05/05/2007

Carmona já pensa em candidatura independente

In DN (5/5/2007)

Para se manter na corrida a uma candidatura independente para a Câmara Municipal de Lisboa, Carmona Rodrigues não pode renunciar ao mandato. Na iminência de eleições intercalares para a CML, Carmona sabe que, segundo a lei, se deixasse agora a autarquia não se poderia candidatar nem nas próximas eleições nem nas seguintes.

Na sua declaração pública, em que anunciou manter-se firme no cargo, Carmona fez questão de avaliar de forma muito positiva a obra feita nestes dois anos em que liderou o executivo municipal. O seu núcleo mais próximo, incluindo os também independentes Fontão de Carvalho e Gabriela Seara, já equacionam a hipótese do autarca avançar para eleições e fazerem parte da sua equipa.

No Salão Nobre dos Paços do Concelho, na quinta-feira à noite, Carmona chamou a atenção para o estatuto dos independentes. "Todos falam na necessidade da renovação da classe política. O certo é que o sistema político-partidário deste país não está preparado para que independentes abracem a vida política e tentam de todas as formas expelir os corpos estranhos." Um sinal reforçado de que não tenciona abandonar a barca de Lisboa.

O DN sabe que, findo o seu discurso em que desafiou a autoridade de Marques Mendes na gestão dos mandatos na autarquia, o presidente da Câmara de Lisboa recebeu muitos telefonemas de pessoas a solidarizarem-se com ele e a mostrarem-se indignadas com a ingerência do partido na gestão camarária. Esta onda de apoio, somada à manifestação pró-Carmona que foi convocada ontem para o Campo Grande, está a criar um clima de grande optimismo entre os colaboradores do professor, que acreditam que o projecto não se esgotou.

O presidente da câmara chegou a essa manifestação pouco depois das 17.00 e à sua espera estavam cerca de 300 funcionários municipais, além do vereador Pedro Feist, eleito como independente pelo PSD.

Carmona Rodrigues foi recebido com ovações de "fica, fica" e de "Carmona, amigo, Lisboa está contigo". Entre as palavras de ordem disse aos jornalistas que estava "sempre disponível para servir Lisboa com responsabilidade" e evitou comentar uma possível candidatura sua em caso de eleições intercalares: "Ainda é cedo para falar nisso". No entanto, no discurso que fez aos funcionários foi mais longe. "No futuro vou continuar a estar disponível para servir a cidade de Lisboa", disse.

Questionado pelo DN sobre a sua presença na manifestação de apoio a Carmona Rodrigues, Pedro Feist confirmou tratar-se de um apoio ao autarca. Sobre se renuncia ou não, emitiu um comunicado em que confirma que é mesmo para ficar.

No "rescaldo" da manifestação, um funcionário municipal que quis manter o anonimato explicou porque optou pelo apoio a Carmona Rodrigues: "Estamos fartos de politiquices e de esquemas. Devíamos correr com os políticos todos. Para nós, este homem é um técnico e não teve foi jogo de cintura para acompanhar os políticos". Pedro Gonçalves e António Ribeiro, militantes sociais-democratas e funcionários da CML, também decidiram apoiar Carmona. "O que simboliza é importante, mostra que um independente pode ter um papel público. E até agora os factos que são referidos não são relevantes para que saia da câmara", referiram. "Era importante vir aqui para perceber que apoio tinha. Até porque parece ser maior do que aquilo que os partidos pensavam", acrescentou Pedro Gonçalves. Num eventual cenário de uma nova candidatura de Carmona Rodrigues, não hesitaram: "Apoiávamos uma lista alternativa", disseram, apesar da sua militância no PSD. Para amanhã já está prevista nova manifestação de apoio a Carmona nos Paços do Concelho às 13.00.

Já ontem Fontão de Carvalho se posicionou para fazer parte desta solução. O vereador independente nas listas do PSD, como mandato suspenso, garantia: "A câmara não cairá por minha causa, não contarão com a minha renúncia de mandato para fazer cair o executivo."

Os vereadores do PSD, esses, assumiram também ontem acatar a disciplina imposta pelo líder do partido, que lhes pediu a renúncia dos mandatos e até apelou ao bom senso dos eleitos pelo partido na entrevista que concedeu à RTP na quinta-feira à noite.

Marina Ferreira, actual vice-presidente da autarquia, não esclareceu se esta decisão abrange também os suplentes, visto que só com a queda em bloco da lista o executivo cai por falta de quorum.

Mas mesmo que os suplentes sociais-democratas não renunciem, Miguel Coelho, presidente da Federação da Área Urbana de Lisboa (FAUL) do PS, garantiu ontem à imprensa que os socialistas já têm reunidas as declarações de renúncia de toda a sua lista. O vereador socialista Dias Baptista entregará as renúncias suficientes para assegurar a perda de quórum.

Neste processo todo, o anterior presidente da Câmara de Lisboa tem auto-imposto o silêncio como regra. Pedro Santana Lopes, pressionado ontem na Assembleia da República pelos jornalistas, disse precisar de "pensar" antes de falar sobre a crise na autarquia. Perante a insistência se equacionava regressar a Lisboa, Santana Lopes ironizou dizendo: "Estamos em Lisboa..."

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