In Público (19/7/2009)
Por António Sérgio Rosa de Carvalho
«"A cidadania não vai a votos. A cidadania exerce-se"! Num texto anterior publicado no PÚBLICO, afirmava isto, motivado pela necessidade de defender "um cordão sanitário" entre a jovem e frágil democracia participativa e a erodida e desprestigiada democracia representativa.
Algo mais, já então, me motivava. A consciência intuitiva de que Helena Roseta pertencia àquele grupo de políticos profissionais que, conscientes do cansaço, erosão e de um progressivo distanciamento dos votantes, encontrava nos "cidadãos" participativos uma fórmula "refrescante" e uma oportunidade de "reformatar" o discurso. A máscara caiu. A razão diz-nos que não é supreendente, mas o sentimento exalta uma indignação, perante um sentimento de manipulação, ou mesmo, e é preciso dizê-lo, de traição.
A enorme bofetada que Helena Roseta dá em todos aqueles que seguiram o seu discurso de independência implica também uma enorme machadada na jovem e frágil democracia participativa, e, consequentemente, directa e indirectamente, na credibilidade da já tão doente democracia representativa.
Ela, de forma brutal, projecta todos aqueles que acreditaram numa plataforma de participação transversal aos ciclos políticos, num espaço ecléctico e pluralista de manifestação de individuos-cidadãos, unidos apenas pela urgência dos temas, novamente, na polarização dos blocos políticos e dos aparelhos ideológicos.
Ela mata, assim, uma dialéctica estimulante e melhoradora da própria democracia ao, de forma facciosa e oportunista, querer monopolizar a cidadania para um campo da "esquerda", como se tal fosse possivel...
Esta atitude é comparável à afirmação de que o humanismo do séc. XXI, a consciência ambiental, a ecologia e a consciência urgente da necessidade imperativa da salvaguarda ecológica do planeta são exclusivos da "esquerda".
É por isto que eu afirmo claramente aqui que já sei em quem não vou votar... E, ao contrário do prof. Carmona,
digo-o: não vou votar no triunvirato Costa-Zé-Roseta.
Em quem vou votar, como muitos, não sei...
Portanto, apelos aos restantes para me convencerem, dizendo desde já que:
- não quero mais trapalhadas urbanísticas com histórias de permutas, trocas, baldrocas;
- não quero, pelo menos no primeiro mandato, mais obras públicas com orçamentos "em derrapagem";
- não quero mais encomendas a arquitectos do star system, a cobrarem fortunas por "maquetas" feitas de caixas de sapatos;
- não quero mais destruição do património arquitectónico, através da especulação imobiliária ou da "criatividade" corporativa dos arquitectos, não só nas avenidas românticas, mas em toda a Lisboa. Isto implica Largo do Rato, Terreiro do Paço, etc, etc.
Quero:
- reabilitação, reabilitação, reabilitação... urbana, com responsabilidade técnica e grande rigor na perspectiva da salvaguarda do património;
- a Baixa classificada como Património Mundial e a respectiva carta de valores e regras que isso implica;
- repovoamento do centro histórico;
- estratégia e planeamento na área do urbanismo comercial;
- gestão equilibrada na estratégia do trânsito e do estacionamento, incluindo uma Autoridade Metropolitana de Lisboa e um Regulamento de Cargas e Descargas;
- gestão dos espaços verdes;
- ao menos, a existência de uma política cultural e museológica para a cidade de Lisboa.
Bem, não tenho mais espaço... Acima de tudo, viva Lisboa! Lisboa merece mais.
Historiador de Arquitectura»
O único projecto de planeamento democratico com participação activa da população foi realizado em Marvila num bairro social iniciado no ano de 2004 e terminado em 2005, aprovado em reunião de câmara por unanmidade com elogios de todos os partidos.
ResponderEliminarPartiu de uma iniciativa entre a Unidade de Projecto de Chelas-CML, com o Depart de Arquitectura da Universidade Lusófona.
Foram apresentadas 22 proposta e foi escolhida uma, proposta essa que foi melhorada pelos habitantes que participaram no processo. A aprovada em reunião de câmara.
Em 2005 o processo estava pronto para ser lançado concurso para uma empreitada a custo zero para a autarquia, de forma a iniciar a recuperação do bairro.
Este foi o primeiro processo conhecido de planeamento participativo ou participação democratica em que uma equipa da CML esteve de facto ao serviço da população.
O processo foi suspenso pelo Vereador Sá Fernandes com o apoio desta equipa!
O passado e enquadramento profissional/político de Helena Roseta falavam por ela.
ResponderEliminarTendo-os presentes, não vejo como pode o movimento da senhora afastar-se dos demais e ser exemplo do que quer que seja.
Para mim, nada de surpreendente.
Acho que ninguém esperava isto da Helena Roseta, eu confesso que não esperava ( o meu voto era para ela e agora estou como o Carmona sei em quem não vou votar).
ResponderEliminarDito isto acho que a HElena Roseta fez um grande erro de estratégia: era preferível ir a vontos e com ele influenciar a governacia da cidade. Ainda por cima com aquela trapalhada do nº2 da lista....
Uma pessoa de direita que não vota no triunvirato, em quem votará? Grande mistério... Deve votar no Bloco ou no PCP...
