In Público (20/5/2008)
Ana Henriques
«Presidentes de junta do PCP e do PSD abandonaram cerimónia "de propaganda política"
Imagina a engarrafada Av. Duque d"Ávila cheia de gente sentada em esplanadas? Praticamente sem trânsito? Com passeios avantajados onde novos e velhos possam passear à vontade lado a lado, sem esbarrar uns nos outros? Esta e outras visões foram ontem apresentadas pela Câmara de Lisboa, numa cerimónia destinada a mostrar os projectos de requalificação dos espaços públicos da cidade até 2011.
"Chegámos ao limite do abandono do espaço público e do espaço verde", admite o vereador dos Espaços Verdes, José Sá Fernandes. Opinião partilhada pelo vice-presidente da autarquia, Marcos Perestrello: "Hoje não é possível subir a Av. Fontes Pereira de Melo até ao Saldanha sem sair do passeio" - porque ele nem sempre existe. "Isto não pode acontecer num país europeu", reforçou Perestrello, há nove meses responsável pelos espaços públicos e pelo trânsito da cidade.
As mais de duas centenas de intervenções prometidas para ruas, jardins e miradouros não convenceram, no entanto, os presidentes de junta comunistas e sociais-democratas, que acabaram por abandonar a cerimónia logo no seu início. Alegam ter sido convidados para uma reunião de trabalho, e não para uma acção "de propaganda política, que contempla obras a realizar já no próximo mandato", sobre as quais asseguram não ter sido "informados nem ouvidos". Mais: a maioria PS-BE "enganou os cidadãos", quando ontem apresentou como seu "trabalho desenvolvido na anterior gestão camarária", que era "laranja".
Sá Fernandes não nega ter "aproveitado sem complexos" projectos antigos de reabilitação - mas que nunca, até hoje, foram concretizados, e que ele se propõe levar a cabo com prazos definidos. Já a ideia de ligar os parques entre si através de percursos para peões e bicicletas é nova e partiu de si, frisa o autarca. Tal como a implantação de mais quiosques-bar nas zonas verdes da cidade.
E assegura que antes de anunciar o vasto programa ouviu os presidentes de junta. "Nenhuma das obras prioritárias que lhe apresentei foi contemplada", contrapõem autarcas como o social-democrata do Alto do Pina.
Novos caminhos para os habitantes andarem a pé ou de bicicleta na cidade
Rendas vão subir
Sempre a pedalar. De Monsanto ao Parque Eduardo VII. Da mata de Alvalade a Chelas, e daqui ao Parque das Nações. De bicicleta e também a pé. O projecto dá pelo pomposo nome de "Rede e percursos cicláveis", e consiste em abrir caminhos onde peões e ciclistas possam andar à vontade. E em ligá-los uns aos outros cidade fora. Caminhos rasgados nos espaços verdes, mas também no meio da malha urbana, como na Av. do Brasil, onde o Hospital Júlio de Matos se abrirá aos amantes dos transportes não poluentes para que estes possam chegar à Quinta das Conchas e ao Parque Periférico, no Lumiar.
Ontem os responsáveis camarários prometeram melhoramentos para cada uma das freguesias da cidade, da requalificação total do Parque Eduardo VII - Estufa Fria incluída - à colocação de WC na Alameda Keil do Amaral, em Monsanto. A transformação radical da Av. Duque d"Ávila (ver texto acima) não ficará pronta antes de Agosto de 2009, altura em que deverá também ficar pronto o parque urbano da Quinta da Granja, em Benfica. Por essa altura prevê-se que os lisboetas possam usufruir dos seus miradouros devidamente arranjados: Nossa Senhora do Monte, Graça, Monte Agudo, Penha de França, Santa Luzia e Torel.
A autarquia quer ainda criar, igualmente em 2009, um percurso entre Santa Catarina e o Jardim Botânico, passando pela Academia das Ciências e pelo antigo liceu Passos Manuel, bem como um "corredor patrimonial turístico" entre o Jardim do Torel, no topo da colina, e o Ateneu, na rua do Coliseu.
Ainda no meio urbano há a destacar a promessa de requalificação da Praça Paiva Couceiro, na Penha de França, que passará a contar com um parque infantil, e do Largo da Trindade, com ajuda financeira da Santa Casa da Misericórdia, que aqui tem a sua sede. Daqui partirá um percurso até ao Largo do Carmo e às futuras esplanadas do quartel do Carmo. Na cidade dos escritórios salienta-se o arranjo da Av. Fontes Pereira de Melo, onde até já o vereador dos espaços públicos notou a ausência de continuidade dos passeios. No Saldanha os passeios serão alargados e neles serão plantados jacarandás - mas nunca antes de 2010, apesar de o projecto desenvolvido pelos técnicos camarários estar datado de 2005.
Atrasada está também a abertura da praça situada nas traseiras da estação ferroviária do Rossio, o Largo Duque de Cadaval, ao que diz o município por questões ligadas à recepção da obra, pronta há vários meses. O vereador Sá Fernandes equaciona a possibilidade de aqui colocar uma esplanada. Já o vizinho Rossio sofrerá apenas melhorias na iluminação. Subindo até à Av. da Liberdade, onde deverão ser implantados oito quiosques de restauração, segue-se o jardim da Praça da Alegria cuja recuperação está marcada para o primeiro trimestre de 2009.
