28/04/2005

Casa de Garrett: nota à imprensa e a quem de direito

Como autores da petição pela casa de Almeida Garrett, que juntou mais de 2.300 assinaturas e que foi entregue à CML, ao IPPAR e ao Instituto Camões, cumpre-nos comentar os últimos acontecimentos vindos a público e relativos a este assunto. Assim:

1. É triste constatar que 150 anos após a morte de Garrett e 150 anos depois das primeiras diligências de cidadãos a favor da preservação da casa onde ele viveu e morreu, e da sua transformação em casa-museu (ver DN de 20.04.05), as entidades que elegemos para nos governar e aquelas de quem depende a vida cultural do país continuem exactamente na mesma, passando o assunto de uns para os outros, refugiando-se em argumentos desresponsabilizadores e miserabilistas, rejeitando a tão proclamada aposta na recuperação de património

2. É lamentável que se continue a dizer que a casa de Almeida Garrett esteja em ruínas, o que é profundamente mentira, pois basta ir até lá para se verificar que os tectos do 1º andar existem e mantêm os estuques, a escadaria também, o que faz supôr que até mesmo o telhado esteja em estado razoável.

3. É revoltante que seja considerada letra morta pelo IPPAR e pela CML, a prorrogativa legal que obriga todo e qualquer proprietário a comunicar àqueles a intenção de vender um qualquer imóvel, concedendo-lhes o direito de preferência.

4. É lamentável que o proprietário afirme que desconhecia a polémica sobre a casa quando a comprou, uma vez que o que veio a público foi que a comprou muito depois da nossa petição ter sido lançada; lançada, aliás, no seguimento do desconforto que a notícia da sua demolição vinha causando, desde há meses.

5. Face ao jogo do "não me comprometa" e do impasse a nível político e institucional a que este assunto chegou, vimos propôr o seguinte:

a) Ao proprietário, que reafirme a sua honradez e aguarde 6 meses pelo resultado das próximas eleições e por um entendimento com o novo Presidente da CML.

b) Ao novo Presidente da CML, Prof. Manuel Maria Carrilho ou Prof.Carmona Rodrigues, que, após a sua eleição, apresente ao proprietário uma proposta de permuta para construção noutra zona da cidade, de preferência nas vizinhanças da Rua Saraiva de Carvalho, por forma a que aquele leve por diante o seu legítimo projecto de habitação.

O novo Presidente da CML deve recuperar o edifício seguindo as descrições dos próprios escritos do autor, e deve encetar negociações com os herdeiros do dramaturgo, bem como com os especialistas em Garrett, com vista a reunir-se o espólio necessário para a instalação de uma casa-museu-café-tertúlia.

Deve estabelecer um acordo com as edições Sá da Costa, apoiando, se necessário, reedições das obras de Garrett, com vista ao municiamento da casa-museu com obras em português, castelhano, inglês, francês e alemão.

Igualmente, deve desenvolver esforços para que o Instituto Camões assuma as suas responsabilidades enquanto pilar da cultura e línguas portuguesas, solicitando-lhe a melhor divulgação da casa-museu e ajuda indispensável ao próprio municiamento desta.

Propomos ainda ao próximo Presidente da CML que atribua a gestão da futura casa-museu ao Centro Nacional de Cultura, entidade de enorme prestígio e reconhecida competência para zelar pela nossa cultura e para gerir um espaço como o que se pretende para ali.

c) Aos media, a quem agradecemos toda a colaboração prestada, e a prestar, propomos que não se esqueçam de agendar a "casa de Garrett" como tema de debate para a próxima campanha autárquica entre os candidatos partidários a Lisboa.

6. Por último, e no caso de nem o Prof. Carrilho nem o Prof.Carmona Rodrigues quererem resolver este assunto, e/ou o proprietário se mostrar relutante em esperar 6 meses, teremos que pensar em alternativas enquanto cidadãos determinados, tal qual nos aconselha a Srª Ministra da Cultura, que poderão passar por:

a) Abertura de conta bancária, em nome do Centro Nacional de Cultura, que a gerirá a fim de se reunir uma verba capaz de produzir um entendimento com o proprietário.

b) Apêlo aos Institutos Britânico, Cervantes, Goethe, Franco-Português e Italiano de Cultura, e à Casa do Brasil de Lisboa, no sentido de eles próprios participarem na recolha de fundos e na divulgação deste caso, uma vez que os nossos organismos se recusam a actuar.

Quem sabe se haverá a possibilidade de estrangeiros comprarem a casa de Garrett, restaurando-a e devolverendo-a aos portugueses, tal qual o que Pacheco Pereira relata (no seu "Abrupto") ter acontecido com o atelier de Cézanne, em Aix-en-Provence?
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27/04/2005

Casa Garrett, ou "não me comprometas"?

Li hoje no jornal do Metro parte da nota do IPPAR em que se "recomenda à CML a classificação da casa de Garrett como imóvel de interesse municipal", que "a casa não deve ir abaixo", que "é representativa do espírito oitocentista" e que "é um espaço de memória", enfim, ipsis verbis aquilo que nós dizemos e escrevemos desde que iniciámos esta luta, em Outubro do ano passado.

Ao que se diz nos jornais, o IPPAR terá dito que informaria em primeiro lugar as partes envolvidas da decisão tomada, pelo que, como autores da petição aguardamos serenamente ... só que como ainda não recebemos nada de oficial, nem os jornais mais importantes fizeram qualquer nota oficial, ficamos com a ideia de que talvez pensem informar o próprio Garrett, imitando assim o actual presidente da CML que agradeceu o ano passado a Machado de Assis. Como dizia Pinheiro de Azevedo, "o povo é sereno". Aguardemos, portanto.

De qualquer modo, é evidente que, a confirmar-se o artigo do jornal do Metro, o IPPAR é fã incondicional de Jô Soares e daquela personagem que pedia a todos que não o comprometessem, pois não se compromete em nada. Parece andar a reboque das notícias, e, por outro lado, dá a impressão de estar a passar a batata quente (de novo) para a CML, que já lha houvera passado há cerca de 1 mês.

Ao fim de 150 anos de intentos em classificar a casa de Garrett. Ao fim de 12 anos de estar devoluta. Depois de se autorizarem demolições, o IPPAR cingir-se a "recomendar", é, custa-me muito dizê-lo, uma autêntica palhaçada.

E custa-me muito concluir isso porque tenho muito respeito pelo IPPAR, que acho ser uma instituição com técnicos e responsáveis de imenso gabarito e amor pelo património de Portugal. Que não tem nem os mecanismos legais nem os meios financeiros para fazer cumprir a lei, nem para recuperar o património que urge recuperar. Da CML espera-se tudo, mas eu nunca esperaria que o IPPAR se ficasse por uma "recomendação".

Credo, tratarem Garrett como se fora um empecilho... não entendo a lógica de quem nos governa (a todos os níveis...).

Ainda anteontem vi um documentário sobre a Letónia onde tudo estava estimado, os seus monumentos, as suas personagens históricas, todos a dizerem que tinham orgulho nisto e naquilo, esplanadas por todo o lado, percursos disto e daqueloutro; e aqui é isto?! E ainda dizem que o turismo é uma prioridade?

Deixou-se destruir o Algarve. A costa ocidental vai pelo mesmo caminho. Os bosques e as serra estão queimados. O património cai, salvo se for salvo por "hotéis de charme". Por favor, parem para pensar!

PF

26/04/2005

O meu pé esquerdo …

Começa mal a candidatura de Manuel Maria Carrilho à presidência da CML.

Os cartazes espalhados pela cidade podem ser entendidos pelo menos de duas formas distintas:

- O jornalista Luis Osório tem razão quando diz que MMC é "doentiamente vaidoso" (*) e isso explica que tenha necessidade de ver a sua imagem espalhada por toda a cidade (qual Figo ou Ronaldo anunciando refrigerantes ou instituições bancárias);
- MMC não foi tido nem achado nesta operação que é levada a cabo pelas forças de bloqueio do PS à candidatura de MMC com o objectivo de desacreditar a sua candidatura dando sinal que, caso mude o partido de governo de Lisboa, não mudará nem o estilo nem a política.

Seja a primeira, a segunda, ou outra razão, o que fica bem notório é que, contra si mesmo ou contra o seu partido, MMC tem ainda um longo percurso das pedras até ser eleito presidente da CML. Para além de iniciar a candidatura com o pé esquerdo, o PS resolve dar um tiro no próprio pé, afixando cartazes do partido no mesmo momento em que ainda se discutia a possibilidade de coligação com o PCP…
PP

P.S. É um bom exercício parar num semáforo e ver a reacção de desalento das pessoas quando olham para os "outdoors" em questão. Há quem esperasse mais e melhor da sua candidatura, MMC!

(*) Editorial do jornal "A Capital", de 17 de Março de 2005.

Lisboa e o Street Racing de Palitó…

Na noite de Sexta-feira passada, a Avenida da Liberdade foi fechada ao trânsito para algumas dezenas de automóveis antigos desfilarem a velocidades estonteantes e em grandes acrobacias sem que houvesse a preocupação de segurança dos participantes ou dos espectadores.

Tenho a noção (é uma evidência estatística) que, mais ano menos ano, esta brincadeira de street racing de gente fina irá acabar de forma trágica.

Segundo a força de segurança pública presente no local, que confirmou a escandalosa falta de segurança de todos os intervenientes, é o Governo-Civil de Lisboa a entidade que autoriza tal demonstração de estupidez e habilidade.

Há duas soluções para isto:
- ou se trata de um desfile de automóveis antigos e de uma prova em que os organizadores e os participantes são pessoas civilizadas, e faz todo o sentido que utilizem a Avenida da Liberdade para mostrar os bólides;
- ou os proprietários das máquinas querem descarregar a testerona no asfalto e então devem fazê-lo em percursos onde esteja garantida a segurança dos participantes e dos espectadores (e.g. Autódromo do Estoril).

Não deve ser o Governo-Civil a autorizar e a CML a patrocinar uma situação que atenta contra a segurança e dignidade dos munícipes de Lisboa.
PP

22/04/2005

Mais "Palácios Alagoas", NÃO!

O Palácio Alagoas, sito na Rua da Escola Politécnica, nº 161-195, defronte ao Palácio Palmela (sede da Procuradoria Geral da República), data(va) da segunda metade do séc.XVIII, e esteve a cair aos bocados durante quase 15 anos. Já ao tempo de "Lisboa' 94", e do polémico projecto "Sétima Colina", a Vereação da altura não conseguiu obrigar o proprietário a fazer as obras exigíveis por lei. A única coisa que conseguiu foi pintar de rosa-escuro a fachadas da pequena capela, enquanto o telhado, as traseiras e os interiores do prédio se arruinavam paulatinamente. O único piso utilizado na altura era o rés-do-chão, que albergava uma conhecida leiloeira. Tudo o mais era abandono. Já com esta Vereação, e dando seguimento à máxima "1 carro-1 voto", converteu-se parte do jardim e logradouro em parque de estacionamento. Escorou-se a fachada, mas nunca se chegou a saber se as obras que por lá andavam fizeram acelerar o inevitável, lento e continuado ... desmoronamento de tudo o resto até à demolição repentina, dado o perigo de derrocada para a via pública.

Hoje, decorrem obras para a construção de um empreendimento da Sociedade Imobiliária Palácio Alagoas, do atelier do Arq. Luciano Cordeiro, sugestivamente apelidado de "Palácio Alagoas" (projecto nº 1602/OB/02), e destinado a habitação, escritórios e lojas. A fotografia simulada no telão do andaime é altamente sugestiva, com fonte e bastantes árvores no antigo pátio, e apresentando os prédios todos recuperados, seguindo a traça original. Oxalá a realidade não seja bem diferente...

É ISTO QUE NÃO PODEMOS PERMITIR QUE ACONTEÇA AOS PALACETES DO PRÍNCIPE REAL!!

