in "Boletim Arquitectos", ano XVII, nº 198
.
«No dia 26 de Maio, no auditório da sede da OA em Lisboa,
foi apresentada e discutida a proposta para a Praça
do Comércio que tem vindo a ser desenvolvida pela
equipa coordenada pelo arquitecto Luís Jorge Bruno
Soares para a Sociedade Frente Tejo.
Este debate inscreveu-se nas iniciativas que a OA-SRS
tem vindo a realizar em torno de planos e projectos que
se têm salientado pela polémica que suscitam ou pela
sua importância pública, trazendo à casa dos arquitectos
os seus autores, e permitindo, a quem assista,
ouvi-los, interrogá-los e até criticá-los, recentrando a
discussão disciplinarmente, mas em sessões sempre
abertas ao público em geral. Neste caso tratou-se do
primeiro debate público em torno deste projecto que
parece revelar-se bem polémico.
Em primeiro lugar, e depois de uma breve apresentação
pela Presidente da Secção Regional Sul, falou o arquitecto
João Biencard Cruz que se referiu à inscrição
das tarefas de Bruno Soares no vasto conjunto de iniciativas
da Sociedade Frente Tejo criada pelo Governo
a propósito das comemorações do centenário da implantação
da República. Seguiu-se Bruno Soares que
começou por esclarecer que o projecto para a Praça do
Comércio era parte de um muito mais alargado plano
de remodelação de espaços urbanos desde a Estação
de Santa Apolónia até ao Cais de Sodré. No entanto,
este projecto avançou prioritário devido à complexidade
inerente e às obras de saneamento e de consolidação
do torreão Poente que estão a decorrer.
Passando à explicação da solução a que a equipa tinha
chegado, Bruno Soares traçou uma breve resenha histórica,
salientando a dicotomia entre terreiro e praça,
escala extraordinária em termos europeus e abertura
à paisagem do estuário do Tejo. Informou que a opção
foi pelo terreiro, mas reconhecendo uma possibilidade
de uso mais fixo junto às arcadas. Deste modo, a proposta
centra-se na definição do terreiro, com o monumento
a D. José I a meio, e no alargamento dos passeios
junto às arcadas, criando espaços de circulação
automóvel a toda a volta, mas considerando apenas a
passagem permanente na via junto ao rio e o uso quase
exclusivo da via junto ao arco da Rua Augusta para
transportes colectivos.
Para regularizar o escoamento das águas pluviais, o
terreiro seria como que uma ligeira pirâmide invertida,
o que gerou a criação de alguns degraus entre o terreiro
e a via junto ao rio. Reconhecendo a importância do
eixo Rua Augusta/Cais das Colunas, a equipa propõe um
tratamento do pavimento marcado por uma banda e um
arqueamento dos degraus que conduzam os passos do
transeunte directamente do arco às colunas que emergem
das águas. Procurando um motivo decorativo para
os pavimentos, a equipa encontrou inspiração nos traçados
dos mapas antigos que combinou com os ritmos
das arcadas, produzindo um padrão de losangos que
lembra alguns usados na indústria têxtil. O monumento
a D. José I seria também enquadrado por um losango envolvido
por alguns degraus de modo a manter as cotas
actuais da sua base. Outros pormenores, como a chamada
de atenção para o afundamento do torreão Poente
através de uma brusca alteração de cotas vencida por
alguns degraus, ainda vieram a lume.
Depois da apresentação de Bruno Soares abriu-se o
debate. Este iniciou-se, não pelo comentário ao projecto,
mas sim por diversas críticas ao facto da Sociedade
Frente Tejo não ter realizado um concurso para
escolher uma solução, lembrando o anterior (e único)
concurso promovido pela Câmara Municipal de Lisboa
em 1992 (Jornal Arquitectos 116), cujo resultado foi
a não atribuição do primeiro prémio, apenas assegurando-
se um segundo à proposta dos arquitectos José
Adrião e Pedro Pacheco que ainda teve algum resultado
construído provisório no meio do caos que a Praça
tem vivido desde que se iniciaram as obras do Metropolitano
em 1998.
