Acabar com o estacionamento ilegal nos passeios parece ser consensual, mas o que acontece quando não existe passeio? E não estou a falar de uma zona industrial ou uma rua estreita. A Avenida Fontes Pereira de Melo, uma das avenidas mais centrais e mais movimentadas da cidade, não tem passeio ao longo de toda a avenida.
Permitam-me estender a discussão (ou, se quiserem, criar uma discussão paralela...).
ResponderEliminarAlgo semelhante se aplica aos ciclistas.
Practicamente todas as ciclovias implementadas/previstas são fora das zonas centrais da cidade.
Nas zonas centrais, os eixos centrais são avenidas com tráfego demasiado preenchido (e fumarento) e demasiado rápido, normalmente mais que o permitido (logo perigoso para ciclistas que se arrisquem). Exemplos: Av. Fontes Pereira de Melo, Av. República, Av. Almirante Reis, rotunda do Marquês.
Ora, *sem excepção*, essas são também as vias que permitem atravessar as zonas centrais da cidade *com menos inclinação*.
O que faz todo o sentido, já que foram os troços historicamente eleitos para as grandes faixas de atravessamento da cidade.
Ou seja, um ciclista que pretenda dirigir-se do Marquês ao Saldanha: - ou opta por uma travessia arriscada e tóxica na faixa central da Av. Fontes Pereira de Melo (já que a faixa da direita é BUS e, pela lei portuguesa, interdita a ciclistas),
- ou opta por trajectos por ruas menores, laterais à Avenida, que têm inclinações muito mais acentuadas (tanto do lado Poente como Nascente), logo muito mais difíceis de fazer.
O mesmo exemplo se aplica às outras Avenidas que cito acima (e à rotunda do Marquês).
No meio de tanta largura que tais avenidas dedicam ao veículo automóvel (veja-se a quantidade de faixas da Fontes Pereira de Melo, ou do Marquês, que manteve as faixas apesar de ter passado a ter mais faixas subterrâneas!), não se arranjava uns poucos metros para os coitadinhos dos peões e dos ciclistas?
Parece-me que toda a discussão sobre como melhorar o trânsito dos peões na cidade de Lisboa e a consequente aplicação no terreno terá necessáriamente de passar por um pressuposto. É que nada será conseguido sem uma eficaz regulamentação e fiscalização (e punição) por parte das autoridades. Enquanto existir a tendência do automobilista em levar o seu veículo para a porta do emprego ou da sua habitação, estacionando no primeiro espaço livre que encontrar em cima do passeio,o espaço destinado aos peões estará como sempre esteve, ou seja,ocupado.
ResponderEliminarcaro JPB,
ResponderEliminarnão me leve a mal, eu ando de bicicleta há muitos anos em Lisboa, conheço os problemas dos ciclistas. Não concordo nada quando diz que se passa algo "semelhante" com os ciclistas,porque a bicicleta (por enquanto) pode usar os espaços do automóvel. E como a cidade tem sido feito para o automóvel, a bicicleta vai-se safando.
As ciclovias implementadas são ciclovias de lazer, não são para mobilidade na cidade. Se vir as coisas por esse prisma, perceberá porque foi feito o que foi.
A faixa BUS está de facto interdita, mas eu sempre a usei com todo o respeito pelos autocarros e taxis, e nunca tive problemas.
Quanto a criação de ciclovias, aconselho
http://menos1carro.blogs.sapo.pt/173091.html
Cumps
Miguel,
ResponderEliminar(Não quero comparar a amplitude do prejuízo para cada caso - o exemplo que dá na Fontes Pereira de Melo em relação aos peões é, de facto, gravíssimo.)
Queria apenas notar que, tal como as avenidas centrais não estão pensadas para os peões, também não o estão para as bicicletas:
- Apesar de o Miguel usar (e eu também) a faixa de BUS na Fontes Pereira de Melo, tem de cohabitar com faixas onde frequentemente transitam carros a velocidades bastante superiores a 50km/h, como sabe; que aumentam em muito o perigo para os ciclistas.
- Mais, o facto de grande parte da faixa BUS da Fontes P. Melo (e outras) ser usada por muitos veículos para mudar de sentido para a direita torna-a muito perigosa para os ciclistas.
- Quanto à poluição do ar nessas avenidas, nem preciso de referi-la, penso.
