16/05/2017

Protesto pela anunciada destruição da Vila Raul (Amoreiras, Campolide) / Apêlo à recuperação e reutilização da mesma por boas práticas urbanísticas


Exmo. Senhor Vereador
Arq. Manuel Salgado


Cc. PCML, AML, DGPC, JF Campolide e media

No seguimento do noticiado hoje no Jornal Público, sob o título “Das ruínas da Vila Raul vai surgir um projecto para "uniformizar" Campolide” (https://www.publico.pt/2017/05/16/local/noticia/a-velha-vila-raul-1772244), dando conta que se encontra em apreciação nos serviços que V. Exa. tutela, um projecto de urbanização nova para todo o quarteirão entre a Rua Prof. Sousa Câmara, Rua Aviador Plácido de Abreu e Avenida Conselheiro Fernando de Sousa, que implicará com a demolição de todo o conjunto da Vila Raul, incluindo os 2 prédios da Rua Prof. Sousa Câmara;

Somos a protestar pelo facto de, conforme está expresso no artigo, a CML ter “definido índices e parâmetros urbanísticos para aquela área”, de modo a que a Vila Raul fosse entendível, quiçá por ignorantes, como valendo “zero” arquitectonicamente; e promovendo indirectamente a uniformização de cérceas (acabando com as “escalas díspares”) na linha do que foi feito nos quarteirões defronte ao Centro Comercial das Amoreiras, que nos abstemos de comentar e que críamos ser um paradigma já ultrapassado pela CML, por manifesta colisão com as boas práticas urbanísticas internacionais, cada vez mais na ordem do dia e porque, naturalmente, grande parte da riqueza da cidade de Lisboa reside nessa disparidade de escalas.

Mais solicitamos a V.Exa. que nos esclareça:

1.Se o Pedido de Informação Prévia aprovado pela CML em Dezembro de 2015, que concedeu direitos ao promotor Valor Ideal (propriedade do futebolista Rui Costa), foi aprovado em Reunião de CML?
2.Se a indicação dada pela CML ao promotor em termos de índices de construção foi feita ao abrigo do PDM se de outro instrumento de gestão urbanística em vigor para a zona?
3.Se existe algum relatório estrutural que permita afirmar, como o autor do projecto o faz, que a vila e os edifícios que lhe servem de pórtico são “irrecuperáveis”?
4.Se a CML já permite que sejam demolidas fachadas de azulejos?
5.Se, dada a magnitude do empreendimento em causa, a CML promoveu alguma forma de participação/discussão pública acerca do mesmo?

Melhores cumprimentos


Paulo Ferrero, Bernardo Ferreira de Carvalho, Ricardo Mendes Ferreira, António Araújo, Beatriz Empis, Maria do Rosário Reiche, Maria de Morais, Júlio Amorim, Irene Santos, Gonçalo Cornélio da Silva, Miguel de Sepúlveda Velloso, Fernando Silva Grade, Jorge Pinto, Pedro Henrique Aparício, Inês Beleza Barreiros, Fátima Castanheira e Fernando Jorge

Verdadeira preocupação da autarquia pelas vilas e pátios operários, pelo urbanismo de qualidade e pela preservação do património da cidade ...


Das ruínas da Vila Raul vai surgir um projecto para "uniformizar" Campolide


In Jornal Público (16.5.2017), por João Pedro Pincha

«Reabilitar "uma zona muito descaracterizada" de Campolide é um dos objectivos do projecto que está em apreciação na câmara de Lisboa. Num bairro com escalas díspares, arquitecto diz que era necessário uniformizar. E ali nascerão dois prédios modernos.

Fica escondida atrás de dois prédios modestos a que já faltam azulejos e passa quase despercebida a quem anda na rua. Uma placa azul, pendurada para lá do portão de ferro, revela o que os olhos só vêem por uma nesga: Vila Raul. É, como várias de Campolide e dezenas de Lisboa, uma antiga vila operária construída no século XIX – e em breve será demolida.

A Câmara Municipal de Lisboa está a analisar desde Março um projecto para todo o quarteirão entre a Rua Prof. Sousa Câmara, a Rua Aviador Plácido de Abreu e a Av. Conselheiro Fernando de Sousa, a dois passos das Amoreiras e do centro histórico de Campolide. Com esse projecto, o casario baixo e pequeno da antiga vila, hoje degradada e abandonada, vai ser substituído por dois edifícios novos. O maior deles terá sete pisos e o outro três. Ao todo serão criados 101 apartamentos e quatro pisos subterrâneos, com capacidade para 261 automóveis. O Lx Unique – assim se chama o projecto – contempla ainda a existência de lojas, esplanadas e um espaço verde no interior do quarteirão, aberto à rua.

