In Joranl de Notícias (8/11/200)
CRISTIANO PEREIRA E CATARINA CRUZ
«No piso -2, da galeria pedonal da Estação do Oriente, em Lisboa, há um túnel de acesso ao terminal rodoviário.
É um corredor com cerca de 80 metros e onde diariamente dormem dezenas de pessoas deitadas em cartões e embrulhadas em cobertores. Gente sem casa, sem dinheiro, muitos sem família, à deriva. Cada um tem o seu drama: falta de emprego, doenças, problemas de documentação, por aí fora. Há portugueses, africanos, romenos, indianos. São quase todos homens, dos 20 aos 70 anos. Mas há, também, quem tenha trabalho, mas ali viva temporariamente até conseguir juntar o suficiente para conseguir pagar um quarto. O JN passou algumas noites junto destes Sem Abrigo e tentou perceber o que ali os levou e o que pretendem fazer para dali sair.
Alguns deles têm um aspecto perfeitamente normal, longe da imagem pré-concebida que vem à mente de cada vez que pensamos num sem abrigo. Quem se cruzar na rua com Fernando, de 22 anos, jamais pensará que dorme num corredor de uma estação. Mas pernoita ali "já lá vai um ano e tal". Fernando vivia nas Beiras. Os pais morreram e os tios não gostavam dele. Mudou-se para Lisboa à procura de melhor sorte. Sem dinheiro, sem amigos e sem tecto onde dormir. "Passava as noites a tentar adormecer nos autocarros nocturnos", conta. Numa dessas noites, o autocarro levou-o à Gare do Oriente. "Estava um bocado assustado, com medo de adormecer, mas na segunda noite houve um senhor que veio ter comigo para me dar um cobertor e perguntar se eu tinha fome". É visível a solidariedade e espírito de entre-ajuda entre aqueles que ali dormem. O JN testemunhou, por várias ocasiões, a partilha de alimentos, cobertores, pedaços de cartão. "Somos unidos", confirma Fernando. "Comemos o que temos, partilhamos o que temos: se só tivermos uma sandes, a sandes é partida ao meio". (...)»
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E Lisboa a cair aos bocados...
ResponderEliminarJá viram a quantidade e qualidade de reportagens escritas pelo Cristiano Pereira?
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