In Público (22/2/2010)
Por Carlos Filipe
«Mau estado de conservação do edifício que já estava referenciado pela autarquia levou a Protecção Civil municipal a proceder ao realojamento temporário de algumas famílias
Parte do interior de uma casa apalaçada na Rua dos Remédios, no bairro histórico de Alfama, em Lisboa, habitada por cinco famílias, ruiu na madrugada de ontem. Não há feridos a lamentar, apenas o desconforto de 13 pessoas que foram transferidas para alojamentos provisórios até melhor avaliação da situação pelos técnicos da Câmara Municipal de Lisboa, que hoje se reunirão com o proprietário e os inquilinos.
Não é bem conhecida a história daquele que é conhecido por Palácio da Dona Rosa, um solar setecentista, "cujo fundador se desconhece", lê-se numa nota da Junta de Freguesia de Santo Estêvão, sabendo-se apenas que pertenceu a uma tal Rosa, popularizada na toponímia do bairro, e que dá nome às vizinhas Escadinhas do Beco, um dos muitos de Alfama. Um olhar mais atento à fachada exterior do 139 da Rua dos Remédios repararia que no sec. XVIII exibiria notória beleza arquitectónica. Porém, a degradação estrutural do imóvel está patente nas paredes exteriores dos edifícios do pátio e das escadinhas, a que se acede pela porta do chamado palácio, e explica cabalmente a parcial derrocada. As fissuras não mentem e o tecto do átrio da entrada alberga pombos.
Foi uma parede da sala de uma fracção habitada por duas pessoas que desabou durante a madrugada. Os seus inquilinos dormiam em quarto contíguo. Não ganharam para o susto. Outra inquilina, à tarde ainda visivelmente chocada, alimentava-se com uma sanduíche, com a voz afectada pelo choro, e recebia algum consolo por parte das técnicas da Protecção Civil, que ali voltaram para levar alguns dos residentes para habitação de emergência. "Foi por volta das cinco e pouco que sentimos um grande estrondo, parecia uma bomba", contou ao PÚBLICO.
Emília Estela, daquele serviço municipal, contou que a avaliação estrutural já tinha sido feita, e que por precaução estavam a proceder à evacuação de 13 dos residentes - duas pessoas do palácio; do pátio, um casal com uma criança; das escadinhas, um casal com três filhos, e outro com uma idosa a cargo. Todos estes ficariam momentaneamente a cargo da Protecção Civil, sendo que dois daqueles habitantes, que já estavam a ser acompanhados pela Misericórdia de Lisboa, ficariam em tecto da Santa Casa.
O mau estado do bairro
Sapadores Bombeiros, PSP, os vereadores camarários Manuel Brito e Helena Roseta, mais os técnicos do Departamento de Construção e Conservação de Habitação também por lá tinham passado pela manhã, tal como a presidente da Junta de Freguesia de Santo Estêvão, Maria de Lurdes Pinheiro. Para a autarca (PCP), a situação deriva do estado do bairro: "Há muitas outras casas assim, umas da câmara, outras privadas, há muita coisa emparedada. É mau as pessoas ficarem sem casa, mas lá se diz que, às vezes, há males que vêm por bem, pois só assim se tomam medidas".
A presidente da junta esclarece que já se sabia do mau estado do edifício: "Há anos que ouvíamos queixas, mas o prédio tem andado de mão em mão, e agora parece que é de um empreiteiro, um tal Espanhol, que tem comprado outros imóveis no bairro. O imóvel já estava referenciado pela Unidade de Projecto de Alfama. Mas já se sabe como é, estas coisas levam muito tempo para resolver".
Hoje à tarde há uma reunião na junta de freguesia com toda a gente envolvida. "Pode ser que se tomem medidas junto do proprietário", acrescentou a autarca.»
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A reabilitação urbana TEM que ser uma PRIORIDADE do executivo mas tem que ser JÁ. Seja por via da posse administrativa e obras coercivas, seja por sistema de incentivos, seja lá por onde for, mas ISTO não pode continuar.
Continuamos a brincar ao faz-de-conta:
ResponderEliminarContinuamos a deixar destruir Lisboa, por força de falta de vontade ou coragem dos politícos, para pôr os pontos no "iis" no que respeita ao urbanismo e planeamento,continuando a permitir a especulação, até á "medula", nesta cidade;
Continuamos a brincar com o fogo, permitindo que edifícios sejam votados ao abandono, até que caiam ou sejam demolidos;
Continuamos a brincar com a vida das pessoas, permitindo a ruína dos edifícios antigos, não fazendo uso, por conveniência política, da figura da obra coerciva dotando, esses mesmos edifícios, novamente da resistência necesária e entretanto perdida, com o passar dos anos;
Continuamos a não vistoriar/fiscalizar as obras de recuperação e as obras novas, permitindo assim que defeitos ou falhas estruturais, não sejam detectados.
Meus senhores, a verdade é que andamos a brincar com isto tudo há tempo a mais.
É necessário responsabilizar civil e criminalmente quem permite este estado de coisas, sob pena disto nunca mais acabar e até ao dia em que uma catástrofe se abata sobre nós!
Tem que ser já a reconstrução e recuperação, mas em 1996 foi-me expropriado um predio na Mouraria que foi demolido e construido um novo, pronto em 2000 e está à 10 anos fechado! A Câmara construiu sem licença e diz que não pode fazer escrituras, etc... Estou à espera duma indemnização e da loja que me foi prometida à 14 anos! A Câmara não se sabe gerir.
ResponderEliminarIsso que vocês pedem é utópico, a expropriação e obras coercivas.
Todas as obras coercivas que assisti foram só da fachada. Muitos desses predios têm deficiências graves e estão em risco de ruir.
Por isso Lisboa vai continuar a esvaziar.
Mas é engraçado ver que mais a cima andam-se a queixar da demolição de predios velhos que estão a cair como é o caso dum mamarracho em Cp. Ourique e outros na Av. Fontes Pereira de Melo!!!!