17/12/2007

Homenagem

Bandeira, no Diário de Notícias de 17.12.2007

Gigantescos outdoors espalhados pela cidade (e pelo resto do País também?) anunciam, com requintes de fotomontagem artística, a costa Oeste da Europa.

O português com cara de bronco é uma espécie em vias de extinção. Agora temos todos cara de Mourinho, Mariza, Ronaldo... será isto um efeito secundário do Tratado de Lisboa?
Quando se pergunta qualquer português o que atrai os turistas à nossa cidade, a resposta está pronta a sair, como um prato do dia: o sol, o rio, a comida (o vinho), o património, as ruas e vielas de Alfama e do Bairro Alto, a simpatia acolhedora da nossa gente. Ah, e o Fado e os eléctricos amarelos.
Ouvimos. Olhamos, de seguida, para a realidade, e perguntamo-nos como é possível investir tão pouco nesses factores de atracção - ou destrui-los com tanta eficácia...
O rio?
A beleza da margem ribeirinha desfaz-se com cada pontapé arquitectónico que vão conseguindo plantar-lhe nas margens: são as agências europeias, é o novo Estoril-Sol, é a torre de controlo de tráfego marítimo (aquele gigantesco pénis decepado a boiar em Algés), é a pala («is it a bird?! is it a plane?!») aos pés da ponte, são as obras do Metro no Terreiro do Paço (esperem até ver o novo cais da Transtejo).
As ruas e vielas?
Estudos da Associação de Turismo de Lisboa demonstram que quase 90% dos turistas descobrem Lisboa a pé... Como é que gostam?! É aquela componente chique da des-civilização?
E os eléctricos amarelos?
Andar no 28 apinhado, entre carteiristas e turistas, esperar mais de meia-hora na paragem, para fazer a voltinha dos tristes. E olhar, perplexo, para os quilómetros de carris e catenárias abandonados, sem perceber porquê.
O pato bravo da região de Lisboa é diferente. É um pato bravo encartado, que veste bem, que argumenta com mais requinte (embora argumente sempre o mesmo), e que se espalhou por diversas instituições.
Porque o pato bravo já não é uma pessoa - é uma mentalidade. E já não é analfabeto - é tecnocrata. Tem sempre uma razão "lógica", "racional", "estudada", "responsável" a sustentar cada decisão. Seja ela a imposição de mais uma alarvidade à frente ribeirinha, o fecho de mais uma linha de eléctrico, a construção de mais uma circular.
Merece uma homenagem. Siga-se o exemplo de Las Vegas. Os turistas também hão-de gostar.

10 comentários:

  1. apoiado, mas seriam tantas figuras no pedestal que nao sei se cabiam

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  2. Excelente Pedro! O retrato do país, de facto com tanta viagem, paga por nós, ao estrangeiro e não aprendem nada.

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  3. Tem alguma razão no que diz, mas...homem...tenha calma...com esse negativismo arrasa com tudo...até com o que vale a pena ficar de pé...

    Dispara em todas as direcções, mesmo naquelas em que não deve. Está mesmo assim tudo, mesmo tudo, mal?

    Não me parece. (Gosto da campanha e da torre de algés, só para dar um exemplo)

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  4. Ò Pedro afinal não tens razão a Torre de Belém é que está a afundar e inclinada. Pois é a Torre de Algés que está direita.
    Lisboa é um tratado!

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  5. Não está tudo mal, mas está muita coisa mal que com pouco esforço, boa vontade e sobretudo honestidade poderia estar bem melhor. Tem toda a razão no que diz e só não ve quem não quer ver. A dita campanha foi feita para, segundo dizem, valorizar Portugal e os Portugueses, mas e só a titulo de exemplo contratou-se um fotografo Inglês a 20.000 contos por fotografia, para a tal campanha, como se em Portugal não houvessem fotografos de qualidae. Somos assim novos ricos saloios, belos patos bravos, infelizmente.
    Temos um País , ainda , lindissimo mas esta mentalidade patobravesca não decansa enquanto houver PINS que tudo justifiquem. E o pior é que os exemplos vêm de cima.

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  6. e só porque é um estrangeiro é mau?

    uma coisa é defender que dever-se-ia ter contratado um português...eu acho que sim...não é preciso um estrangeiro.

    Mas já que se contratou e o trabalho está feito, por ser estrangeiro é mau?

    mentalidade pequena...

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  7. Interessante.

    A personagem hdo-dcl escreve uma pergunta: “e só porque é um estrangeiro é mau?”

    Não contente, elabora um arrogo ego-assumptivo e gratuito da resposta, assumido pela oração: “mentalidade pequena”, atribuindo toda a masturbação (e a consequente substância) ao participante anterior que tocara no tema.

    Não é mau, amigo(a), é triste.
    Triste, ouvir sempre umas buzinas em semitom, fingidamente apaziguadoras, verberando aqueles que levantam tapetes.
    Triste é a verborreia contida em frases rameiras como esta:

    “tenha calma...com esse negativismo arrasa com tudo...tenha calma”

    Mentalidade pequena ou quadrada?

    Mário Miguel

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  8. É obvio que não é por ser estrangeiro que é mau. É obvio que continua só a ver o que quer ver. O aberrante é que numa campanha que visa promover as capacidades dos Portugueses se tenha que de chegar á conclusão, que para quem decide, não existe nehum fotografo competente em Potugal.E o preço de cada fotografia é exorbitante. Se calhar antes assim pois teriam escolhido o fotografo, não pelas suas qualidades profissionais mas por ser conhecido dum primo ou de uma tia de alguem do governo.

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  9. Então e por ser estrangeiro não pode ser ser conhecido de um primo ou tia de alguém do governo?

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