Para efeitos de memória, aqui fica a descrição da DGEMN acerca do ex-Palácio Alagoas (*):

"De planta em L, composto pela justaposição de corpos rectangulares de modo irregular, parcialmente em redor de pátio de planta rectangular, de marcada implantação horizontal, apresenta volumetria paralelepipédica, sendo a cobertura efectuada por telhados a 3 águas, perfurados por janelas trapeiras. De 5 pisos (um deles correspondente a cave - apenas existente no corpo extremo SE. - e outro, ao nível da cobertura), o imóvel tem piso térreo separado por friso de cantaria e embasamento no mesmo material e, restante superfície murária em reboco pintado, animada pela abertura de vãos de verga recta com emolduramento simples de cantaria, a ritmo regular. Alçado principal a NE. com frente extensa e inflectida, composto por 4 corpos separados por pilastras de cantaria, 3 deles com organização similar: apresentam piso térreo rasgado, por portais (...) e janelas de peito, sendo os conjuntos encimados, ao nível do andar nobre, por janelas de sacada com bandeira rectangular individualmente servidas por varandins de base coincidente com friso de cantaria e guarda em ferro forjado. 2º piso assinalado pela abertura de janelas de peito quadradas, inferiormente animadas por gotas. O corpo extremo NO., correspondente ao alçado principal de capela particular, contígua ao edifício, apresenta-se axialmente rasgado, por eixo definido pela sucessão de portal de verga recta destacada superiormente articulada com avental em cantaria de janelão iluminante, de verga curva destacada, que o encima, por sua vez articulado com óculo. O edifício é superiormente rematado por cornija sobrepujada por beiral. INTERIOR: compartimentado em função dos corpos identificados (*1), destacam-se como principais acessos, os dos 2 corpos a SE., um deles articulado com túnel de passagem, directamente conducente a pátio, contíguo a parte do alçado posterior. No corpo extremo SE., o único com cave (com cobertura em abobadilha de tijolo), escadaria de lanços rectos opostos em cantaria com patamares intermédios - com muros de topo vazados por janelas precedidas de conversadeiras. Pisos dominados por corredores longitudinais (*2) pelos quais se acede à compartimentação interna, disposta ao longos dos alçados principal e posterior, com emolduramentos dos vãos em madeira e, de um modo geral, directamente comunicante entre si. No n.º 183, um arco dá acesso aos jardins e quinta anexa, onde existiu até cerca de 1850, a afamada «Floresta Egípcia»"

(*) A propósito de DGEMN, é engraçado ver o quão surreal é o seu "site", ao depararmo-nos com vários casos de edifícios virtuais, que já foram demolidos, como é o caso do Cinema Alvalade, R.I.P.

PF

20/04/2005

Casa Garrett: Se eu fosse o próximo Presidente da CML

Apresentaria de imediato uma proposta de permuta ao proprietário da casa onde Garrett morreu, de preferência envolvendo um prédio municipal nas vizinhanças da Rua Saraiva de Carvalho, para a execução do seu projecto de habitação.

Comprometer-me-ia a recuperar o edifício, seguindo as descrições nos próprios escritos do autor, e negociaria com os herdeiros do dramaturgo, bem como com os especialistas em Garrett espalhados por esse país, com vista a reunir o espólio necessário para a instalação de uma casa-museu-café-tertúlia naquele espaço ... indo ao ponto de apresentar uma ementa de serviço de cafetaria, a partir de estudos sobre as iguarias referenciadas pelo autor (ver edições Colares).

Estabeleceria um acordo com as edições Sá da Costa (editora de algumas das melhores edições de Garrett), apoiando, se necessário, reedições, com vista ao municiamento da casa-museu com obras de Garrett em português, castelhano, inglês, francês e alemão. Envolveria o Instituto Camões na divulgação da casa-museu, e também no municiamento da própria casa-museu.

Atribuiria a gestão do espaço ao Centro Nacional de Cultura.

Paulo Ferrero

Casa Garrett: propostas de classificação desde há décadas

Um belíssimo artigo, o da jornalista Maria João Pinto, na edição do "Diário de Notícias" de hoje, aqui. Trata das variadíssimas tentativas, propostas e adiamentos em classificar e abrir uma casa-museu de Garrett, desde que ele morreu. O que prova que não somos só nós a pensar o mesmo. Ainda bem.

Infelizmente para Lisboa, o assunto tem andado de vereação em vereação ... até hoje, que poderá ser amanhã, dia 21 de Abril, se o Conselho Consultivo do IPPAR disser sim à classificação e preservação da casa do autor de "Viagens da Minha Terra".

PF

19/04/2005

A Calçada Portuguesa deve ser acarinhada!

A CALÇADA PORTUGUESA - única no mundo – TEM QUE SER CONDIGNAMENTE TRATADA E PRESERVADA COMO VERDADEIRO PATRIMÓNIO NACIONAL

Alguma acção séria tem que ser tomada para que a calçada portuguesa não seja diariamente destruída por viaturas ligeiras, jipes e até veículos pesados.

(Existirá um estudo sobre espécies de árvores cujas raízes danifiquem menos a calçada?

E ainda sobre um possível tratamento anti-derrapante, a aplicar em zonas de grande desgaste e forte inclinação ?

Não seria vantajoso formar mais calceteiros, dando empregos sociais até a beneficiários do rendimento mínimo que assim contribuiriam não só para a sociedade mas também (como acontece em Espanha) para poderem descontar para as suas reformas evitando assim sobrecarregar as próximas gerações ?

Não seria desejável que as tarefas de preservação da calçada fossem entregues às Juntas de Freguesia, que assim acompanhariam as situações com maior proximidade ?

Alguém fiscaliza (a sério) as obras feitas pelas EDP, PT, etc. e, sobretudo, que não seja “deixada” a assinaturazinha no fim da obra – 6 ou 7 pedrinhas atiradas para um canto já de si imundo?

Pergunta: Se quem decide nesta matéria fosse cego, tomaria as mesmas decisões ? (igualmente aplicável a sinalização vertical e outros obstáculos existentes nos passeios).


Odete Pinto

Agora Dacá(r) um e a seguir dá outro …

Já neste blogue foi mencionada a grande apetência para a Festarola, Festa Rija ou Festa Brava deste e doutros executivos que passam pela CML.

Depois do Euro2004 ter custado 350 milhões de euros de prejuízo aos contribuintes portugueses e tendo sido a CML uma das Câmaras que mais gastou, com a construção de dois novos estádios para os dois maiores clubes e na distribuição de um conjunto de benesses para os outros mais pequenos, está no momento de mais uma grande “realização”.

O Paris-Dakar, que será, em 2006, Lisboa-Dacár.

Este fim de semana, ficámos a saber pelo responsável da organização que esta prova custará 5 milhões de euros e que terá apoios públicos para se realizar.

A Igreja de Stº António em Campolide está a ruir, a União Zoófila a falir, o património como a casa de Garrett a cair, mas mais uma vez, nesta CML, parece haver dinheiro para tudo e mais um par de botas, menos para aquilo que interessa aos lisboetas.

Pedro Policarpo

18/04/2005

Conhece o Teatro Tália?


Aposto que o Teatro Tália é desconhecido para 90% dos alfacinhas. No entanto, o Teatro Tália daria um excelente destino de fim-de-semana para 90% dos lisboetas, mormente dos que gostam de teatro, do revivalismo novecentista, mas também de ar puro e de longos passeios, já que ele faz parte do Palácio e Jardins do Conde de Farrobo, onde se insere, aliás o próprio Jardim Zoológico.

Sabia que foi ali que se estreou a peça de Garrett, "Frei Luís de Sousa"?

E que ali subiram a cena 18 óperas entre 1834 e 1853? Óperas dos mais afamados compositores, tais como os maestros Jordani, António de Coppola e Ângelo Frondoni, que vieram para Lisboa quando Farrobo era empresário do Teatro S. Carlos. Do último, que foi professor no Conservatório, chegou até nós o hino da «Maria da Fonte», que várias contrariedades lhe causou.

O hoje arruinado Teatro de Tália data de 1820 e a sua sala dispunha de cerca de 560 lugares, possuía luxuosos camarins e um opulento salão de baile, de paredes revestidas com valiosos espelhos de Veneza, onde se reflectiam as luzes de numerosos e ricos lustres, que produziam efeitos deslumbrantes.

A sua fachada apresenta um elegante e espaçoso peristilo sustentado por quatro colunas de mármore branco, de ordem toscana. Prolongam-se os plintos por quatro pedestais, que avançam do peristilo e sobre os quais descansam outras tantas esfinges neo-egípcias, figuras fabulosas com rostos e bustos de mulheres e corpos de leões, deitados e apoiados sobre as patas. À frente, e em plano inferior, um estreito canteiro corre a toda a largura do perístilo, para o qual, à direita, quatro degraus dão acesso, enquanto a esquerda se nivela com o pátio. Remata o frontão triangular de tímpano liso, a estátua de Érato, musa que preside à poesia lírica, esbelta e bem modelada, lira segura na mão esquerda e apoiada na coxa do mesmo lado. Sobre os acrotérios situam-se duas urnas delicadamente esculpidas. Sob o tímpano ostentou em tempos a frase latina: «Hic mores hominum castigantur» («Aqui serão castigados os costumes dos homens»); expressão alusiva ao teatro satírico, de que já não apresenta qualquer vestígio.

A 9 de Setembro de 1862, um incêndio casual, motivado por descuido de uns operários, consumiu totalmente este pequeno templo de arte. A sua reconstrução já não se fez, pois a fortuna do conde de Farrobo começava a dissipar-se.

Sabia que o Teatro Tália é classificado Imóvel de Interesse Público desde 1974?

A sua história recente resume-se em poucas palavras: o Teatro Tália foi objecto de cedência, há uma vintena de anos e a título precário, do referido conjunto arquitectónico à Secretaria Geral da Presidência do Conselho de Ministros, entidade que já utilizava o edifício do Palácio para instalação dos seus serviços.

No respectivo auto de cessão foi determinado que a recuperação do Teatro Tália, que já então se encontrava em adiantado estado de degradação, seria da responsabilidade da entidade afectatária.

Hoje, o Palácio serve de sede ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior. Mas o Teatro Tália continua como até aqui, ao abandono.

Pois bem, neste novo séc.XXI, julgamos que é tempo de se recuperar o Teatro Tália.

É tempo do Estado dar o exemplo e cuidar do seu património.

E pode começar por cumprir aquilo que se comprometeu faze, aquando da concessão à Presidência do Conselho de Ministros, que foi: utilizado pelos serviços dependentes da como auditório polivalente, designadamente para actividades como teatro, exposições, conferências e formação profissional. Sempre que possível seria permitida a utilização daquele espaço por outras entidades.

Ao mesmo tempo, o Teatro Tália poderia potenciar sinergias com o Zoo, aos fins-de-semana, podendo albergar teatro infantil e teatro de marionetas (à semelhança do que existe em Salzburgo, por exemplo), mas também poderia acolher sessões didácticas, pedagógicas, destinadas a todos, de miúdos a graúdos. Isto se Lisboa fosse uma capital desenvolvida, cosmopolita, claro, tudo menos provinciana.

Nesse sentido, apelámos ao Governo, na pessoa do Excelentíssimo Senhor Primeiro Ministro, e na do Senhor Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior para que finalmente se avance com a reabilitação do Teatro Tália, fazendo cumprimir uma promessa de há 20 anos.

Entretanto, veja as fotos do Teatro Tália, em talia.html, fotos recolhidas nos "sites" da DGEMN e do MCTES.
PF

14/04/2005

Baixa Pombalina, Sociedade de Reabilitação Urbana#2

Ainda menos se compreende este tipo de burocracias quando se deve tirar o chapéu a esta Vereação por ter tirado do baú do esquecimento (voluntário? incompetente?) os 9,5 milhões de Cts. remanescentes do fundo de recuperação do Chiado, que dariam origem ao "Fundo Remanescente de Reconstrução do Chiado", que haveria de permitir, permite e permitirá a reabilitação de muitos edifícios e locais do Chiado. Reabilitações que se aplaudem, embora por vezes sejam mais de fachada do que outra coisa.

PF

Baixa Pombalina, Sociedade de Reabilitação Urbana #1

Se há coisa que tem vindo a melhorar na gestão da CML tem sido o circuito burocrático, sobretudo o de interacção com o público. Mas ele há coisas incompreensíveis, como esta.

