Milhares de pessoas continuam a divertir-se sob os paralelos escuros do "bairro". As garrafas de cerveja são vendidas de mão-em-mão e o negócio da droga não fechou às 02.00, como denunciam o cheiro e os movimentos menos indiscretos.
"O António Costa mandou fechar isto mas o cheiro a ganza anda no ar", grita indignado João Taveira, 25 anos, perante o olhar da polícia. O relógio avança e á medida que mais bares encerram, mais pessoas contestam o novo horário. Revoltado António Gonçalves Pereira, 43 anos, "cliente do Bairro desde sempre" enfrenta os seis homens de colete florescente que fecham um bar à força. "Isto devia ser resolvido à bofetada, de democracia já só temos o nome, o vosso patrão é um mentiroso", afirma António enquanto cresce na direcção dos polícias municipais.
Tanto clientes como proprietários parecem ter escolhido um alvo para as críticas: António Costa, presidente da Câmara Municipal de Lisboa (CML). Susana Pereira, 28 anos, chegou ao Bairro na hora em que os bares estavam a fechar. "Vim mostrar a zona a uns amigos espanhóis e agora tenho que ir a outro lado", lamenta. Enquanto Susana confessa que "se os bares fecharem a esta hora não voltamos a sair para o Bairro", um dos membros do grupo faz mesmo um gesto obsceno "dedicado ao presidente da Câmara".
À medida que a madrugada avança os bares começam a esvaziar. Os proprietários estão cada vez mais revoltados. O dono do restaurante Alfaia não é abrangido pela nova lei, mas defende a causa dos comerciantes. Pedro Jorge diz que "o Bairro é único na Europa e corre agora o risco de deixar de ser". Para este, a medida pode mudar a ideia que os turistas têm da cultura portuguesa . "Conhecer a cultura não é só ir ver o Cristo Rei e a Torre de Belém", adverte.
Duas ruas a baixo, António Baieta, proprietário do bar Jhurgen's é um dos atingidos pelo novo horário. "Foi à cão". É assim que António classifica a acção da CML. Tal como o resto dos proprietários, o comerciante tem "medo que o 'Bairro' acabe como Alfama ou a Sé, no Porto, que hoje são zonas desertas". "Vai-me entristecer se este Bairro morrer e a culpa é do António Costa", acusa.
Nas conversas privadas entre proprietários já se fala numa solução: "a táctica do SMS". Ou seja, as portas dos bares estão fechadas, mas as pessoas avisam que estão a chegar por SMS e a porta é aberta do lado de dentro, longe dos olhares da polícia.
São três da manhã. Depois de vários lamentos, avisos da polícia e algumas escaramuças, o Bairro está quase vazio. Uns seguiram em romaria "para a Bica" ou "para a Lux", outros correram para apanhar o Night bus para o conforto do lar. Hoje o Bairro "fechou" mais cedo e partir de agora vai ser assim.
In DN
Que tristeza. Em vez de se tentar resolver o que está mal, deita-se fora o bebé com a água do banho.
ResponderEliminarÉ evidente que o espaço público em Portugal está em crise. Os mesmos que criticam que o português quando sai do emprego se enfia em casa a ver televisão, parecem não ver que o português se enfia em casa, porque é castrado quando lá não se enfia.
Quando um espaço público ganha vida, há uns senhores puritanos que se incomodam que a vida que por lá se cria não se enquadra nos padrões pequeno-burgueses que para lá imaginaram. E depois nem é coerente. No bairro alto não, mas na bica já sim? Será que não se percebe que fazem parte de um mesmo sistema, se morre um, morre o outro também? É que a Expo é o exemplo útlimo de que zonas de divertimento isoladas... morrem.
O que os moradores precisam é de isolamentos melhores, vidros triplos, paredes insonorizadas, janelas que abram também para os saguões, para que possam receber ventilação sem ter de abrir para a rua. Não que se lhes mate o bairro.
É que a medida é tão sem ponta por onde se lhe pegue! Não toma em consideração que é parte integrante da cultura portuguesa o "sair" à noite tarde. A noite em Portugal começa depois da meia noite. Não somos um Reino Unido, onde as pessoas vão para o bar às 6 da tarde. De onde raio é que se resolveu desencantar esta lei idiota e perfeitamente desenquadrada?
a cml faz o mais fácil
ResponderEliminarem vez de limitar os licenciamentos e controlar que os bares fecham mesmo ás 4h, recuperar o património e dar condições de vida nas habitações aos habitantes fecha tudo ás 2h...
Há estabelecimentos em que o horário das 1h ás 4h representam mais de 50% da facturação...
qd começarem as falências e os despedimentos, o bairro ficar entregue ao vazio e á delinquência, já não ha nada a fazer...
e depois choram sobre o leite derramado
completamente de acordo com os comentários anteriores
ResponderEliminarGraças a Deus que acabou o pandemónio. Deviam era fechar à meia noite, que as pessoas que moram no bairro alto têm direito ao descanso. Primeiro estão as pessoas, só depois o divertimento dos outros. Criem um novo bairro alto fora das zona residenciais e deixem as pessoas dormir. Há gente que trabalha todos os dias sabem? Não dá para estar a ouvir berraria até às tantas de meninos mimados que não sabem o que fazer ao dinheiro.
ResponderEliminarBoa tarde.
"Primeiro estão as pessoas, só depois o divertimento dos outros."
ResponderEliminarOutros... suponho que estamos de acordo que "outros" aí se refere à mesma a pessoas. Portanto estamos de acordo: primeiro as pessoas. :-)
Ninguém quer esses sítios novos. Ficariam longe do centro da cidade, logo com mais problemas de acesso a todos os níveis. Seriam edifícios novos, logo sem a mística do Bairro Alto. Seriam certamente sítios caros e fashion e in, precisamente os que não queremos frequentar.
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