In Público (28/6/2009)
Inês Boaventura
«A apresentação ontem promovida pela Frente Tejo reuniu mais de cem pessoas. António Costa admite que a versão alterada "está melhor" do que a inicial
Vários dos intervenientes na apresentação pública do projecto para o Terreiro do Paço promovida ontem pela sociedade Frente Tejo apelaram à obtenção de uma solução de compromisso, por ser impossível chegar a um desenho que a todos agrade, e ao arranque de um outro debate: o do uso futuro dos edifícios da praça, dos quais os cidadãos estão actualmente "espoliados".
A palavra foi usada pelo historiador Rui Tavares, que afirmou ser "a altura certa" para se iniciar este debate, que confessou ser aquele que lhe "mete mais medo". Para promover a "recuperação cidadã desta praça", este interveniente sugeriu a instalação do Museu da Língua Portuguesa, projectado para Belém.
Também um morador na zona do Terreiro do Paço pediu que esta seja "entregue aos cidadãos", através da atribuição de um novo uso ao "enxame de ministérios" ou pelo menos aos seus pisos térreos. Já um "candidato a utente da praça" frisou que se os edifícios não forem abertos ao público o projecto de requalificação que tanta celeuma tem suscitado "não vale a pena", acrescentando que aquilo que mais quer para o futuro do espaço "é não ter quinquilharia e ir ter com o rio, que é nosso".
Mas na apresentação pública pela qual passaram mais de cem pessoas houve também quem se detivesse ainda no desenho do arquitecto Bruno Soares para o Terreiro do Paço, fosse para se congratular com as alterações introduzidas desde o estudo prévio ou para manifestar o seu desagrado. Um dos mais ferozes críticos foi o historiador de arquitectura António Sérgio Rosa de Carvalho, que acusou o projecto de ter "muitos gatafunhos": "É pegar numa peça perfeita e embrulhá-la em papel da McDonald's", disse, quase exaltado.
Na apresentação prévia, Bruno Soares voltou a justificar a manutenção dos losangos no chão da placa central, que tantas críticas tem gerado, acrescentando um novo argumento à intenção de "mostrar que a praça é de facto grande". Agora, o arquitecto explica também que a introdução de uma gravilha aglomerada para manter "a memória do terreiro" obriga a um "sistema construtivo de sustentação" desse material, que é conseguido através da "malha das diagonais". Tanto Rosa de Carvalho como Rui Tavares refutaram a importância da "memória do terreiro".
"Isto é uma praça do século XVIII, não é um terreiro do século XVI", afirmou Rui Tavares, criticando as linhas das cartas de marear projectadas para os passeios junto às arcadas e os losangos da placa central, para a qual defendeu que a haver alguma marcação ela deveria ser radial, numa referência ao período iluminista e ao Rei Sol. Já o presidente da Câmara de Lisboa admitiu que o projecto revisto "está melhor do que estava antes", garantindo que enquanto autarca só invocará o argumento da estética para travar o avanço de um projecto se ele for "horrível". »
E porque não a instalação do Museu da Cidade na Praça do Comércio? Lisboa deve ser, talvez, a única capital da Europa que não tem o seu museu no centro da cidade.
ResponderEliminarIsto é o que se chama marketing?
ResponderEliminarEstive a pensar não ir pois marcar uma reunião desta a um sábado da parte da tarde e num prazo extraordinariamente curto.
Acabei por ir, fazer parte da propaganda de AC, logo de inicio fiquei incomudado pois ao que consta nínguem pode ter o seu automovel no Terreiro do Paço, mas a CML deu o exemplo e lá estava a fourgonette da CML bem estacionada à porta-ninguém dá o exemplo!
Estavam cerca de 150 pessoas.
De facto existem alterações ao projecto os desenhos estão mais esbatidos, foram feitos algumas alterações, que Bruno Soares frisou e sublinhou ao ESTUDO PRÉVIO.
Estudo Prévio?
Então podemos concluir que estão a construir com um estudo prévio? O que não é nada recomendável.
A outra questão, é muito simples todos os arquitectos sabem que os ajustamentos, e alterações são outro projecto, ora neste caso cada vez que se faz uma alteração aprece sempre uma nova justificação, ora não há paciência.
Mas há de facto algo de profundamente errado em todo o processo.
-Não houve concurso
-A população não foi ouvida
-A intervenção é saudosista
-De gosto duvidoso, piroso
-O Terreiro do Paço/Praça do Comercio é de facto a "sala de estar", de Lisboa e do País
-Uma visão muito mesquinha, reprodução da placa central do estado novo
-Nos desenhos apresentados faltava sempre o alçado sul (todos os alçados são estáticos excepto o sul que é dinâmico o RIO e a margem Sul)
Enfim um desastre pegado, uma assustadora falta de visão de Antonio Costa, que infelizmente está extraordinariamente mal apoiado, pois infelizmente a vaidade e protagonismo de Manuel Salgado tem vindo a prejudicá-lo.
Fazer alterações ao trânsito, sem provocar atracção na Baixa (e zona envolvente) é matar esta zona histórica da cidade. Resulta em conflitos graves em zonas de grande sensibilidade.