Estes 3 argumentos fazem-me muitas vezes optar por percursos alternativos para ir do Marquês ao Saldanha, a custo de maior inclinação.
Repensar as avenidas centrais com algum cuidado, tendo em conta os ciclistas, poderia minimizar em muito os 3 problemas que indico acima.
Um exemplo: a ciclovia no jardim do campo grande permite fazer parte da av. república de forma confortável e segura.
Uma ideia que eu tenho sempre que passo naquela área mas nunca partilhei, que é fazer uma ciclovia que atravessasse o parque Eduardo VII.
ResponderEliminarLigar as Avenidas Novas ao Rato/Amoreiras de biciclets é sempre difícil, porque implica subir ao topo do parque ou descer ao Marquês. Um ciclovia, que em nada prejudicaria o parque, seria excelente.
Implica subir o parque ou descer para quem for burro. Têm a opção de ir pelo meio do parque. Que eu saiba apenas as auto-estradas estão vedadas a bicicletas.
ResponderEliminarNão faz falta ciclovia nenhuma, usem-nas no chão já construído.
"As ciclovias implementadas são ciclovias de lazer, não são para mobilidade na cidade. Se vir as coisas por esse prisma, perceberá porque foi feito o que foi."
ResponderEliminarNão são não. Há a ciclovia do corredor verde Monsanto - Parque Eduardo VII, cujo troço agora em construção é inclinado e, por isso, se assemelha aos circuitos de lazer.
Podemos considerar que a Pista Ribeirinha também é de lazer, mas caro Miguel, vá lá ver a quantidade de pessoas que por lá passa de manhã e ao final de tarde, com portáteis nas mochilas e alguns de fato.
As outras ciclovias não são de Lazer. Benfica-Telheiras não é. Benfica-Pontinha-Bairro Padre Cruz não é. A ligação Cidade Universitária à Expo não será. A Duque d´Ávila não será. Entre-Campos à Bela-Vista não será igualmente.
O que não era possível de se fazer era eleger intervenções "cicláveis" sobre Eixos Centrais em que estão em curso propostas integradas de Planos (Av. República, Av. Liberdade, Av. Roma, etc) e onde a funcionalidade ciclável dependerá em muito do contexto.
Reduzir o que foi feito a pistas de lazer é, no mínimo, injusto.
AJM,
ResponderEliminartalvez tenha sido injusto, reconheço. E admito que desconhecia a impossibilidade de intervenção em zonas onde os planos de pormenor estão a ser debatidos.
Mas o que é verdade é que a na própria apresentação do plano era dito que as ciclovias iam ligar vários espaços verdes.
pvb,
ResponderEliminarnão podia discordar mais!
O que tento fazer nestes posts é mostrar que a fiscalização resolveria apenas parte do problema. Toda a cidade está planeada "contra" o peão.
Caro Miguel: Eu percebo perfeitamente esta estratégia. Bicicletas não são um parto fácil. Para ser um parto sem dôr tem que haver subtileza. Se quiser perder eleições ou não fazer nada por elas, ponha-se a defendê-las furiosamente. É logo deportado para a Holanda, porque "lá é que é". Por isso, por cá, enquanto Profs "Martelos" defendam que a cidade é toda só aos altos e baixos aos domingos perante 3 milhões de telespectadores, é importante que a bicicleta entre (e entrou) em pézinhos de lã, ganhando espaço cívico. Ninguém leva a mal que se faça a Pista ribeirinha. Já "entrar" na cidade é mais difícil. Nada melhor que ligando Espaços Verdes. Está a ver onde quero chegar? De repente vai ter uma infra-estrutura ligando Monsanto à Expo. Vai ligando Espaços Verdes pelo meio, universidades, escolas, centros comerciais....está a vêr onde quero chegar? Talvez se tenha nestes 2 anos criado um movimento pró-cidadania pelas bicicletas sem retorno. Temos uma primeira rede que não pôs em causa o essencial do problema e ajudou e é útil.
ResponderEliminarAJM,
ResponderEliminarsem dúvida. Já o escrevi noutro lado que o mais importante neste plano de ciclovias é exactamente esse "entrar" na mentalidade da cidade.
Como "ciclo-activista" eu preferia que se tivesse feito a coisa de um modo completamente diferente - e nem pedia ciclovias no centro - mas reconheço obviamente que esta CML fez mais do que qualquer outra.