é hábito ouvir dizer-se que os jardins de lisboa já viram melhores dias.
não partilho inteiramente dessa impressão.
tenho 48 anos e os meus jardins de infância eram o chamado jardim da parada em campo de ourique e o jardim da estrela: e sempre ouvi avós e pais queixarem-se do seu estado, da areia suja dos parques infantis, dos bebedouros com verdete, dos lagos inquinados, da cagfetaria porca da estrela; e quando passei a ter percepção própria destes jardins achava-os sujos e mal amanhados. no tempo do sampaio houve umas melhoras, mas as opções estéticas e de materiais para o jardim da parada (como outros, como o da praça das flores) foram mesmo más.
o jardim do príncipe real hoje é como os outros, ou como os melhores dos outros. não está mal de todo mas poderia estar MUITO, MUITO MELHOR.
por vezes parece que a manutenção desaparece: as plantas tendem a secar, as folhas não são varridas, o lixo acumula-se nos arruamentos e no interior dos canteiros.
desde há vários anos que se sucedem a ritmo irracional obras de electricidade e água;
um estaleiro ocupou parte de um passeio durante mais de uma ano; dez mil buracos, buraquinhos e buracões sucedem-se nos pavimentos; é possível encontrar seringas na relva e também dezenas de cócós de cão; o quiosque da unicef só abre no natal (no último nem isso) e está tão belo quanto a figura mostra;
no outro extremo um quiosque de comes e bebes chateia com música aos berros os muitos passantes enquanto entretém meia dúzia de pessoas na esplanada, não dando sossego a quem queira usufruir da quietude do jardim.
na face principal, o passeio está pejado de sucessivos sinais de trânsito, placas disto e daquilo, quiosque de correios (metade do ano avariado), paragem de autocarro.
noutra face os contentores enterrados (que são boa ideia) estão constantemente cheios, à volta abundam lixos diversos resultado de uma má utilização dos cidadãos e de uma simétrica péssima gestão da recolha e limpeza; o cheiro a urina é frequente.
os cheiros, senhores, os cheiros, por vezes nauseabundos, parecem querer acompanhar os passos do transeunte, porque os cestos de papéis estão convertidos em cestos de lixo diverso exposto ao calor por vezes durante dias; o restaurante às vezes também contribui, com um pesado cheiro a fritos com óleo de semanas
o parque infantil não está mal, e perto dele dezenas de velhotes ainda ocupam os bancos com jogatinas de entretém.
há um potencial mágico dado pelo desenho do jardim e pelas fantásticas árvores mas que apenas parece poder ser evocado: a realidade não permite mais, naquele sub-estado difuso de sujidade e desconforto.
lisboa? não, lis-má! terceiro mundo no centro da capital.
nuno caiado
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