Artigo de Fernanda Câncio - IN DN
"Parece um pouco difícil de crer, mas agora já não há dúvidas. Nem o PS nem o PSD tinham passado um minuto - ou meio minuto - a pensar em Lisboa e em alguém para a governar até que não tiveram outro remédio. Das duas uma: ou porque Lisboa não interessa aos dois principais partidos (difícil crer nisso, apesar de tudo), ou porque quem manda sabia que era tão difícil encontrar candidatos adequados e disponíveis que só a pontapé se dispôs a isso.
O resultado foi a saída do número dois do Governo, António Costa, e o recurso, pelo PSD, primeiro a um presidente de câmara em exercício (Fernando Seara, que recusou) e depois a um pau para toda a obra, Fernando Negrão, o juiz desembargador que, depois de sair da direcção da Polícia Judiciária por suspeita de violação do segredo de Justiça (sob o Governo Guterres), se disponibilizou, numa entrevista radiofónica, para qualquer cargo de ministro no Governo de Durão, acabando por "receber" o Instituto da Droga e da Toxicodependência, só sendo alcandorado a ministro da Solidariedade (e da Família e da Criança) por Santana Lopes e ocupando agora um lugar de deputado sem brilho que acumula com a vereação em Setúbal, a cuja presidência foi candidato. Não se lhe conhece uma única ideia, reflexão, proposta ou opinião sobre Lisboa, quanto mais uma ideia, reflexão, proposta ou opinião interessantes sobre Lisboa . Estava disponível - não está sempre? E zás, lá vai ele. Parece o candidato óbvio para perder - mas Carmona também parecia e Carrilho conseguiu o milagre de lhe oferecer a câmara, portanto prognósticos só no fim.
Quanto a Costa, bom, tinha a tutela das autarquias e não se pode dizer que é um homem sem brilho nem ideias. Mas assim, de repente, sobre Lisboa não se lhe lembra uma frase. Claro que o PS pode clamar que foi buscar o melhor que tem e que isso corresponde a uma valorização da eleição e a uma aposta muito forte na recuperação de uma cidade cujo estado de caos e desgovernação alcançou um máximo histórico. Só que ir buscar um ministro, e este ministro, clarifica sobretudo o deserto das opções no partido da maioria absoluta.
Mas estas opções deixam outra coisa muito clara: na vereação e na assembleia municipal não havia, na avaliação dos dois partidos, ninguém de jeito para disputar a capital (a única excepção, Paula Teixeira da Cruz, tem obviamente outros planos). O PS e o PSD encheram a câmara de gente sem notoriedade nem peso político, que se arrasta por ali há anos. Com o resultado que está à vista, e em relação ao qual nenhuma das forças políticas (CDU e CDS incluídos) pode clamar inocência. Começamos mal, portanto - porque é muito mal que estamos, e há muito tempo"
Na muge.
ResponderEliminarResta pensar que, se é a este tipo de aparelhismos que está sujeita a política local em Lisboa, imagine-se no resto do país...