In Público (15/1/2007)
"Escrevo-te para exprimir a minha desolação e a de muitos pela sequência de greves que têm provocado impacto tão negativo na vida de tantos dos teus clientes, cidadãos da Grande Lisboa. Num mundo interdependente como o nosso, passar tantas vezes sem poder usar-te tem sido uma verdadeira frustração. Sobretudo porque és, de longe, o meio de transporte mais rápido, confortável, conveniente e ecológico da nossa cidade.
Não sei se aqueles que te gerem e fazem andar têm consciência do que é passar sem ti: levantar mais cedo nas periferias da cidade para não chegar tarde ao emprego ou à escola; esperar em filas por autocarros "alternativos" (como se houvesse alternativa aos teus serviços únicos!), ao frio e à chuva, para depois neles ficar fechado e parado porque muitos trouxeram para a estrada, nestes dias, os seus automóveis particulares que tudo entopem; andar a pé percursos inabituais, ouvindo o caos do trânsito e respirando a poluição acrescida destes dias na cidade; chegar ao trabalho já cansado, praguejando contra a vida e contra todos.
Não sei se aqueles que te gerem e fazem andar têm consciência de que são os mais fracos e os que menos alternativas têm os mais prejudicados. Se a greve é um direito, haveria de ser um dever usar de mais imaginação e criatividade nas formas de luta, para não prejudicar sempre os mesmos.
Gerir-te e fazer-te andar numa grande metrópole como Lisboa é uma enorme responsabilidade. Pela frequência com que te estão a imobilizar, é inevitável chegar à conclusão de que quem te gere e faz andar não estará à altura dessa responsabilidade. Mas não desanimes, querido Metro de Lisboa. Continuamos a gostar de ti. É por isso que queremos ter-te todos os dias a todas as horas.
Carlos Meira
Lisboa "
Uma novela triste com final incerto
Ouvi há dias declarações do presidente do conselho de administração do Metro de Lisboa a uma rádio bastantes elucidativas do que está em jogo nesta guerra de surdos com os sindicatos que representam os trabalhadores da empresa. Dizia Joaquim Reis que, dada a gravíssima situação financeira do Metro, com um passivo acumulado de muitos milhões de euros (não me recordo do número exacto referido), duas hipóteses apenas restavam à nova administração por si liderada: ou suprimiam algumas das inaceitáveis regalias a que os trabalhadores continuam a ter direito, caso dos famigerados 36 dias úteis de férias para alguns, ou aumentavam o preço dos títulos pré-comprados para valores que seriam insuportáveis para o meio de milhão de utentes que o utilizam todos os dias.
Não contesto o argumento dos sindicatos de que estes benefícios são os que decorrem de um contrato reconhecido por lei e que vigora há 30 anos. O que os sindicatos parecem esquecer é que esse acordo expira no final deste ano, logo por azar numa conjuntura de grande fragilidade financeira para a empresa, e que a única solução possível passa por negociar num clima de franca razoabilidade e atendendo aos diversos factores - internos e externos - que estão em causa. E inaceitável é ler no PÚBLICO que os representantes dos trabalhadores até estão dispostos a aceitar parte significativa dos cortes propostos pela empresa, mas apenas no caso de eles só produzirem efeitos a partir de 2011.
Até agora, o expediente utilizado tem sido o costumeiro nestas ocasiões: o recurso fácil e gratuito às greves atrás de greves, penalizando os milhares de utentes que pagam parte dos salários dos trabalhadores que os sindicatos tanto gostam de dizer que defendem. Entretanto, uma nova reunião ao que tudo indica decisiva com a administração do Metro está marcada para o próximo dia 17. Só espero que no final desta triste novela não volte a pagar o justo pelo pecador.
Luís Oliveira
Lisboa "
PF
Sem comentários:
Enviar um comentário