06/11/2008

Luz verde a almoços em casas de fado

Os almoços não são o principal negócio das casas de fado do Bairro Alto, em Lisboa, mas os proprietários estavam preocupadas com a recente proibição de funcionar a meio do dia. A Câmara de Lisboa voltou agora atrás.

"Creio que houve uma certa precipitação por parte da autarquia ao legislar daquela forma. Deviam primeiro ter ouvido as pessoas", comentou, ao JN, António Ramos, 53 anos, proprietário da casa de fados "O Faia", um espaço criado há cerca de 50 anos por Lucília do Carmo, mãe de Carlos do Carmo, que também chegou a gerir aquele espaço.
António Ramos referia-se à "marcha-atrás" efectuada pela Câmara de Lisboa em relação aos novos horários impostos a restaurantes, bares e discotecas daquela zona. No mês passado, recorde-se, a autarquia liderada por António Costa (PS) anunciou que clubes, boîtes, dancings e casas de fado apenas poderiam funcionar a partir das 17 horas, com fecho às 2 horas nos dias de semana, e 4 horas às sextas-feiras, sábados e vésperas de feriado. Tudo para acabar com a balbúrdia no bairro.

À parte da polémica que tal medida levantou entre os frequentadores do Bairro, já retratada nas páginas do JN, sobrou o facto de que, automaticamente, tal impedia as casas de fado de funcionar à hora de almoço, quando todas elas (A Severa; Luso; O Forcado; Faia e Adega do Machado) funcionam também como restaurante. Ontem, a Câmara de Lisboa recuou na imposição às casa de fado, abrindo uma excepção que as permite funcionar equiparadas aos restaurantes, ou seja, das 9 horas até às 2 horas.

Numa ronda que o JN efectuou ontem pelo Bairro Alto, a seguir ao almoço, a constatação é a de que o prejuízo directo causado pela legislação, que agora foi rectificada para as casa de fado, nem seria assim tão grande. Tudo porque é à hora do jantar que os turistas preenchem estas casas para ouvir o fado enquanto tomam a refeição.

Mas, lembra António Ramos, do Faia, "com a crise que anda por aí, eu até posso querer, de hoje para amanhã, começar a servir almoços em força, tentando captar outro tipo de clientela e assim não ter que despedir pessoas que já trabalham aqui há décadas".

Rita Machado, uma das proprietárias da Adega do Machado - casa fundada há 71 anos pelo pai e por onde já passaram dezenas de figuras públicas mundiais, como Kirk Douglas ou o Rei Humberto de Itália -, é taxativa: "Deus me livre, se ao final destes anos todos iria começar a servir almoços clandestinos no restaurante". Isto porque, descreveu Rita Machado, "os almoços não são o forte, mas temos grupos marcados com alguma frequência".

Na ronda que o JN efectuou, imediatamente surgiram situações que levantam dúvida. Por exemplo, na Adega do Mesquita, uma das primeiras casas onde entrámos, logo nos foi dito que aquela não é uma casa de fado, embora quem lá passe à noite ouça o fado a ser cantado a plenos pulmões.

O presidente da Associação dos Comerciantes do Bairro Alto, Belino Costa, tirou a dúvida: "Segundo o 3º Artigo, ponto 4, do despacho municipal 151-P/08, que regulamenta os novos horários, é necessário, para efeitos de equiparação, fazer um requerimento à Junta de Freguesia, para posterior despacho municipal".

A confusão não surge só em relação às casa de fado. A Ginginha das Gáveas abria às 9 horas e fechava às 3 horas. Agora, é equiparada a um bar, apenas podendo funcionar entre as 17 e as 2 horas. O que distingue aquele espaço de um café normal? "Sinceramente, não sei responder , mas preciso daquilo para sobreviver", descreveu Jaime Santos, o proprietário.

In JN

2 comentários:

  1. que grande salgalhada que a Câmara criou.

    uma coisa é o barulho após as 2 da manha.

    mas qual é o problema destes estabelecimentos funcionarem a partir das 9 da manha ???

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  2. será que vão ser tão céleres a mudar a lei para que os tascos e cafés possam abrir mais cedo ou será que esses não importam porque não são "turismo de qualidade" ?

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