In Lusa
«A Câmara de Lisboa aprovou hoje o projecto de arquitectura que vai transformar o quarteirão da pastelaria Suiça, na Rossio, num hotel de cinco estrelas.
O presidente da Câmara, António Costa (PS), considerou que o projecto irá dar um "grande contributo à reabilitação e revitalização da zona central da cidade". O quarteirão encontrava-se "há muito abandonado", sobretudo ao nível dos pisos superiores, referiu.
O projecto foi sujeito a parecer do Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico (IGESPAR), acrescentou o vereador do Urbanismo, Manuel Salgado.
O movimento Cidadãos por Lisboa votou contra o projecto, porque prevê o acesso a estacionamento pelo Rossio e pela Praça da Figueira, bem como locais para tomada a largada de passageiros, em ambos os locais, justicou a vereadora Helena Roseta. Helena Roseta criticou ainda que a transformação do quarteirão em hotel não leve em conta a preservação da antiga "manteigaria União", uma "jóia" de valor patrimonial.
O vereador comunista Ruben de Carvalho destacou a degradação em que os edifícios se encontram, considerando que a criação de um hotel assegura movimento na zona e mantém algum do comércio existente.
Como o hotel terá duas frentes - uma para Rossio e outra para a Praça da Figueira - Ruben de Carvalho questionou apenas a inexistência de uma "saída de serviço" da unidade hoteleira.»
Fotos: FJ
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Há que dizê-lo: este projecto melhorou bastante em relação ao projecto anterior. Mas ainda mantém algumas coisas más, sendo que para mim as piores são mesmo o que farão em relação às mansardas de Mardel (removê-las por soluções 'contemporâneas'? recuperá-las com a mesmíssima traça e com telha igual?) e com a fachada, mobiliário e pinturas da antiga Manteigaria Martins & Rebelo, na Rua do Amparo.
O que é hoje uma papelaria foi até há 30 anos uma das antigas manteigarias mais bonitas da Lisboa. Em qualquer cidade gerida por pessoas com bom gosto, e com empresários hoteleiros e restauração com bom gosto, o que resta da manteigaria (não só a belíssima fachada que dá para a Rua do Amparo e para a Praça da Figueira, mas sobretudo os interiores, feitos de mobiliário de época em estado perfeito e tectos pintados) seria preservada e incorporada como mais-valia, que de facto é, para o futuro hotel, ou como sala de época no âmbito da ampliação que se prevê da Pastelaria Suíça (cujo recente 'new look' alterou radicalmente a sua imagem interior, mas que teima em levar uns preços tão altos que só mesmo turistas incautos é que os suportam, face à qualidade do serviço, mas enfim, isso são outras histórias).
Mas não. A CML não só ignora o valor desta antiga manteigaria, nem sequer a incluindo no Inventário Municipal (porquê?), como apenas aconselha o promotor a manter o mobiliário e a decoração em vez de EXIGIR. Mais, adianta mesmo que se for desmantelada, porderá ir para o Museu da Cidade (está na moda, agora, esse procedimento).
Está pois na mão do promotor, o futuro deste património. Mais uma vez, tal como com o último dos correeiros e muitas outras lojas históricas, a CML é cega e permissiva.
Em qualquer cidade italiana ou francesa, é comum ver-se espaços como este adaptados a salões de chá, chocolaterias, etc., que fazem parte de um roteiro de verdadeiro 'charme'. Em Lisboa, escasseiam. E não acredito que este promotor saiba o que tem em mãos. Se a CML abdica do seu papel, e se o IGESPAR, objectivamente, já era, que nos restará fazer?
é uma pena
ResponderEliminarvejam o hotel do bairro alto que preservou e recuperou uma das mais antigas e bonitas farmácia de lisboa
e o hotel la se fez na mesma.
Prossegue a barbárie em Lisboa deste executivo de extrema-direita, perante a ignorância e a passividade quase geral.
ResponderEliminarCertamente que o telhado/cobertura pombalino, dos mais visíveis e emblemáticos, irá ser descaracterizado ou abastardado.
Mais importante que a Leitaria são os vestígios ainda existentes na(s) cave (s) da grande escadaria do Hospital Real de Todos-os-Santos (1492-1501), onde se deveria criar um espaço evocativo do que foi um dos maiores, mais avançados e influentes Hospitais da Europa.
Como se pode condescender com a destruição deste emblemático edifício pombalino, sim, destruição, porque da arquitectura pombalina ficarão só as fachadas, certamente com janelas de alumínio.
ResponderEliminarCom aprovação do IGESPAR ?
Uma destruição aprovada por quem a devia impedir !
Não se podia fazer casas? Para morar. Com uma campanha certa nas Iholas e nas Caras Notícias, com gente chique e cheia de charme ditando o bom gosto que é morar no Rossio, mostrando casos que é como se faz lá fora em Nova Iorque ou em Paris.
ResponderEliminarCom tanta iniciativa não há marketeiro municipal que pense nisto? Fazer da baixa uma luxuosa Vilamoura onze meses por ano, com fauna do melhor. Isso é que seria. Agora turistas contentorizados... Isso não é nada.
Vá! Coragem.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarO curioso é que os arquitectos e pensantes da cidade devem conhecer o MEAT PACKING DISTRICT em NY ....
ResponderEliminarE o esforço da sociedade civil na área da conservação para não darem cabo daquilo.
Por cá deita-se tudo abaixo, fazem-se parques de estacionamento descaracteriza-se a cidade.
Rica cidade que deixam aos filhos e netos, sim senhores.
Concordo em pleno com a requalificação em hotel mas com a manutençao da belissima manteigaria que é de facto uma preciosidade.
ResponderEliminarNão resisti a usar as fotografias para fazer um post no meu Blog.É um escândalo!http://arteeoficios.blogspot.com/
ResponderEliminarCaro Paulo,
ResponderEliminarAo ler esta entrada no seu blogue e passados estes anos, como ficou a questão da Manteigaria União?
Cumprimentos,
Alexandre Rodrigues
Ficou em nada, caro Alexandre, em nada. Aguarda-se o começo do projecto para ver se o antigo espaço da manteigaria é aproveitado ou destruído...
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