In Público (4/4/2008)
Ana Henriques
«Representantes de escritores como Saramago e Lobo Antunes ameaçam faltar ao evento. António Costa tenta conciliar editores
O formato dos pavilhões da Feira do Livro de Lisboa reacendeu, a escasso mês e meio do arranque do evento, uma velha guerra entre editoras, com parte delas a ameaçar não estar presente no Parque Eduardo VII.
O conflito assumiu tais proporções que o presidente da Câmara de Lisboa, António Costa, participou nas últimas reuniões com os representantes do sector, as rivais Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL) e União dos Editores Portugueses (UEP). Além de ajudar a organizar a feira, a autarquia apoia-a financeiramente. Os desentendimentos geraram atrasos de vária ordem, explica o administrador da Porto Editora, Vasco Teixeira: na definição do programa cultural e até nas inscrições das editoras, que já deviam ter sido feitas. O financiamento camarário, no valor de 200 mil euros, também ainda não foi transferido.
No cerne do desentendimento está a exigência da UEP de que cada editor possa, se assim o entender, ter um pavilhão diferente daqueles que há muitas décadas se apresentam no evento. Ou uma grande tenda, por exemplo. A APEL alega que é tarde de mais para as mudanças acontecerem já nesta 77ª edição, com data de abertura marcada para 22 de Maio. Perante a possibilidade de a autarquia vir a autorizar pavilhões diferenciados, vários associados seus já anunciaram, no entanto, que pretendem aproveitar também a oportunidade, para não serem esmagados pela concorrência. De preferência na base ou no topo do parque, os locais mais disputados pelas editoras, uma vez que o declive do solo é menor ou inexistente. "Não queremos acreditar que a Câmara de Lisboa esteja a tentar beneficiar um grupo editorial", observa Vasco Teixeira, que é sócio da APEL, numa referência ao recém-criado grupo Leya, da UEP, que integra marcas tão fortes como a Dom Quixote, a Asa e a Caminho, representando alguns dos maiores nomes da ficção portuguesa - como Saramago e Lobo Antunes - e lusófona.
E em que consistiria o benefício? "Não existe no Parque Eduardo VII espaço plano suficiente para todos os que quiserem montar uma tenda", responde o administrador da Porto. E o grupo Leya, de Pais do Amaral, é, até pela sua dimensão, dos que se tem mostrado mais interessados na mudança.
O presidente da UEP, Carlos Veiga Ferreira, admite aquilo que a Leya não quer assumir: que esta editora e outras ameaçam faltar à feira caso não lhes seja dada "maior liberdade de participação". Diz estar também convencido de que a maioria dos seus sócios irá continuar nesta edição com os tradicionais stands, ainda que lhes seja dada possibilidade de mudar.
"Eu só não quero ser pisado", observa o responsável pelas Publicações Europa-América, Tito Lyon de Castro, da UEP, aludindo a alegados privilégios que possam vir a ser dados a concorrentes seus. Carlos Veiga Ferreira alega que a sua associação informou no final de Janeiro a rival da intenção de mudar, pelo que não tem sentido dizer que tomou uma posição demasiado em cima do acontecimento.
Vasco Teixeira afirma que a realização da feira está em risco. Há editores que se riem, recordando edições passadas em que as guerras fraticidas entre UEP e APEL levaram a que só na véspera do evento houvesse certezas sobre a sua concretização.
Contactada pelo PÚBLICO, os responsáveis da autarquia escusaram-se a prestar declarações sobre a matéria. Marcaram nova reunião com as duas facções de editores para a próxima segunda-feira. E esperam que seja desta que consigam pacificar os ânimos e chegar a um acordo, num ano em que houve grandes mudanças no sector livreiro português devido à concentração editorial.
Vasco Teixeira, da Porto Editora e sócio da APEL, não admite que a Câmara de Lisboa possa beneficiar a concorrência »
O problema da Feira do Livro é só um: não é feira, coisíssima nenhuma. Vão até Madrid. Por favor. Descontos a 10% (excepto ao livro do dia ... que é sempre o mesmo, ano após ano); vou à FNAC. Vale pelo passeio no Parque Eduardo VII, e mais nada.
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