“É uma área muito sobrecarregada de construção e com poucos espaços verdes”, explica o arquitecto Miguel Saraiva ao PÚBLICO. O autor do projecto sublinha que o Lx Unique surge na sequência de um trabalho prévio com a câmara, que “veio definir índices e parâmetros urbanísticos” para aquela área. Cedo se percebeu, no âmbito desse primeiro trabalho, que a Vila Raul “não era recuperável” e que a única solução era ser demolida, diz o arquitecto. “Há vilas em Lisboa que têm um valor patrimonial e histórico muito interessante, mas não creio que seja o caso desta”, afirma Miguel Saraiva. “Não tem valor arquitectónico relevante. Zero.”

De acordo com o livro Pátios e vilas de Campolide, editado pela junta de freguesia em 1993, a Vila Raul foi construída em 1890 e tem vinte casas. Actualmente, a vila e outros terrenos daquele quarteirão – que a autarquia vendeu – pertencem à empresa imobiliária Valor Ideal, de que é presidente o ex-futebolista Rui Costa. O PÚBLICO tentou contactar esta empresa, mas não teve sucesso.

Um "edifício neutro"

No processo que está em análise na câmara pode ler-se que o Lx Unique cumpre os requisitos definidos pelo município num Pedido de Informação Prévia (PIP) apresentado pela Valor Ideal e aprovado em Dezembro de 2015. Esse PIP foi “acompanhado pelos vários departamentos da câmara e supervisionado pelo sr. vereador arquitecto Manuel Salgado”, lê-se. Segundo os documentos do processo, foi o responsável pelo Urbanismo da autarquia que pediu “que este espaço permitisse a fruição do interior do quarteirão, criando uma dinâmica pedonal até agora inexistente e criando ao mesmo tempo um espaço de comércio e estar agradável, à semelhança de outros já existentes”.

É um dos pontos que Miguel Saraiva destaca como mais relevantes do projecto que desenhou. “Tínhamos como objectivo não fechar o empreendimento sobre si próprio”, o que “não é uma coisa muito comum”, realça. Outro aspecto que o arquitecto refere é que o Lx Unique visa “fazer a requalificação urbana” de uma “zona muito descaracterizada”.

Nas últimas décadas, a Vila Raul foi sendo ultrapassada em altura por todos os lados. Prédios de habitação de cinco e seis andares e edifícios de escritórios com mais de dez pisos fizeram com que a pequena vila se tornasse cada vez mais uma excepção na paisagem urbana de Campolide, outrora repleta de pátios e vilas deste género. “A morfologia envolvente é muito díspar. Há escalas muito díspares. O que se tentou foi uniformizar ao máximo essas escalas”, diz Miguel Saraiva.

Isso conseguiu-se, acredita o arquitecto, que apresenta prédios contemporâneos de linhas direitas e cor branca. “Quisemos desenvolver um edifício que fosse neutro, que não acrescentasse linguagem à linguagem já existente. Um edifício bastante simples, com uma linguagem muito depurada, essa foi a maior preocupação”, explica. As varandas altas e salientes servem outros propósitos: o de criar uma “frente construída de continuidade” e o de “rematar aquele quarteirão”. “Faz um remate perfeito do quarteirão”, diz Miguel Saraiva.

O arquitecto admite que o projecto “acaba por ter uma escala considerável para a escala tradicional de Lisboa”, uma vez que estão previstos 27 mil metros quadrados de construção, quase sete vezes mais do que existe actualmente. Mas Miguel Saraiva diz que “o espaço público liberto é considerável”, o que, sublinha, só é possível porque existe um desenho de conjunto para o quarteirão e não parcela a parcela. Foi por isso, aliás, que a câmara vendeu dois terrenos que ali tinha, por cerca de 2,5 milhões de euros, à Valor Ideal.

Este não é o único projecto previsto para esta zona de Campolide, nem sequer o único que envolve uma antiga vila operária. A menos de cem metros da Vila Raul fica a Vila Romão da Silva, totalmente municipal, que a autarquia quer reabilitar no âmbito de um programa de recuperação deste tipo de património. O início das obras está agendado ainda para este ano.»

E há mais uma árvore plantada em memória da Grande Guerra:


Reportagem completa em: http://www.cm-lisboa.pt/noticias/detalhe/article/arvores-homenageiam-herois-da-1a-guerra

15/05/2017

Jogo das passadeiras absurdas

Pelo amor de deus, alguém por favor conserte estas passadeiras no Martim Moniz.
O passeio está rebaixado onde não há passadeiras, não está rebaixado onde há, há passadeiras que levam a paragens de autocarros, enfim. Parece que o caos foi criado propositadamente por alguma mente perversa.





Cultura: tudo será feito… quando calhar ser feito


In Público (15.5.2017), por Luís Raposo:


«Confiemos, pois. Tudo há-de ser feito a seu tempo, como diz o simpático ministro da Cultura. Oportunamente. Ou quando calhar. Talvez nunca.

