Voltando ao "projecto" que o Atheneu Comercial de Lisboa apresenta como salvação para a Rua das Portas de Santo Antão, e demais área envolvente, constatei ontem in loco que o mesmo é um esboço de projecto, composto por meia dúzia de desenhos virtuais e bastantes declarações ocas, sem qualquer possibilidade de ser viabilizado, muito menos "marcar a cidade para os próximos 1.000 anos" (curiosa interpretação da História), como afirmara efusivamente o responsável do Atheneu. Nem sei mesmo por onde começar ... se pela designação de "Colina d'Arte", com que pomposamente denominam a Colina de Santana, se pelo aspecto de tudo aquilo que mais parece uma nave extraterrestre acabada de pousar em solo lisboeta. Se pela colagem abusiva aos projectos de Gehry, comparando-se Bilbau a Lisboa. Se pela presunção de que o palacete dos herdeiros do Duque de Saldanha será um hotel o que, dada a exiguidade do espaço e o preço de venda, será muito difícil de ser feito. Se pela patetice de copiar (e sabe-se como os portugueses não sabem copiar) a concepção das galerias "Liberty" para aquela zona. Se pela auto-comiseração, afirmando que o Atheneu pode vir a ser um "health club", quando o que ele e sempre foi é precisamente um "health club", só que de estaca zero. Se pela pretensão de ali ver a colecção Berardo (gigantesca!) , mais um museu do desporto, etc. Se pela afirmação de que se pode recorrer a fundos europeus, quando é sabido que no actual QCA não existem apoios para a região de Lisboa. O que eu acho é que tudo aquilo só tem uma virtude: "gritar" bem alto que o Atheneu é um espaço magnífico e que precisa urgentemente de ser recuperado e devolvido aos lisboetas que, tal como eu que há 35 anos não ponho lá os pés, possam colocar lá os seus filhos, sem receio de levar com uma bocado de madeira pintada na cabeça, ou ser assaltado por um dos marginais que poluem aquela rua. Quanto ao projecto em si mesmo, ele é uma aberração, é medonho. Compreendo que tenha posto alguém louco", como é dito no artigo do JN. A única certeza, depois de uma leitura atenta das declarações que acompanham as folhas A4 é que o "projecto" se financiaria pelas galerias comerciais. Ou seja, o dito projecto é uma mera ideia para instalar naquela rua um centro comercial à Martim Moniz. Como se fossem precias modernices para revitalizar o que é bom, apesar de velho. Como se uma banca de cozinha de inox e fórmica valesse igual ou mais do que uma em pedra e madeira... Mas fico descansado, porque segundo Os Lusíadas, o Adamastor (que é a cúpula do dito projecto) era pura ilusão de óptica ...
PF
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