Respondendo a estas críticas, Biencard Cruz informou
que a entrega do projecto a Bruno Soares tinha sido
decidida pelo anterior presidente da Sociedade Frente
Tejo, Dr. José Miguel Júdice, e que a sociedade pretende
lançar futuramente alguns concursos. Bruno Soares
também revelou que a municipalidade não o pôs a par
da existência do concurso de 1992. A propósito destas
críticas, a Presidente da Secção Regional Sul entendeu
ser importante abrir o debate na OA sobre a encomenda
pública, incluindo os concursos.
Mas, finalmente, a assembleia, que enchia por completo
o auditório, debruçou-se sobre o projecto de Bruno Soares,
tendo-se discutido quer os elementos decorativos, a
que Bruno Soares respondeu com a possibilidade da sua
revisão, quer as bruscas diferenças de cotas introduzidas,
obrigando a degraus e criando episódios de interrupção
nunca antes existentes, contrariando o sentido
de terreiro aliás salientado pelo próprio arquitecto.
Nenhum dos presentes na assembleia ensaiou qualquer
elogio global ao projecto, havendo consenso
sobre uma drástica redução do tráfego automóvel e
o alargamento dos passeios junto às arcadas, sobre o
qual Bruno Soares considerou possibilitar a ocupação
por esplanadas. Terminou-se o debate com a sensação
da necessidade de repensar o projecto e de que um
concurso público com a escolha e discussão alargada
que lhe são inerentes (vejam-se os últimos episódios
do Parque Meyer) teria sido um caminho muito mais
frutuoso para encontrar um projecto para a mais simbólica
praça do País.
Michel Toussaint»
«No dia 26 de Maio, no auditório da sede da OA em Lisboa,
foi apresentada e discutida a proposta para a Praça
do Comércio que tem vindo a ser desenvolvida pela
equipa coordenada pelo arquitecto Luís Jorge Bruno
Soares para a Sociedade Frente Tejo.
Este debate inscreveu-se nas iniciativas que a OA-SRS
tem vindo a realizar em torno de planos e projectos que
se têm salientado pela polémica que suscitam ou pela
sua importância pública, trazendo à casa dos arquitectos
os seus autores, e permitindo, a quem assista,
ouvi-los, interrogá-los e até criticá-los, recentrando a
discussão disciplinarmente, mas em sessões sempre
abertas ao público em geral. Neste caso tratou-se do
primeiro debate público em torno deste projecto que
parece revelar-se bem polémico.
Em primeiro lugar, e depois de uma breve apresentação
pela Presidente da Secção Regional Sul, falou o arquitecto
João Biencard Cruz que se referiu à inscrição
das tarefas de Bruno Soares no vasto conjunto de iniciativas
da Sociedade Frente Tejo criada pelo Governo
a propósito das comemorações do centenário da implantação
da República. Seguiu-se Bruno Soares que
começou por esclarecer que o projecto para a Praça do
Comércio era parte de um muito mais alargado plano
de remodelação de espaços urbanos desde a Estação
de Santa Apolónia até ao Cais de Sodré. No entanto,
este projecto avançou prioritário devido à complexidade
inerente e às obras de saneamento e de consolidação
do torreão Poente que estão a decorrer.
Passando à explicação da solução a que a equipa tinha
chegado, Bruno Soares traçou uma breve resenha histórica,
salientando a dicotomia entre terreiro e praça,
escala extraordinária em termos europeus e abertura
à paisagem do estuário do Tejo. Informou que a opção
foi pelo terreiro, mas reconhecendo uma possibilidade
de uso mais fixo junto às arcadas. Deste modo, a proposta
centra-se na definição do terreiro, com o monumento
a D. José I a meio, e no alargamento dos passeios
junto às arcadas, criando espaços de circulação
automóvel a toda a volta, mas considerando apenas a
passagem permanente na via junto ao rio e o uso quase
exclusivo da via junto ao arco da Rua Augusta para
transportes colectivos.