Aproximamo-nos de meados da legislatura. Começa a ser altura de fazer balanços. No mais de ano e meio já passado assistiu-se na Cultura, mormente na área do Património Cultural e Museus, a “uma tutela politicamente irrelevante, esvaziada de competências e incapaz de assegurar uma política interna coerente ou uma articulação interdepartamental eficaz com as restantes áreas da governação”, situação agravada pela “suborçamentação dramática” e pela manutenção de “fusões institucionais que conduziram à desestruturação de organismos”, bem assim com “uma redução cega de quadros e uma ausência generalizada de estratégia a médio e longo prazo.”

Neste período, a “educação para uma cultura mais participada” promoveu vagas melhorias no acesso a arquivos históricos da RTP. Nada mau. Não se reforçaram “os conteúdos de artes e humanidades nos programas curriculares”, não se definiram “novos modelos de gestão específicos do ensino artístico vocacional, em parceria com as áreas da educação e da cultura”, não se criou o “Cartão + Cultura” (muito menos se reformatou conceitualmente, resgatando-o do desinteresse que tinha), não se valorizaram “Teatros Nacionais como polos de criação nacional”, não se incentivou a “acessibilidade dos públicos com necessidades especiais às atividades culturais”. Nem sequer se começou a praticar a gratuitidade nos museus aos fins-de-semana até aos 30 anos (muito menos o que o Parlamento decidiu sobre a matéria, em sede de Orçamento do Estado). Mas, caramba, Roma e Pavia não se fizeram em meia legislatura.

No plano da “preservação, valorização e divulgação do património material e imaterial” conseguiram-se alguns êxitos nas “coleções de arte contemporânea nos museus portugueses”: o Miró em Serralves; o Berardo em Belém (obrigando-o a ser pago); talvez a Vieira da Silva nas Amoreiras – e não sabemos ainda bem o quê no Chiado. E pronto. Não se permitiu “que certos ‘equipamentos culturais bandeira’, como museus e monumentos de especial relevância” pudessem “beneficiar de uma maior autonomia de gestão” (antes pelo contrário, acentuou-se a claustrofobia em todos), não se criou “o Arquivo Sonoro Nacional”, não se intensificou “a digitalização sistemática dos fundos documentais dos arquivos portugueses” e não se promoveram “estratégias e metodologias coordenadas de tratamento e divulgação do património arquivístico comum aos países da CPLP”, não se revitalizaram “as redes patrimoniais” (a Rede Portuguesa de Museus, essa então, foi quase extinta e deixou de se falar nesse luxo asiático de apoio aos museus – o Promuseus), não se consolidou “a oferta pública de museus”, nem se flexibilizaram “os seus modelos de gestão”, não se promoveu, enfim, “o inventário do património cultural imaterial em Portugal e do património imaterial Português existente no mundo”. Mas, caramba, Roma e Pavia não se fizeram em meia legislatura.

Houve casos menos felizes, sim, admitamos. Umas ameaças de bofetadas aqui, umas destruições de gravuras rupestres ali. Não fora existirem, no caso das gravuras, avisos atempados de que, não sabendo elas nadar, também não sabem defender-se de vândalos, quando se retiram guardas, dir-se-ia que se tratou de imponderáveis. Quase casos de polícia apenas. E tudo o resto pode ser reduzido à condição de pecadilhos de ranchos de “boys” e gabinetes em intensa rotação, obrigados e recomeçar sempre do zero, retroalimentados em ciclo fechado dos mesmos de sempre, os quais se comprazem em defender-se de constipações, fechando como podem janelas e portas nos longos corredores da Ajuda.

Não fiquemos totalmente desiludidos, porém. É certo que “as intervenções de recuperação e conservação do património histórico” não passaram a ser feitas “de acordo com hierarquias e prioridades com base numa efetiva monitorização do estado de conservação do mesmo”. Mas a Cultura soube dançar bem a música que lhe foi posta no gira-discos pela Economia, lançou-se um “programa de investimento para a recuperação do património histórico… assente na mobilização de fundos comunitários” (uma boa malha para fazer REVIVEr o mercado dos operadores turísticos e empreiteiros) e deu-se a algumas instituições culturais a possibilidade de consignação de 0,5% do seu IRS – medidas difíceis e hercúleas, como se percebe.

