In Diário de Notícias (16/5/2007)
Vasco Graça Moura
escritor
vasco.gracamoura@europarl.europa.eu
«Percorri há dias o Túnel do Marquês e acho que se trata de uma obra magnífica. Não me apercebi, nem de perto nem de longe, da perigosidade rodoviária de que tanto se tem falado. E parece-me que a obra não poderá deixar de ter um impacto muito grande na solução dos problemas de tráfego naquela zona. Tudo isso tem sido sistematicamente escamoteado, uma vez que não convém a alguns sectores reconhecer obras úteis e importantes levadas a cabo por executivos municipais encabeçados pelo PSD...
Dito isto, não percebo como é que não se pedem responsabilidades, pelo menos políticas, quando não outras, ao caprichismo litigante que fez com que a obra custasse mais uns quatro milhões de euros e se atrasasse em termos inconcebíveis. Lembro-me de ter ouvido Carmona Rodrigues referir em público, há algum tempo, nada menos de 14 processos de sinal semelhante, todos eles perdidos contra a câmara... Enfim, comparadas com a enormidade irresponsável do embargo às obras do túnel, as preocupações de justicialismo inquisitório por dá cá aquela palha e as acusações ferozes que levaram entretanto à queda do executivo municipal acabam por se tornar um tanto ou quanto cómicas.
Por outro lado, no domingo passado, um dos vereadores cessantes, José Manuel Amaral Lopes, apresentou, em debate da SIC Notícias, números e factos esmagadores quanto à comparação das gestões camarárias do PS e do PSD. Em qualquer parte do mundo civilizado, o escândalo seria retumbante, a indignação popular não teria limites e o desfecho das próximas eleições para a autarquia lisboeta seria facilmente previsível. Em maré de indagações, judiciais ou não, naquilo que Amaral Lopes explicitou haveria matéria sobeja para se distinguir sem hesitações o trigo do joio e para se verificar quem tem a culpa de quê, com todos os pertinentes efeitos eleitorais.
Carmona Rodrigues pode ter cometido erros, mas decerto não cometeu picardias. Deu o seu melhor a Lisboa e aguentou estoicamente uma desagregação deliberada e continuada. Teve o handicap de não ser propriamente um político. Teve talvez a ingenuidade de não saber precaver-se contra manhas, artimanhas, intrigas e traquibérnias jubilosamente vindas de todos os quadrantes. Mas ficará nos anais ulissiponenses como um dos autarcas mais dedicados, mais competentes e mais conhecedores dos problemas da cidade. A História acabará por mostrar que ele foi o homem certo no momento errado.
E agora? Agora, tem de se partir do princípio de que o eleitorado não está anestesiado, como a esquerda desejaria, e sabe resistir ao atordoamento mediático que a esquerda não deixará de promover. Se assim for, como apesar de tudo é de esperar que seja, o PSD continuará a afirmar-se como a principal força política em Lisboa e ganhará as próximas eleições sem ambiguidades. Tem todas as condições para isso e é uma questão de empenhamento e decência.
É certo que, nesse caso, a esquerda não desistirá de turvar as águas e a comunicação social continuará a prestar uma prestimosa ressonância a todos os alvoroços prenunciadores de hipóteses de roupa suja. Mas o programa social-democrata para a cidade continua a ter plena validade e a corresponder aos desejos da população, as linhas de reabilitação urbana e de devolução da cidade aos seus habitantes estão nitidamente traçadas, a Assembleia Municipal mantém-se em funções com uma maioria inquestionável, e já não será inédita uma operação desgaste a qualquer preço, como desta vez aconteceu com o triste resultado que se conhece. E também só assim se poderá travar o controlo das juntas metropolitanas que o Governo quer assegurar para o Partido Socialista dê lá por onde der, como Marques Mendes denunciou vigorosamente ainda há bem poucos dias.
Lisboa não pode cair nas mãos de uma esquerda que acabaria por torná-la numa cidade fantasma, incaracterística, arruinada e incapaz de se afirmar, tanto no plano nacional como no internacional, ao sabor de tricas e politiquices. Lisboa precisa de continuar a ter uma luz forte e clara ao fundo do túnel.»
Gosto muito de ler VGM, apesar de achar que ele está confundido em confundir a polémica à volta do túnel em duelo esquerda-direita. Nada disso: primeiro, todo o processo à volta do lançamento da obra é puro terceiro-mundista, assente em nada; segundo, é um direito e um dever que os cidadãos dêem voz à sua indignação (ou não?); terceiro, está por provar o ganho de tempo efectivo em termos de acesso e saída ao Marquês; quarto, os arranjos à superfície são uma lástima; quinto, o túnel do marquês é apenas o princípio do grande objectivo: a via-rápida Amoreiras-Cp.Grande - é isso planeamento urbano?
Compreendo o fervorzinho religioso em torno do «santinho» CR, mas nunca compreenderei o silêncio de VGM ao longo destes quase 2 anos. Prefiro a tradução de Petrarca (a de Dante, não).
gosto muito das opiniões "lava mais branco"...
ResponderEliminara limpeza política tem destas coisas....
mesmo quando está em causa a mrte do eixo central de lisboa, transformando-o numa via-rápida.
as cidades das avenidas desaparecem...
Estao recordados...em 1985 já se falava na necessidade do Tunel até ao Marquês de Pombal, foi mais fácil falsear os números de entrada de veículos em Lisboa de forma a demonstrar que não é necessário.
ResponderEliminarO tunel é um mal necessário lamentávelmente os portugueses são pouco civilizados ao volante por este motivo os níneis de segurança devem ser elevados. Esta é uma vitória indiscutível de Santana Lopes. Errado é fazer tuneis desnecessarios, e estou a lembrar a saída à direita do tunel de Entrecampos, ou ainda a saída à direita para aeroporto do Túnel da João XXI, ou ainda os túneis na Central de Chelas, por exemplo, facilmente se poupava algum dinheiro. Mas isto já é uma outra história.
Infelizmento não existe responsabilidade e responsabilização nas aplicações dos dinheiros públicos, estou-me a lembrar do futuro desastre que será a Ota. O futuro parece ainda mais sombrio pois os funcionários serão dispensados da licenciatura.
Dois pesos e duas...
Não surpreende ninguém este texto de VGM.
ResponderEliminarEle escolheu ser o "intelectual" de serviço para tentar dar uma certa legitimação à cambada de burros que nos têm governado nos últimos 30 anos!
Acho que o anónimo anterior disse quase tudo com poucas palavras!
ResponderEliminarUns vendem a alma ao diabo, outros vendem a alma ao tachinho....e o Sr. VGM não tem já muito para venda.
JA