Talvez fosse boa ideia apelarem a uma maior participação no vosso fórum, de modo a ver se alcançamos uma plataforma de entendimento. Isto porque a mim parece-me que um movimento como se pretende deve definir um programa de acção tão concreto e minimal quanto possível, caso contrário corre-se o risco de dispersar e passar o tempo a discutir. Pela minha experiência na Associação de Cidadãos Auto-Mobilizados e no Lisboa Abandonada, é essencial fazê-lo para conseguir alguma eficácia.
Digo isto também porque, como talvez saibam pelo meu blog, discordo, por exemplo, do modo como foi conduzida a contestação ao projecto do Inglesinhos. E acho agora ingénua a pretensão de transformar aquilo em 'escola-museu de artes e ofícios, em regime de semi-internato para aluno', etc. Pago por quem? Pelo Grupo Mello? Pela Misericórdia? Pela CML, que já provou ser completamente incompetente como gestora de espaços culturais? Convém ser realista: o prédio está vendido; não estou a ver como poderá ser o negócio anulado; e mesmo que fosse possível, não estou a ver a Misericórdia a fazê-lo. Ela é uma instituição de direito privado e portanto faz o que lhe apetecer. Como a CML não exerceu o direito de opção na altura devida, não estou a ver que o possa fazer agora. Parece-me muito mais exequível outro plano: 1.º: Defectar a igreja e os jardins do condomínio, que ficariam sob gestão da CML e abertos ao público, sendo a igreja destinada a eventos culturais, nomeadamente para concertos; 2.º Rever a questão do acesso ao parque de estacionamento de modo a que a entrada se passe a fazer pelo lado do Largo dos Inglesinhos. Mais do que isto parece-me inviável. Só se se expropriasse o edifício, coisa que no actual regime me parece impossível. Quanto a mim só vale a pena fazer propostas exequíveis. Caso contrário, o máximo que se consegue é protelar a construção do condomínio, e perde-se a oportunidade de conseguir algo de positivo.
Na nota de imprensa, discordo também do que vocês dizem do terreno da Feira Popular. E também não concordo com a afirmação de que 'Em Lisboa há betão a mais e espaços verdes a menos'. Como é que vocês conciliam isso com o apoio à ideia do João Seixas de que 'é preciso densificar Lisboa', como li no vosso blog? Quanto a mim, há espaços verdes a menos e construção a menos. É urgente parar o processo de desertificação de Lisboa, por um lado; por outro, Lisboa transformou-se nas últimas décadas numa manta de retalhos desconexa, com buracos que é necessário preencher. Penso que a generalidade dos urbanistas estão de acordo nisto. Em suma, acho a ideia de uma espaço verde na Feira Popular discutível. Porque não usar o terreno para construir habitação, numa zona de Lisboa que é das que tem mais sofrido a desertificação?
Além disso, como já disse na reunião de sábado, não me agrada a ideia de mais um movimento 'patrimonialista', como tem sido a generalidade dos movimentos de cidadãos em Lisboa. Eis algumas ideias de reivindições 'positivas':
1.º Exigir total transparência da CML, nomeadamente em relação a operações urbanísticas, como resto é de lei mas a CML nunca cumpre;
2.º Exigir a elaboração de todos os planos de pormenor previstos desde o 1º PDM e que, na esmagadora maioria, nunca foram feitos;
3.º Concretamente, exercer maior pressão para que sejam elaborados e divulgados os PP para as zonas da Boavista e de Alcântara;
4.º Exigir medidas imediatas de apoio à circulação dos veículos da Carris, através do estabelecimento de coimas elevadas para veículos que impeçam a circulação dos ditos e do apoio da Polícia Municipal, com um contacto imediato via rádio entre os motoristas/guarda-freios e reboques.
5.º Exigir a libertação de espaço público na margem do rio, que neste momento está quase completamente vedada, excepto entre Alcântara e Belém.
Um abraço
Pedro Ornelas
O Céu sobre Lisboa
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