Tenhamos fé: “o governo assume como prioridade reestruturar o setor, dotando-o de modelos orgânicos flexíveis e eficazes adequados à especificidade da sua missão”. Talvez até chegue a ter visão e tempo de perceber como se torna urgente voltar a possuir dados fiáveis e reverta a extinção do Observatório de Actividades Culturais (um dos mais nefastos erros estratégicos da anterior governação). Na mesma linha de reversão de autismos acumulados, poderá até meter ombros à revolução copérnica de realmente tornar credíveis, e úteis, as diferentes secções do Conselho Nacional de Cultura, começando pelas de museus e património, as mais governamentalizadas (algo que todos os partidos políticos, à excepção do PS, colocavam nos seus programas eleitorais). Confiemos, pois. Tudo há-de ser feito a seu tempo, como diz o simpático ministro da Cultura. Oportunamente. Ou quando calhar. Talvez nunca.

Nota: para os mais distraídos, informa-se que todas as citações neste texto foram tiradas do programa do actual governo, sendo que as do primeiro parágrafo dizem respeito ao diagnóstico aí feito da situação herdada do governo anterior. Um bom diagnóstico pela sua actualidade.»

Acudam! Património à venda!


In Diário de Notícias (14.5.2017), por António Barreto:

«O chamado Novo Banco herdou, do defunto Banco Espírito Santo, algumas colecções de arte ou patrimoniais que merecem atenção. São várias. A de artes decorativas, no Palácio Azurara, anexo à Fundação Ricardo Espírito Santo: pintura, azulejos, têxteis, prata, móveis, louça e ourivesaria. Parece haver, no acervo de pintura renascentista, barroca, clássica e moderna, algumas obras de real interesse, entre quadros de Josefa de Óbidos e, mais recentes, de Vieira da Silva e Paula Rego.

A colecção de numismática, ao que dizem a melhor de Portugal e uma das grandes colecções europeias, com mais de 15 mil exemplares de moedas de todos os tempos, romanas e gregas, ibéricas, anteriores à nacionalidade e portuguesas desde Afonso Henriques.

Uma colecção de fotografia contemporânea, sobretudo internacional, mas com alguns artistas portugueses importantes, faz parte deste espólio. Terá cerca de mil obras de considerável valor. Talvez mais orientada para o valor monetário do que para a qualidade estética, mas são gostos que se discutem. A colecção tem inegável valor patrimonial. Em Portugal, país pobre em fotografia internacional, esta colecção faz falta.

Uma "Biblioteca de estudos humanísticos", como o seu autor gostava de a designar, organizada durante toda a sua vida pelo professor e académico José Vitorino de Pina Martins. Compreende aquela cerca de mil obras raras de excepcional valor, assim como perto de oito mil volumes de consulta relativos a estudos clássicos e humanistas. Entre os autores das obras raras, verdadeiramente fundadoras da cultura europeia e exemplos maiores do humanismo renascentista, contam-se Erasmo, Maquiavel, Pico della Mirandola, Newton, Galileu, Montaigne, Thomas More, Dante, Boccaccio, Petrarca, Descartes, Camões, Sá de Miranda e outras figuras que deram extraordinário contributo para a história do pensamento e da ciência. São incunábulos e valiosas edições quinhentistas e seiscentistas, muitas delas únicas em Portugal e raras na Europa. Como em todas as colecções, há obras e peças de valor muito diferente. Mas alguns destes volumes são de excepcional qualidade e de valor mundial. São autênticos tesouros.

Parece que ninguém é favorável a que se vendam estas colecções ou que se deixem ficar todas num banco, em vias de estranha privatização. Consta que já existem projectos de resolução parlamentar da autoria dos partidos de apoio ao governo. Dizem que o ministro da Cultura já se exprimiu sobre o assunto. Mas nada disso deixa uma pessoa tranquila. Antes de saber que foram tomadas medidas definitivas tendentes a preservar estes pequenos tesouros, não se acredita nesta espécie de rumores. Casos recentes, que envolveram a exportação ou a venda de obras-primas, deixaram crescer as dúvidas.

Qual é a dificuldade em arrolar, classificar, expropriar (legalmente, claro!) e nacionalizar (a preços justos, com certeza!) tão importantes peças de património, únicas em Portugal? Por que razão é tão difícil o Estado português, que já nacionalizou tudo o que se imagine e cresça sob o sol, incluir estas colecções no bem comum? Um Estado que já expropriou quiosques e herdades, quintas e barbearias, além de bancos, petróleos, cimentos, seguros e electricidade, não consegue arranjar uns euros, alguma legitimidade, um argumento e um fundamento para enriquecer o património e não deixar ir embora obras-primas que nunca mais veremos? Não haverá entidades privadas que queiram, sem disso fazer campanha de propaganda, oferecer ao povo estas tão interessantes colecções?

O Estado português, o do corporativismo, o do socialismo, o do comunismo e o do capitalismo, tem tido dificuldades em agir, neste domínio da cultura e do património, com isenção e inteligência. Ora nacionaliza e expropria sem critério. Ora deixa correr sem rigor. Ora garante que não tem recursos financeiros e que "quem não tem dinheiro não tem vícios", ora paga tudo o que pareça ser chique e dê votos ou crie clientelas. Estas colecções oferecem uma oportunidade para o Estado, liberal e zeloso do bem comum, agir sem preconceitos.

