In Público (16/4/2008)
Catarina Prelhaz
«Desaparecimento de teatros e violação do Jardim Botânico de Lisboa
estão no topo das preocupações de cidadãos e especialistas
"Fazem-nos as maquetas e depois nós, os actores, vamos todos representar nas maquetas". Paulo Vasco, actor do teatro Maria Vitória, ajeita o cachecol que lhe atavia o pescoço. Os projectos de reabilitação do Parque Mayer fazem-lhe lembrar a rábula do "mestre" Henrique Santana e do seu "fazem-se as maquetas e depois vamos todos viver para as maquetas".
Ora, os actores não querem viver nestas maquetas do Parque Mayer despidas de teatros. Apelam para que haja "pelo menos mais um teatrinho a funcionar" para além do Capitólio, um "cineteatro que, como todos os outros, não passará de um cine". Não querem lojas, mas teatro. Pedem o Maria Vitória e o Variedades e o teatro de comédia. "É urgente um lugar de diversão. Temos de rir".
Auditório da Escola Politécnica, em Lisboa, noite de segunda-feira. O segundo debate público sobre o futuro do Parque Mayer reúne centena e meia de pessoas entre actores, investigadores afectos à Faculdade de Ciência de Lisboa, autarcas, arquitectos e cidadãos. Os cinco projectos vencedores da primeira fase do concurso de ideias para a reabilitação do Parque Mayer lançado pela autarquia deixam dúvidas a todos. O desaparecimento de teatros, a violação do Jardim Botânico e a amputação dos Museus da Politécnica estão no cerne das preocupações.
"A reabilitação do Capitólio vai ser paga com as verbas do Casino de Lisboa. Mas o casino é fruto da luta dos artistas e se só vai servir para recuperar o Capitólio enquanto os outros três teatros [ABC, Maria Vitória e Variedades] vão ser pura e simplesmente destruídos. É uma adulteração total". Hélder Costa, empresário responsável pelo único teatro do Parque Mayer no activo, o Maria Vitória, diz não querer acreditar que um Capitólio gerido pela Câmara de Lisboa seja o único sobrevivente do Parque Mayer.
Quem também protesta a morte dos teatros do Parque Mayer é o presidente da Junta de Freguesia de São José, Manuel Vaz Mesquita. "Enquanto autarca, farei tudo para defender a permanência do Variedades. A recuperação daquele teatro não levaria mais do que dois meses", garante.
No fim, fica a promessa de Hélder Costa, dirigida com o olhar e com as mãos abertas ao vereador do Urbanismo da câmara, Manuel Salgado, que escrevinha um papel na mesa central do auditório. "Por cada teatro que se destrua tem de se construir um novo. E nessa luta os artistas irão entrar de certeza, tá?"
Já o geólogo António Ribeiro não quer ver um novo Terreiro do Paço no Parque Mayer. "A ideia de construir parques subterrâneos no Parque Mayer é de grande preocupação para nós", adverte. "Aquele substrato comporta-se como um fluido e o edificado afunda-se".
Por isso, recomenda António Ribeiro, é preciso que se façam mais estudos acerca da estabilidade da vertente entre o Parque e a Politécnica, até porque "há um problema de história sísmica em Lisboa" e existe uma falha que pode causar problemas, a do Túnel do Rossio.
Não é só a construção subterrânea que gera desconfianças. "Parece-me que é importante não criar qualquer obstrução visual à contemplação da encosta do Jardim Botânico a partir da Avenida da Liberdade", previne o arquitecto e presidente do júri do concurso de reabilitação do teatro Capitólio, Nuno Teotónio Pereira. "O Capitólio é para ficar, mas penso que não deve haver ali mais construção que impeça a fruição visual".
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Projectos passaram a primeira fase do concurso de ideias para a reabilitação do Parque Mayer, em Lisboa»
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