autarca socialista.
Sobre o
alargamento da freguesia do Parque das Nações, António Costa lembrou que
a proposta de reforma administrativa da câmara “confinava-se à criação
da nova freguesia nos limites do concelho”, porque foi considerado pelos
órgãos locais que “não ficava bem” pronunciarem-se sobre as fronteiras
de Loures.
“Mas sempre dissemos às pessoas que sabíamos que
queriam que houvesse freguesia que se estendesse até à foz do Trancão,
que quando fossemos ouvidos por essa matéria na Assembleia da República
daríamos parecer favorável, e demos”, afirmou.
Ressalvando que
“sempre manteve um bom diálogo” com o socialista Carlos Teixeira,
presidente da Câmara de Loures que sempre se mostrou contra esta medida,
António Costa sublinhou que “a Assembleia da República é soberana”
nestas decisões.
“Os concelhos tiveram a postura correcta. Nem da
reivindicação, nem de guerra de fronteiras. Respeitamos a assembleia”,
disse o autarca.
O presidente da Câmara de Loures já convocou
para as 18h uma conferência de imprensa na qual vai reagir ao resultado
da votação hoje no Parlamento. Na quarta-feira, quando o PSD anunciou
que ia viabilizar o documento na Assembleia da República, Carlos
Teixeira considerou que o avanço da proposta representa “uma
bandalheira, um salve-se quem puder". E acrescentou: "Será uma vergonha e
abrirá um grave precedente”.
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O presidente da Associação de Moradores e
Comerciantes do Parque das Nações, José Moreno, aplaudiu nesta
sexta-feira a aprovação da criação daquela freguesia lisboeta abrangendo
a parte do concelho de Loures, sublinhando que actual situação é
"anacrónica" e que seria “uma aberração” dividir o território.
“Hoje é um dia importante para o Parque das
Nações, é o culminar de uma longa luta da nossa comunidade”, afirmou o
representante dos moradores e comerciantes, que assistiu na Assembleia
da República à votação do projecto de lei apresentado em conjunto pelo
PS e PSD.
O documento relativo à reforma administrativa da
capital, que reduz as actuais 53 freguesias para 24 e cria a freguesia
do Parque das Nações incluindo a parte do território de Loures, foi
aprovado com os votos favoráveis do PSD e PS. O CDS-PP absteve-se e o
PCP, Bloco de Esquerda e Partido Os Verdes votaram contra.
Para
José Moreno, a situação actual – em que o território da antiga Expo-98
está repartido por três freguesias de dois concelhos (Olivais, em
Lisboa; e Sacavém e Moscavide, em Loures) – é “anacrónica” e “não faz
sentido”.
"O Parque das Nações tem vindo a funcionar como um
todo desde que foi construído”, afirma, referindo-se à existência de uma
identidade comum a todo o território, mas que não se traduz em termos
"formais".
O presidente da associação afirma ainda que "é de
lamentar que Lisboa, na altura em que decidiu avançar com a construção
deste espaço, não tenha desde logo decidido o futuro do território" e
tenha deixado a situação arrastar-se no tempo.
O morador
considera que a divisão do território só teria "prejuízos" que já hoje
são sentidos por quem ali habita e trabalha. E dá um exemplo: “os
equipamentos sociais estão no concelho de Lisboa e quem mora na zona de
Loures não pode utilizar os serviços construídos no seu bairro”. Segundo
o porta-voz, é assim com as escolas, as finanças, os tribunais, até os
transportes. “As crianças que frequentam o colégio Pedro Arrupe [que
fica na zona de Loures] não são servidas pelos autocarros da Carris,
embora muitas sejam de Lisboa”, exemplifica.
Lamentando que
decisão hoje tomada não tenha avançado há mais tempo, José Moreno
criticou ainda o presidente da Câmara de Loures, Carlos Teixeira, por
estar “a ver mal” o problema.
“A posição de Loures é pouco
tolerante e pouco inteligente”, afirma, sublinhando que incluir a parte
de Loures na nova freguesia do Parque das Nações é apenas “o
reconhecimento formal de uma realidade que já se vive há muito”.
In Público