As minhas fotografias


Aqueduto dos Pegões Altos, Tomar. Tem mais de 400 anos este formidável aqueduto, no vale dos Pegões, perto de Tomar, com cerca de seis quilómetros de extensão. São ao todo 180 arcos de volta perfeita, havendo por vezes duas séries de arcos sobrepostos. Alguns estão a mais de 30 metros do solo. Teve como principal missão a de levar água para o Convento de Cristo. É monumento nacional desde 1910. Quase desde sempre, anda descurado. À primeira vista, os arcos parecem sólidos e bem conservados, mas é ilusão. O aqueduto precisa de atenção! Há pilares em sério risco de colapso. Como parece ser uma sina, as "casas de água", nas extremas, com pias e tanques de decantação, estão vandalizadas e entregues a uns imbecis que gostam de deixar as suas mensagens amorosas, pornográficas ou futebolísticas inscritas nas paredes... O aqueduto foi mandado construir por Felipe II (I de Portugal), prova de que nem tudo o que vem de Espanha é mau! As obras começaram em 1593 e acabaram em 1619, ano em que a água fresca chegou finalmente ao dormitório dos monges do convento. Antes disso, pelo caminho e até lá chegar, regou as hortas, serviu o fontenário e as cozinhas e deu de beber a humanos e a animais.»

11/05/2017

Está finalmente de pé a primeira linha de defesa das Lojas com História de Lisboa



In Público (10.5.2017)
Por João Pedro Pincha

«Câmara lançou uma página com vídeos, fotografias, descrições e mapas dos espaços comerciais mais emblemáticos da cidade. E abriu as candidaturas ao programa que promete proteger e valorizar esses estabelecimentos.

A montra toda em ferro verde é um chamariz na esquina do prédio forrado a azulejos amarelos, mas é preciso entrar para descobrir o tesouro mais valioso. No interior destacam-se os azulejos Bordalo Pinheiro, os estuques, as pinturas vegetalistas nos pilares e os espelhos. Mas o sucesso e longevidade da Panificação Mecânica, em Campo de Ourique, talvez se deva a um segredo maior: o pequeno pastel de nata, bola de Berlim ou palmier que os empregados oferecem quando se bebe uma bica. É um mimo que distingue a Panificação Mecânica de outras pastelarias e padarias da Rua Silva Carvalho e da cidade. E, também por isso, foi incluída no primeiro lote de Lojas com História, a distinção que a Câmara Municipal de Lisboa criou para proteger e valorizar o comércio emblemático da cidade.[...] Será possível realizar ambas as acções através de um site especificamente criado para o efeito e que foi lançado… esta quarta-feira. “Este site vai valorizar as Lojas com História”, começa por dizer ao PÚBLICO o vereador da Economia e Inovação da câmara, Duarte Cordeiro. “Permite-nos valorizar a comunidade de lojas e dar-lhes os mecanismos que já estão disponíveis”, acrescenta.

A página –lojascomhistoria.pt – tem um mapa com as 82 lojas já distinguidas, descrições pormenorizadas de cada uma, vídeos e fotografias de apresentação. Está em português e inglês e, para Duarte Cordeiro, “permite a todos os públicos, nacionais e estrangeiros, conhecer a história e os produtos de cada loja”. A questão dos produtos é relevante, pois estes “são espaços comerciais” que vivem do negócio que realizam, sublinha o vereador, que considera que o site servirá não só para divulgar a história dos locais como “para ajudar à viabilidade económica” dos mesmos. Duarte Cordeiro diz mesmo que “a valorização destas lojas pode ser atractiva para outras marcas”, que talvez se interessem por parcerias com os estabelecimentos históricos. Na lista das 82 lojas que já pertencem ao clube encontram-se nomes sonantes, como A Brasileira, a Barbearia Campos, a Casa Frazão ou o Hospital das Bonecas. Mas há também alguns espaços mais discretos e que, ainda assim, têm presença perene e marcante na vida de um bairro ou da cidade. “Já temos os autocolantes, estamos em processo de criação das placas” que as lojas vão poder colocar nas montras, explica Duarte Cordeiro. O próximo passo será adaptar o Lojas com História à legislação recentemente aprovada sobre esta matéria pelo Parlamento e que se aplicará a todo o território nacional. Duarte Cordeiro não estima grandes dificuldades. “Lisboa já está bem posicionada”, diz.»

