In Público (14/4/2009)
Ana Henriques
«Vereador José Sá Fernandes quer plantar campo de girassóis em Campolide
Iniciativa semelhante tem lugar em Oeiras desde 2007, com grande agrado por parte dos habitantes. Em Lisboa, o terreno pode florir já em Julho
O vereador dos Espaços Públicos e dos Espaços Verdes de Lisboa, José Sá Fernandes, está a preparar a plantação de dois hectares de girassóis em Campolide, num terreno abandonado da autarquia conhecido como Quinta José Pinto.
O autarca não quis esclarecer por enquanto em que moldes levará a cabo esta operação, que de resto não é inédita: em 2007 e 2008, a Câmara Municipal de Oeiras também aproveitou o descampado onde vai nascer a segunda fase do Parque dos Poetas para fazer o mesmo. O efeito colorido agradou aos munícipes de Isaltino Morais, até porque se tratava de um terreno rodeado de prédios.
Sá Fernandes apenas adianta que, para haver girassóis em Julho, a sementeira terá de ser feita nesta altura. E que a iniciativa camarária será concretizada em colaboração com uma associação que disponibilizará mão-de-obra. Entretanto, o terreno - que se situa no troço da Rua de Campolide mais próximo das Twin Towers e pertence à Empresa Pública de Urbanização de Lisboa - já está a ser limpo, adiantou o autarca. "Também mandei retirar de lá os cartazes publicitários que ali havia, fruto de um acordo das empresas com a EPUL." E irá o campo de girassóis de Campolide ter alguma contrapartida publicitária, como tem acontecido com outras iniciativas de Sá Fernandes? O vereador volta a remeter as respostas para mais tarde. E acaba por dizer que podem até nem ser girassóis - "tem é de se semear alguma coisa ali". Ao lado passa uma das novas ciclovias da cidade.
Na Quinta José Pinto está há muito para nascer uma urbanização. Mas apesar de os 200 fogos para ali previstos nunca terem visto a luz do dia, a Câmara de Lisboa entregou 9,9 milhões ao Sporting por conta da sua construção e comercialização.
Trata-se de uma zona degradada que aguarda há dois anos decisão do Governo para se tornar área crítica de recuperação e reconversão urbanística, para a qual está em curso a elaboração de um plano de pormenor.
Em Oeiras, o campo de girassóis - que este ano surgirá outra vez - foi elevado pela câmara local à categoria de obra de land art.
"A sementeira de girassóis possibilita a ideia de explosão, de cor, movimento, vida... arte", refere uma brochura da autarquia, que explica o conceito que tem presidido à transformação anual do terreno. "O recurso a uma iluminação rasante (...) potencia a expressão que a intervenção pode transmitir mesmo durante o período da noite." O sucesso do campo de girassóis foi tal que há já mesmo quem pergunte se não será possível manter as flores quando aqui nascer a segunda fase do Parque dos Poetas.
E nem só de beleza vive a iniciativa. Em 2007, a Câmara de Oeiras apanhou a semente e entregou-a a uma fábrica de biocombustível. Em 2008, os propósitos ambientais saíram gorados: os pássaros adiantaram-se e comeram as sementes. »
Uma boa iniciativa. E apropriada.
totalmente de acordo, este é o Zé que faz falta, apesar da coisa poder parecer insignificante.(perdoe-me mas não resisto, será que vai ter lá publicidade a um qualquer óleo alimentar??)
ResponderEliminarÉ pago por uma empresa de transgénicos. O próprio é um transgénico incapotado.
ResponderEliminar"INCAPOTADO" é o quê? Linguagem dum português transgénico?
ResponderEliminarQue embirrem com o Sá Fernandes, tudo bem - mesmo que antes o considerassem um anjo. Também não se pode dizer que surpreenda por aí além, já que é habitual o português limitar o seu sentido crítico (que é um elemento positivo) à embirração pessoal.
ResponderEliminarDe facto, por vezes apetece dizer que o melhor é ser simplesmente crítico e nunca aceitar responsabilidades (que normalmente implicam compromissos, especialmente em democracia) e deixar a arena política entregue aos interesseiros e malabaristas profissionais que não se importam com a chicota pública.
Mas enfim, o que me traz aqui não é a defesa da honra de quem quer que seja. Gostaria apenas de perguntar se, de vez em quando, não seria também interessante tentar discutir os assuntos concretos, de forma igualmente apaixonada, mas "descolando" (temporariamente) das figuras que dão a cara pela proposta A ou B?
Será assim tão difícil dar algum mérito a certas medidas de um Santana Lopes (como o fecho de certos bairros históricos ao trânsito), apesar de não se simpatizar com a personagem? E será assim tão complicado admitir que o cenário de anarquia no que diz respeito à colocação de cartazes eleitorais é inadmissível num país civilizado - isto apesar de a pessoa que veio trazer o assunto à baila ter telhados de vidro?
Será que poderemos algum dia discutir os assuntos como cidadãos adultos e não como simples adolescentes membros de "claques" (mais ou menos organizadas)?
Não se trata de censurar embirrações pessoais. É só uma questão de deixar algum espaço (dentro de cada um) para a análise mais objectiva, liberta de porta-estandartes, de heróis e anti-heróis.
Isto não impede que se passe do concreto ao geral e se faça uma apreciação do conjunto da "obra" de cada um. Mas parece-me que a forma como se discutem a maior parte destes assuntos acaba por ser pouco construtiva e, em vez de aprofundar as questões, acaba por ficar ao nível da conversa com estranhos no autocarro. É pena que assim seja e creio que é um claro sintoma de menoridade e subdesenvolvimento democrático.
Mas cada um sabe de si e isto é apenas um desabafo de uma pessoa apaixonada por estas questões de urbanismo que por vezes tem a impressão que as nossas embirrações pessoais afectam o nosso discernimento e impossibilitam certos avanços em áreas que mereceriam quase um consenso.
Quero no fundo dizer que esta questão dos cartazes vai provavelmente morrer e iremos continuar a levar com cartazes colocados de forma caótica nos mais nobres das nossas cidades, tudo isto porque a pessoa que evocou a questão (e que tem projecção pública para colocar o assunto na agenda) não é virgem neste campo. E pronto, mais um contributo para o cinismo e a má língua reinantes.
A/C: anónimo das 'embirrações pessoais'
ResponderEliminarNão é 'provavelmente'. É de certeza. Os cartazes vão continuar a poluir esta cidade. A hipocrisia vai continuar. Pior, vão continuar a achar que é por haver cartazes que alguém vota em A, B ou C.
"Claro sintoma de menoridade e subdesenvolvimento democrático"?
O Zé é que é a tal flor virada para onde o sol brilha...
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