Para regularizar o escoamento das águas pluviais, o
terreiro seria como que uma ligeira pirâmide invertida,
o que gerou a criação de alguns degraus entre o terreiro
e a via junto ao rio. Reconhecendo a importância do
eixo Rua Augusta/Cais das Colunas, a equipa propõe um
tratamento do pavimento marcado por uma banda e um
arqueamento dos degraus que conduzam os passos do
transeunte directamente do arco às colunas que emergem
das águas. Procurando um motivo decorativo para
os pavimentos, a equipa encontrou inspiração nos traçados
dos mapas antigos que combinou com os ritmos
das arcadas, produzindo um padrão de losangos que
lembra alguns usados na indústria têxtil. O monumento
a D. José I seria também enquadrado por um losango envolvido
por alguns degraus de modo a manter as cotas
actuais da sua base. Outros pormenores, como a chamada
de atenção para o afundamento do torreão Poente
através de uma brusca alteração de cotas vencida por
alguns degraus, ainda vieram a lume.
Depois da apresentação de Bruno Soares abriu-se o
debate. Este iniciou-se, não pelo comentário ao projecto,
mas sim por diversas críticas ao facto da Sociedade
Frente Tejo não ter realizado um concurso para
escolher uma solução, lembrando o anterior (e único)
concurso promovido pela Câmara Municipal de Lisboa
em 1992 (Jornal Arquitectos 116), cujo resultado foi
a não atribuição do primeiro prémio, apenas assegurando-
se um segundo à proposta dos arquitectos José
Adrião e Pedro Pacheco que ainda teve algum resultado
construído provisório no meio do caos que a Praça
tem vivido desde que se iniciaram as obras do Metropolitano
em 1998.
Respondendo a estas críticas, Biencard Cruz informou
que a entrega do projecto a Bruno Soares tinha sido
decidida pelo anterior presidente da Sociedade Frente
Tejo, Dr. José Miguel Júdice, e que a sociedade pretende
lançar futuramente alguns concursos. Bruno Soares
também revelou que a municipalidade não o pôs a par
da existência do concurso de 1992. A propósito destas
críticas, a Presidente da Secção Regional Sul entendeu
ser importante abrir o debate na OA sobre a encomenda
pública, incluindo os concursos.
Mas, finalmente, a assembleia, que enchia por completo
o auditório, debruçou-se sobre o projecto de Bruno Soares,
tendo-se discutido quer os elementos decorativos, a
que Bruno Soares respondeu com a possibilidade da sua
revisão, quer as bruscas diferenças de cotas introduzidas,
obrigando a degraus e criando episódios de interrupção
nunca antes existentes, contrariando o sentido
de terreiro aliás salientado pelo próprio arquitecto.
Nenhum dos presentes na assembleia ensaiou qualquer
elogio global ao projecto, havendo consenso
sobre uma drástica redução do tráfego automóvel e
o alargamento dos passeios junto às arcadas, sobre o
qual Bruno Soares considerou possibilitar a ocupação
por esplanadas. Terminou-se o debate com a sensação
da necessidade de repensar o projecto e de que um
concurso público com a escolha e discussão alargada
que lhe são inerentes (vejam-se os últimos episódios
do Parque Meyer) teria sido um caminho muito mais
frutuoso para encontrar um projecto para a mais simbólica
praça do País.
Michel Toussaint»
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Apesar do mérito da notícia, a OA não substitui o estado, nisto da discussão pública.
Há que saber distinguir e esclarecer devidamente as pessoas, sobre qual a diferença entre promover debates públicos e aquilo que a legislação consagra como sendo a "Discussão Pública".
Focado este aspecto, é com alguma pena que se assiste a uma certa apatia interventiva da OA no resultado das obras que envolvem estes elementos estruturantes da vida da sociedade civil, como é o caso das Praças.
