In Público (16/12/2009)
Por Ana Henriques
«Arquitecto brasileiro desenhou edifícios para Chelas, no início dos anos 90. Obras arrancaram, mas não chegaram sequer a meio
O arquitecto brasileiro Óscar Niemeyer comemorou ontem, de forma discreta, 102 anos de idade. O acontecimento foi noticiado em Portugal, até porque o mestre da arquitectura brasileira continua a desenhar. O que ninguém recordou é que o terreno de Lisboa onde esteve para surgir aquela que seria a sua única obra no país - Niemeyer nega a autoria do casino da Madeira - está ao abandono vai para uma década.
Questionado pelo PÚBLICO sobre o assunto, o presidente da câmara, António Costa, diz que a autarquia "continua interessada em construir" o projecto em questão, concebido no início dos anos 90 para albergar a Fundação Luso-Brasileira. Nesse sentido, o município "continua à procura de entidades, nacionais e brasileiras, com quem possa estabelecer uma parceria" para levar por diante o trabalho de Niemeyer. António Costa assegura que a autarquia gostaria de ter na cidade uma obra do homem que se tornou conhecido no mundo inteiro pelas curvas sensuais que imprime ao betão armado.
O projecto, no qual se empenharam figuras como Mário Soares, incluía, além do edifício-sede, um anfiteatro em forma de cilindro, uma zona comercial, espaços para exposições e biblioteca. Na quinta existia um palácio cuja reconstrução devia ter sido feita pela fundação, para nele instalar um instituto de formação de quadros dos países lusófonos.
Situado em Chelas, o terreno de 16 mil metros quadrados na Quinta dos Alfinetes foi entregue pela Câmara de Lisboa à Fundação Luso-Brasileira para que esta ali fizesse a sua sede. Niemeyer não só ofereceu o projecto como fez algo inédito, recorda o então presidente da fundação, Pedro Rebelo de Sousa: viajou até Lisboa de avião, apesar do seu pavor de voar. A obra até começou, só que o milhão e meio de contos (7,5 milhões de euros) necessários para que prosseguisse nunca apareceram e os trabalhos pararam em 1999, estavam já feitas as fundações, o primeiro piso e várias colunas de ferro apontadas ao céu. "Não houve vontade nem empenho das autoridades portuguesas, dos diferentes Governos", observa Rebelo de Sousa. "E as empresas brasileiras que tinham prometido donativos foram entretanto privatizadas e entenderam que já não deviam contribuir". Goradas foram, também, as hipóteses de instalar no local outras instituições, como o Instituto da Cooperação.
Têm dez anos os escombros do que devia ser a obra de Niemeyer em Lisboa. O ex-presidente da fundação considera o processo lamentável. Os terrenos foram devolvidos à autarquia em 2004, em troca de 750 mil euros, que serviram à instituição luso-brasileira para pagar as dívidas às construtoras. O local permaneceu vedado, ao abandono, até há cerca de ano e meio, altura em que vândalos rebentaram com as protecções para se apoderarem das placas de metal que ali existiam. Foi mais ou menos por esta altura que a Quinta dos Alfinetes se tornou também local de deposição clandestina de entulhos. "O local necessita urgentemente de voltar a ser vedado", reclama o presidente da Junta de Freguesia de Marvila, Belarmino Silva. "A câmara deve resolver este assunto".
7,5 milhões de euros era o valor necessário, em 1999, para as obras prosseguirem».
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Pensei que a primeira obra seria a tal catedral, que Santana anunciou aos quatro-ventos, e que teve o episódio caricato do Arquitecto se recusar a andar de avião e que, ainda e por sinal, aparece incluída na trapalhada monumental chamada PP da Matinha. Afinal já são 2 as obras no papel de Niemeyer.
LOBO VILLA
ResponderEliminarNiemeyer é um "bluff" pré-e-pós- moderno internacional.
Troufa (igreja do Restelo!) gostaria de sê-lo a nível nacional.
(Pior ainda é o do Parque Mayer, que nem digo o nome ).
O que se passa com estes arquitectos produtores-de-monstros (tal como os políticos) é que estão cada vez mais longe das populações e da realidade.
Bem ao contrário de Gropius ou de Rohe ou de Corbusier.
O crescente afastamento da realidade é a medida exacta das crescentes montruosidades que se vão construindo...
As torres Estoril-Sol de Birne,em construção em Cascais, são o mais recente exmplo desta monstruoso afastamento da realidade e portanto da ESCALA, em Portugal.
«Têm dez anos os escombros do que devia ser a obra de Niemeyer em Lisboa. O ex-presidente da fundação considera o processo lamentável. Os terrenos foram devolvidos à autarquia em 2004, em troca de 750 mil euros, que serviram à instituição luso-brasileira para pagar as dívidas às construtoras. O local permaneceu vedado, ao abandono, até há cerca de ano e meio, altura em que vândalos rebentaram com as protecções para se apoderarem das placas de metal que ali existiam. Foi mais ou menos por esta altura que a Quinta dos Alfinetes se tornou também local de deposição clandestina de entulhos.» confirmando a chamada lei de Murphy, a cereja em cima do bolo vem na forma de um Plano de Pormenor, encostando o que resta desse património a um... estádio de futebol!? custa a acreditar, mas é verdade...que País é este, afinal, que se dá ao luxo de desprezar o seu património, ou os seus melhores profissionais, apenas reconhecidos lá fora, ou que teima em desbaratar dinheiro em semelhantes monstruosidades urbanísticas? talvez o mesmo que tem como distracção os reality shows e outras coisas que tais, no canal que era suposto ser de serviço público! bah!
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