Noutra ponta da cidade, entre a Ajuda e o Restelo, o Parque dos Moinhos de Santana tem o seu alargamento prometido igualmente para o primeiro trimestre de 2009. E como nem só de parques se faz a cidade, a autarquia quer requalificar com áreas verdes o caminho que acompanha a Segunda Circular. A.H.
Tem duas explicações o milagre da multiplicação de quiosques em parques e jardins que a câmara quer operar. Em primeiro lugar dão jeito: ir passear às zonas verdes não pode querer dizer andar à sede e à fome. Em segundo lugar rendem dinheiro a uma autarquia falida: no centro da cidade o valor mensal de uma destas concessões pode ultrapassar os dez mil euros. Vão ser instalados dois tipos de quiosques: os "bizantinos", um modelo tradicional usado por exemplo em Santos, e os contemporâneos, de linhas direitas.
Ao todo serão instalados 32 novos quiosques e sete restaurantes. E actualizadas as rendas dos antigos.»
Alguns comentários imediatos:
1. Numa CML endividada em tanto milhão, anunciar-se 15 milhões para tanto investimento levanta a curiosidade de saber onde vai a CML buscar esse dinheiro, até porque para 2009 isso terá que ser aprovado no orçamento para o respectivo ano, o que não será tão cedo. Se a CML diz garantir 3 milhões, não será o Metro, nem a EPAL, seguramente, a darem o resto ...
2. Curioso o esquecimento de locais como o Jardim Cesário Verde ou o Jardim Roque Gameiro (Cais do Sodré), ou a menção a que o Parque Bensaúde vai reabrir (o problema deste parque não é tanto abrir ... que podia estar aberto ... mas os seus problemas infraestruturais - a começar pelo sistema de escoamento de águas pluviais -, que não serão resolvidos com a abertura de um quiosque; ou ainda a menção à requalificação do Areeiro, quando se sabe que isso vai depender, sempre, das obras de ampliação do cais do Metro, ainda sem data para arranque ...
3. Mais a mais, não parece que os serviços da CML tenham capacidade para executar essas empreitadas todas, pelo que aquela calendarização ou é uma ilusão, ou então a CML vai ter que subcontratar terceiros, o que dado o endividamento será à mesma uma ilusão.
4. Por outro lado - e não há fome que não dê em fartura -, se foram anunciadas mais de 200 intervenções, outras tantas vezes se ouviu falar em 'quiosques' (será que vão ser os concessionários a pagar os 15 milhões?), e outras tantas vezes foi usada a forma verbal 'será feito' (curiosa a sintonia entre o final da maior parte das obras para 2009 e as eleições; e curiosa a calendarização de outras obras para 2010 e 2011!
Há falta de quiosques em Lisboa, mas não se pode colocar quiosques em todo o lado. Por exemplo, querer-se colocar quiosques na Fonte Luminosa da Alameda D.Afonso Henriques, não só é um atentado à monumentalidade do sítio (que nos fará manifestar um protesto veemente) como uma decisão imponderada.
Por outro lado, seria bom que a CML repensasse a concessão a espaços já concessionados, como, por exemplo, o do quiosque do Miradouro de Santa Catarina.
5. Parece, ainda, que há uma certa confusão à volta dos miradouros. É que os miradouros existem, sempre existiram e vão existir. E existem para ver as vistas. Vistas não têm que significar quiosques e esplanadas.
6. Finalmente, volta a transparecer o sentido da obra, da empreitada «ad hoc». Uns quantos slides com abundância de 'árvores-palito'e uns círculos na planta anunciando quiosques não vai resolver o espaço público (que precisaria de um regulamento actualizado e ... feito cumprir) de Lisboa, muito menos os espaços verdes.
O trabalho apresentado é um bom trabalho de sistematização, mas só isso. Veremos os resultados. Oxalá me engane.
A concretizar-se a requalificação da Avenida Duque D'Avila, Fontes Pereira de Melo, Abertura do Parque da Saúde ao exterior, aplaudo.
ResponderEliminarA titulo de esclarecimento a Misericórdia tem a sua sede no Largo Trindade Coelho e não no Largo da Trindade que fica junto ao Teatro da Trindade, ligando a Rua Nova da Trindade à Rua da Misericórdia.
ResponderEliminarCá estamos para ver o que será feito de tudo o que é anunciado.
Acho mesmo que tudo é propaganda politica pois nem sequer tem consciência da realidade.
ResponderEliminarEu moro na Paiva Couceiro e acho incrível falar de "parque infantil" já que estão a esquecer o imenso numero de carros que por aqui passa!Já ficava muito contente com que mantivessem limpa a praça e arranjaram os canteiros!!!
Pois minha senhora e o que faz o seu Presidente de Junta o actual e os anteriores, que deixaram o Jardim da Paiva Couceiro praticamente ao abandono.
ResponderEliminarSabe que as Juntas recebiam dinheiro para tratarem dos seus espaços Verdes?
O que lhe fizeram....
Quanto aos quiosques nos miradouros e já agora casas de banho, eles são UMA NECESSIDADE.
Um pequeno café e uma pequena esplanada, é não só uma valorização, como uma forma de a Camara arranjar uns cobres.
Outro aspecto é a fata de casas de banho publicas em Lisboa, qualquer cidade europeia, tem-nas em quantidade, em Lisboa, são os cafés e restaurantes que servem de retretes publicas.
Pois....mas antes das novidades comecem simplesmente por TRATAR e RECUPERAR...o que já existe.
ResponderEliminarJA