10/05/2017

Protesto por demolição de edifício de 1888, Rua dos Lusíadas, 15-17


Exmo. Senhor Vereador
Arq. Manuel Salgado


Cc. PCML, AML, DGPC, JF Alcântara e media

Vimos pelo presente apresentar a V. Exa. o nosso protesto pelo pré-anúncio da demolição integral do edifício sito na Rua dos Lusíadas, nº 15-17, em Alcântara, com vista a construção nova com fins turísticos, na qual será "reintegrada" a fachada principal do edifício, projecto/licenciamento corporizado na Proposta nº 254/2017, que irá ser levada amanhã a reunião de CML, para discussão e aprovação.

Com efeito, trata-se de um edifício histórico da Freguesia de Alcântara, datado de 1888, e que urge recuperar e não demolir, e não compreendemos como é possível a CML ter intimado por diversas vezes o proprietário para que procedesse a obras de recuperação do edifício, para neste momento propor a sua demolição seguida de construção nova.

Perguntamo-nos se o Pedido de Informação Prévia e o Projecto de Arquitectura, que constituem o processo nº 1548/EDI/2016, e que agora originam este Licenciamento de Construção Nova, foram levados a reunião de CML ou se foram aprovados por despacho.

Continuamos sem compreender a indisfarçável indiferença, senão repúdio, de V. Exa. pelo património edificado de transição, séculos XIX-XX, em que Lisboa era riquíssima e que, desde há uma dezena de anos a esta parte, tem vindo a desaparecer de forma assustadora.

Com os melhores cumprimentos


Paulo Ferrero, Bernardo Ferreira de Carvalho, António Araújo, Miguel Lopes Oliveira, André Santos, Maria de Morais, Fernando Silva Grade, Mariana Carvalho, Luís Mascarenhas Galvão, Inês Beleza Barreiros, Gonçalo Cornélio da Silva, Miguel Atanásio Carvalho, Pedro Fonseca, Jorge Pinto, Irene Santos, Miguel de Sepúlveda Velloso, Pedro Janarra, Alexandre Marques da Cruz, Alexandra de Carvalho Antunes, João Mineiro, João Oliveira Leonardo, Maria do Rosário Reiche, Fátima Castanheira, Beatriz Empis, Pedro Ribeiro, José Maria Amador, Guilherme Pereira, Júlio Amorim, Bárbara e Filipe Lopes

08/05/2017

A/C ESTAMO - URGENTE - Pedido de reparação da cobertura em perigo no edifício principal do Hospital Miguel Bombarda


Exmos. Senhores


C.C. PCML, PAML, DGPC, 12ª Comissão da AR, JF Arroios, DGTF e media

Como poderão V. Exas. constatar pelas fotografias em anexo, tiradas no local há escassos dias, o estado de conservação da notável cobertura do Salão Nobre do edifício principal do Hospital Miguel Bombarda, em madeira e estuque, que data de 1948 e é da autoria do arquitecto modernista Carlos Ramos, deteriorou-se bastante nos últimos meses e está a abrir fendas na parte central (ver 1ª foto), devido a infiltrações pelo telhado, que resultam da não efectuação de quaisquer obras, contrariando assim o prometido pela própria ESTAMO em 2014, em resposta enviada à comissão da Assembleia Municipal (ver documento em anexo).

Apelamos à ESTAMO para que proceda, quanto antes, à colocação de uma cobertura provisória e inicie de imediato as necessárias e prometidas obras de reparação da cobertura, a fim de se evitar o colapso do tecto do Salão Nobre, um tecto modernista Art Déco, com lâmpadas fluorescentes laterais, cujo desenho engrandece e não contraria essa Sala de azulejaria barroca, em painel historiado e raros 14 metros de comprimento sem interrupção, e que, recorde-se, é uma das razões que justificaram a classificação de todo o edifício central do hospital, em 2014.

Existem ainda graves infiltrações numa clarabóia e no telhado que cobre a sala do apartamento dos directores e do Prof. Bombarda, que estão a danificar o Gabinete do Director e o tecto da Sala com lareira do último piso.

Na expectativa, subscrevemo-nos com os melhores cumprimentos

Paulo Ferrero, Bernardo Ferreira de Carvalho, Luís Rêgo, Maria de Morais, Fátima Castanheira, Fernando Jorge, Jorge Pinto, Maria Ramalho, José Maria Amador, Miguel de Sepúlveda Velloso, Júlio Amorim, Alexandra de Carvalho Antunes, João Mineiro, Bárbara e Filipe Lopes

Então isto agora é para demolir???


«Proposta n.º 254/2017 (Subscrita pelo Sr. Vereador Manuel Salgado)
Aprovar o pedido de licenciamento para a obra de construção, a realizar no prédio sito na Rua dos Lusíadas n.ºs 15 a 17, Freguesia de Alcântara, que constitui o processo n.º 1548/EDI/2016, nos termos da proposta;»

...