Todo este processo é prejudicial para a cidade e reveste-se de um eleitoralismo que irá sair muito caro a António Costa.
Uma coisa que me parece de arrepiar é a afirmação do Costa de que irá lá haver equipamentos de pôr e tirar, isto é, a praça, volta e meia, estar em trabalhos, com dezenas de trabalhadores, fazendo dela gato-sapato.
ResponderEliminarLembro-me perfeitamente das aberrações que já lá foram instaladas, a propósito dos mais diversos pretextos.
Também entendo que a atracção das pessoas se fará através do que possa existir nas portas das arcadas, e jamais de equipamentos amovíveis de cores garridas e com muitos anúncios escarrapachados.
Bolas Sr. arquitecto...diga lá umas palavrinhas sobre os degraus !
ResponderEliminarHummm ....gravilha na praça para manter a "memória do terreiro" !?
....mas não foi o Sr. arquitecto que disse que não havia nada para restaurar? Já me trocou as tintas todas....
Sr. Presidente António Costa:
ResponderEliminarAquilo não é só "horrivel"!
È inculto, desenquadrado, desactual, feio, não vai funcionar, não respeita o património que lá está, não vai ser para a população, vai ser apenas para utilização pontual de alguns em actos esporádicos...
E devia ser perfeitamente o oposto!
Precisa de um dado mais importante para perceber quanto aquilo é errado?
Vai ter a resposta quando perder as eleições!... ai, ai, ai...
Eu gostava de entender porque se fazem alaridos incríveis a propósito de edifícios como foi o conhecido caso do Rato e agora, não há mobilização visível em relação à porta sul de Lisboa, uma peça chave da história do nosso urbanismo, que abria Lisboa ao mar pelo esquecido Cais das Colunas.
ResponderEliminarÉ inacreditável que se continuem a cometer as mais ferozes atrocidades à cidade de Lisboa quando há interesse à mistura. Mas a adjudicação directa de uma obra pública, é realmente desesperante!
Mais(!) é de uma arrogância sem nome não querer saber a opinião da massa pensante da arquitectura em portugal através dum concurso que levantasse a discussão, o debate sobre um local que a todos é querido (aah! talvez não fosse a tempo do novo mandato, ingenuidade a minha...)
Descupe lá "desejo de transparência" mas, concordando com tudo o que diz, ácerca do assunto e do fundamento dos problemas, não posso concordar com a parte em que refere a desmobilização:
ResponderEliminarO "forum cidadania lx", encetou uma petição, que ainda decorre na net e promoveu contactos com meios de comunicação social, sobre este assunto (e eu posso falar porque estive/ou nas duas situações).
Agora que há instituições que deveriam ter um papel preponderante e de vanguarda na defesa destes assuntos, mas que andam sempre a reboque da "maré", também é verdade.
simplesmente vão criar um terreiro para colocar e tirar tendas de plástico e coisas que nem são dignas de uma feira rasca.
ResponderEliminaré esse o uso que dão as praças das cidades, sejam históricas ou não: espaços vazios onde cabem tendas.
admira-me que nunca tenham montado um circo na praça do comércio.
provavelmente o cirque du soleil nunca se lembrou dessa.
praças são praças, não são apenas espaços livres entre os prédios.
a praça do comércio devia ter uma extensão (ou o corpo principal) do museu da cidade ali instalado, com especial destaque´ao terramoto.
os pisos térreos deviam ser já libertados para restauração e comércio qualificado, de certeza que seria mais a procura que a oferta.
os pateos da gelé e do ministério das Finanças (este último lindíssimo, com jardim e muito aprazível) deviam já ter acesso de público.
O páteo das finanças seria uma boa alternativa á falta de arvores da praça do comércio, podendo tornar-se um santurário de calma e frecursa (tem uma fonte).
um hotel também permitiria manter a praça em constante movimento de pessoas.
por outro lado, a solução (temporária) dos jardins portáteis e que agora está instalada no cais das colunas, seria uma boa solução para toda a praça, arcadas, rua augusta e laterais.
Uma forma de ter árvores e bancos para as pessoas.
Ideias muito muito simpes, muito fáceis de por em prática e com efeitos muito benéficos.
Concordo em muito com o amigo anónimo que antecede (pena não ter um nick name).
ResponderEliminarApenas continuo sem entender porque aceita andar às voltas, com as amostras das árvores, encafoadas dentro de grandes vasos, em vez de as colocar onde podem crescer connosco, com os nossos filhos, e constituir também um legado aos vindouros.
As árvores têm vida.
Já por cá andavam muito antes de nós.
E nós não podemos sobreviver sem elas.
Todo este espaço já era delas muito antes de ser utilizado por nós.
Deixem viver as árvores.
Deixem-nas fazer-nos companhia, que precisamos da sua sombra, do oxigénio que produzem e do carácter ameno que ajudam ao nosso relacionamento de uns para com os outros.
È para este relacionamento social entre todos nós, que as praças constituem os locais de referência desde tempos imemoriáveis.
Deixem a praça do comércio ser a praça de relacionamento social e económico que foi projectada para a sociedade portuguesa por Eugénio dos Santos e Carlos Mardel.
...e Manuel da Maia!
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