In Público (28/1/2010)
Por Ana Henriques
«"Estamos a criar um gueto para ricos", acusou vereador do CDS-PP, enquanto o PCP realçou a carência de equipamentos previstos no plano de pormenor
Costa não confia na maioria das notícias
A Câmara de Lisboa decidiu ontem pôr à discussão pública a possibilidade de nascerem na zona da Matinha, junto à linha férrea e nas imediações do rio, sete torres de 18 ou 19 andares cada uma. O plano de pormenor em que se insere esta urbanização, que inclui outros prédios mais baixos, foi encomendado pela autarquia ao gabinete de arquitectura Risco, que pertenceu até há pouco mais de dois anos ao actual vereador do Urbanismo de Lisboa, Manuel Salgado.
Em 2005, a autarquia estabeleceu para aquela zona, situada perto da Expo, um índice de construção hoje considerado por muitos excessivo. "É exageradíssimo", criticou ontem o vereador Sá Fernandes. "É criticável", concordou outro vereador, Nunes da Silva. A opção do gabinete de arquitectura, que é hoje dirigido pelo filho de Manuel Salgado, passou por fazer crescer em altura sete dos prédios da urbanização, de forma a permitir alguma área livre ao nível do solo. Se esta solução não for aprovada, explicou o presidente do município, António Costa, a alternativa passa por uma ocupação mais extensiva do solo, embora com edifícios mais baixos. "Se não quisermos as torres, sacrificamos espaço público", salientou. "Eu prefiro o modelo das torres, mas não dou a minha vida por este desenho urbano", disse.
O plano de pormenor que vai ser posto a discussão pública tem ainda outros problemas, no entender dos autarcas da oposição. Desde logo a carência de áreas destinadas a equipamentos, como escolas ou centros de saúde. "A esse nível há um défice da ordem dos 66,4 por cento", garantiu o comunista Ruben de Carvalho.
Já o vereador do CDS-PP António Carlos Monteiro pôs em causa a legalidade desta solução urbanística. "Estamos a criar aqui um gueto para ricos semelhante à Parque Expo", observou. Um sítio onde faltam estabelecimentos de ensino, lojas e, sobretudo, vida de bairro. Na oposição, só Santana Lopes (PSD) gabou o plano: "Gosto de construção em altura".
Os terrenos onde há-de crescer a urbanização, para junto da qual está previsto um grande parque urbano, pertencem ao grupo Espírito Santo, à EDP e à Gás de Portugal, entre outros. São eles que deverão pagar a descontaminação dos solos, sujos pelas antigas petroquímicas que ali funcionaram, segundo um documento entregue aos vereadores "à última hora", antes de a reunião municipal de ontem, referiu o vereador do CDS-PP.
António Costa assegurou que, como estão afastadas entre si, as sete torres não correm o risco de criar uma barreira visual entre o resto da cidade e o rio.»
"Gabinete de Arquitectura Risco, que pertenceu até há pouco mais de dois anos ao actual vereador do Urbanismo de Lisboa, Manuel Salgado."
ResponderEliminar" A opção do Gabinete de Arquitectura, que é hoje dirigido pelo filho de Manuel Salgado" (...)
António Costa: "Mas não dou a minha vida por este desenho urbano"(...)
Perante este escândalo de promiscuidade ... o que António Costa quer dizer é que não arrisca o seu futuro político perante esta ESCANDALEIRA !!
Nós podemos não querer, mas querem «eles» (filho e pai + o outro que não está para se ralar).
ResponderEliminarE assim se vão enchendo bolsos...
http://lisboalisboa2.blogspot.com/2007/05/manuel-salgado.html
ResponderEliminarO projecto foi encomendado ao arquitecto, anos antes de se tornar vereador.
O projecto foi divulgado na declaração de interesses apresentada pelo arquitecto antes de se sujeitar a votos, e ser eleito.
O vereador em questão não tem qualquer intervenção, enquanto edil, no procedimento de aprovação do projecto, o qual depende inteiramente da CML e do seu Presidente, que assume as funções de líder do urbanismo neste projecto.
Pergunto: onde está a promiscuidade?
Pela linha de raciocínio que seguem neste blog, percebo que só os incompetentes sem obra feita fora da política é que podem nela ingressar.
Só um político de profissão é que deve assumir funções autárquicas.
Que cambada...
era capaz de dar uma boa skyline
ResponderEliminarpois, quando Carrilho ameaçou combater a construção excessiva em Lisboa e os empreiteiros quem foi o primeiro a saltar do barco e a combater Carrilho? Lembram-se?
ResponderEliminarMais uma barreiras para o rio, estes senhores adoram criar estas barreiras, no interesse de alguns obviamente.
Tá bem, tá, o Hotel Altis de Belém também era do atelier Risco e quem passar por lá só pode ficar absolutamente estupefacto como se deixou construir aquilo naquele lugar...
ResponderEliminarGueto para ricos? Então? não estão a gostar que a zona oriental da cidade também receba um pouco de atenção? Já vai sendo altura de começar a 'limpar' as zonas de chelas e marvila da reputação que têm ganho ao longo dos anos.
ResponderEliminarNão creio que 19 pisos seja muito. Está na altura de começar-mos a ter o que por todo o mundo se faz há anos.
Apesar de não conhecer ao certo o projecto, penso que a ideia de aproveitar as estrutras dos depósitos está original, uma vez que será uma adaptação da nova realidade a parte do espaço existente, alterando a função de extruturas únicas na cidade.
Desde quando faltar essa 'vida de bairro' é algo mau? Nem toda a gente gosta de cuscar o que se passa na vida dos visinhos ou de contar as moscas que voam na rua como o tuga tem mania de fazer.
Já quanto à falta de recursos (escolas/bombeiros/centro de saude?) concordo que devem constar no projecto se ainda não o fazem.
mais vale torres do que ocuparem espaço público com contrução
ResponderEliminar"foi encomendado pela autarquia ao gabinete de arquitectura Risco".
ResponderEliminarA notícia não é esclarecedora, deveria ter explicado melhor o termo "encomendado".
Há alguns anos atrás, também era necessário lançar procedimento concursal para estes trabalhos, excepto se o estudo tiver custado menos de EUR 5.000
Talvez mais importante do que discutir o número de pisos será discutir que tipo de torres é que devem ser construídas. Covencionais, de betão, vidro e aço? Ou já com preocupações ecológicas no cerne do projecto? E o mérito arquitectónico? Um concurso público de ideias? Como vai o PP salvaguardar estas questões bem mais importantes do que a discussão de 19 pisos?
ResponderEliminarTambém é mais importante libertar espaço para usufruto público em vez de densificar a malha urbana com prédios baixinhos não deixando espaço para jardins e largos/praças.
Nestes terrenos encontram-se os Gasómetros da Matinha (grandes estruturas metálicas) únicos no país e os que estão melhor preservados dos poucos que existem na Europa.
ResponderEliminarÉ um património industrial de elevadíssimo valor da cidade de Lisboa. São uma marca indelével da industrialização que ocorreu nesta zona, da primeira refinaria de Portugal, já só resta um Torre esquecida. Da grande Fábrica de Gás Cidade, a voragem do betão, “da guetização e da massificação” urbana pode levar a perder estes "monumentos" únicos que marcam a paisagem e a memória desta zona da cidade
patrimoniuos@aeiou.pt