Diz quem a visitou que se trata de um dos edifícios mais elegantes de Alcântara. Em matéria de reabilitação urbana e da estatística do faz-de-conta, isto vai de mal a pior, e o ódio ao edificado de transição (séc. XIX-XX) quando é que acaba, mesmo? Ah, pois.

04/05/2017

Att. Sr. Vereador Manuel Salgado #2

Para quando o cumprimento da promessa feita em 2013 de se avançar com a classificação do Bairro das Colónias? É que cada vez há mais adulterações e falsificações neste bairro magnífico e por este andar qualquer dia só restam ... fachadas.

(fotos de Fernando Jorge)

Att. Sr. Vereador Manuel Salgado #1

Para quando o Regulamento/Caderno de Boas Práticas para o Bairro Azul, Classificado de Interesse Municipal desde 2009 e que esteve 10 anos à espera de o ser? Quantos mais anos à espera? É que sem esse regulamento a classificação vale apenas, e às vezes nem isso, para salvaguardar... fachadas.
(fotos de Fernando Jorge)

Muito bem, Inês Drummond!

In O Corvo (4.5.2017)
Texto: Samuel Alemão

«Junta de Benfica volta atrás e decide afinal fazer jardim em vez de acesso automóvel


Depois da contestação, e já com as obras em curso, nova mudança de planos. A Junta de Freguesia de Benfica decidiu alterar, mais uma vez, o projecto de requalificação de um terreno situado entre a Rua General Morais Sarmento e a Praceta Maestro Ivo Cruz. Afinal, será ali construído um espaço verde e não uma via com circulação e estacionamento automóvel, como faziam prever os trabalhos no local – realizados pela Câmara Municipal de Lisboa a pedido da junta – e como estava previsto na mais recente versão do plano de requalificação da vizinha Rua Nina Marques Pereira. Trata-se do regresso ao plano inicial, que entretanto havia sido abandonado, para surpresa de alguns moradores, tal como O Corvo havia dado conta a 20 de abril. A decisão foi assumida pela presidente da junta, Inês Drummond (PS), num comunicado distribuído à população nesta quarta-feira (3 de maio).

No documento assinado pela autarca socialista, e no qual se recordam as razões que justificavam a ideia de abrir uma rua com circulação viária no baldio em causa, dá-se conta da alteração como uma consequência da contestação por parte de vários residentes. O que, aliás, motivou a realização de uma reunião no local, junto ao muro que delimita as antigas instalações do Laboratório Nacional de Investigação Veterinária (LNIV), na véspera (terça-feira, 2 de maio), com “vários moradores” e com o vereador da Mobilidade, Carlos Castro. “Considerando a pertinência dos argumentos bem como as preocupações expressas pelos moradores, ficou decidido na reunião não abrir o referido arruamento à circulação automóvel, criar ali um espaço verde e uma zona de circulação pedonal que poderá apenas ser utilizada apenas em caso de emergência pelas entidades competentes”, informa a presidente da Junta de Benfica.

No mesmo texto, Inês Drummond explica que, na referida reunião com residentes e o vereador, “ficou ainda decidido acautelar, aquando da construção do futuro empreendimento que irá nascer no antigo laboratório de Veterinária, a construção de um arruamento com circulação automóvel que permita descongestionar o trânsito do entroncamento da Rua Nina Marques Pereira com a Avenida Gomes Pereira”. Esse era, de resto, um dos argumentos apresentados pela autarquia, há algumas semanas, para fundamentar a desistência na construção do espaço verde há muito prometido e a opção por um arruamento com circulação automóvel e estacionamento. Com a reviravolta agora comunicada, tal ligação terá, todavia, de aguardar pela futura urbanização a surgir nos terrenos do LNIV.

“Estou em crer que a solução encontrada ontem trará mais-valias para esta zona quer em termos de segurança quer em termos de qualidade de vida”, diz a presidente da junta, depois de assinalar a importância da participação cívica e da “voz activa” dos moradores de Benfica na vida da freguesia. O Corvo sabe, no entanto, que alguns moradores daquela zona se queixam de não ter tido conhecimento da mencionada reunião, tal como garantem não ter sido auscultados aquando da primeira alteração de planos, que ditara a opção – entretanto abandonada – de construção da via automóvel e do estacionamento. Uma escolha que serviu para justificar o corte das árvores que ali existiam até há pouco tempo.»

...

02/05/2017

Óptima notícia, mas aquele acrescento espúrio no telhado é para quê?


