25/09/2007

Rebaixar ou elevar?


fotos: menos1carro.blogs.sapo.pt; osverdesemlisboa.blogspot.com

Na passada semana a câmara municipal de Lisboa anunciou o início de obras de intervenção no espaço público com vista ao rebaixamento de passeios junto a passadeiras para peões.

Não vou aqui dissertar sobre o estilo utilizado, fazendo crer que é “mais” uma obra da responsabilidade desta gestão recentemente eleita, que assim passa por ter grande dinamismo e grande capacidade de concretização… Dirão os mais distraídos: “há tão pouco tempo e já com tanta obra!”. Estas intervenções no espaço público estão previstas e programadas há anos e têm vindo a ser realizadas em diversas zonas da cidade, não sendo sequer novidade. O rebaixamento de passeios junto a passadeiras em Lisboa foi um programa lançado em 2003 e decorre de legislação sobre mobilidade que data de 1997. Nada disto se reveste de qualquer novidade.

O que se esperava na semana da mobilidade em Lisboa eram novidades. O anúncio de medidas de incremento da mobilidade em Lisboa que fossem estruturantes. Mas não…

Mas a propósito de passadeiras, seria importante que em Lisboa se colocasse em prática algo que já existe em muitas cidades do estrangeiro. Ao invés de se rebaixar os passeios, em bairros ou zonas residenciais, deveriam ser as ruas elevadas nos locais de passagem de peões. Esta alteração de conceito resulta de uma modificação profunda de paradigma de gestão da cidade.

As cidades são para as pessoas. Os automóveis são um instrumento. Mas são as pessoas o centro da vida das cidades. Acresce que a capacidade motora dos automóveis é superior à das pessoas. São as pessoas que devem poder ter um pavimento contínuo e não os automóveis (em zonas residenciais). Se isto é importante, ganha particular relevância quando se trata de pessoas com mobilidade reduzida (crianças, idosos, portadores de deficiências motoras, etc.).

A prática de elevação das ruas em zonas de atravessamento de peões já existe em cidades no estrangeiro, mas também em Portugal. Registei os exemplos portugueses de: Alcácer do Sal, Almeirim, Cadaval, Caldas da Rainha, Coruche, Espinho, Évora, Nazaré, Oliveira de Frades, Setúbal, Tomar e Torres Vedras. De que estamos à espera em Lisboa?


António Prôa

2 comentários:

  1. Sim, sim, nada a opor. Será um facto, mais cedo ou mais tarde. Mas também se deve intervir e corrigir coisas como, por ex:

    - O ângulo de curva dos passeios nas ruas, de modo a que estas sejam cada vez mais perpendiculares, com menor velocidade, etc.;
    - Redução do número de faixas de rodagem em certas avenidas, de modo a que os passeios aumentem de largura e o espaço público possa ser usufruído.

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  2. Para mim, é incrivel que uma Câmara Municipal se ponha a anunciar uma iniciativa destas, como se fosse algo de inovador, que não existisse em tudo o que é cidade pela Europa e cá em Portugal também. Eu teria vergonha de anunciar uma coisa que, de tão normal em qualquer país civilizado, nem era notícia. Já agora outra grande ideia avançada (com atraso de 15 anos, pelo que vi em Avignon, e até em Ponte da Barca existe) era encostar os postes dos sinais de trânsito às paredes dos prédios e uma dobra sustentava a placa com o sinal. Outras: delimitar as esplanadas dos cafés com cercas, relocalizar bocas de incêndio, tapar os sumidouros por baixo do passeio (aqueles em que se tropeça e parte uma perna e que ficam em frente às passadeiras), e continuava aqui a noite toda.

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