Artigo interessante, este, de Manuel Falcão, no Jornal de Negócios. Concordo com tudo, ou quase tudo. Só há um busílis: eu acho que o São Jorge é indispensável a Lisboa, assim como são o Odéon e o Capitólio.
A mim não me interessa se João Soares comprou o São Jorge fora de tempo, contra vontade, empurrado pelas circunstâncias, ou de conluio com algum lobby, que ignoro. Se o comprou com os votos contra, de uns, e a abstenção de outros. A mim, o que me interessa é que o São Jorge é de Lisboa e dos lisboetas. Foi evitado que ficássemos sem ele, como ficámos sem o Eden, o Monumental, o Alvalade ou o Royal, em que os promotores imobiliários levaram a melhor sobre os cidadãos desatentos, ou sem os meios para fazerem ouvir a sua voz.
E o São Jorge é indispensável a Lisboa como sala única, de gestão privada sim, mas vocacionada especificamente para cinema, de preferência português, e em regime de exclusividade. Difícil, hein?
Claro que para isso acontecer é preciso muita competência, imaginação, esforço e dedicação por parte da CML, do futuro gestor e do MC, o que manifestamente não tem havido em quase nenhum dos espaços culturais propriedade da CML e do Estado. A única casa com programação e índicadores de assistência minimamente capazes tem sido o São Luiz, razão: Jorge Salavisa é um excelente programador.
A CML tem que saber delinear um contrato de exploração claro, com uma gestão por objectivos, em que se garanta a apresentação de indicadores de acompanhamento e relatórios de execução. Mas o MC também tem que intervir a montante, regulamentando um mercado de distribuição completamente contra-producente, que asfixia e distorce, que produz coisas aberrantes ao nível da exibição. Sem isso, por mais obras no quadro eléctrico que se façam e ar-condicionado que se coloque, o São Jorge será sempre uma pálida imagem do que foi.
PF
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