14/05/2008

"Reabilitar é também promover a preservação da história dos edifícios…”



Finalmente, consegui atingir o ponto de vista do arquitecto e historiador Hélder Carita, no que diz respeito à apreciação positiva que fez da recuperação do Convento dos Inglesinhos, esta aberração com grades, assim como a do projectista, o arquitecto Carlos Travassos.


“Reabilitar é também promover a preservação da história dos edifícios de modo a que a sua memória se perpetue ao longo dos tempos. Os edifícios reabilitados renascem para uma nova forma de vida sem perder a sua essência, adaptando-se aos novos utilizadores, modernizando-se sem se descaracterizarem. Na reabilitação do Convento dos Inglesinhos tivemos também o cuidado de “reabilitar a sua história” com o objectivo de perpetuar a memória do edifício e das pessoas que nele habitaram. Para tal, houve um trabalho árduo de pesquisa que culminou com a descoberta da biblioteca do Convento e de importantes documentos manuscritos originais, datados a partir do final do século XVI, numa universidade no norte de Inglaterra. O “Convento dos Inglesinhos”, Monumento Histórico do século XVII situado em plena malha urbana do Bairro Alto, imponente sobre a Cidade de Lisboa, destaca-se pela localização, a arquitectura religiosa, a beleza dos painéis de azulejos, as escadarias, os jardins exteriores e a Igreja. A reabilitação do Convento dos Inglesinhos será, certamente, um marco na reabilitação urbana de qualidade na cidade de Lisboa.” (http://www.conventodosinglesinhos.pt/ - Chamartin).


Perante esta apreciação que consta do site promocional do Convento dos Inglesinhos, fico perplexo após ter visto a construção. Se até “…houve um trabalho árduo de pesquisa que culminou com a descoberta da biblioteca do Convento e de importantes documentos manuscritos originais, datados a partir do final do século XVI, numa universidade no norte de Inglaterra”, como foi possível destruir os “…os jardins exteriores…” ? Como foi possível transformar o edifício nesta aberração? Alguém enganou a firma proprietária!

O Bairro Alto, outrora conhecido como Vila Nova dos Andrades, é uma zona típica de Lisboa de ruas estreitas e empedradas adjacentes às zonas do Carmo e do Chiado, com casas seculares e pequeno comércio tradicional. Construído mais ou menos em plano octogonal em finais do Sec. XVI o Bairro Alto é um dos mais pitorescos da cidade, sendo delimitado a oeste pela Rua do Século, a este pela Rua da Misericórdia, a norte pela Rua D. Pedro V e a sul pela Rua do Loreto e Largo do Calhariz. O Bairro Alto divide-se na Rua da Rosa pela freguesia da Encarnação e de Santa Catarina.


Uma boa parte dos edifícios do Bairro Alto foi ou está a ser recuperada, e porque o Bairro tem história e os seus edifícios têm alma, a sua recuperação, até há poucos anos, procurou respeitar a sua traça original da sua arquitectura.


Desde os anos 80 que é a zona mais conhecida da noite lisboeta. Aos poucos, verifica-se também que passou a ser procurado como um lugar para viver, estando a sua população a ser renovada e rejuvenescida.


Durante o Sec. XIX e até ao terceiro quartel do Sec. XX, era no Bairro que se sediavam os principais jornais e tipografias do país. Ainda hoje é possível encontrar nomes de ruas como Diário de Notícias ou Século.


Este Bairro, um dos mais intelectuais da capital, frequentado e habitado por jornalistas, escritores, músicos, pintores, estudantes, etc., foi também em tempos lugar de tascas de marinheiros, de lugares de má fama e de muita prostituição. Vitorino Nemésio faz alusões a este ambiente no romance "Mau tempo no canal".


Pode ser aqui que começa a justificação para esta reabilitação urbana, como muito bem lhe chamou José Fonseca e Costa, “A penitenciária das almas penadas”. É que na realidade o Bairro Alto não possuía um estabelecimento prisional.


É, sem sombra de dúvida, um serviço prestado aos habitantes do Bairro Alto e mais diria ao País - pois todos sabemos do défice de Estabelecimentos Prisionais - todavia, tardiamente pois já não existem neste Bairro lugares de má fama, malandragem e prostituição, muito embora ainda haja alguma criminalidade… a que vem de fora!!!.

6 comentários:

  1. ...."modernizando-se sem se descaracterizarem."....
    será que este camarada acredita no que escreve...ou ainda não viu a obra concluída?

    JA

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  2. Eu concordo com os comentários,aquela fachada penitenciária é uma miséria,a destruição dos Jardins é criminosa,MAS...que fazer agora?


    14-5-08 Lobo Villa

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  3. Como já aqui disse não acho o projecto mau per si.

    Acho chocante é a sua implantação numa zona histórica.

    Chega a roçar o escandaloso a diferença entre o projecto e a realidade. Como qualquer projecto em Portugal.

    vejam em:
    http://lx-projectos.blogspot.com/2006_09_01_archive.html

    e vejam a foto deste post.

    Não estamos a falar do mesmo convento dos inglesinhos, pois não?

    POis...é assim que se aprovam projectos em portugal

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  4. Reitero a pergunta de Lobo Villa: Mas...e agora?

    Foi previsto em algum lado, existe mecanismo pelo qual valha a pena perder tempo e lutar, para demolir aquilo ou vamos esperar que o vento lave a memória?

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  5. Porque é que os senhores não arranjaram financiamento privado e recuperaram o edifício ao vosso gosto? Aquilo ali esteve a apodrecer anos e anos e ninguém disse nada porque o portuguesinho gosta de preservar a tradição, a história com maus cheiros e ratos, prostitutas e gatunos...

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