In Público (26/4/2007)
Ana Henriques
«Câmara de Lisboa quer avaliar primeiros dois dias de funcionamento, fazer mais testes e proceder a eventuais correcções. Teme corridas de automóveis e invasão por sem-abrigo
O túnel do Marquês, que ontem foi inaugurado em Lisboa, vai ser encerrado ao trânsito nas madrugadas de sexta para sábado, de sábado para domingo e talvez ainda na de segunda-feira.
O vereador responsável pelas obras municipais, Pedro Feist, explicou que assim o exige a avaliação dos primeiros dois dias de funcionamento da infra-estrutura rodoviária, que liga as Amoreiras à Fontes Pereira de Melo e proximamente à António Augusto de Aguiar. Durante o fecho, que ocorrerá entre as 23h00 e as 5h00 ou 6h00, os técnicos repetirão os testes de segurança efectuados na fase final da obra e procederão a eventuais correcções consideradas necessárias, adiantou o autarca. Pedro Feist deu ainda outra ordem de razões para o encerramento temporário: os excessos dos automobilistas ao fim-de-semana, nomeadamente a possibilidade de alguns deles quererem experimentar fazer corridas de automóveis dentro do túnel, bem como a eventualidade de os sem-abrigo entrarem lá dentro, "criando perigos inesperados". Não estão previstos novos encerramentos noutros fins-de-semana.
"Isto é um processo que não termina. Vamos continuar a fazer testes", disse o vereador, que considerou "do maior mau gosto" as acusações de falta de segurança do túnel feitas pela Associação Nacional de Bombeiros Profissionais. Para Pedro Feist, o facto de o presidente da associação "fazer parte da comissão política de um partido" - que se recusou a identificar - significa que as suas objecções "têm motivos políticos". Mas quem, horas antes, ouviu as declarações do comandante do Regimento de Sapadores Bombeiros de Lisboa sobre a matéria percebeu que de facto nem tudo está perfeito na obra no que à segurança respeita.
"Condições mínimas"
Embora assegurando que o túnel é seguro, António Antunes foi dizendo que "há muita coisa que vai ter de ser corrigida" - "pormenores como um lancil que impede a passagem dos bombeiros" - e que algumas das soluções adoptadas pelos projectistas não facilitam a actuação dos soldados da paz. É o caso da inexistência de um passeio pedonal de 90 centímetros de largura para evacuação em caso de acidente. Ao mesmo tempo, António Antunes elogiou os "equipamentos de segurança de vanguarda" com que conta a infra-estrutura rodoviária. Não seria melhor abrir mais tarde - daqui a uma semana, por exemplo? "Se fosse daqui a duas seria melhor ainda. Mas há um limite para tudo. Estão reunidas as condições mínimas de segurança", respondeu o comandante dos bombeiros.
Da inauguração estiveram ausentes quer os vereadores comunistas quer os socialistas. Os primeiros criticaram o facto de a cerimónia se ter realizado à mesma hora das comemorações do 25 de Abril, enquanto os segundos entendem que a obra prejudica cidade, ao incrementar o uso do automóvel. O mesmo pensa o vereador Sá Fernandes, eleito pelo Bloco de Esquerda, que, ao contrário dos seus colegas de esquerda, fez questão de estar presente. "Para que não me chamem cobarde", explicou, numa referência ao processo que pôs em tribunal para travar a construção do túnel, e que obrigou à paragem da obra durante sete meses. Quatro milhões de euros é quanto o presidente da autarquia estima que tenha custado a interrupção. Convidado para a cerimónia, o ex-presidente da câmara Santana Lopes não compareceu.
Apesar de ter equacionado maiores limitações de velocidade, a Câmara de Lisboa resolveu permitir que se possa circular no túnel do Marquês até 50 quilómetros/hora. O vereador eleito pelo Bloco de Esquerda José Sá Fernandes mostra-se preocupado e aconselha os automobilistas a não ultrapassarem os 30 km/hora, devido à, no seu entender,
perigosa inclinação da via, que chega a atingir os nove por cento. "A avaliação de impacto ambiental recomenda esta velocidade", refere. Mas este não foi ontem um problema. Quando terminou a cerimónia
de inauguração a população
foi passear a pé para o túnel antes de este abrir ao trânsito. Pelas contas da Câmara de Lisboa, na primeira hora, passaram por
lá 15 mil peões, muitos deles agradados com o que viam. Mais tarde foi a vez de os muitos automobilistas ficarem na fila para atravessarem o túnel pela primeira vez.
Sá Fernandes chegou a fazer uma aposta sobre a data de inauguração da infra-estrutura rodoviária com o responsável pela obra na Câmara de Lisboa. Ontem o técnico fez questão de lhe lembrar que a tinha perdido. »
Ainda me surpreende que culpem o vereador do Bloco de Esquerda pela derrapagem.
ResponderEliminarNinguém pensa? Estamos a falar de miúdos ou pessoas crescidas?
Se tudo tivesse sido feito como era suposto, ou seja, como a lei e o bom sendo manda, todos os estudos seriam feitos, bem como todos os debates e planeamento.
Se tudo tivesse sido bem feito de início, não havia necessidade de se interporem providências cautelares.