In Diário de Notícias (24/3/2008)
LUÍSA BOTINAS
«Pedro Bandeira Freire entregou definitivamente na semana passada as chaves do cinema Quarteto ao senhorio e, para o fundador do primeiro espaço multissalas de Lisboa, com esse gesto fecha-se também uma etapa da sua vida. Contudo, admite associar o seu nome um projecto que recupere o espírito original do espaço. "Isto se aparecer alguém que se chegue à frente..."
O cinema Quarteto que nasceu numa garagem da Rua Flores de Lima, na freguesia de Alvalade em 21 de Novembro de 1975, com "quatro salas, quatro filmes" ficou a escassos cinco anos de completar 35, quando a 16 de Novembro do ano passado o espaço foi coercivamente encerrado na sequência de uma vistoria da Inspecção-Geral das Actividades Culturais. Por não reunir todas as condições de segurança, nomeadamente, saídas de emergência em número suficiente, sistema de detecção de incêndios, revestimento de paredes e pavimento com materiais inflamáveis, o Quarteto teve de encerrar. Mas as necessárias obras para a reabertura não chegaram a acontecer.
"Estou cansado", disse ao DN Pedro Bandeira Freire, não escondendo o desalento de quem, durante anos lutou contra a corrente e que agora encara um desafio da mesma natureza como "um desperdício de energia". E explica porquê: "Hoje, da forma como está estruturada a nossa sociedade nunca faria o Quarteto. É tudo muito complicado. Telefonamos para os bancos e é tudo muito difícil..." Apesar dos pesares, Bandeira Freire ainda deixa escapar uma réstia de esperança. "Se surgir alguém interessado, que se chegue à frente com a intenção de renovar o espaço, capaz de recuperar o espírito original do Quarteto, exibindo filmes de cinematografias alternativas, diferentes das dominantes no mercado mais comercial, serei capaz de associar o meu nome a esse projecto. Mas tem de ser alguém com muita vontade de trabalhar", avisa. (...)»
Qual o interesse em "salvar" o cinema Quarteto?
ResponderEliminar«...ficou a escassos cinco anos de completar 35...» - Que raio de frase!
ResponderEliminar"Qual o interesse em "salvar" o cinema Quarteto?"
ResponderEliminarDinamizar as ruas da cidade e evitar que todos os portugueses adaptem a cultura da pipoca, do centro comercial e da deslocação enlatada, parecem-me bons objectivos...
A ideia de salvaguardar o Quarteto será oferecer alternativas às lavagens de cérebro de que fostes vitima na tua cabecinha de liberal de paizinho que tem muito e quer mais e menino que adora punhetas com o vento em proa pois leva com as próprias ejaculações na carinha mimada e bem tratada mas pode ser que a vida te pregue uma partida em alguma esquina algum dia e aí vais comer toda a merda que se tem produzido nesse espaçou oco que costuma ser o primeiro a sair do corpo mãe mas tu saístes infelizmente com o cú primeiro.
ResponderEliminarSempre escolhi o cinema livremente. Ao contrário do favorecimento que se pretende dar ao Quarteto para induzir uma escolha por um cinema onde as pessoas não gostam de ir. Tanto não gostam que - obviamente - faliu.
ResponderEliminarFilipe, a verdade é que fora o Londres, o King, o Nimas e a Cinemateca (que é um espaço aparte), deixou de haver cinemas fora dos grandes centros comerciais. E, por exemplo, nos Alfas, não havia falta de oferta. É certo, sim, que vão pelo mau caminho, porque ninguém lá vai, mas também já ninguém vai porque não os há.
ResponderEliminarE mais se contribui para a falta de vida nas ruas, numa cidade deserta a partir das oito da noite e aos fins-de-semana.
" «...ficou a escassos cinco anos de completar 35...» - Que raio de frase! "
ResponderEliminarConcordo perfeitamente! Porque não, ficou a escassos 70 anos de completar 100 anos? É um número bem mais redondo.
Mas com esta notícia fiquei a saber que no fundo o antigo proprietário do Quarteto só quis defender os potenciais clientes. É que segundo o texto, o quarteto teve de fechar "Por não reunir todas as condições de segurança, nomeadamente, (...), revestimento de paredes e pavimento com materiais inflamáveis". Francamente... este jornalismo.
Francisco, isso significa simplesmente que os grandes centros comerciais são preferíveis. A vida encontra sempre o seu caminho evolutivo. A selecção natural eliminou estes espaços. De nada vale alimentar o ser menos apto.
