In Público (23/12/2009)
Por Sara Picareta
«As prendas de Natal para as crianças podem não ser os objectos feitos em série dos shoppings. No Bairro Alto ainda há brinquedos feitos à mão
Bonecos que começaram por ser desenhos de um blogue
Quem entrar no Antes e Depois, no Bairro Alto, vai sentir-se numa viagem ao passado dos brinquedos. Móveis e candeeiros antigos, recolhidos na rua, e uma carpete vermelha, que remete para os anos 70, contribuem para essa percepção. É um dos sítios de Lisboa em que se encontram prendas que não são obrigatoriamente fabricadas em série para as crianças.
Paulo Rebelo, um dos responsáveis da loja, revela que a ideia surgiu por acaso. "Começámos quase por brincadeira", afirma. "Eu e o meu sócio, Carlos Ferreira, gostamos muito das coisas antigas. Às vezes íamos às feiras e começámos a falar dos brinquedos que já não existem."
A partir daí tudo foi mais fácil. Pegando numa onda de revivalismo dos anos 80, os dois criaram uma loja de brinquedos antigos [Travessa da Espera 47]. Mas não só. A Antes e Depois vende também brinquedos novos. "Podem ser brinquedos novos, desde que tenham o espírito dos antigos. Não são certamente os brinquedos que se encontram nos hipermercados", explica. No fundo, a ideia foi a de "abrir uma loja com alguma quantidade de brinquedos e preços acessíveis, desde um euro até cerca de vinte euros".
Os brinquedos ali vendidos são como que transportados no tempo, pois estão como novos. Alguns não foram usados, vêm de armazéns, de stocks antigos das fábricas. "Vendemos com as embalagens originais."
Mas os brinquedos não vêm só de armazéns. Visitas a papelarias e o método porta a porta também funcionam. Às vezes "é uma questão de sorte", pois esta tarefa de recolha não é fácil e junta-se à pouca disponibilidade dos dois sócios, que têm outros empregos. Paulo salienta: "Já não há muita coisa e não há muita informação sobre o brinquedo português."
Manter uma grande diversidade não é fácil. Por isso, só agora, um ano depois, é que vão começar a ser vendidos brinquedos de corda, como robots ou esquilos. "Tínhamos esta ideia desde o início, mas só agora começou a ser concretizada", confessa. Para além disso, a Antes e Depois está a começar a adquirir mais trabalhos de artesãos, feitos à mão.
"Cada vez temos mais brinquedos diferentes. Há já um problema em expor tudo", explica. Isso acontece também pelo facto de a loja não vender só brinquedos portugueses. Carros e motos em chapa, de origem africana, também estão disponíveis.
"Há brinquedos que são um sucesso e isso é uma surpresa. É o caso das gaiolas de plástico para grilos ,que têm esgotado constantemente." Mas a lista continua: os tambores pequeninos e os trapezistas em madeira, as pandeiretas, os peões e as ardósias também ocupam um lugar cimeiro. Aliás, a loja conta com brinquedos em chapa tradicionais, como o fogão, que são feitos da mesma forma desde os anos 20. A fábrica já fechou há anos, mas ainda há algum stock.
"Já tive raparigas histéricas a gritar porque descobriram um telefone. E uma pessoa a chorar na loja, porque viu um brinquedo que já não se lembrava", revela Paulo. Este profissional de cinema considera que estas situações ocorrem porque "os brinquedos têm uma ligação muito forte à infância e mexem muito com os sentimentos mais profundos".
Não é só no produto em si que a Antes e Depois inova. O horário da loja, das 14h às 20h, pode causar estranheza. "O Bairro Alto funciona muito bem à tarde e à noite", explica.»
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