08/05/2008

Reacendem-se desentendimentos entre editores a duas semanas da Feira do Livro

In Público (8/5/2008)
Ana Henriques

«Outra Feira do Livro na Mouraria

Os desentendimentos entre os editores que participam na Feira do Livro de Lisboa reacenderam-se ontem, a escassas duas semanas da data marcada para o começo do evento.
O presidente da União de Editores Portugueses (UEP) chama mentirosos aos dirigentes da sua rival, a Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL), que por seu turno devolvem a acusação. Em causa está uma vez mais a participação na feira do grupo Leya, de Pais do Amaral, sócio da UEP.
Ontem ao final do dia, e já depois de o presidente da UEP ter declarado que tinha autorização da APEL, que organiza o evento, para a Leya participar na feira com pavilhões diferentes dos tradicionais stands, a Associação Portuguesa de Editores e Livreiros emitiu um comunicado declarando que o grupo editorial de Pais do Amaral não se inscreveu sequer no evento.
A Leya, que inclui editoras como a D. Quixote e a Caminho, representa os maiores escritores portugueses vivos, à excepção de Agustina Bessa Luís. Lobo Antunes e Saramago fazem parte do seu catálogo. Depois de prorrogado, o prazo de inscrições na feira terminou há uma semana. Segundo a APEL, mesmo sem a Leya estarão no evento 190 stands, "todos eles de modelo tradicional". Acontece que Leya e UEP dizem que a APEL mente quando afirma que o grupo de Pais do Amaral não se inscreveu. "Obviamente que estamos inscritos e a APEL confirmou-no-lo", afirma o porta-voz da Leya, José Menezes, pouco depois de a associação ter emitido o comunicado em que afirma precisamente o contrário. "É mentira, a Leya não se inscreveu. Prova disso é o facto de um responsável seu nos ter telefonado cinco minutos depois de termos emitido o comunicado pedindo o especial favor de reabrirmos as inscrições", declara por seu turno a direcção da APEL.
Câmara aceita stands
Seja como for, a Associação Portuguesa de Editores e Livreiros mostra-se disposta a reanalisar a questão. A seu favor, a Leya tem um ofício assinado anteontem pelo director municipal de cultura da Câmara de Lisboa, Rui Pereira, dizendo que os novos pavilhões que o grupo quer levar à feira "não colidem com o espírito" do evento, pelo que são autorizados pela autarquia. A câmara é a dona do local onde a feira se realiza, emprestando-o à APEL para este fim. Contactado pelo PÚBLICO, o responsável camarário recusou-se a prestar declarações sobre a polémica. "São pavilhões inspirados no formato normal da feira, com altura semelhante. O maior não tem dimensões superiores a dois dos tradicionais", explica o porta-voz da Leya. O presidente da UEP, Carlos Veiga Ferreira, dá mais alguns esclarecimentos: "São pavilhões abertos, nos quais as pessoas vão poder entrar, com caixas registadoras à entrada e à saída. Como numa livraria." Carlos Veiga Ferreira diz que ainda ignora se outros editores sócios da UEP vão também "aproveitar já este ano a hipótese de usarem pavilhões diferenciados". Mas a APEL, que tem defendido ser demasiado tarde para mudanças na imagem da feira, não confirma ter, de facto, autorizado stands alternativos.
No meio disto tudo, arquitectos da APEL, da Leya e técnicos da autarquia estiveram ontem de manhã no Parque Eduardo VII, onde os pavilhões tradicionais já estão a ser montados, para tentar encontrar o melhor sítio para instalar os stands de Pais do Amaral. José Menezes diz que esta é a prova de que a APEL aceitou, de facto, a sua participação. Depois de ter ameaçado não ir à Feira do Livro de Lisboa, se não fosse autorizada a usar pavilhões diferenciados, a Leya decidiu que não estaria presente na sua congénere do Porto, por o volume de negócios não o justificar.
Mas se a APEL autorizou, de facto, o novo modelo de stands na terça-feira, por que razão voltou ontem atrás? "Um grupo de editores da APEL terá feito pressão nesse sentido", diz o presidente da UEP, sem entrar em mais pormenores.
Realiza-se no popular bairro lisboeta da Mouraria, nos dias 23, 24 e 25 de Maio, a Feira do Livro Anarquista. Debates, wokshops, performances e jantares vegan (ultra-vegetarianos) fazem parte do programa das festas desta feita alternativa. O evento tem lugar no Grupo Desportivo da Mouraria, na Travessa da Nazaré. Os seu organizadores querem que esta feira do livro possa contribuir para o "fortalecimento de laços entre pessoas que partilham uma visão antiautoritária do mundo".»

Todos os anos é a mesma santa coisa. Parece-me que o essencial seria fazer da Feira do Livro uma verdadeira feira do livro.

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