Um blogue do Movimento Fórum Cidadania Lisboa, que se destina a aplaudir, apupar, acusar, propor e dissertar sobre tudo quanto se passe de bom e de mau na nossa capital, tendo como única preocupação uma Lisboa pelos lisboetas e para os lisboetas. Prometemos não gastar um cêntimo do erário público em campanhas, nem dizer mal por dizer. Lisboa tem mais uma voz. Junte-se a nós!
18/04/2005
Conhece o Teatro Tália?
Aposto que o Teatro Tália é desconhecido para 90% dos alfacinhas. No entanto, o Teatro Tália daria um excelente destino de fim-de-semana para 90% dos lisboetas, mormente dos que gostam de teatro, do revivalismo novecentista, mas também de ar puro e de longos passeios, já que ele faz parte do Palácio e Jardins do Conde de Farrobo, onde se insere, aliás o próprio Jardim Zoológico.
Sabia que foi ali que se estreou a peça de Garrett, "Frei Luís de Sousa"?
E que ali subiram a cena 18 óperas entre 1834 e 1853? Óperas dos mais afamados compositores, tais como os maestros Jordani, António de Coppola e Ângelo Frondoni, que vieram para Lisboa quando Farrobo era empresário do Teatro S. Carlos. Do último, que foi professor no Conservatório, chegou até nós o hino da «Maria da Fonte», que várias contrariedades lhe causou.
O hoje arruinado Teatro de Tália data de 1820 e a sua sala dispunha de cerca de 560 lugares, possuía luxuosos camarins e um opulento salão de baile, de paredes revestidas com valiosos espelhos de Veneza, onde se reflectiam as luzes de numerosos e ricos lustres, que produziam efeitos deslumbrantes.
A sua fachada apresenta um elegante e espaçoso peristilo sustentado por quatro colunas de mármore branco, de ordem toscana. Prolongam-se os plintos por quatro pedestais, que avançam do peristilo e sobre os quais descansam outras tantas esfinges neo-egípcias, figuras fabulosas com rostos e bustos de mulheres e corpos de leões, deitados e apoiados sobre as patas. À frente, e em plano inferior, um estreito canteiro corre a toda a largura do perístilo, para o qual, à direita, quatro degraus dão acesso, enquanto a esquerda se nivela com o pátio. Remata o frontão triangular de tímpano liso, a estátua de Érato, musa que preside à poesia lírica, esbelta e bem modelada, lira segura na mão esquerda e apoiada na coxa do mesmo lado. Sobre os acrotérios situam-se duas urnas delicadamente esculpidas. Sob o tímpano ostentou em tempos a frase latina: «Hic mores hominum castigantur» («Aqui serão castigados os costumes dos homens»); expressão alusiva ao teatro satírico, de que já não apresenta qualquer vestígio.
A 9 de Setembro de 1862, um incêndio casual, motivado por descuido de uns operários, consumiu totalmente este pequeno templo de arte. A sua reconstrução já não se fez, pois a fortuna do conde de Farrobo começava a dissipar-se.
Sabia que o Teatro Tália é classificado Imóvel de Interesse Público desde 1974?
A sua história recente resume-se em poucas palavras: o Teatro Tália foi objecto de cedência, há uma vintena de anos e a título precário, do referido conjunto arquitectónico à Secretaria Geral da Presidência do Conselho de Ministros, entidade que já utilizava o edifício do Palácio para instalação dos seus serviços.
No respectivo auto de cessão foi determinado que a recuperação do Teatro Tália, que já então se encontrava em adiantado estado de degradação, seria da responsabilidade da entidade afectatária.
Hoje, o Palácio serve de sede ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior. Mas o Teatro Tália continua como até aqui, ao abandono.
Pois bem, neste novo séc.XXI, julgamos que é tempo de se recuperar o Teatro Tália.
É tempo do Estado dar o exemplo e cuidar do seu património.
E pode começar por cumprir aquilo que se comprometeu faze, aquando da concessão à Presidência do Conselho de Ministros, que foi: utilizado pelos serviços dependentes da como auditório polivalente, designadamente para actividades como teatro, exposições, conferências e formação profissional. Sempre que possível seria permitida a utilização daquele espaço por outras entidades.
Ao mesmo tempo, o Teatro Tália poderia potenciar sinergias com o Zoo, aos fins-de-semana, podendo albergar teatro infantil e teatro de marionetas (à semelhança do que existe em Salzburgo, por exemplo), mas também poderia acolher sessões didácticas, pedagógicas, destinadas a todos, de miúdos a graúdos. Isto se Lisboa fosse uma capital desenvolvida, cosmopolita, claro, tudo menos provinciana.
Nesse sentido, apelámos ao Governo, na pessoa do Excelentíssimo Senhor Primeiro Ministro, e na do Senhor Ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior para que finalmente se avance com a reabilitação do Teatro Tália, fazendo cumprimir uma promessa de há 20 anos.
Entretanto, veja as fotos do Teatro Tália, em talia.html, fotos recolhidas nos "sites" da DGEMN e do MCTES.
PF
Intressante como bem se esconde, e
ResponderEliminarse abandona partes do património.
Nao tinha ideia da existencia deste
edifício. E essa do "farrobodó", quantos saberao da sua origem?
Se calhar é altura de alguém comecar a escrevar um livro titulado "Lisboa escondida"....
poderia fazer jeito.....que acham?
JA