In Público (22/1/2007)
"Na Rua Garrett, 120 (Chiado) está montado um estabelecimento, denominado A Brazileira, onde o genuino café do Brazil, proveniente de Minas Geraes, depois de convenientemente torrado por maneira a não perder nenhuma das suas qualidades essenciaes, se moe e se prepara á vista do publico, offerecendo-se gratuitamente uma chavena a todo o comprador". A descrição é de 1905, ano em que o português Adriano Telles inaugurou a Brasileira do Chiado, e consta do Orgão de propaganda da casa especial do café do Brazil. Cem anos depois, "numa época e numa cidade em que tudo prima pelo efémero, pela rapidez com que se surge e se desaparece", a história do emblemático café português está contada num livro, que ambiciona fazer os seus leitores "reviver episódios da história e da sociedade portuguesas, na representação de algumas figuras típicas e caricatas, em episódios mais ou menos interessantes mas que espelham bem o ser português". A publicação, com uma tiragem de cinco mil exemplares, conta a história deste negócio familiar, "resultado do génio empreendedor e da visão comercial do seu fundador - Adriano Telles - tanto quanto do sentido de negócio e da tenacidade do seu proprietário mais marcante desde o último quartel do século XX - Jaime Soares da Silva". Nesta obra fica-se por exemplo a saber que só a partir de 1908 é que a Brasileira começou a vender café à chávena, que até aí era gratuito, e que foi neste estabelecimento lisboeta que o termo bica surgiu para designar o café retirado directamente da torneira para a chávena. De Jaime Soares da Silva, falecido em 2001, conta-se ainda que quando os filhos o convenceram a encerrar a Brasileira aos domingos para descanso do pessoal, o proprietário passava esses dias sentado no carro em frente do estabelecimento, acabando muitas vezes por telefonar aos seus colaboradores para que viessem servir cafés aos transeuntes que se tinham sentado na esplanada. Inês Boaventura"
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