In Diário de Notícias (6/7/2007)
FILOMENA MARTINS e RUI HORTELÃO
ORLANDO ALMEIDA (imagem)
«Gonçalo da Câmara Pereira foi o primeiro a chegar. Pontualíssimo, entrou no Edifício DN eram exactamente 20h00. Logo atrás, os primeiros cidadãos de Lisboa sorteados para participarem na iniciativa "Lisboetas Questionam Candidatos'.
Em poucos minutos, o hall de entrada do DN encheu. O processo de validação final dos inscritos requeria identificação pelo Bilhete de Identidade e fotocópia do referido documento. Só os candidatos e respectivos acompanhantes - um por cada - foram dispensados deste controlo.
Gonçalo da Câmara Pereira foi encaminhado para uma sala que o DN tinha preparada para os que quisessem prevenir-se contra a fome e a sede antes de enfrentar uma noite de debate. De polo azul e calças de sarja cor de grão, o candidato do PPM logo fez questão de explicar que apesar de monárquico era um trabalhador e fazia questão de dispensar a gravata. Ainda para mais, acabava de chegar directamente da quinta, tendo parado nas Amoreiras (entrara em Lisboa pela Ponte 25 de Abril), para comprar a camisa que vestia - "a que trazia estava mesmo suja" -, tendo optado pelo mais barato - "uns cinco contitos" -, e dispensado o blazer exactamente pela "exorbitância" do preço - "custava 40 contos".
Quando chegou o candidato do Partido Nacional Renovador (PNR), José Pinto Coelho, a conversa virou para os automóveis - Gonçalo da Câmara Pereira garantiu que só sabe que o seu é um velho Opel Kadet dourado, que lhe deu a filha, e que não percebe nem liga a marcas de carros, mas sabe de cor as dos seus tractores.
A história dos atrasos demorou pouco a voltar a invadir as conversas da sala. Até porque a entrada de Garcia Pereira incendiou o debate sobre a pontualidade. Com bom humor, o candidato do MRPP lembrou que nesta campanha há "sempre umas noivas de Santo António", que primam pelo atraso.
Com a chegada de Ruben de Carvalho, a conversa descansou um pouco sobre o temas mais focados: os atrasos e a ausência nos debates das pequenas candidaturas. Manuel Monteiro, bem disposto, provocou o candidato da CDU a apertar a mão a Garcia Pereira - "uma foto histórica de união da Esquerda" -, mas depois acabou por ser apanhado na mesma teia: ainda tentou fugir ao cumprimento a Telmo Correia, mas a troca de cumprimentos entre o ex-líder do Partido Popular (do qual saiu para fundar o Partido Nova Democracia) e outro 'ex' demorou e só aconteceu porque Monteiro acabou num beco sem saída. Alguém comentou que era o "encontro do capital", até porque Fernando Negrão foi apanhado pelo meio.
Confirmada a ausência de Carmona Rodrigues mal todos se acomodaram nas cadeiras, depressa António Costa voltou a ser alvo de críticas: pelo atraso. E nem a garantia de que o debate arrancaria mesmo à 21h00 e que o candidato do PS chegaria à hora combinada, acalmou as hostes. Muito menos o facto de José Sá Fernandes também ainda não ter chegado. O que não se chegou a perceber foi como é que António Costa, que entrou apressado e se sentou de imediato, tomou conhecimento de ter estado com as 'orelhas a arder'. No regresso de uma curta saída da sala, o ex-número do Governo criticou o "comício contra o seu atraso" e Garcia Pereira acusou o toque mas respondeu à letra: "Deve ter sido o SIS".
Quis a sorte que as primeiras três perguntas do debate moderado pelo jornalista António Perez Metelo fossem feitas por mulheres, estatuto que Helena Roseta fez questão de sublinhar em voz alta. Sá Fernandes já estava sentado quando deu por a falta de uma folha de papel, mas Garcia Pereira logo lhe cedeu uma das suas muitas. Um dos vários exemplos que ao longo do debate mostraram que, apesar das divergências de opinião, o ambiente entre todos é saudável.»
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