Reajustamentos ao projecto de reconversão arrastam-se desde 2004, mas há receios de que parte do importante património arquitectónico possa ser destruído
«Aquele que foi em tempos o Hospital de Arroios, situado na central Praça do Chile, em Lisboa, encontra-se ao abandono. O cenário de degradação é visível nas janelas partidas e abertas, no metal corroído e nos bocados de parede que já saltaram. Pombos e toxicodependentes são os actuais ocupantes daquele edifício histórico. O espaço aguarda uma "recuperação parcial do antigo convento", prevendo-se ainda "um espaço de habitações, zonas comercial e verde, para uma praça que bem precisa", adiantou ao PÚBLICO Miguel Correia, arquitecto responsável pelo projecto. O arquitecto relatou que o projecto foi feito em 2004, tendo sido pedido um "reajustamento por parte da Câmara de Lisboa e do actual Igespar", que segundo Miguel Correia foi "elaborado na época". Passados quatro anos, ao que tudo indica o projecto estará actualmente em fase de "apreciação" pela autarquia. Contactado pelo PÚBLICO, o vereador José Sá Fernandes afirmou que "sempre esteve e continua a estar contra a demolição de elementos arquitectónicos" que considera serem "fundamentais no edifício". Parte do claustro e da capela do convento onde funcionou o antigo hospital são elementos que o vereador considera que "devem ser mantidos e nunca deverão ser demolidos".
Nos muros que ladeiam o edifício, com uma área total de 6402 metros quadrados que abrange a Praça do Chile, a Avenida Almirante Reis e a Rua Quirino da Fonseca, pode ver-se um misto da sujidade de pombos com graffiti que desagradam à vista de quem passa. Aos cartazes que se amontoam na parede já saiu a cor e as ervas crescem no interior. Nuno Matos é residente no local há 20 anos e, tal como muitos outros, afirma desconhecer qual será o futuro daquele espaço. "Há muitos anos que se fala que irá haver uma intervenção, mas ao certo nada sabemos", disse o morador, que expressou o desejo de "ver este espaço diferente, reaproveitado, mas mantendo toda a estrutura do convento e do hospital que já aqui estiveram". Marta Dias, comerciante na zona, acrescentou ainda que "a zona se está a deteriorar" com a presença dos toxicodependentes e sem-abrigo no local, razão pela qual a Praça do Chile "já não é um local seguro". Actualmente, a igreja existente no local está ao serviço da comunidade ucraniana do Rito Bizantino.
Confrontado com a situação, o presidente da Junta de Freguesia de São Jorge de Arroios, João Taveira (PSD), afirma que nunca nada foi comunicado à junta sobre o espaço. "É lamentável que não haja uma decisão e que este como muitos outros edifícios na freguesia estejam abandonados e a degradar-se", referiu.
O Convento de Arroios foi construído em 1705, com financiamento de D. Catarina de Bragança, e funcionou até 1755 como colégio de formação de jesuítas. Em 1756, o Marquês de Pombal expulsou os jesuítas e o edifício foi ocupado por freiras franciscanas. O Estado tomou conta do imóvel em 1890, passando o espaço a ser o Hospital de Arroios. No início de 2004, o espaço foi adquirido por uma imobiliária do grupo Fibeira, controlada pelo empresário Armando Martins, que apresentou na câmara um projecto de construção nova - para um "condomínio com habitação e comércio" -, reprovado por não salvaguardar os valores patrimoniais. Em Novembro de 2004 o projecto era aprovado e previa a construção de 150 apartamentos e 17 lojas, em nove blocos de seis a oito pisos, e só a igreja e os claustros se mantinham. Em Fevereiro de 2005, a demolição foi aprovada, mas em 2008 o futuro é incerto.»
Foto: Portal da Igreja do Convento de Arroios em 1948, fotografia de Eduardo Portugal
"Em Novembro de 2004 o projecto era aprovado e previa a construção [...] em nove blocos de seis a oito pisos"
ResponderEliminarMais que densidade de construção, aquela zona precisava de espaços verdes e zonas de estacionamento que substituíssem alguns dos lugares empilhados em volta da Praça do Chile, dando espaço para se alargarem os passeios. Melhorava-se a qualidade de vida e o comércio local de certeza que agradecia.
A densidade de construção prevista vai criar um stress muito grande na Praça do Chile e toda a zona envolvente. O que resta da cerca do convento deveria ser transformado num jardim público (a zona tem um défice grande de espaços verdes) e o edifício do antigo convento/hospital transformado em habitação. Construir 9 blocos com 6 a 8 pisos só vai benefeciar o novo dono do imóvel que já deu mais do que provas de não ser nada sensível às questões patrimoniais. É mais um erro urbanístico que vamos deixar às próximas gerações. Só em Portugal é que se pode aprovar a demolição de um imóvel de 1705 como quem aprova a demolição de u barracão ilegal...
ResponderEliminarComo é possível aprovar um imóvel com este valor?
ResponderEliminarNos estados unidos conservam-se edifícios com menos de 100 anos como se fosse o último tesouro da humanidade.
Como é possível dizerem que vão preservar o imóvel se se prevê um sem número de blocos de ediícios naquele espaço acanhado?
Como é possível que um investiudor entenda que o imobiliário novo valorize com a destruição de edíficios com história, se está mais que provado que o aproveitamento de edifícios com história é que dá chachet e permite um lucro bastante maior e uma venda garantida?
...É POSSÍVEL EM LISBOA, CAPITAL DE UM PAÍS QUE DÁ PELO NOME DE PORTUGAL!
ResponderEliminarMeus Senhores
ResponderEliminarFoi o estado que vendeu o edificio
Foi a Arq. Margarida Saavedra que licenciou a demolição
Vamos ser honestos
Mas, caro anónimo, o post é o mais honesto possível:
ResponderEliminar"Em Novembro de 2004 o projecto era aprovado e previa a construção de 150 apartamentos...", "Em Fevereiro de 2005, a demolição era aprovada...".
Ver www.cm-lisboa.pt/?id_item=17171&id_categoria=11 para saber a situação oficial do projecto pela voz da CML
ResponderEliminarÉ só destruir o que é bom e com valor. Alguém já reparou na porcaria que se anda a construir? Algum dia estes prédios aprovados pelos técnicos da Câmara (como é possível!) e construidos (mal construidos!) por analfabetos construtores serão consideradas património?!? Estão a erguer uma cidade vazia e deprimente!
ResponderEliminarMais uma desvalorização de Lisboa a agradecer à Câmara Municipal de Lisboa. E património deste não se faz nem fará nunca mais. Uma vez desaparecido, nunca voltará a existir durante toda a eternidade.
ResponderEliminarAo contrário dos edifícios projetados por arquitetos prima-donas que por aí se fazem, que podem ser replicados milhentas vezes.