ResponderEliminar"A selecção natural eliminou estes espaços. De nada vale alimentar o ser menos apto."
ResponderEliminarSe algum dia por alguma circunstância da vida te acontecer seres o menos apto, irás suplicar para que alguém te alimente...E se as ideias que defendes se tiverem generalizado, serás uma das vítimas ou dos derrotados dessa selecção natural. Espero que nessa altura te conformes com o teu destino....
As regras do jogo são estabelecidas à partida. Seria muito desonesto alterá-las quando não correm de feição. Mas repara que eu proponho-me apenas abolir estas aberrações da natureza. Se o sistema se mantiver, posso muito bem por obra do acaso vir a beneficiar de um subsídio para financiar um negócio que me tenha corrido mal. Não me vou obviamente privar.
ResponderEliminarO Quarteto, que não era competitivo há muitos e bons anos, deixou simplesmente de ser rentável.
ResponderEliminarÉ a evolução e o "progresso não perdoa"...
Mas acho que falar-se em "favorecimento que se pretende dar ao Quarteto para induzir uma escolha por um cinema onde as pessoas não gostam de ir" é pôr o carro à frente dos bois.
Se surgirem interessados em reactivar o espaço muito bem, porque não?
Até agora ainda não ouvi falar em favorecimento algum...
"De nada vale alimentar o ser menos apto" e o nazi é o outro....
ResponderEliminarInvestidor esse que se está a encaminhar para ser o contribuinte português, que nenhum interesse tem em alimentar um defunto.
ResponderEliminarFilipe, percebo a lógica da "selecção natural", mas faz-me lembrar a lógica dos jornais:
ResponderEliminar"publicamos lixo, porque as pessoas lêem"
Por vezes à coisas que não são "favoráveis" por si só, mas gastando um pouco de energia nesse processo "não favorável" ganha-se num passo subsequente. Não sei se no caso específico do quarteto isso seria uma boa ideia, mas em geral, a aposta na cultura tem esse pressuposto: alimentar algo que não se auto-sustenta, mas que permite um ganho comum maior, a longo prazo, suplantando o esforço inicial.
É só isso que quero dizer. Para mim, os centro comerciais pouco ou nada fomentam do que uma sociedade consumista e conformista.
Filipe, percebo a lógica da "selecção natural", mas faz-me lembrar a lógica dos jornais:
ResponderEliminar"publicamos lixo, porque as pessoas lêem"
Por vezes à coisas que não são "favoráveis" por si só, mas gastando um pouco de energia nesse processo "não favorável" ganha-se num passo subsequente. Não sei se no caso específico do quarteto isso seria uma boa ideia, mas em geral, a aposta na cultura tem esse pressuposto: alimentar algo que não se auto-sustenta, mas que permite um ganho comum maior, a longo prazo, suplantando o esforço inicial.
É só isso que quero dizer. Para mim, os centro comerciais pouco ou nada fomentam do que uma sociedade consumista e conformista.
Não gosto que pessoas como os autores deste post definam paramim o que é lixo. Acaba por me sair o negativo da imagem real, e eu ter de sustentar lixo produzido pelos seus amigos.
ResponderEliminarA "selecção natural" nada tem de inteligente, nem tão pouco nos conduz a um estado optimal. É uma coisa extraordinariamente reaccionária e aleatória que se pode facilmente manipular em laboratório ou em simulações computacionais para produzir os resultados mais ridículos através de pequeníssimas alterações iniciais. Mas para que é que eu me hei de dar ao trabalho de filosofar sobre aquilo que é óbvio para toda a gente, e que já está sobejamente estudado e documentado. Pode começar por estudar as críticas ao modelo laissez-faire, os excessos cometidos em nome da lógica e do laicismo nos tempos da revolução francesa e do republicanismo, ou simplesmente compreender que o anarco-capitalismo é uma corrente de pensamento tão pueril, idealista e mal fundamentada como o tradicional anarquismo esquerdista advogado cegamente por largos sectores da nossa juventude.
ResponderEliminarSe houvesse uma solução fácil e final para fosse o que fosse, já a tínhamos adoptado há muito tempo.
A politica moderada existe porque é necessaria. Alteraçoes minimas provocam enormes efeitos.
http://en.wikipedia.org/wiki/Argument_from_poor_design
http://en.wikipedia.org/wiki/Laissez-faire
Ora aqui temos um centrista-porque-sim. Sejam quais for as soluções políticas preconizadas, a decisão óptima está ao centro. Viva a capitulação intelectual.
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