Não faz sentido em ano de eleições, passados quase 4 anos da tomada de posse, criar-se, desenvolver-se mais um gabinete de gabinetes, no caso uma "Sociedade de Reabilitação Urbana para a Baixa Pombalina" (cujos limites, ainda por cima, são, no mínimo, discutíveis). E ainda mais surpreendido se fica quando se toma conhecimento do seu "Programa de Acções para 2005", ou seja:

"A realização dos Documentos Estratégicos preencherá o ano de 2005 na sua quase totalidade, e será levada a cabo em estreita colaboração com as restantes estruturas municipais ou paramunicipais que têm desenvolvido actividade na zona da Baixa e do Chiado, nomeadamente a Unidade de Projecto da Baixa Chiado, e, sempre que possível, com o apoio do Fundo Remanescente para a Reconstrução do Chiado. Ainda no ano de 2005 serão concluídos os projectos técnicos e iniciadas as empreitadas relativas aos edifícios propriedade da SRU, integrados no seu património pela realização do Capital Social do accionista EPUL. Os Documentos Estratégicos:

* São a ferramenta essencial do trabalho da Baixa Pombalina SRU.
* Serão desenvolvidos ao longo do ano de 2005 e reunirão um diagnóstico exaustivo do edificado e do espaço público, na sua caracterização actual, bem como uma avaliação dos tecidos económico e social vigente.
* Propõem modelos e processos de intervenção de reabilitação dos espaços urbanos e de revitalização das actividades
"

Trata-se de uma resma de blá-blá-blá, assente em estudos sobre estudos e mais estudos, em "powerpoint" e "excel" de pechisbeque, que darão uma resma ainda maior de papel, seminários e acções de divulgação, exposições e outras manifestações de júbilo sobre o blá-blá-blá coligido, concluído e ... a meter na gaveta.

Em pleno ano 2005 ainda andam a fazer levantamentos sobre o edificado da Baixa? E há dinheiro para isso?
PF

Casa Garrett, manter-se a fachada? LOL

A CML insiste que não vale a pena. Comentário: com autarcas assim é que realmente não vale a pena.

A CML declara que não há espólio de Garret. Constatação: é triste que nem tente recolhê-lo, nem tente contactar os herdeiros. Pergunta indiscreta: quando Santana Lopes desaparecer de vez, vai haver espólio para uma casa-museu dedicada ao ex-edil?

O proprietário diz que vai aguardar pelo parecer do IPPAR, mesmo que a lei o "proteja", caso avance com a demolição mesmo antes do parecer. É grave esta afirmação, mas é de ministro, culto ainda por cima.

E diz ainda que condescenderia, no caso do IPPAR classificar a fachada, manter a fachada, como contrapartida a negociar. Pelo que se agradece o interesse do proprietário em manter a fachada. Bem-haja!

Comentário:

Pessoalmente, sou completamente contra a preservação de qualquer fachada. Acho uma tremenda falta de coragem manter-se a fachada seja do que for, e demolir o que está por detrás dela.

Manter-se a fachada é uma atitude tipicamente portuguesa, mesquinha e miserável. É o meio-termo, é o "deixa lá, não faz mal, ainda tens a fachada", é a mais fácil, não dá trabalho nem colide com interesses. É a apologia do "nim".

Com essa atitude todos saem bem, menos o património.

Haja coragem por uma vez, meus senhores: ou bem que se preserva a casa de Almeida Garrett, ou não. E assumam todos as consequências de uma das duas atitudes.

S.F.F., mais manutenções de fachada como as do Edifício Heron-Castilho ou do Cinema Éden, NÃO.

PF

13/04/2005

Como Cesário Verde tinha razão...

Um assunto que me ocupa há uns tempos e que será necessário que os cidadãos tomem conhecimento:

Cesário Verde exaltava poeticamente os sentimentos que Liboa lhe causava.

"Nas nossas ruas, ao anoitecer,
Há tal soturnidade, há tal melancolia,
Que as sombras, o bulício, o Tejo, a maresia
Despertam-me um desejo absurdo de sofrer.
"

Esse desejo de sofrer pode ser agora realizado sem dificuldade.

Junto à Torre de Belém, quando nos silos da Trafaria se descarregam cereais sente-se uma pressão, opressão, anormal no ar. Um incómodo de que só daríamos fácilmente conta pelo alívio causado pela sua sua paragem. Isto porque não o reconhecemos, não é interpretado como um ruído, é qualquer coisa a que não estamos habituados.

Estas descargas ocorrem entre as 9 e as 23h nos dias úteis quando algum navio se encontra a descarregar no terminal portuário da Trafaria.

Sintam a pressão do ar e um rumor sem origem definida, verfiquem se lá está algum navio. Este fenómeno é causado pelo processo de aspiração da carga utilizado. Imaginem como será na Vila da Trafaria.

A exposição prolongada a este fenómeno tem comprovadaente efeitos cumulativos e irreversívieis na saúde humana.

Fernando Oliveira

Casa Garrett: CML devia ter vergonha

As declarações dos responsáveis da CML, da Reabilitação Urbana (ou será Demolição?) e da Cultura (ou será Incultura?), em sessão de AM, citadas nas edições de hoje dos jornais "A Capital" e "Público", são lamentáveis a todos os níveis, ficam com quem as produz, e reflectem bem o "espírito de missão" com que os nossos eleitos encaram os cargos e os mandatos para os quais os elegemos.

A estratégia é sempre a mesma: passar a batata quente para o parceiro do lado, de preferência para o antecessor.
A desculpa é sempre a mesma: já não há nada a fazer, e é preciso muito dinheiro.

Apesar das declarações de Santana Lopes, ontem à tarde, na Antena 1, em sentido contrário ou, pelo menos, em jeito de "sim mas também".

Mas há aqui uma profunda mentira, que urge corrigir:

A CASA DE ALMEIDA GARRETT NÃO ESTÁ TOTALMENTE ARRUINADA, COMO SE COMPROVA FACILMENTE NO LOCAL.

POR ISSO, CONVÉM ESTAR ATENTO A HIPOTÉTICAS DEMOLIÇÕES ESPONTÂNEAS, NOCTÍVAGAS OU QUEJANDAS.


Talvez fosse boa ideia mudar radicalmente o estatuto de autarca, de cima a baixo. A bem da Nação.

PF

12/04/2005

Obrigado à Assembleia da República

O nosso obrigado às vozes que no Parlamento têm vindo a defender o mesmo que nós, isto é; a preservação da casa de Garrett.

Desejamos que esse sentimento seja partilhado por todo o espectro político da A.R.

Lamentamos que só agora se tenham feito ouvir, depois dos cidadãos o terem feito, de forma espontânea e completamente apartidária; e depois de se saber que o actual proprietário é um ministro.


Paulo Ferrero

08/04/2005

Sociedade Portuguesa de Autores apela à ministra para não deixar avançar a demolição

Mais uma voz que se junta à nossa. Mais uma voz que se levanta pela preservação da casa de Garrett. Desta vez é a da Sociedade Portuguesa de Autores. A notícia, aqui.
PF

06/04/2005

Que diria Garrett de tudo isto?

Interessante, o artigo de opinião de Eduardo Prado Coelho, intitulado "O Coleccionador" e publicado na edição do "Público. Dedicado ao Sr.Ministro da Economia, é mais uma acha para a fogueira em que se está a tornar a reabilitação/demolição da casa onde viveu e morreu Garrett. Oportunamente comovente ou subliminarmente reprovador? Eis a questão.

Artigo que hoje mesmo tem uma réplica, interessantíssima, de Mafalda Magalhães de Barros, Directora Municipal da Conservação e Reabilitação Urbana da CML, no mesmo jornal, e que passo a transcrever (*):

"Como responsável pela referida Direcção de Serviços tenho a esclarecer o seguinte:

Há cerca de 1 ano esta Direcção decidiu avançar com vistorias aos prédios mais degradados (...), entre eles o prédio onde viveu e morreu Garrett. visando ordenar obras compulsivas. Tal iniciativa decorreu não apenas da relevância que se reconhece à casa onde faleceu um dos maiores vultos da cultura portuguesa oitocentista, mas ainda da valorização do conjunto arquitectónico onde a mesma se insere. Acontece que o processo conducente à efectuação das referidas obras foi suspenso porque o proprietário do imóvel apresentara um projecto de demolição e nova construção, que constava com o aval do Ippar. Nesses termos a CML só podia suspender o projecto se tivesse condições financeiras para viabilizar a criação de uma instituição cultural aí sedeada, o que não se verificou. Desta forma, penso, fica demonstrado que esta direcção de serviços fez o que estava ao seu alcance para evitar a demolição da casa de Almeida Garrett. Se a mesma se chegar a verificar, outras responsabilidades deverão ser impudradas certamente a organismos da administração central. Mas também ao cultivado proprietário, coleccionador e ministro, cujos pergaminhos na matéria foram, por coincidência, tão comovidamente exultado por Eduardo Prado Coelho (...) A preservação do património cultural é tarefa de todos
."

Que diria Almeida Garrett de tudo isto?
PF

(*) A partir de dia 1 de Abril é impossível fazer link para os artigos do "Público".

01/04/2005

E C.M.L. pede a Silva Melo que a processe

Como era de esperar, a Vereação da Cultura da C.M.L. ripostou ontem, publicamente, às declarações de Silva Melo, que aqui já comentámos. Este estado de coisas não deixa de ser curioso, face ao namoro que existiu nos últimos 4 anos entre um lado e o outro desta questão do Centro de Artes do antigo edifício de A Capital. Mas, se tivermos em linha de conta o que tem sido a política cultural da C.M.L. ao longo, não destes últimos 4 anos, mas ao longo de décadas, é altura de dizer que o pelouro da Cultura devia ser extinto.

A Cultura não se faz de exposições sobre cultura, nem de palavras de circunstância em sessões públicas, nem de proliferação de assessores, nem de má gestão dos espaços culturais, nem do "lavar de mãos" em casos como os do Convento dos Inglesinhos, os cinemas Paris ou Odéon, a casa de Garrett, etc., etc.. O dinheiro não serve de desculpa, havendo dinheiro para tudo menos para a Cultura.

Dois exemplos caricatos:

1. Em plenas celebrações sobre Bordalo Pinheiro, o que temos é uma casa-museu fechada, envergonhada sobre si própria, diminuta face à importância de Bordalo, e que está e continuará em obras de "Santa Engrácia"; em relação à qual a C.M.L. promete resolver tudo brevemente ... em ano de eleições.

2. Há cerca de 3 anos envolvi-me pessoalmente num projecto de viabilização do Cinena Odéon (o Projecto Novo Odéon), belíssima sala de cinema, que está à venda e a cair há demasiado tempo, e que urge recuperar para o convívio dos lisboetas, já que a maior parte deles ignora o quão bela ela é.

O projecto pressupunha uma parceria com a CML, que juntasse meios financeiros para a compra e recuperação do espaço. Pois bem, da Vereação da Cultura nunca tivemos qualquer resposta oficial, apesar de o mesmo ter sido entregue formalmente. O mais que conseguimos foi um contacto informal com 1 assessora da Srª Vereadora, que visitou o cinema connosco, e com 1 assessor do Sr.Presidente, que me garantiu ir propôr à Presidência a compra do cinema. Tempos mais tarde fiquei a saber que ambos se haviam desvinculado da CML. Para cúmulo, tive inclusive a informação que os serviços da CML chegaram a perder o meu projecto. Provavelmente, em ano de eleições, lá voltarão a falar no velhinho Odéon.
PF

Casa de Garrett/Nota de Imprensa

No seguimento das notícias vindas hoje a público dando conta de parecer negativo da CML/Vereadora da Cultura sobre a casa de Almeida Garrett, cumpre-nos, como autores da petição sobre a mesma, considerar o seguinte:

1. É extraordinário que a CML/Cultura ache que Garrett não merece ter uma casa-museu, e que Lisboa e os lisboetas não merecem ter uma casa-museu de Garrett.
2. É extraordinário que a CML reconheça implicitamente que não consegue reunir um espólio que permita abrir uma casa-museu.
3. É extraordinário que a CML, tendo um departamento de Reabilitação Urbana, mais uma vez opte pela "Demoliçao Urbana" de um edifício bonito, que há muito devia ter sido classificado, e que está inserido numa rua de que importa manter a traça.
4. É extraordinário que no parecer da CML/Cultura surja como argumento o facto de já existir, a apenas algumas centenas de metros da casa de Garrett, uma casa-museu, a de Fernando Pessoa.
5. E é extraordinário que no parecer da CML/Cultura surjam como argumento os supostos encargos financeiros de uma operação de compra, restauro e viabilização do espaço, para o que seria suficiente o ordenado anual de alguns assessores da CML, por exemplo.