Fica no entanto esta notícia...
Luis Marques da Silva
irra, que são piores que carraças
ResponderEliminarsejamos claros, por uma vez que seja: os responsáveis da ordem dos arquitectos têm vindo a fazer um frete à parque expo, com o seu silêncio relativamente ao essencial (falta de concurso público, favoritismo, etc. etc. etc.) e com os seus "debates" de circunstância travestidos de discussão pública. não é preciso pensar muito para perceber porquê... a ordem está a ser prostituída pelos seus dirigentes, na ânsia de ganhar trabalho para eles próprios.
ResponderEliminarO Michel Toussaint fica bem de assinhas!
ResponderEliminarPena é que a ordem não tenha o mesmo comportamento, tem uma visão corporativista dfende as vacas sagradas até ás ultimas consequências. Nunca até hoje defendeu o interesse público, sempre foi parcial, e o seu presidente com telhados de vidro furta-se a debates.
Nunca a OA pretou tão mau serviço à sociedade e aos arquitectos.
Salvador
ResponderEliminar-No Largo do Rato, estalou a polémica e lá foi a OA a correr a fazer uma sessão pública em defesa dos colegas...
-No Museu dos Coches, tornou a estalar a polémica e lá veio a OA promover o debate da praxe, defender o projecto, ou o governo (pagar o frete da Iberê Camargo?), promover uma petição entre os desgraçados dos alunos das escolas de arquitectura, onde alguns dos "mestres" ensinam, etc.;
-Agora, com o T P, é a mesma coisa. Rebenta a polémica, discutem-se ideias, critica-so o projecto, refere-se a falta de concurso... E lá vem a Ordem pôr-se em bicos dos pés, para se manter á tona, promovendo uma falaciosa discussão pública...
Irra que basta de tanta incompetência e servilismo!!!
Concordo plenamente. Conheço alguns pseudo arquitectos que nada fazem...tristes!!
ResponderEliminarO que aqui interessa, é recolocar a discussão no seu problema fulcral:
ResponderEliminarO que vai ser feito, em termos de projecto e de obra, no TP.
Relativamente á Ordem dos Arquitectos, desta vez teve mesmo que se recolocar no tabuleiro de xadrez senão a opinião pública não lhe perdoava, tanta "colagem" a estas obras promovidas pelo estado.
E pelo menos disse alguma coisa...
embora outros, envoltos em video-affairs, vítimas de home-made recordings, sempre são mais...coloridos!!!
ResponderEliminarhttp://en.wikipedia.org/wiki/Tomas_Taveira
Como sempre, Michel Toussaint de aguma forma, a lavar a honra da casa...
ResponderEliminarO país precisa de uma OA empenhada na legitimidade das acções que envolvem a arquitectura, pelo menos quando se trata de obras que interferem com o nosso património.
É muito fácil os políticos contornarem os meandros legislativos para executarem obras ao apetite do seu "muito gosto" individual - mas, a maior parte das vezes, como dizia Raul Lino há muitos anos, muito mau gosto.
E como isto da cultura não é apenas uma questão de gosto, as Ordens profissionais têm que ser um reduto inquestionável na garantia do cumprimento dos princípios básicos da ética, da democracia, da defesa dos valores sociais, morais e culturais.
Não temos visto muito disso na sociedade actual, pelo que nos questionamos inúmeras vezes por onde andará a OA? Subserviente ao sistema? Aos interesses privados?
Há uma função a desempenhar na defesa dos valores do património pela OA, onde temos visto, mesmo mais vezes, a própria Ordem dos Engenheiros!
É importante para o país e para a profissão.
Seja este caso, seja o do Museu dos Coches, são um escândalo, uma nódoa na honra dos profissionais da Arquitectura, da Engenharia, da Arqueologia, da História...
Façam lá um esforço... Talvez o Michel Toussaint tenha que dar também uma lavadela à casa por dentro.