08/11/2007

Falta de verbas impede obras de fundo para mais segurança na Segunda Circular

In Público (8/11/2007)
Ana Henriques

«"Traçado da estrada e as suas imediações retiram aos condutores, de forma muito grave, condições de visibilidade", refere peritagem do Observatório de Segurança de Estradas


A falta de verbas vai impedir a Câmara de Lisboa de levar a cabo as obras necessárias para garantir a segurança rodoviária na Segunda Circular, uma das artérias com mais sinistralidade na cidade.
"O vereador da Mobilidade, Marcos Perestrello, disse-me que não há dinheiro para uma beneficiação, apenas para remendos. E isso é muito pouco, não serve", observou ontem, inconformado, o vereador Manuel João Ramos, do movimento Cidadãos por Lisboa, liderado pela arquitecta Helena Roseta. Os socialistas que governam a autarquia confirmam-no: "Não será, de facto, possível, para já, fazer uma intervenção de fundo naquela via, que apresenta problemas estruturais que resultam, aliás, da sua própria concepção, [devido] aos condicionamentos que resultam da situação financeira da câmara."
"O que será feito, e ainda com início este ano, serão intervenções pontuais que permitam reduzir alguns dos maiores riscos que a Segunda Circular apresenta, no sentido apontado por diversos estudos técnicos", refere o porta-voz da maioria.
E em que consistem essas intervenções pontuais? No alcatroamento do pavimento e em alterações na drenagem das águas pluviais. A Câmara de Lisboa planeia também "alguns retoques no desenho" de várias entradas e saídas da via, que foi "erradamente concebida desde o início como uma auto-estrada no meio da cidade". A colocação de pilaretes de borracha a fazer de rails nestas entradas e saídas é uma possibilidade, numa artéria marcada pela falta de faixas de aceleração e desaceleração.
"Pensos rápidos"
Quanto à alteração do limite de velocidade, que neste momento é de 80 quilómetros por hora, ele está a ser estudado por uma comissão que integra tanto defensores da velocidade como dos direitos dos peões. Mas Manuel João Ramos pensa que tanto os radares de controlo da velocidade como os pilaretes não são mais do que "pensos rápidos", que não resolvem os problemas de fundo, e propõe que a autarquia siga as recomendações do Observatório de Segurança de Estradas e Cidades, que fez em Agosto uma peritagem à Segunda Circular. As conclusões são preocupantes: "O raio e a extensão desta estrada não são compatíveis com a velocidade praticada", potenciando despistes; "o traçado da estrada e as suas imediações retiram aos condutores, de forma muito grave, condições de visibilidade, aumentando, inadmissivelmente, o risco de travagens perigosas e embates".
A isto acrescem os defeitos no pavimento, "que não consegue garantir níveis mínimos de atrito aos pneus" - problema "intimamente associado" aos acidentes que aqui se verificam. Por estas razões, a velocidade máxima permitida não deve ultrapassar os 60 quilómetros/hora, até ser corrigido o traçado da via, defende o observatório. Só que é esta correcção de traçado que se ignora quando poderá ser levada a cabo, devido aos constrangimentos financeiros.
As críticas dos Cidadãos por Lisboa inserem-se no balanço que ontem fizeram dos primeiros cem dias de mandato do executivo camarário. "Lisboa está exactamente na mesma", observou Manuel João Ramos. Helena Roseta alertou para o facto de a maioria das empresas municipais não ter apresentado publicamente as suas contas, apesar de se tratar de uma obrigação legal. "Há empresas, como a Gebalis, que são autênticos cancros financeiros, e é preciso perceber porquê", referiu. »

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