Estudo de engenheiro civil especialista em Vias de Comunicação e Transportes conclui que os custos são mínimos e imensas as vantagens
A Pode parecer que não, mas Lisboa é uma cidade ciclável para a maioria da população que nela vive, estuda e trabalha, bem como para os dois milhões de turistas que a visitam anualmente. Após 100 dias de bicicleta e 1200 quilómetros percorridos, esta é a conclusão de Paulo Santos, engenheiro civil especializado em Vias de Comunicação e Transportes, que a 1 de Janeiro deste ano iniciou o projecto na capital, no âmbito de uma tese de mestrado.
De Belém ao aeroporto "desfaz-se o mito" de que a bicicleta não serve para meio de transporte. "Mais de metade de toda a área urbana da cidade é praticamente plana e mesmo no Verão, de manhã, pode circular-
-se com temperaturas na ordem dos 20-22 graus. Do centro histórico ao limite da cidade as distâncias são inferiores a dez quilómetros, a distância considerada de conforto, para a utilização da bicicleta como meio de deslocação", analisa o autor do trabalho académico.
As sete colinas que dão nome à cidade não são problema, mas "apenas uma parte de toda a área urbana da cidade, que no último século cresceu urbanisticamente para além da zona histórica, tendo-se expandido até aos limites do concelho", explica Paulo Santos. No seu entender, estão reunidas as condições para o uso recorrente da bicicleta "em termos de orografia, clima e dimensão da cidade".
Pequeno investimento
Moram cerca de 700 mil pessoas em Lisboa, e que 70 por cento dos fluxos bidireccionais (casa-trabalho-casa) de pessoas se faz na "âncora" da cidade, composta por toda a frente ribeirinha e pelo eixo que vai da Baixa ao Campo Grande. "Com 300 euros compramos uma boa bicicleta de cidade" e, por exemplo, em plano, "qualquer pessoa, mesmo sem forma física de atleta, faz 15 a 20 km/h, sem esforço".
O investigador descreve a sua experiência pessoal: "A subir a Av. da Liberdade faço 10 km/h, mas a descer faço 40-50 km/h, compensando o tempo gasto na subida", relembrando que, nos centros urbanos, a média de circulação de um automóvel é inferior a 20 km/h. "Demorei 30 minutos de Santos ao Saldanha. Da cota dos 5m à cota dos 80m percorri cerca de 5 km. A subir, é verdade. Mas no regresso será sempre a descer". De carro, devido ao trânsito, aos ciclos dos semáforos e ao tempo perdido à procura de estacionamento, Paulo Santos diz que demora praticamente o mesmo.
Vantagens e desvantagens
Saúde física, mental e económica é a vantagen deste exercício diário que "faz descer vertiginosamente" os níveis de stress, ansiedade e irritação. A experiência valeu ainda a Paulo Santos seis quilos perdidos e a poupança de 300 euros em gastos com o automóvel e transportes públicos. Para a sociedade, "reduz o tráfego automóvel e a área ocupada pelos veículos é devolvida aos cidadãos" que vêem as relações sociais promovidas assim como a relação com a cidade, explica. "Para o ambiente, zero emissões de carbono, zero ruído", acrescenta ainda. Esta não é, porém, a solução para os problemas de mobilidade e poluição nas cidades "que envolve muito mais do que bicicletas", destaca.
Como desvantagens enumera "questões relacionadas com a segurança do ciclista e da bicicleta" pelo facto de "não existirem corredores próprios para ciclistas ou estacionamentos". Porém, o investigador ressalva que, após 1200 quilómetros misturado com o tráfego automóvel da cidade, "não houve qualquer situação de acidente ou incidente a relatar". Conclusões com que se congratula José Caetano, presidente da Federação Portuguesa de Cicloturismo e Utilizadores de Bicicleta, afirmando que "são conclusões que a federação vem reafirmando desde há 15 anos, uma realidade que já está construída, mas agora reafirmada por um engenheiro, o que aumenta a sua validade".
Criação de corredores
"Lisboa tem características únicas e excepcionais" para a criação de corredores de circulação em termos de "património arquitectónico, bairros históricos e frente ribeirinha". O investigador explica que "a criação de corredores para bicicletas nas principais ruas e avenidas, na maioria dos casos se resolve com uma pintura no pavimento com 1,5 metros de largura e alguns sinais verticais, medidas complementadas com ligeiras modificações no Código da Estrada". O engenheiro defende em alguns casos a partilha dos corredores com as faixas Bus, "há semelhança do que se faz noutras cidades europeias".
Facilmente se poderia criar um eixo desde a Baixa até ao Campo Grande, sem implicar grandes obras, considera. Na Fontes Pereira de Melo "basta roubar 35 centímetros a cada uma das vias para ganhar espaço suficiente para a ciclovia", remata.
"É cada vez mais fácil ver uma bicicleta amarrada a um qualquer poste ou árvore da cidade. E passam por mim, todos os dias, vários ciclistas", revela Paulo Santos, que acredita no crescimento desta tendência desde Março. As causas apontadas pelo engenheiro para o acréscimo passam pela coincidência com um período de aumento do preço dos combustíveis, de melhoria do clima com a chegada da Primavera, e ainda o facto de metade da população portuguesa ter atingido excesso de peso, a par da comunicação social que começou a promover a utilização deste veículo". Para o investigador são as mulheres a dar o exemplo, pois "cada vez mais adoptam a bicicleta".
Em Julho, a Câmara de Lisboa aprovou um estudo para a criação de um sistema de bicicletas de uso partilhado (ver outro texto), com cerca de 2500 veículos distribuídos por 250 postos na cidade, sistema que será muito semelhante aos que existem em Paris ou Barcelona.
Para o investigador, "os negócios directa e indirectamente relacionados com bicicletas são um dos mais lucrativos e em maior crescimento em diversos países".
Paulo Santos elaborou o estudo após 1200 km a pedalar por Lisboa, sem registar qualquer acidente
In publico
"As causas apontadas pelo engenheiro para o acréscimo passam pela coincidência com um período de aumento do preço dos combustíveis, de melhoria do clima com a chegada da Primavera, e ainda o facto de metade da população portuguesa ter atingido excesso de peso, a par da comunicação social que começou a promover a utilização deste veículo"
ResponderEliminarPelo que entendo, pessoas que atingam o excesso de peso tem mais tendencia para andar de bicicleta?
E a comunicacao social, nao é a mesma que depende sériamente da publicidade automóvel?? Diria que sao suicidas...
(Desculpem a falta de acentos, mas escrevo directamente da cidade europeia com maior taxa de utilizaçao de bicicletas... alguém adivinha?)
Naquela que é - talvez - a cidade da Europa com a populaçao mais idosa parece-me pouco coerente acreditar que todas as avózinhas vão passar a ser ciclistas. O engenheiro preocupa-se muito com o território e nada com as pessoas. Onde está a dimensão sociológica do estudo? Sem isso, não serve para nada! Ou é outro engenheiro social, que quer criar uma sociedade à sua imagem?
ResponderEliminarLá vêm os do contra...
ResponderEliminarOs do contra não - os IMBECIS mesmo...
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