Face a tudo isto, e ao facto de em Madrid, a apenas 600 km de Lisboa, Lope de Vega (que, para quem não souber, está para o teatro em Espanha, como Garrett está para o nosso), existir uma casa-museu de visita obrigatória, é caso para perguntar se os Conjurados de 1640 voltariam a reunir, se soubessem o que viria a ser Portugal, passados pouco mais de 360 anos.
PF

31/03/2005

A propósito do Bairro Azul poder integrar o "plano de pormenor da Pç.Espanha"

A propósito desta notícia, informo que a Comissão de Moradores do Bairro Azul enviou, em 14/1/2005 ao Sr.Presidente da CML o seguinte fax:

"Na sequência das recentes notícias que dão conta da intenção da CML de elaborar um Plano de Pormenor para a Praça de Espanha e Avenida José Malhoa, a Comissão de Moradores do Bairro Azul solicitou ao presidente da CML, Prof. Carmona Rodrigues, a integração do Bairro Azul nesse plano.

A conjugação de várias circunstâncias torna esta sugestão pertinente e a sua concretização possibilitará a reabilitação e revitalização deste Bairro Património da Cidade, cujo processo de classificação como Conjunto Urbano de Interesse Concelhio se encontra, há muito, em apreciação nos serviços municipais competentes (1):

1.A Nascente do Bairro, o Metropolitano de Lisboa encontra-se a rever o projecto da Estação de S. Sebastião II de modo a minimizar os impactos à superfície decorrentes da sua construção; a Poente do Bairro, a CML aprovou a adjudicação da Empreitada de Reabilitação do Viaduto da Rua Ramalho Ortigão. Projectado em 1971 pelo Eng.º Edgar Cardoso, a Comissão de Moradores tem insistido, junto da CML, para que o mesmo seja alvo de uma intervenção cuidada que permita a sua plena fruição pelos milhares de peões que diariamente o atravessam com destino à Fundação Gulbenkian, à Mesquita, ao El Corte Inglês, ao Parque Eduardo VII, etc.

2.O edificado do Bairro Azul – a aguardar classificação - encontra-se degradado e são graves as questões que dizem respeito à falta de segurança, conforme a Comissão de Moradores tem alertado os responsáveis da CML. O comércio tradicional está em declínio e a desertificação atinge valores preocupantes: mais de 10% dos andares estão abandonados. Dada a localização privilegiada e o interesse patrimonial do Bairro, a Comissão de Moradores estabeleceu já contactos com empresas que estarão, eventualmente, interessadas em patrocinar a sua reabilitação, de acordo com um regulamento que deverá ser urgentemente elaborado pela CML, como forma de travar a descaracterização do Bairro.

3.As conclusões do inquérito realizado pela Comissão de Moradores à população do Bairro, publicadas no site www.bairroazul.net, revelam que as questões que dizem respeito ao tráfego e ao estacionamento continuam a ser preocupantes. No âmbito do referido PP - e à semelhança do que foi já feito noutros bairros da cidade, nomeadamente, Bairro Alto, Alfama e Bica-Santa Catarina – deve ser estudada a possibilidade de criação de novas zonas com trânsito condicionado.

A coesão arquitectónica, urbanística e humana do Bairro exige a reintegração urgente da Rua Ramalho Ortigão.Tal será possível, por exemplo, com a criação de uma rotunda em frente ao edifício do BNC que permita desviar o tráfego de passagem do Bairro; a diminuição das faixas de rodagem (actualmente 4) criando mais estacionamento nessa rua; o alargamento dos passeios; a plantação de árvores, etc. Na Avenida António Augusto de Aguiar, não deverá ser esquecido o troço que se mantém intacto e que pertence ao Bairro Azul.

Outra das soluções há muito apresentadas à CML pela Comissão de Moradores diz respeito ao aproveitamento dos logradouros, onde existem cerca de 90 lugares de estacionamento, preparados, há já vários anos, para receberem parquímetros e que continuam, inexplicavelmente, abandonados.

A integração do Bairro Azul na área a abranger pelo Plano de Pormenor agora previsto, permitirá estudar o trânsito da zona de uma forma abrangente e estabelecer um conjunto de regras sobre o edificado e zonas públicas que irá ao encontro das expectativas dos moradores, dos comerciantes e de todos os que usufruem desta zona da cidade
."

(1) Por despacho da Senhora Vereadora da Cultura de 23 de Fevereiro de 2005 foi determinada a abertura do processo de classificação do Bairro Azul como Conjunto de Interesse Municipal, encontrando-se o Bairro, a partir desse momento, em vias de classificação.
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Em relação a este assunto a Comissão de Moradores recebeu ofício do Departamento de Planeamento Urbano datado de 11 de Março, onde se informava que a sugestão tinha sido considerada pertinente e que iria ser proposta a ampliação dos limites definidos para o Plano de Pormenor da Praça de Espanha e Av. José Malhoa por forma a incluir o Bairro Azul.

Ana Alves de Sousa

Jorge Silva Melo afirma ter sido enganado pela Câmara de Lisboa

O encenador e director dos Artistas Unidos, Jorge Silva Melo, diz ter sido "enganado" pela Câmara Municipal de Lisboa no caso do edifício A Capital e admite vir a processar o presidente, Pedro Santana Lopes, e a vereadora da Cultura, Maria Manuel Pinto Barbosa, por "incumprimento" dos acordos de requalificação do espaço no Bairro Alto que até 2003 foi sede da sua companhia.
"Quem ocupa cargos públicos não pode fazer promessas que não pode cumprir porque não é assim que se tratam os cidadãos", disse ontem Silva Melo em conferência de imprensa no Teatro Taborda.


Um abraço a Jorge Silva Melo, que não é o único cidadão a quem apetece processar não só a CML como todos os políticos que nos têm (des)governado de há décadas a esta parte.
PF

Ninguém desata o "Nó de Alcântara"?

Ontem, foi dado mais um pequeno ao novelo do chamado "nó de Alcântara". Ninguém sabe o que quer para ali. Há falta de coragem. Muita incompetência e mau gosto. E enquanto os gatos, de que Fialho de Almeida falava, se vão entretendo com o novelo, nós vamos tendo que aguentar com aquele viaduto imundo e temporário, que virou definitivo; com aquela passadeira vermelha inenarrável; com a imensidão de contentores que conspurcam a Gare Marítima de Alcântara; com a confusão de trânsito e estacionamento à volta das Docas de Alcântara; com o esventramento inconsequente dos edifícios industriais; com os planos milionários de arquitectos invocados como "guarda-chuva" institucional, conforme os argumentos pró-contra novelo; com promessas/ameaças de referendos sobre projectos que não passam disso; com o braço-de-ferro geracional entre CML e Porto de Lisboa; etc..
PF

Casa de Garrett: as últimas

Hoje, dia 31 de Março, ou amanhã, dia 1 de Abril, pelas 18H30, o programa RTP-Regiões emitirá uma reportagem sobre este assunto.

Sábado, o semanário "Expresso" publicará um artigo sobre este tema.

Segundo fonte fidedigna, a Srª Vereadora da Cultura já emitiu parecer sobre a casa de Garrett, tendo o processo passado já para a Srª Vereadora Napoleão, do pelouro da Reabilitação Urbana.
PF

29/03/2005

Dia 7 de Abril, mais um jantar-tertúlia «Falar Lisboa»

Recebemos das Oficinas do Património e da Reabilitação Urbana a seguinte convocatória:

"A Associação Ofícios do Património e da Reabilitação Urbana organiza numa quinta-feira de cada mês um jantar/tertúlia que designamos por “Falar Lisboa” e que se realizam na casa da Juventude da Galiza, na Rua Júlio de Andrade(no Torel), nº 3, às 20,30.

Esta iniciativa tem por objectivo criar um espaço de debate, reflexão e informação sobre a nossa cidade, visando a criação de uma consciência colectiva de que a cidade é constituída por todos nós e, nela, devemos exercer a nossa cidadania.

Dos jantares, surgiram os abaixo assinados para a defesa do Parque de Monsanto, e do Aqueduto, de que iremos dar noticia.

O próximo jantar será na quinta-feira 7 de Abril. O tema será «Tratar do Aqueduto», pelo Senhor Américo Pena ultimo Chefe da Brigada de Conservação deste monumento.

Também iremos reflectir em conjunto em como melhorar a vida dos que habitam ou trabalham na nossa Cidade

Agenda:

5ª feira, 07 de Abril (inscrições até 06 de Abril)
5ª feira, 05 de Maio (inscrições até 04 de Maio) Aceitam-se sugestões de temas.

Solicitamos que as inscrições sejam feitas antes da data limite, para os telemóveis seguintes: 933 476 949 – Drª. Gabriela Carvalho, 917 320 602 – Arq. Filipe Lopes ou arq.lopes@clix.pt. O preço por pessoa é de 16 €.

Drª. Gabriela Carvalho e Arq. Filipe Lopes
"

24/03/2005

CASA DE GARRETT NOVAMENTE EM PERIGO

Que o actual dono da casa de Garrett a tinha comprado para a demolir, já se sabia. Que o actual dono da casa de Garrett se estava marimbando para quem foi Garrett, já se sabia. Que o actual dono da casa de Garrett ligasse tanto ao valor patrimonial desta (e não estou a falar de valor em Euros!) como ao de uma merceeria ou loja de charutos, já se sabia. Que o actual dono da casa de Garrett fosse um Senhor Ministro, isso é que não se sabia. Segundo o jornal "Independente" de hoje, o actual dono da casa de Garrett é o novo ministro da Economia, Manuel Pinho.

Ora como Garrett está para o Teatro de Portugal, como Keynes está para a economia mundial, é caso para perguntar ao sr.ministro se calcula o que lhe fariam os britânicos se ele comprasse a casa de Keynes, para a demolir?

"Curioso" vai ser ver como irão reagir e decidir os responsáveis do IPPAR, da Câmara Municipal de Lisboa e do Instituto Camões, sobre que futuro dar àquele espaço. E aqui entram os senhores jornalistas, cujo papel em todo este caso tem sido notável. Contamos convosco!!

Curiosidade acrescida se tivermos em conta três aspectos: a quadra pascal que o país atravessa; o estado de graça do novo governo; e as pré-remodelações que se anunciam nos organismos públicos, a começar nos que podem resolver este imbróglio da Casa de Garrett.

Portugal merece Garrett?!

Paulo Ferrero

23/03/2005

Cinema Europa, em que ficamos?

