22/01/2010

Antigo Cinema Europa em Campo de Ourique vai ser demolido em Fevereiro

In Público (22/1/2010)
Por Ana Henriques e Inês Boaventura


«Especialista valoriza edifício enquanto exemplar da arquitectura moderna e lamenta perda para a capital. Câmara vai ter de abrir cordões à bolsa para criar centro cultural neste local


A demolição do antigo Cinema Europa, em Campo de Ourique, Lisboa, está marcada para o próximo mês. No seu lugar irá nascer um prédio de apartamentos de luxo com piscina e eventualmente um centro cultural. Mas para a criação deste último equipamento a Câmara de Lisboa terá de abrir os cordões à bolsa.

No orçamento participativo 2010, mecanismo que permite aos cidadãos eleger projectos de investimento municipal no valor de cinco milhões de euros, a autarquia comprometeu-se a reservar 690 mil euros para a criação de um equipamento cultural no piso térreo do novo edifício, montante que inclui "a obra e equipamento" e "diversos projectos". O que não está incluído é o valor de aquisição do espaço, com cerca de mil metros quadrados. A câmara recusou, através da assessora de imprensa, adiantar qual o investimento que está disposta a fazer e quando, garantindo apenas que "vai comprar o espaço".

Junto de algumas empresas de mediação imobiliária a operar na zona de Campo de Ourique, o PÚBLICO apurou que o preço por metro quadrado para espaços comerciais novos pode alcançar os 2500 a 3000 euros, o que poderia obrigar o município a gastar entre 2,5 e três milhões de euros. Porém, tudo depende do valor de referência do metro quadrado.

Outra possibilidade adiantada pelos proprietários do Cinema Europa é a realização de uma permuta. Certo é que, se as negociações fracassarem, o rés-do-chão do edifício será para comércio, explica o autor do projecto, o arquitecto Júlio Quaresma. As únicas coisas que irão ser preservadas no antigo cinema serão o alto-relevo da fachada e os vitrais no interior.

A demolição não é um assunto pacífico. O arquitecto João Rodeia, especialista em arquitectura do séc. XX, lamenta o desaparecimento deste exemplar do período moderno. Originalmente erguido nos anos 30, este cinema de bairro foi redesenhado por Antero Ferreira em 1958 e faz parte do inventário da arquitectura moderna portuguesa do Instituto Português do Património Arquitectónico (Ippar, agora designado por Igespar). Mas nunca foi classificado por este organismo, o que significa que não tem nenhum grau de protecção. "Se for demolido, é uma perda para a cidade e para Campo de Ourique", diz João Rodeia, ex-presidente do Ippar e actual bastonário dos arquitectos. Foram as autoridades a ditar a sentença de morte do edifício, que se encontra sem uso há perto de uma década: quer o Ministério da Cultura, quer a autarquia acharam que não valia a pena obrigar os seus proprietários a preservá-lo. O movimento cívico que há cinco anos lutou pela sua reabilitação acabou por se contentar com a promessa do centro cultural. E o presidente da Junta de Freguesia do Santo Condestável, Pedro Cegonho, também não se mostra impressionado com o abate: "É natural que haja um sentimento de perda. Mas gosto de olhar em frente. O que me importa é que o equipamento cultural se faça".»

10 comentários:

  1. Mais um belo edificio que vai ser demolido para dar lugar a habitacao de (pseudo)luxo. Ao mesmo tempo que a cidade vai ficando mais pobre e mais feia. Em termos de consciencia patrimonial os portugueses estao a cometer agora os erros que se fizeram na Europa do Norte 30/40 anos atras. O nosso atraso cultural e social ate aqui se manifesta...

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  2. Concordo com o post anterior. A verdade é que lisboa está a ficar uma cidade com características, a nível do edificado, tipicamente suburbanas/ 3º mundistas.
    O que impera aqui em Lisboa, é a especulação, em deterimento dos aspectos sócio-culturais e urbanísticos, que deveriam continuar a caracterizá-la.
    Vá lá que desta, a Ordem pôs do lado certo...

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  3. eu se fosse aos construtores com edificios deste genero devolutos fazia todos os anos uma proposta para o orçamento participativo para a câmara de encarregar de comprar uma área substancial para equipamentos culturais.

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  4. LISBOA CONTINUA A VENDER-SE A INTERESSES MAIORES...que tristeza!

    Acho que a proposta aprovada para o cinema europa, não o devia ter sido.

    Há tantos edificios ja construidos e porntos a receber eventos como o teatro S. Jorge não vejo muito sentindo em ir construir-se mais um.. mas enfim, admito, que possa não conheçer bem o projecto...mas havia coisas prioritárias

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  5. ACABEI DE SABEI DE SABER UMA NOTÍCIA QUE ME CHOCOU!

    DEMOLIÇÃO DA PORTUGÁLIA??

    o artigo aqui: http://www.ambigroup.com/index.php?option=com_content&task=view&id=71&Itemid=61

    MAIS UM EXEMPLAR DA ARQUETECTURA DO SÉCULO XX A MORRER ÀS MÃOS DA ESPECULAÇÃO IMOBILIÁRIA?

    nada vi neste blog até agora a documentação deste acontecimento--

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  6. O que está/foi demolido é a fabrica da Central Cer, abandonada mais de 20 anos, não o restaurante da Portvgália.

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  7. Conforme está nessa noticia: “a Cervejaria Portugália, contígua aos edifícios a demolir, bem como o Centro Comercial Portugália, continuam em pleno funcionamento, sem que tenham sido afectados pela execução da demolição, o que denota a correcção das metodologias que a Demotri está a adoptar, por forma a minimizar a afectação das populações vizinhas”.

    Só perceber o que se lê.

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  8. Exacto, nessa notícia diz que continuam em funcionamento agora, não refere se depois vão fechar para serem demolidos também.

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  9. Em principio não. A Portugalia está sempre cheia, nunca fui lá que não tivesse que estar na fila de espera. Duvido que a fechem. É uma tradição, enquanto que a fabrica que foi demolida, à várias décadas que se mudou para a Estrada da Alfarrubeira - Vialonga.

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