ResponderEliminarIsto aqui está infestado de mandatários do Santana, sequiosos de taxos para voltar a sacar e arruinar a câmara.
Isto não é uma questão de estratégia ou politiquice. É uma questão de saber, dentro das opções que existem, o que é melhor para a cidade e a sua qualidade de vida. Embora ache a Roseta uma espalha brasas e oportunista, acho que neste caso esteve muito bem. Demonstra que quer trabalhar e não ficar criticar de fora, que é o mais fácil...
O importante é unir esforços num projecto qu afaste de vez o sem vergonha do Santana de voltar a Presidente da Câmara. Porque isso sim seria o maior atestado de atraso civizacional que poderia ser passado à população de Lisboa.
Diz a canção que dos fracos não reza a história e António Costa está a mostrar-se frágil e atemorizado com a candidatura de Santana Lopes.
ResponderEliminarPois eu acho que ele devia ter ido a votos sózinho e não estou convencido que não fosse vencedor. O voto útil da esquerda iria canalizar-se para António Costa.
Helena Roseta estava com dificuldades em angariar assinaturas para se candidatar e este regresso ao regaço do PS retira-lhe a credibilidade que tinha ganho em 2007.
Nem António Costa nem Helena Roseta ficam a ganhar com esta manifestação pública de medo.
Os eleitores tendem a não gostar dos fracos.
Caro António Sérgio de Carvalho, quando tudo se diz e da forma como é dito, só uma coisa posso fazer; tirar-lhe o chapéu.
ResponderEliminarMuitos parabéns.
LOBO VILLA 22-7-09
ResponderEliminarParabéns António Rosa de Carvalho , o seu artigo é de 1ª !
O "Zé" já foi uma desilusão mas , como era dum partido , foi mais uma . Mas a Roseta que era dos "Cidadãos" ,foi uma NOVIDADE !
É um novo paradigma que se inaugura na política á portuguesa : agora nem nos movimentos de cidadãos se pode confiar muito...Tristeza , Roseta !
Que leves tantos tomastes pôdres na cabeça quantos os votos que tiveste ! (incluindo o meu !).
Mas não desanimemos...
este tipo foi assessor da Eduarda Napoleão!!!! abram os olhos, ceguinhos!! quando o Santana e o Carmona faziam ainda pior do que ele, e bem, critica ao Costa, o gajo esteve muito bem calado, é um hipócrita a alinhar-se a ver se o Flopes ganha e lhe dá tacho outra vez, senhores....
ResponderEliminarO encerramento às 2h dos bares do Bairro Alto, em Lisboa, provocou perto de 400 despedimentos e uma quebra de 70% no volume de negócios destes espaços. O levantamento foi feito pela Associação de Comerciantes do Bairro Alto que está actualmente em negociações com a Câmara para voltar a alargar os horários de funcionamento.
ResponderEliminarA primeira vez que as duas partes se sentaram à mesa foi em Janeiro, a pedido dos comerciantes do Bairro Alto. A reunião foi solicitada logo em Outubro, mas a Câmara só marcou o encontro em Janeiro. Nessa altura, a associação apresentou uma nova proposta de horários: no Verão (entre 15 de Junho e 15 de Setembro), os bares abririam até às 3h todos os dias. No Inverno, até às 2h, excepto às sextas e sábados, que estariam abertos até às 4h (o horário antigo), mas, a partir das 2h, as portas seriam fechadas e as pessoas concentradas no interior dos bares.
A Câmara concordou em analisar a proposta e marcou uma nova reunião para Maio, para se avaliar o impacto da redução de horário de funcionamento. Essa reunião foi sucessivamente adiada até à passada terça-feira. António Costa comprometeu-se a dar uma resposta numa outra reunião, agendada para hoje. Contactada pelo Diário Económico, fonte oficial da Câmara Municipal de Lisboa confirmou a existência de negociações sobre eventuais ajustamentos aos horários de encerramento dos bares.
Quase 400 desempregados desde a decisão da Câmara
A medida de redução dos horários dos bares das 4h para as 2h - apoiada pelos moradores, mas fortemente contestada pelos comerciantes -, foi decidida pelo presidente da Câmara Municipal de Lisboa, António Costa, em Outubro do ano passado. Na altura, o autarca de Lisboa justificou-a com a necessidade de devolver qualidade de vida aos moradores. Mas para João Gonzalez, presidente da assembleia-geral da Associação de Comerciantes do Bairro Alto, esta medida resultou em perda de qualidade de vida para quem lá mora "porque a maioria das pessoas que habita do Bairro Alto também tem o seu negócio ali ou trabalha nesses negócios. A partir do momento em que os proprietários se vêem obrigados a despedir, essas pessoas são as primeiras a ser prejudicadas".
Desde Outubro até Junho, diz João Gonzalez, perto de 400 pessoas perderam o emprego. Segundo a Agência Lusa, os novos horários de fecho dos bares no Bairro Alto estão a direccionar os clientes para o Bairro de Santos.
A Associação teme que, com a coligação de António Costa com Helena Roseta para a Câmara, o Executivo volte atrás e fique indisponível para considerar a proposta da Associação, uma vez que a Costa pode ficar numa posição mais confortável no que respeita à contagem de votos.