Por mais que me esforce, continuo sem entender o movimento "S.O.S. Cinema Europa".
Genericamente, estou de acordo que se tente preservar todos os espaços culturais de Lisboa, até pela simples razão que nunca há equipamentos suficientes seja para o que for, muito menos para a Cultura. Mais de acordo fico quando esse esforço pela preservação toca a espaços fechados há muito tempo, o que é o caso. E mais ainda, quando esses espaços se encontram em locais onde fazem falta, como é o caso. E pertencem à memória de Lisboa, o que é o caso. E mais, muito mais ainda, quando os equipamentos em causa têm valor arquitectónico, o que não é o caso. Só que continuo a achar tudo isto bastante esquisito.
Não só porque o actual Europa é tudo menos um espaço com valor arquitectónico a preservar, pois nada tem que ver com o antigo e bonito Europa (vide fotos do site daquele movimento), sendo a sua classificação pelo IPPAR improbabilíssima; como porque os membros do movimento começaram por reclamar a classificação do Europa para agora se satisfazerem se a CML construir um silo no Europa, desde que conceda à Junta do Santo Condestável uma "Casa da Cultura", que definem como sendo composta por uma sala com capacidade para 100-200 (!!) pessoas, para exibição de filmes, encenação teatral, etc., e uma galeria para exposições.
Ora, ou bem que o Europa merece ser classificado, ou não merece. Ou bem que o Europa é recuperado e se mantém íntegro, ou não. Reclamar-se a não construção de um edifício de habitação no actual Europa, mas aceitar-se a sua transformação numa solução bizarra do género "silo automóvel+casa da cultura" parece-me esquisito.
E continuo sem entender como este movimento parece autista ao facto de ali perto, a menos de 500 mt. do Europa, estar o Cinema Paris, de pé e quase imaculado na sua velhice, que foi objecto de larga polémica há cerca de 2 anos (para a qual ninguém deste movimento contribuiu, ao que sei), cuja demolição se conseguiu travar, e para o qual a CML propôs a respectiva expropriação no Verão passado, e que pode ser, ele sim, a "Casa da Cultura" de Campo de Ourique, mas também da Lapa, da Freguesia Santa Isabel, dos moradores da Av. Infante Santo, etc.; assim seja efectuada a expropriação.
PF

22/03/2005

Alguém ajuda a União Zoófila?

Anteontem foi o Jardim Botânico que se queixou de não ter dinheiro para pagar a água para regar os seus (nossos) tesouros. Ontem, foi o Zoo que ficou sem os dinheiros de que precisava para cumprir as directivas comunitárias, adiando mais uma vez as obras prometidas. Etc, etc..

A civilidade, a qualidade de vida, o bem-estar, a saúde de uma cidade mede-se de muitas maneiras. Uma dela é esta: Crise voltou à União Zoófila. Uma cidade que assiste, todos anos, sazonalmente, ao abandono de cães e gatos pelos donos, por mil e uma desculpas de mau pagador; uma cidade em que uma das raras instituições - a União Zoófila - que se ocupam da recolha, tratamento, alojamento e encaminhamento desses animais se vê continuamente sem as quotas dos próprios associados, que tem que pagar água, gás e luz como se fosse uma entidade com fins lucrativos, e que vive do voluntarismo de alguns que não "quem de direito", é uma cidade atrasada. É isso que Lisboa é, por mais que se afirme o contrário.

PF

O Aqueduto continua em risco de mutilação

Portugal merece D.João V?

Sob o título de "Aqueduto quebrado - o 'último acto em Lisboa'", o "Público" de ontem faz referência mais uma vez ao que tem sido a novela "mutila, não mutila" o Aqueduto das Águas Livres, por causa da via-rápida, dita CRIL. De nada parecem servir os abaixo-assinados lançados em boa hora pelas Oficinas do Património e da Reabilitação Urbana. Havendo alternativas estudadas, mas recusadas, a conclusão que se tira deste caso é, mais uma vez, só uma: para quem de direito, o asfalto conta mais do que o património.

Como irá lidar o novo governo com este problema? Da mesma maneira de todos os outros até aqui?
PF

17/03/2005

Ainda o movimento pró-Cinema Europa

E a propósito das fotos que o movimento S.O.S. Cinema Europa apresentam, elas confirmam o que aqui deixei há tempos:

O actual Cinema Europa não tem qualidade para ser classificado pelo IPPAR.
O actual Cinema Europa nem tem características que o possam tornar "a" sala de cultura de Campo de Ourique.
O actual Europa há muito que deixou de ser o outro Europa.
O actual Europa mais não é do que uma sala de ensaios e estúdio de gravações.

Por isso, continuo sem perceber a razão de ser desta manifestação, quando ali ao lado existe o antigo Cinema Paris, que além de ser uma sala com muito maiores potencialidades; além de já estar protegido pelo IPPAR por se encontrar no perímtero da Basílica da Estrela; além de ter sido objecto formal de proposta de expropriação por parte da CML, em Junho de 2004; e além de ter um projecto de utilização cultural de grande nível, quer para a zona quer para o edifício; é um cinema que, apesar de ter sido esventrado e vandalizado durante mais de 20 anos, mantém a sua beleza original, o seu pé direito único e todas as características que, potencialmente, fazem dele "a" sala por excelência de toda essa zona, a começar por Campo de Ourique, mas que abrange também a Lapa e não só.

Por outro lado, continuo sem perceber como este movimento pelo Europa começa por defender a sua classificação pelo IPPAR, e depois afirma-se satisfeito por a CML anunciar um silo automóvel para lá, desde que deixe uma área para eventos culturais. Por favor, indiquem-me a lógica de tudo isto, que continuo a não entender.

Caso contrário, fico a pensar que tudo isto não passa de uma guerra política entre Juntas de cores diferentes, o que seria grave.

Paulo Ferrero

16/03/2005

Auto-silos, para quê?



Serão os silos automóveis a resposta para a falta de estacionamento dos moradores das zonas históricas?

E serão os silos e os parques subterrâneos apenas negócios (legítimos) de construção civil? Quem estaciona lá? Moradores ou visitantes? Estarão vazios?

A propósito do silo actualmente em construção para as Portas do Sol, de que damos conta no nosso site, do que já se construiu na Calçada do Combro (e para o qual a Srª Presidente da Junta de Santa Catarina apenas diz ter tomado conhecimento de que era um mamarracho inenarrável depois de já estar feito), e do que se projecta para o Mercado do Chão do Loureiro, aqui ficam as perguntas.
PF

Ainda sobre o debate de ontem,

aqui fica o balanço do "Diário de Notícias", sob o título de "'Dossier' Inglesinhos o tempo passa mas o filme repete-se" e pela pena justa da jornalista Maria João Pinto. Eis a totalidade do texto:

"Bens de valor patrimonial deixados ao abandono, promotores que se permitem apresentar projectos lesivos, legislação que oscila entre a omissão e a permissividade, cidadãos que não conseguem encontrar interlocutor nos organismos do Estado ou da administração local, vozes qualificadas a "clamar no deserto" há largos anos - como um filme que se repete, a anunciada conversão do Colégio dos Inglesinhos em condomínio fechado encontra paralelismos numa longa sucessão de casos idênticos.

No debate que, segunda-feira à noite, se realizou por iniciativa do Forum Cidadania Lisboa e do Centro Nacional de Cultura (CNC), Gonçalo Ribeiro Telles lembraria alguns desses casos - da destruição das quintas do Paço do Lumiar ao vale de Chelas - e aquela que considera ser a raiz deste quadro recorrente da estrutura natural à memória da cidade, "tudo se transformou numa 'área de oportunidade' porque tudo está à venda'". Perdas sucessivas "de que seremos responsabilizados", como referiu, por seu lado, o olisipógrafo José Luís de Matos, e cuja sistemática repetição "nos mostra como Portugal tem do património uma visão terceiro-mundista", na expressão de Matilde Sousa Franco.

Pela voz da directora municipal de Reabilitação Urbana, Mafalda Magalhães Barros, e de técnicos da Unidade de Projecto do Bairro Alto e Bica, a assistência que lotou a sala do CNC ficou a saber que, na sua primeira versão, o projecto da Amorim Imobiliária "esventrava por completo" o interior dos Inglesinhos. "Recusando ver-se no banco dos réus" pela luz verde que o empreendimento obteve da autarquia e do Ippar, os mesmos técnicos consideraram que, não fôra a sua "luta e duras reuniões com o promotor", o projecto não teria conhecido as "três ou quatro versões" que teve até hoje. "Movemos Céu e Terra para que o promotor o alterasse", referiu Helena Pinto Janeiro, historiadora daquele gabinete, "num movimento inédito no seio da Câmara de Lisboa, para que se salvaguardasse o máximo de elementos de valia patrimonial, e conseguimo-lo - o Colégio dos Inglesinhos não será destruído nem descaracterizado e o essencial será preservado".

As afirmações do Gabinete do Bairro Alto não chegam, no entanto, para apaziguar a apreensão dos moradores que têm contestado um projecto cuja finalidade já mudou várias vezes - de "clube residencial para idosos acamados" a "loteamento de luxo", guindado, mais recentemente, a "intervenção-modelo de recuperação de património", na linguagem promocional do mercado imobiliário. Para o cineasta José Fonseca e Costa, há razões para essa apreensão, seja pela "ausência de diálogo", seja pelos "pormenores inquietantes que a consulta do processo forneceu". Na mais nova versão do projecto, "os pontos mais agredidos serão os jardins e a ala virada à estreita Rua Nova do Loureiro", onde surgirá um novo corpo, servido pela abertura de vãos no muro de contenção atribuído a Carlos Mardel.

"O que verificamos", referiu o arquitecto Raul Hestnes Ferreira, "é que a intervenção aprovada nada tem a ver com as três únicas acções que se podia ter nos Inglesinhos - restauro, reabilitação, beneficiação". A interposição de uma providência cautelar, em apreciação em tribunal, não teve, até ao momento, efeitos práticos no terreno "A obra prossegue, sendo já vários os elementos demolidos".

O facto de "tudo isto ter sido aprovado sem consulta pública" constituiu, para a generalidade dos presentes, outro motivo de perplexidade, tanto mais que intervenções em zonas históricas requerem cuidado extremo. A necessidade de equipamentos que sirvam a comunidade seria, de resto, várias vezes sublinhada e apontada como a via mais adequada ao perfil do imóvel. A actriz Silvina Pereira lembraria, a propósito, aquele que poderia ter sido o uso mais condizente com os Inglesinhos o de extensão natural do Conservatório Nacional - há muito a braços com graves problemas de espaço -, caminho que "várias vezes foi tentado" sem sucesso.
"

PF

15/03/2005

Debate sobre o Convento dos Inglesinhos: balanço

1. A Direcção de Reabilitação Urbana da CML e a Unidade de Projecto do Bairro Alto recusam-se a ser considerados réus neste caso do Convento dos Inglesinhos.

Observações:

1.1 Auto-considerar-se como réu de qualquer coisa é sinal de pêso na consciência.
1. 2. Agradece-se o esforço imenso ("gigantesco", como gostava de dizer o ex-edil da outra vereação) que a CML e a referida unidade de projecto fizeram/façam pelo Convento dos Inglesinhos. Só que esse esforço não chega, é curto. Exige-se mais.
Exige-se que o pouco património de Lisboa seja recuperado, como se faz lá fora, onde qualquer cidade de província de Espanha, França ou Itália, por exemplo, tem os seus, "conventos dos inglesinhos" aproveitados das mais variadas formas, e abertos ao público, mas tudo menos reconvertidos em condomínio fechado, sobretudo numa zona, o Bairro Alto, que tem uma taxa de habitante por hectare muito superior à média lisboeta, e onde faltam espaços verdes e equipamentos culturais. Exige-se aos nossos representantes, e a quem cabe zelar pelo nosso património, que abram os olhos quando vão lá fora, e não se limitem a angariar investidores imobiliários. Já chega de construção civil!

2. A Srª Presidente da Junta de Santa Catarina acha que o silo da Calçada do Combro é um caso mais polémico e importante do que o do Convento dos Inglesinhos.

Observações:

2.1 É triste que esta seja a opinião da Srª Presidente da Junta.
2.2 É sintomático que a Srª Presidente da Junta já tenha deixado cair o argumento pró-projecto de condomínio de que "aquilo sempre foi um espaço fechado".

3. A Unidade de Projecto do Bairro Alto considera estranho que os cidadãos só falem do Convento dos Inglesinhos quando há mais casos para defender, a começar pelo Convento de Arroios.