In O Corvo (2.5.2017)
Textor Samuel Alemão


«Nova escola primária da Baixa abre em parte do antigo Tribunal da Boa Hora

Durante décadas, acolheu uma das mais icónicas casas da justiça portuguesa, com inúmeros julgamentos mediáticos, mas sobretudo como um local por onde passaram muitas querelas judiciais anónimas. Agora, uma parte do edifício do antigo Tribunal da Boa Hora reabre como a nova escola básica e jardim de infância que servirá a Baixa de Lisboa. Com capacidade para 150 alunos – 50 para jardim de infância, dos 3 aos 5 anos, e 100 para alunos com idades entre os 6 e 9 anos (1º ciclo) -, a Escola Básica Maria Barroso, localizada no Largo da Boa Hora, ao Chiado, servirá as crianças das freguesias de Santa Maria Maior e da Misericórdia. A inauguração do estabelecimento de ensino ocorre nesta terça-feira (2 de maio), pelas 18h, com a presença do primeiro-ministro, António Costa, e dos titulares das pastas da Educação e da Justiça.

Foi Costa que, em julho de 2013, enquanto presidente da Câmara Municipal de Lisboa (CML), assinou o contrato de venda de 70% do edifício à administração central, que assim recomprava um imóvel que deixara de ter as funções de tribunal quatro anos antes, com a mudança para o então novo Campus da Justiça. A ideia de criar uma escola na restante área fora anunciada pela CML em 2012. Depois de fechar, em julho de 2009, o edifício passara para a alçada da Sociedade Frente Tejo, mas a extinção desta, em 2011, ditara a sua entrega à autarquia. Meses antes do encerramento do Tribunal da Boa Hora, que funcionava nas instalações do antigo Convento da Boa Hora – construído após o terramoto de 1755 e encerrado em 1834, com a extinção das ordens religiosas -, chegara-se a falar na sua conversão num “hotel de charme”. Opção muito contestada, mas que acabou por cair.

A nova escola abre três anos após o inicialmente previsto, uma vez que em 2012 a CML apontava para a sua abertura em 2014. O estabelecimento de ensino, que apenas receberá alunos a partir do próximo ano lectivo (2017/2018), é anunciada pela câmara como a primeira na zona da Baixa “em muitos anos”. A escola estará distribuída por três pisos, com salas de jardim de infância, salas do 1º ciclo, pátios, recreios cobertos, cozinha, refeitório, ginásio, biblioteca e sala de informática. “Em termos de intervenção no edifício, foram utilizados materiais que estabelecessem uma relação de continuidade com os materiais existentes, de modo a assegurar uma integração perfeita”, explica a Câmara Municipal de Lisboa em comunicado.

Texto: Samuel Alemão»

01/05/2017

Pode ser que este excelente artigo faça a CML puxar pelos galões e resgatar do limbo os magníficos armazéns do Beato... pode ser...


In Público (29.4.2017)
Por Alexandra Prado Coelho

«Um século depois, ainda se aprende com Abel Pereira da Fonseca


Era um visionário, o homem que criou uma rede de distribuição em Lisboa com as lojas Val do Rio e um império de produção de vinho, licores e destilados. A herança de Abel Pereira da Fonseca continua viva no Bombarral.

Diogo convida-nos a passar para a parte de trás da loja da Companhia Agrícola do Sanguinhal e, em cima de uma grande mesa de madeira, abre o velho livro. Os rótulos colados na primeira página são de 1932 — a data aparece, escrita à mão, com a letra elegante que se usava na época.

E a partir daí é toda uma história que se desenrola à nossa frente, a história de uma empresa que cresceu, que foi fazendo diversos vinhos e bebidas licorosas, que se expandiu e exportou para o mundo, tudo a partir daqui, no Bombarral e desta Quinta das Cerejeiras onde nos encontramos.

Por trás da história da Companhia Agrícola do Sanguinhal esteve um visionário cujo nome é, provavelmente, ainda hoje mais conhecido que o da própria empresa: Abel Pereira da Fonseca, bisavô de Diogo Fonseca Reis, que agora nos recebe e nos mostra o livro antigo no qual durante mais de duas décadas Abel organizou todos os rótulos e etiquetas da casa, com anotações avisando “ficou combinado usar este”, ou indicando qual tinha sido rejeitado [...]

O edifício mais emblemático do império Abel Pereira da Fonseca, em Lisboa, situava-se (e situa-se ainda) em Marvila, junto ao rio Tejo. Trata-se de um projecto de 1917 do arquitecto Norte Júnior e ficava perto do rio por razões óbvias: era por barco que as pipas de vinho produzidos nas propriedades do Bombarral e as várias bebidas licorosas produzidas pela empresa deixavam a capital para serem exportadas para países como o Brasil, os Estados Unidos, a Suécia e enviadas para as excolónias portuguesas em África — daí o símbolo da Abel Pereira da Fonseca ser um barco. A este junta-se outro meio de transporte que foi essencial para a empresa: o comboio. Era a linha do Oeste que permitia trazer até Lisboa o vinho produzido nas quintas do Bombarral.[...]»

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