25/08/2007

Liquidação total



Em Outubro de 2006, ficou a saber-se que o Museu de Arte Popular (MAP), a Belém, iria ser extinto para dar lugar a um museu de conteúdos virtuais, o auto-denominado Museu do Mar da Língua. Subitamente e sem grandes explicações da tutela, Portugal, que se diz orgulhar de ser um país europeu, desmantelava as colecções de um museu, na cidade que é sua capital, com a maior das naturalidades. A mesma naturalidade, afinal, com que há anos se obrigam os museus do Estado - com conteúdos reais e carências reais -, como o MAP o era, a contar tostões para sobreviver e a pedir desculpa pelo facto de existirem.

Passado quase um ano e passado o deslumbramento com as “tecnologias de ponta”, o edifício do MAP está entregue à sua sorte, vazio e sem obras, não obstante se conhecer a gravidade das patologias estruturais que há muito o afligem. Mas não há pressa: o empenho em mantê-lo de pé é tal que nem o cuidado houve de retirar os painéis relativos aos trabalhos de recuperação do museu que se deixou agonizar e depois abruptamente se extinguiu. Estão lá há anos, tal como a folha A4, parca em explicações para tão longo encerramento, já descolorida pelo sol na porta principal. Mesmo ao lado, está outro legado da Exposição do Mundo Português: o Espelho de Água. O estado vergonhoso em que essas águas se encontram é em si mesmo esclarecedor.

No Arquivo de Arte do Serviço de Belas
Artes da Fundação Calouste Gulbenkian guarda-se a reportagem fotográfica que Mário Novais fez da Exposição de 1940. Nessa série de belíssimos nocturnos, reunidos em álbum quando da realização da Expo’98, há uma imagem do pavilhão que mais tarde seria o MAP reflectido no Espelho de Água. Perante o quadro de decadência que nos é dado ver hoje, caso para dizer "descubra as diferenças - e tire as suas conclusões".

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