Observações:

3.1 O Forum Cidadania Lisboa foi criado recentemente e no seguimento dos vários movimentos de protesto que têm vindo a público, aqui e ali.
Sejamos claros: os cidadãos estão fartos da incompetência generalizada. Estão fartos do "laissez-faire, laissez-passer". Estão fartos de ser "tratados nas palminhas" em hora de eleições e depois serem votados ao desprezo. Estão fartos de verem o património a desaparecer todos os dias. Estão fartos de andar no "pára-arranca" todos os dias. Estão fartos de ver os cafés desaparecerem, o comércio tradicional falir, e por aí adiante.
3.2 O Forum Cidadania Lisboa abraçou esta causa dos Inglesinhos por se tratar de um assunto que se afigura como "case study" em termos do que não deve ser a abordagem de um promotor, daquilo que não deve ser a resposta de quem de direito, e daquilo que deve ser a intervenção cívica (atrasada ou não, pouco importa, pois mais vale tarde que nunca).
3.3 Estamos de acordo erm que há muitos mais casos de património ao abandono, em risco, etc. (a começar, por exemplo, por outro convento de que já ninguém fala: o Convento da Graça) e por que vale a pena lutar.
A breve trecho o Forum Cidadania Lisboa irá ocupar-se deles, assim o permitam a disponibilidade dos cidadãos (todos eles envolvidos de forma gratuita, e sem qualquer preocupação que não seja Lisboa) e o alcance da sua voz (que vive basicamente desse instrumento poderosíssimo que é a Net).
3.4 No caso do Convento de Arroios, seria bom que os moradores daquela zona se mobilizassem, mormente se o empenho de quem de direito tiver sido/seja/for igual ao havido em relação aos Inglesinhos.
De qualquer forma, graças à receptividade que o Forum Cidadania Lisboa tem tido junto da imprensa (obrigado a todos!), é natural que aqueles que lidam mais de perto com aquilo que se passa com esse convento de Arroios, se juntem a nós, já que a informação que temos sobre esse caso é quase nula.

4. É caricato como o Plano Director Municipal (o que já foi, o que ainda é e o que há-de ser) continua a servir de desculpa e de escudo para as mais variadas barbaridades.
PF

Debate sobre o Convento dos Inglesinhos: agradecimentos

Em nome do Forum Cidadania Lisboa, quero agradecer, muito, ao Centro Nacional de Cultura, na pessoa do seu Presidente, Senhor Dr. Oliveira Martins, e na das Drª Teresa Ferreira Gomes, D. Ana Mendes e Drª Helena Serra, pela simpatia e amabilidade demonstradas, pelo interesse nesta causa e pela organização do debate.

Agradeço também, e muito, a participação da Senhora Drª Matilde Sousa Franco e do Senhor Arqº Ribeiro Teles, bem como a presença da Senhora Drª Maria José Nogueira Pinto, da Senhora Presidente de Junta, D. Irene Lopes, dos representantes da CML e da Unidade de Projecto do Bairro Alto.

Lamentamos a ausência de última hora do Prof. José-Augusto França e da Senhora Vereadora Eduarda Napoleão, cujos depoimentos teriam esclarecido ainda mais os presentes.

Quero agradecer ainda a todos os jornalistas que no "Diário de Notícias", "Jornal da Região" e "Jornal de Notícias" (ontem) e "A Capital" (hoje) deram voz a esta luta pela preservação do Convento dos Inglesinhos. Bem hajam!

Os nosso parabéns ao Senhor Arqº Raúl Hestnes Ferreira, pela clareza da sua intervenção, como representante dos cidadãos interessados pela preservação do Convento dos Inglesinhos.

Paulo Ferrero

14/03/2005

Hoje é dia de debate sobre o Convento dos Inglesinhos

Às 18H30, na Galeria Fernando Pessoa do Centro Nacional de Cultura, no Largo do Picadeiro, nº 10 - 1º (traseiras do Teatro São Luiz).

Obrigado ao "Diário de Notícias", ao "Jornal de Notícias, ao "Jornal da Região" e ao "Público", pela atenção que dedicam a este debate nas suas edições de hoje. Obrigado!
PF

11/03/2005

Convento dos Inglesinhos: debate, 2ª Feira, dia 14, 18H30

O Centro Nacional de Cultura irá acolher na próxima Segunda-feira, dia 14 de Março, pelas 18H30, uma importante sessão-debate sobre o estado de coisas no Convento dos Inglesinhos, no Bairro Alto.

Esta iniciativa conjunta Forum Cidadania Lisboa-CNC, de entrada livre, contará com a presença de personalidades e instituições de quem dependem directamente o presente e o futuro do Convento dos Iglesinhos, estando neste momento já confirmadas as presenças da Drª Matilde Sousa Franco (autora da melhor monografia sobre o Convento dos Inglesinhos), do Prof. José-Augusto França (historiador e olisipógrafo), do Arqº Ribeiro Teles, da Vereadora Eduarda Napoleão, da Drª Maria José Nogueira Pinto (Provedora da Santa Casa da Misericórdia, ex-proprietário do Convento), de Irene Lopes (Presidente da Junta de Freguesia de Santa Catarina), de responsáveis da Unidade de Projecto do Bairro Alto, e de José Fonseca e Costa, entre outros.

Aguarda-se confirmação do Senhor Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, do Ministério da Cultura, do IPPAR, da Ordem dos Arquitectos, e da Amorim Imobiliária e respectivo autor do projecto em apreço.

Se quer ter uma palavra a dizer sobre este assunto ... COMPAREÇA!!

Para esclarecimentos adicionais, por favor, queiram contactar-nos para este forum, ou directamente para o Centro Nacional de Cultura, sito na Rua António Maria Cardoso, Nº 68, em Lisboa (tel. 21 346 67 22; fax: 31 342 82 50; Email: info@cnc.pt).

10/03/2005

Rua Augusta ... e bustos do Jardim de São Pedro de Alcântara

1. Rua Augusta a funcionar 24 horas é tema de concurso de ideias

Trata-se, a meu ver, de uma boa ideia. Diz o regulamento do concurso que, "mantendo-se o edificado e trabalhando os espaços vazios entre os edifícios, é pedido aos concorrentes que apresentem propostas que tragam algo de novo àquela zona da Baixa".

Mas atenção ao seguinte: que não passe pela cabeça de ninguém, cobrir a Rua Augusta como modernices. Porque se no tempo de Fialho de Almeida o poder de então recusou a sua ideia de ali conceber algo parecido com as galerias de Bruxelas, Milão ou Nápoles, então não haverá modernice que nos valha.

2. Roubo escandaloso de esculturas em Lisboa

O pobre do Jardim de São Pedro de Alcântara, um dos mais bonitos de Lisboa (que já teve prevista, imagine-se, a construção de um parque de estacionamento subterrâneo, exactamente debaixo do seu patamar inferior), é uma vergonha como se mantém paulatinamente em regime de auto-gestão, seja qual for a vereação camarária. Nada é cuidado. Os canteiros têm uma mísera erva daninha, arvorada em relva. A bonita e trabalhada vedação em ferro, que circunda o miradouro, está partida em variadíssimos pontos, e quando susbtituída é-o por tubos simples de ferro. A buganvília está completamente ao Deus dará. Os bancos estão vandalizados. As bicas estão imundas. O pátio (onde alguém teve um dia a ideia luminosa de ali montar um recinto de jogos, outro alguém teve a boa ideia de acabar com ele, e ali montar de vez em quando eventos como feiras de moda, etc.) está com as pedras soltas, o piso esburacado e sujo. O patamar inferior do Jardim, onde existia um magnífico chalet, que foi entretanto deitado abaixo, tem os canteiros com lixo, e apresenta os suportes dos bustos decapitados, um sim, outro não; ora fruto de roubo, ora fruto de vandalismo.

Falou-se em tempos da programada operação de restauro do patamar inferior, da reposição dos bustos (a maioria dos decapitados encontra-se algures em armazém camarário), da reconstrução do chalet demolido como casa-de-chá e restaurante, e da revitalização de todo o jardim. Como tudo quanto nos prometem, ficou por cumprir até agora, mas em ano de eleições certamente que mais promessas virão...

PF

Convento dos Inglesinhos: projectista ignorou despacho do IPPAR, e vistoria municipal foi esquecida

Curiosos os extractos do depoimento do arquitecto responsável pelo projecto da Amorim Imobiliária, José Carlos Travassos:

"...não foi considerado o despacho do Instituto Português do Património Arquitectónico (Ippar) que obrigava a serem previamente assegurados os trabalhos de prospecção arqueológica como condição para um parecer final positivo"; "... tal obrigatoriedade não foi determinada nem pela Câmara Municipal de Lisboa nem pelo Ippar e salientou que todos os pareceres das duas entidades foram cumpridos".

Quando confrontado com o despacho do IPPAR, de 18 de Fevereiro de 2003, assinado pelo então responsável pela Direcção Regional de Lisboa, Manuel Máximo Lapão, o arquitecto disse que "não tinha presente o documento", acrescentando: "Se é exigível far-se-á". Isto apesar de o documento determinar que os trabalhos fossem "previamente assegurados" e de José Carlos Travassos ter confirmado que as obras já estão em curso, tendo sido demolida parte de um muro na Rua Luz Soriano.

Sobre o muro da Rua Nova do Loureiro, cuja autoria é atribuída a Carlos Mardel, Travassos admitiu que "Deixa de ser de contenção e passa a ser de fachada, que vão ser colocadas grades nos vãos e que vai ser aberta uma área para acesso de veículos a um parque subterrâneo. Passa a ter outra lógica cenográfica", resumiu, confrontado com o facto de o documento camarário afirmar que o muro deve ser preservado com todos os seus elementos decorativos, incluindo os vãos cegos, e deve manter a sua imagem de muro de suporte de jardim.

Quanto aos "tectos de saia e camisa" do piso 3, igualmente referidos pelo auto de vistoria como a preservar, a testemunha admitiu que não foram considerados, confirmando ainda a alteração de uma das fachadas e do desenho das águas dos telhados, argumentos invocados pelos requerentes para pedir a suspensão do licenciamento emitido pela autarquia e a suspensão da obra.

PF

09/03/2005

Por cada boa notícia, há 2 más notícias

Como por cada boa notícia diária sobre o património alfacinha, há logo duas más notícias que se levantam, aqui ficam as de hoje, relativas a dois casos URGENTES de atentado a dois imóveis lisboetas de supra-importância:

1.Aqueduto das Águas Livres

Esta notícia do "Diário de Notícias", vem na sequência do magnífico trabalho que a Associação Ofícios do Património e da Reabilitação Urbana (Oprurb) tem vindo a fazer, desde há um ano a esta parte.

Resumindo e concluindo, o problema é o seguinte: no âmbito da execução do troço final da Circular Regional Interior de Lisboa (CRIL), está prevista a demolição de parte do Aqueduto das Águas Livres (sim, digo bem, do Aqueduto das Águas Livres!!!), mais exactamente um troço enterrado de 180 metros, do aqueduto principal, bem como de 55 mt. do aqueduto subsidiário das Francesas.

A OPRURB lançou um abaixo-assinado contra (que reuniu mais de 9.000 assinaturas). A OPRURB proprôs uma solução alternativa a quem de direito, que até agora não teve resposta, senão do Instituto de Estradas de Portugal, que a reconheceu como tecnicamente viável, mas "cara", como se 740 mil euros fossem caros para os mamarrachos que se constroem por aí, a mando do "progresso".

O caricato de tudo isto é que, segundo o Arqº Filipe Lopes, da OPRURB, este problema poderia ter sido evitado se, antes da execução do nó da Buraca - e estamos a falar já de datas como 1965, aquando do Plano Director da Região de Lisboa, se se tivesse atendido aos valores em presença, "Já se sabia que o aqueduto passava ali e, de resto, até 1996, o Ippar sempre disse firmemente 'não' à demolição, justamente porque o traçado colidia com o monumento".

Uma pergunta é inevitável: Portugal merece D.João V?

2. Convento dos Inglesinhos

O julgamento da providência cautelar começou ontem, dia 8 de Março. Os relatos do que foi ontem dito estão aqui, em mais um inestimável serviço de esclarecimento público do "Público".

Neste primeiro dia, realce para as declarações do Arq. Ribeiro Teles, sobre o "espaços vedes" que o projecto prevê: "É um "jardim da Celeste" ridículo, que atinge a memória e a cultura daquela zona histórica da cidade e não funciona. Não tem presença como sistema natural no equilíbrio ecológico" . "A preservação de quintas e logradouros interiores é fundamental na cidade" ... "a manutenção do jardim do Convento dos Inglesinhos é completamente imprescindível, em nome das características não só morfológicas como também estéticas do local".

