Um blogue do Movimento Fórum Cidadania Lisboa, que se destina a aplaudir, apupar, acusar, propor e dissertar sobre tudo quanto se passe de bom e de mau na nossa capital, tendo como única preocupação uma Lisboa pelos lisboetas e para os lisboetas. Prometemos não gastar um cêntimo do erário público em campanhas, nem dizer mal por dizer. Lisboa tem mais uma voz. Junte-se a nós!
03/04/2007
A cidade e o lixo
O jornal Expresso trazia nas páginas centrais de há cerca de três meses uma reportagem sobre o estado de imundice do Bairro Alto, com fotos ilustrativas do caos a que chegámos decorrentes da pressão sobre o bairro e a inépcia municipal para lidar com ela.
Em resumo, e em interpretação pessoal, era dito que havia uma luta entre moradores e noctívagos, sem arbitragem dos poderes públicos auto-remetidos para o papel de enfermeiros que no fim recolhiam os restos da batalha. Esta consistia na agressão constante daqueles sobre estes, em termos do ruído, da produção de lixo e sujidade e nos grafitos. Ou seja, uns sujavam, outros aguentavam e a CML limpava o que podia.
Em abono da verdade, não é bem assim, porque há muitos moradores e comerciantes locais que também sujam. A caca de cão e as centenas de sacos e outros dejectos e que são depositados em todo o bairro ao longo de todo o dia provam-no. Mas fiquemo-nos pela luta referida.
Para mim, o mais impressionante foi a defesa apresentada pela CML, que se reconhece impotente para limpar mais do que os outros sujavam. Trata-se de uma infantilidade atroz, apesar do afã, investimento e energias notórias postas na tarefa. Em primeiro lugar, a CML limpa mal:
- há meses que a recolha diária não obedece a horas certas
- a recolha do lixo é feita com pouco cuidado e é, ela própria factor de sujidade
- os locais de depósito de lixo contam-se às centenas e estão sempre bem demarcados por nódoas encardidas e de gordura
- durante as 24h do dia é possível ver nas ruas entulho, lixo doméstico, lixo dos bares e restaurantes.
Em segundo lugar a CML deveria pensar sistemicamente: quem produz o lixo, como e quando e agir sobre estes factores. Pensar a jusante e a montante, como diz o povo. A CML deveria com os seus próprios meios e em articulação com a ASAE, a PSP, a Inspecção-geral do Trabalho e as autoridades de saúde:
- fiscalizar intensivamente os estabelecimentos comerciais prevaricadores: horários de encerramento, condições de higiene e funcionamento, alvarás, horários de trabalho
- averiguar se os estabelecimentos de restauração e bares possuem condições para, no seu interior, guardar o lixo que produzem até à hora da recolha; de seguida, deveria fiscalizar intensamente o depósito de lixo na via pública
- reprimir de modo sistemático os comerciantes prevaricadores, impondo em seguida padrões de conduta mínimos
- repressão às violações dos padrões mínimos de conduta por parte dos comerciantes, encerrando estabelecimentos
- fazer a pedagogia da higiene pública junto dos produtores de lixo, sejam os noctívagos sejam os comerciantes e moradores
- criar de imediato condições para a recolha selectiva de resíduos em todo o bairro e, simultaneamente, eliminar os contentores de plástico, fonte de poluição visual e focos de acumulação de lixo
- tentar apurar com maior intensidade a origem imediata do lixo, atribuindo a responsabilidade a quem o deposita em local impróprio e fora de horas.
Quanto aos grafitos, o problema é mais complexo quer na compreensão quer na resolução, mas não é impossível. os danos patrimoniais aos proprietários e simbólicos à cidade e aos cidadãos exige à CML nova atitude e novos comportamentos. A CML deveria:
- estudar seriamente a recuperação das fachadas do bairro, já que não há uma única rua que não esteja desfigurada de modo grave e raros o edifício que não esteja marcado; os senhorios não deveriam ser sacrificados sendo as obras assumidas directamente pela CML, com a aprovação do proprietário
- perder complexos esquerdistas e instalar vídeo-vigilância na R. da Rosa, perpendiculares e paralelas
- estudar seriamente e elaborar projectos de inserção para jovens de modo a que sejam barreiras a terceiros que vêm de longe para grafitar
- exigir da PSP policiamento permanente e atitude firme na repressão
Ideias rápidas mas amadurecidas em anos de cumprimento de pena, sem ter cometido outro crime que não morar num bairro incivilizado.
CML: é altura de levantar da cama, PENSAR (O BEM MAIS RARO NA ACTUALIDADE) e trabalhar. Ou não?
Nuno Franco Caiado
Não podemos exigir o impossível das autoridades. Se a CML tivesse que descartar tantos recursos só para um bairro....? Estes problemas existem um pouco (muito) por toda a cidade, ou estou errado? A equação zona pequena, ruas estreitas, população densa, que ainda por cima leva com centenas de visitantes todas as noites, parece um pouco problemática.
ResponderEliminarO problema principal do Bairro Alto, parece ser uma quantidade de estabelecimentos nocturnos, que não está em proporção para a capacidade da zona. Na situação actual, parece-me que a maioria das câmaras municipais iria encontrar tarefa impossível.
JA
enquanto faltam fiscais para os inúmeros atropelos e invasões da via pública, atacam-se furiosamente os funcionários reclamando menos estado.
ResponderEliminarse eu fossa prevaricador também reclamava menos fiscalização.