Já os arquitectos Alberto Castro Nunes e Hestnes Ferreira, e o historiador Jorge Estrela alertaram o tribunal para a "não preservação de todos os elementos decorativos do muro da Rua Nova do Loureiro, incluindo a sua destruição parcial para possibilitar o acesso a um estacionamento subterrâneo, a abertura dos vãos cegos com a colocação de grades e o facto de ficar eliminada a sua função de suporte de um jardim suspenso", contestando ainda "a transformação da cozinha do Convento dos Inglesinhos num apartamento, a não manutenção da fachada com a ampliação de um piso, a não preservação de alguns tectos existentes, a destruição de uma galeria de acesso à igreja e o emparedamento de outra".

Duas perguntas, em jeito de teaser:

Porque não a Orquestra Metropolitana de Lisboa, em vez de um condomínio?
Porque não uma escola-museu de artes e ofícios, em vez de um condomínio?

PF

Projecto requalifica lojas do Chiado

Este título do "Jornal de Notícias" de hoje é uma boa notícia. Porquê? Porque vem na linha do que tem sido feito ao abrigo do Fundo Remanescente de Reconstrução do Chiado (FRRC), que, recorde-se, surgiu nesta Vereação como forma, instrumento, para se aproveitarem as verbas (cerca de 45 milhões de euros) que tinham sido destinadas ao Chiado, para o pós-incêndio de 1988, e que o anterior executivo camarário não aproveitou, vá-se lá saber as razões - que a razão desconhece.

Com este alargamento do Fundo aos espaços comerciais degradados do Chiado, pode ser, repito PODE SER, que tenhamos oportunidade de ver restauradas e atractivas algumas das velhas e emblemáticas lojas que ainda existem por ali (e sabemos quão escassas elas já são). Eu ficaria especialmente contente se começassem pelas magníficas retrosarias da Rua da Conceição, por exemplo.

De salientar, ainda, que o Fundo pretende intervir em alguns largos do Chiado, o que será uma ainda melhor notícia.

PF

Parque Mayer: a opção jardim

Engraçado como o tema surge em cima da mesa, de um momento para o outro. Engraçadas as respostas deste mini-inquérito, levado a cabo na edição de hoje do "Público".

À pergunta "O que pensa da hipótese de transformar o Parque Mayer num jardim?";

Aurora Sousa, empregada de escritório, de 50 anos, afirma "Não estou bem dentro do assunto, mas acho mal. Não concordo porque a câmara deve recuperar os teatros";

Esmeraldo Marques, empresário, também 50 anos, diz "Não concordo muito. Até fica bonito, mas pouco se pode aproveitar. Temos de nos preocupar mais com as partes úteis e o teatro dava emprego a muita gente";

Wagner Batista, advogado, 28 anos, responde "Eu acho que talvez não seja uma boa ideia, porque devia ser mantido aquele espaço";

e José Amaral, oficial de justiça, de 53 anos, diz "Acho bem que o transformem num jardim, porque nesta cidade é só cimento, só cimento".

Estamos falados.
PF

08/03/2005

Sessão-debate sobre o Convento dos Inglesinhos, dia 14, às 18H30

O Centro Nacional de Cultura irá acolher na próxima Segunda-feira, dia 14 de Março, pelas 18H30, uma importante sessão-debate sobre o estado de coisas no Convento dos Inglesinhos, no Bairro Alto.

Esta iniciativa conjunta Forum Cidadania Lisboa-CNC, de entrada livre, contará com a presença de personalidades e instituições de quem dependem directamente o presente e o futuro do Convento dos Iglesinhos, estando neste momento já confirmadas as presenças da Drª Matilde Sousa Franco (autora da melhor monografia sobre o Convento dos Inglesinhos), do Prof. José-Augusto França e de José Fonseca e Costa, entre outros.

Estão neste momento a ser feitos convites expressos à Presidência da Câmara Municipal de Lisboa, ao Ministério da Cultura, ao IPPAR, à Santa Casa da Misericórdia, à Junta de Freguesia de Santa Catarina, à Amorim Imobiliária (e ao autor do respectivo projecto), à Unidade de Projecto do Bairro Alto, à Ordem dos Arquitectos e a diversas personalidades.

Para esclarecimentos adicionais, por favor, queiram contactar-nos para este forum, ou directamente para o Centro Nacional de Cultura, sito na Rua António Maria Cardoso, Nº 68, em Lisboa (tel. 21 346 67 22; fax: 31 342 82 50; Email: info@cnc.pt).

Projecto para o Convento dos Inglesinhos começa hoje a ser julgado

Violação de "vários artigos" do PDM é um dos argumentos invocados pelo advogado José Sá Fernandes e pelo realizador Fonseca e Costa.

Boa sorte para os autores da providência cautelar, e boa sorte para o Convento dos Inglesinhos.

PF

P.S. Será anunciada em breve uma iniciativa do Forum Cidadania Lisboa sobre este assunto.

07/03/2005

Parque Mayer Talvez um Jardim

Eis uma opinião que vem de encontro àquilo que quase todos nós pensamos mas que não dizemos, por razões que a razão desconhece:
Mais valia transformarem o Parque Mayer num jardim público, fazendo ligação com o Jardim Botânico, e recuperando o Capitólio como sala de espectáculos polivalente, do que deitar dinheiro à rua em projectos megalómanos.
PF

Fonte monumental da Alameda reactivada em Setembro

Esta sim, é uma boa notícia para todos nós, que gostamos de ver recuperados os sítios de Lisboa de que mais gostamos. E a fonte da Alameda D.Afonso Henriques e a área envolvente há muito que mereciam obras de fundo. Parece que é desta que a fonte ganha a monumentalidade perdida. Veremos em Setembro se assim é; se assim for, então, muito OBRIGADO a Santana Lopes e a Carmona Rodrigues, e ao Metropolitano de Lisboa.

PF

04/03/2005

Cinema Alvalade junta habitação ... e Paris ainda à espera da sessão

Aproveitando este artigo da edição de hoje do "Jornal de Notícias", quero sublinhar o seguinte:

1.Cinema Alvalade

a) Segundo o que me foi assegurado por um alto-responsável daquela congregação, há 4 anos, a IURD não abandonou o Alvalade. Ela foi forçada a sair depois de exigir aos proprietários que fizessem obras de conservação das coberturas, o que nunca aconteceu;
b) O painel de Estrela Alves de Faria, segundo me foi dit,o há poucos meses, pela restauradora do painel, o restauro decorre a bom ritmo, embora o painel estivesse em muito mau estado, devido aos actos de vandalismo ocorridos enquanto o cinema esteve devoluto, e devido à demora em retirá-lo, já depois das obras de demolição terem avançado. Desconheço se o resultado do restauro será o painel da pintora Estrela, ou um novo painel.
c) A demolição do Alvalade resulta da total indiferença da generalidade de quem de direito, desde a Junta de São João de Brito (que poderia ter olhado mais para a comunidade do que para o próprio umbigo) à Inspecção-Geral das Artes e Espectáculos, que emitiu um parecer dando luz verde à demolição, com o argumento de que há salas de espectáculo a mais naquela zona (!);
d) Os proprietários do Alvalade acenam agora com a abertura de 4 salas de cinema nas caves, no futuro edifício, e com a atribuição de nomes de actores e realizadores aos apartamentos que irão vender. Além de ser hipócrita, o facto prende-se, penso, com a necessidade de garantir que a actividade do futuro Alvalade se prende minimamente com artes e espectáculos..

2. Cinema Paris

a) A Lusomundo, a fim de garantir público para os cinemas do C.C. Amoreiras, resolveu desinvestir abruptamente no Paris. Fechou o cinema, e colocou-o à venda, o que aconteceu já há alguns anos;
b) Durante a vereação de João Soares esteve afixado um aviso de "informação prévia" para um projecto que ninguém sabe muito bem o que era, mas que parece incorporaria a construção de habitação, escritórios e zona comercial na área por detrás do Paris. O Paris, esse seria transformado em centro de conferências;
c) Ainda durante essa vereação, tentou-se vender o Paris à cadeia de supermercados LIDL que o recusou, conforme informação que recolhi há cerca de 3-4 anos, junto do responsável da LIDL para Lisboa;
d) Também nessa altura a Junta da Lapa alertou a CML para a necessidade de recuperar o Paris para os fregueses da zona;
e) Sensivelmente na mesma altura, o Coral Lisboa Cantat apresenta à CML e ao IPPAR o seu projecto para oficina vocal;
f) A actual vereação, em finais de 2002 entendeu por bem mandar demolir o Paris, com o argumento de que estava em risco de ruína, como se edifícios como o Paris caíssem à mínima rajada de vento, como se comprova facilmente indo lá neste momento: o Paris está de pé (pese embora tenha sido completamente vandalizado) e estará de pé, até que o deitem abaixo;
g) Paralelamente, uma estudante apresenta à Junta e à CML um projecto de hotel e casa de chá, com "memorabilia" cinéfila, mas que implicará não só a demolição do interior do Paris, como a completa descaracterização da sua fachada, dado o look à C.C.Monumental que surgiu num artigo do "Expresso";
h) Devido ao protesto e ao empenho de muitos cidadãos interessados, a começar pela Junta da Lapa, a demolição é interrompida pela CML e o próprio Presidente Santana Lopes comunica essa decisão nos jornais, convidando os lisboetas a verem in loco como está o Paris; o que fiz de imediato;
i) Posteriormente, e há pouco tempo, exactamente a 17 de Junho de 2004 (conforme consta em Boletim Municipal), e sob proposta de Santana Lopes, a CML aprova por unanimidade a intenção de expropriar o Paris, atribuindo-lhe o valor de 816.228 €, e propondo ao Governo a respectiva autorização de posse administrativa do Paris. Pela imprensa, sabe-se ainda que o actual proprietário terá ainda direito a uma permuta para construir na Alta de Lisboa. Ao mesmo tempo, a CML anuncia que o futuro do Paris passará por um projecto cultural.

E mais nada se sabe sobre o Paris.

PF

03/03/2005

A faena já acabou? Viva o progresso

Nova Praça do Campo Pequeno pode reabrir em Agosto, pode ler-se na imprensa de hoje. Mais à frente, lê-se esta coisa fantástica:

"Ao longo da visita, Carmona Rodrigues pôde aperceber-se da envergadura do projecto: um parque de estacionamento para 1250 lugares, uma praça de restauração por debaixo da arena, com 2200 metros quadrados e 11 restaurantes, 70 lojas, oito salas de cinema, um restaurante de luxo no torreão, 18 elevadores, 12 escadas rolantes, camarins para 150 artistas. As bancadas, com oito mil lugares, foram integralmente reconstruídas e a praça, segundo o promotor, terá acústica para receber a Orquestra Sinfónica de Londres. As paredes foram descascadas e a estrutura metálica inteiramente renovada. A avaliação inicial e o acompanhamento das obras foi feito pelo Laboratório Nacional de Engenharia Civil, Instituto de Soldadura e Qualidade e pelo professor Gaspar Neto, do Instituto Superior Técnico.
Uma empresa holandesa fez a recuperação do tijolo. Foram reconstruídos 500 mil e colocados 12 mil tijolos novos. As cúpulas metálicas foram pintadas de azul, a cor do projecto inicial".


No final desta verdadeira faena que tem sido a "recuperação do Campo Pequeno", quem levará as orelhas e o rabo?

A terminar, uma sugestão: peçam à Orquestra Sinfónica de Londres para ensaiar pasos dobles e encontrar até ao Verão um corneteiro!
PF

02/03/2005

Entre o Paris e o Europa, escolho o primeiro, de caras



(Foto: Sofia Sá da Costa)

A propósito do movimento em prol do Cinema Europa, e porque há muito que me bato pela recuperação das antigas salas de cinema de Lisboa, tenho que dizer aos cidadãos que o protagonizam o seguinte:

1. O Europa de hoje não tem nada a haver com o Europa de ontem. O Europa sofreu imensas obras ao longo dos anos, que o desvirtuaram para sempre.

2. Ali ao lado existe o Cinema Paris que, pelas suas características e historial; pelo facto de estar protegigo pelo IPPAR em virtude de constar do perímetro da Basílica da Estrela; pela expectativa de uma expropriação anunciada pela CML; pela existência de um projecto válido de exploração - o da oficina vocal do Coral Lisboa Cantat, susceptível de ser completado outras valias culturais - pode muito bem ser "o" pólo cultural de toda aquela zona de Lisboa, de Campo de Ourique à Lapa, passando pela Av.Infante Santo, Santa Isabel, etc.

É uma pena não poderem co-existir os dois neste nosso tempo. Mas isso é algo que se assemelha impossível. E tendo que optar por um dos dois espaços, como parece ter que ser a decisão da CML, eu não hesitaria um minuto em prol do Paris.

Finalizo, apelando ao fim das guerras entre Juntas, entre blocos, entre cores. Somos demasiado pequenos para isso... E mais vale o Paris na nossa mão, do que o Paris e o Europa a voar.

PF

Capitólio, Imóvel de Interesse Público, para quê?


(foto: IPPAR)


A notícia é toda ela um prodígio de encenação teatral (digna das famosas réplicas de Estêvão Amarante e Luísa Satanela), dado que o que está em causa em todo este imbroglio à volta do futuro do Parque Mayer é um negócio chorudo para uma firma de construção civil (que gosta de explorar parques de estacionamento subterrâneos), em troca do cumprimento de uma promessa eleitoral que voltará a sê-lo nas próximas autárquicas, já em Setembro-Outubro.

Mais, a empresa de construção além de, parafraseando a linguagem do deputado municipal do PC, trocar um "esqueleto" - o Parque Mayer - por uma bela "chicha" - os terrenos livres da Feira Popular -, ainda ficará com os direitos de exploração dos futuros estacionamentos subterrãneos circundantes ao futuro Parque Mayer.

Contudo, o que mais me aflige em toda esta encenação é o arrojo da Senhora Vereadora do Planemento Urbanístico, Eduarda Napoleão, referindo-se ao Cine-Teatro Capitólio como sendo "uma perda certa". Assim, segundo esta nossa eleita:

O Capitólio, que data de 1931, que é da autoria de Cristino da Silva (um dos nossoa maiores arquitectos de sempre); que é internacionalmente elogiado como um bom exemplo da arquitectura daqueles anos de bom gosto (veja-se o que dele disse Norman Foster, por ex.); e que é classificado pelo Ippar, integralmente, como Imóvel de Interesse Público (ver ficha), deverá

"ser demolido... este exemplo da arquitectura moderna devia ter sido preservado pelos seus donos, mas que é praticamente impossível mantê-lo, como indicam estudos do LNEC. A única hipótese é, pois, desclassificar o teatro", referiu a Senhora Vereadora.

Perguntas imediatas:

1. De que serve classificar-se um imóvel para depois o desclassificar?
2. De que serve classificar-se um imóvel se nunca se consegue coagir o proprietário a conservá-lo?
3. Não será uma enorme hipocrisia a classificação seja do que for?
4. O dinheiro vale mais do que o património?

PF

01/03/2005

Requalificação no Bairro Alto segue a bom ritmo

O presidente da Câmara, António Carmona Rodrigues, visitou alguns dos principais edifícios que estão, actualmente, a ser alvo de obras de recuperação no Bairro Alto, no dia 28 de Fevereiro. Esta visita, conduzida pela presidente da Junta de Freguesia da Encarnação, Ana Sara Brito, contou com as presenças da vereadora do pelouro da Reabilitação Urbana, Eduarda Napoleão, e do vereador dos pelouros do Trânsito e Espaços Públicos, António Monteiro.
Acho bem que o Bairro Alto esteja finalmente a ser cuidado. Acho bem que o trânsito tenha sido seriamente restringido. Acho bem que o Bairro Alto tenha sido classificado pelo IPPAR. Mas o que está em marcha é muito pouco, é muito lento e sem efeitos que se vejam. E fica uma dúvida:

O outro lado do Bairro Alto não conta? O Bairro Alto que pertence jurisdicionalmente à Freguesia de Santa Catarina? Será porque nesse outro Bairro Alto tudo está «bem»? Não me parece. A começar pelo escândalo do Convento dos Inglesinhos e pela operação-imobiliária desenfreada que está em marcha por aquelas ruas e becos a que nem a envolvente do palácio do Bichinho-de-Conta (vulgo Palácio do Marquês de Pombal) escapa.

PF

18/02/2005

Praça do Campo Pequeno Reabre no Verão

A Monumental do Campo Pequeno é um monumental case study do que tem sido a política lisboeta de recuperação do património e das valências da cidadania lisboeta. A praça de touros foi sendo deixada cair aos bocados ao longo dos anos com o claro intuito de se conseguir chegar a um ponto tal que ficassem reunidas as condições para a necessária "operação de choque".

Tudo começou com o declínio da "Festa Brava" em Portugal (nível mediano do toureio nacional, idem das ganadarias, preços altíssimos, pressão das ligas dos animais, enfim, um espectáculo démodé), que rapidamente foi acompanhado pela ausência de manutenção da estrutura da praça, pelo mau aspecto e perigosidade dos jardins que a circundam, pelo estado decrépito da maioria dos bonitos edifícios (e quantos há!) que ainda restam à sua volta, pelo abuso das companhias de transportes que ali estacionavam autocarros e TIR, pela praga dos arrumadores, pelo abate de dezenas de árvores no topo Norte, etc..

Os projectos de reabilitação sucederam-se mas rapidamente se percebeu que a "solução" teria que passar pela construção civil desenfreada. Assim, mais uma vez, tudo vai girar à volta de um empreendimento que comporta um gigantesco parque de estacionamento e uma galeria comercial que não se percebe bem sirva o quê, quando ali bem perto os centros comerciais Apolo 70, Arco Íris e Via Veneto andam pelas ruas da amargura. O desplante ainda é maior se se pensar na hipocrisia que é acenar-se com "salas de cinema" como chamariz da futura Praça, quando ao lado fecharam as salas do Apolo 70, Sétima Arte e Estúdio 444, por exemplo.

A recuperação do Campo Pequeno devia ter sido uma componente de um cuidado plano de pormenor para toda a zona. Um plano que contemplasse, por exemplo, a demolição de edífícios inestéticos, como o da Cosec. Um plano que passasse pela reabilitação urgente do Palácio Galveias, devolvendo-lhe chama e glória. Um plano que passasse pelo fecho puro e simples do trânsito do lado poente da praça, permitindo a instalação de esplanadas. Um plano que transformasse um espaço verde num efectivo jardim, e que permitisse a sua fruição continuada pelos milhares de moradores das avenidas e ruas circundantes. E um plano que se focasse claramente no aproveitamento da "portugalidade" das corridas de touros, que por si só garantiria a exequibilidade da exploração futura da praça, sobretudo agora que o espectáculo voltou a estar na moda.

Por isso, a Praça de Touros do Campo Pequeno, quando reabrir no Verão (segundo notícia do "JN" e do "Público"), será tudo menos uma praça de touros. Pouco importa que os tijolos tenham sido restaurados e as cúpulas repintadas. Pouco importa que as televisões lá voltem. Pouco importa que a garra de Sónia Matias ou a técnica de Pedrito Portugal chamem multidões. A Monumental do Campo Pequeno virará centro comercial e interface modal. E isso é um custo de oportunidade excessivamente alto, parece-me.

PF

17/02/2005

Nova Urbanização Vai Nascer em Entrecampos!

O projecto que Santana Lopes tanto acarinhou, enquanto foi presidente da Câmara de Lisboa - de um empreendimento de habitação, comércio e serviços - nos terrenos antes ocupados pelo Mercado do Rego, entre a Av. das Forças Armadas e a Av. Álvaro Pais, será hoje publicamente apresentado por Carmona Rodrigues, que anunciará também um novo equipamento cultural na cidade, o Lisboa Arte Forum. , pode ler-se na edição de hoje do "Público". Mais à frente: "Serão construídos 700 fogos - distribuídos por três edifícios - essencialmente destinados a jovens universitários, sejam estudantes ou licenciados em início de carreira. As tipologias serão baixas, essencialmente T0 e T1, porque se pretende abranger sobretudo uma população jovem e universitária", disse ao PÚBLICO Anibal Cabeça, administrador da EPUL, salientando que este empreendimento não se enquadra no programa EPUL Jovem".

Esta é uma excelente notícia para Lisboa e para os jovens que procuram uma habitação. A zona onde o empreendimento vai crescer, actualmente, não é nada mais que um imenso parque de estacionamento à superfície, e um amontoado de pavilhões e barracões a precisar do camartelo. Finalmente alguém pega naquele espaço. Finalmente alguém se lembra de que ali bem perto há toda uma cidade universitária, a que urge dar atenção. Só espero é que desta vez a EPUL justifique a razão da sua existência, fazendo as coisas de forma célere, eficaz e transparente. Uma boa notícia, portanto.

PF

Ainda o túnel do Marquês, a info que faltava

Aqui fica alguma informação útil para se saber exactamente o que está neste momento em causa, i.e:

O relatório de consulta pública, do Instituto do Ambiente;
O parecer do Instituto das Estradas de Portugal;
O parecer do INETI;
e o parecer sobre o descritor de análise de risco.

Esta informação, cedida pelos Cidadãos Mobilizados por Lisboa, está disponível no sítio do Forum Cidadania Lisboa.

16/02/2005

O Túnel do Marquês: mais um episódio

Dos Cidadãos Mobilizados por Lisboa, recebemos o seguinte comunicado:


"O NOVO ESCÂNDALO DO MARQUÊS

O governo de Santana Lopes anunciou a extinção da Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) do Túnel do Marquês, a mesma que a CML de Santana Lopes tinha procurado evitar.

A decisão foi tomada apesar de (ou porque?) vários pareceres técnicos pedidos pelo Instituto do Ambiente recomendarem que fossem avaliados os perigos associados à obra.

- Para o INETI, “a análise de risco efectuada … não está devidamente fundamentada, não havendo dados suficientes ao nível da geologia para a correcta avaliação dos riscos”, porque “o risco sísmico não pode ser negligenciado” e devido a “problemas decorrentes da intersecção de unidades aquíferas com o túnel”

- O IEP alerta para as grandes inclinações do túnel, bem como para o seu impacto negativo na gestão de tráfego na A5, ponte 25 de Abril e eixo Norte/Sul. Diz também que o traçado escolhido pode “dar origem a acidentes frequentes”, que há “apenas uma paragem de emergência, num único sentido em toda a extensão do túnel”; e que faltam saídas de emergência.

- Um parecer do Instituto de Ambiente considera insuficientes os estudos já realizados e recomenda que “seja realizada uma análise de risco exaustiva…, para as situações classificadas como tendo um potencial de risco significativo e uma incerteza elevada”.

Já anteriormente, o Estudo de Impacte Ambiental e o parecer emitido pela CCDRLVT recomendavam que os riscos significativos associados à obra fossem avaliados no âmbito do AIA agora extinto, até porque o LNEC, que se deveria pronunciar sobre o risco de desmoronamento do túnel, não o fez ainda.

Isto quer dizer que vários organismos estatais consideravam fundamental o processo de Avaliação do Impacte Ambiental do Túnel do Marquês, devido aos riscos vários da obra.

Perante a decisão de extinção do AIA, o mínimo que podemos dizer é que o governo de gestão, ao forçar um facto consumado poucos dias antes das eleições legislativas e do eventual regresso de Pedro Santana Lopes à presidência da CML, não agiu em defesa do interesse público.

Estamos perante um manifesto abuso de autoridade, com intenção de evitar, “na secretaria”, os efeitos de uma possível avaliação negativa de uma obra que PSL considerou emblemática enquanto presidente da autarquia lisboeta.

Será muito, em plena campanha eleitoral, pedir aos candidatos a deputados que pretendem ser eleitos pelo círculo de Lisboa que se envolvam e se pronunciem sobre este escândalo?

José Sá Fernandes. Fernando Nunes da Silva. Alberto Castro Nunes. Manuel João Ramos."